Comunicação social, produção...?

Fonte: Wikiversidade

Mídia, jornalismo, comunicação. Estas são áreas onde muitos pensadores, antes do surgimento da Internet, aventuraram-se a profetizar futuros possíveis que a antecipavam. Desde o dramaturgo Berthold Brecht, mas talvez nenhum com maior clareza que Marshall McLuhan. Ainda assim, com todas as indicações deixadas por esses, falta-nos crônicamente uma visão clara do caminho a ser percorrido ou mesmo das possibilidades a serem exploradas.

Essa ignorância inescapável justifica-se, em parte, pela multiplicidade de equilíbrios de poder acessíveis que, como já bem observara Brecht, interferem brutalmente nas possibilidades técnicas e culturais. Mas também é o caso que a transferência e integração de informação, autômata e distribuída no nível a que chegou a rede, traz consigo potencialidades tão numerosas quanto os tais equilíbrios.

A sensação, com onda após onda de transformação de formato de páginas estáticas para portais, para blogs, para microblogs, é de haver um oceano inexplorado de sinergias entre credibilidade, verificabilidade e discurso coletivo para executar a filtragem e priorização de informações. Sobre o qual, adicionalmente, interagem as históricas e novas formas de certificações institucionais.

Num tal contexto não cabe, portanto, qualquer teorização universal, sendo mais valioso refletir sobre ideias e exemplos compartilhados para, chegando às próprias conclusões, quem sabe encontrarmos as inovações necessárias. Esta aula apresenta um número de exemplos continuamente agragados na página de discussão, acompanhados de ideias que os reúnem em grupos.

Distribuindo a mídia[editar | editar código-fonte]

Uma das questões crônicas da comunicação no século XX foi a crescente concentração de poder midiático nas mãos de alguns poucos grupos privados, reforçando desigualdades econômicas, dominação política e permitindo a um grau significativo de indução cultural e ideológica. Um vídeo produzido pelo Intervozes ilustra essa situação no Brasil.

É evidente que a comunicação ponto a ponto na Internet impacta esses oligopólios, mas também há indícios de que isso ainda não foi suficiente para desestabilizar as relações de poder. Pois ante essa concentração da mídia analógica situam-se os desafios de promover a inclusão digital e vencer a inércia cultural, mas também de desenvolver modelos distribuídos para filtrar, priorizar e principalmente produzir conteúdo jornalístico primário — temas que abordaremos adiante.

Segundo a classificação da empresa Alexa, dentre os 12 sítios mais acessados pelos brasileiros que aderiram a seu monitoramento, dez são de multinacionais estrangeiras e dois são controlados por oligopólios da mídia nacional. Nas posições 5 e 8, respectivamente, o UOL, do grupo Folha, e o Globo.com, das Organizações Globo. Curiosamente, suas histórias são bastante diferentes. Enquanto o primeiro surge de um investimento precoce e estratégico nas novas tecnologias, usando a velha mídia para promover o novo negócio, o segundo é fruto de um investimento tardio no mercado, mas impulsionado violentamente pelo imenso poder midiático detido. O IG, em posição 15, é a única empresa brasileira nativa na rede entre os 20 mais populares, já que o Mercadolivre, em posição 17, foi adquirido pelo eBay.

Contudo essa visão por cima e empresarial, ainda que precise ser bem entendida, é imprecisa e pobre em capturar os mecanismos em curso. Apesar do cenário aparentemente negativo, a mesma evidência indica a popularidade massiva de sítios em que a produção de conteúdo dá-se, ou pode se dar, pelos próprios usuários. São blogs, repositórios multimídia e redes de socialização, onde a filtragem e discussão independente do conteúdo da grande mídia acaba por ocorrer, além da produção independente. O próprio volume de acessos do UOL, por exemplo, tem como grande componente de tráfico, mais que o jornal Folha, o subdomínio do famigerado bate-papo.

Assim, considerando-se o ideal de uma esfera pública, é difícil dizer a priori se a Internet vem-se demonstrando um espaço adequado para manifestá-la em toda sua potência, mas tal questão transfere-se mais sobre a inclusão digital, a preservação da arquitetura da rede e autonomia dos usuários de serviços na web — como discutido nas aulas sobre política da rede e Software Livre — e, em termos de avançar além do que hoje dispomos, do progresso das formas de filtragem, priorização e produção de fontes primárias discutidos a seguir.

Políticas públicas para uma nova mídia[editar | editar código-fonte]

Além das questões econômicas e tecnológicas, há a ação dos governos regulando, para reprimir ou garantir, a liberdade de expressão, o fazer jornalístico, a segurança dos jornalistas e de suas fontes. Com relação à Internet, a responsabilização de provedores de acesso e plataformas para conteúdo contribuído por usuários, além de tentativas de proibir o anonimato e implementar vigilância e censura à rede, são os maiores impecílios à liberdade de imprensa.

As leis relativas à imprensa variam muito ao redor do mundo, assim como as leis de difamação e direito autoral, que afetam diretamente o jornalismo, mas há alguns exemplos e iniciativas interessantes:

  • No Brasil, houve a revogação da lei de imprensa do regime ditatorial e o fim da obrigatoriedade de diploma para a profissão de jornalista. Mais recentemente, uma nova legislação vem sendo proposta, sob o nome de Marco Civil da Internet, para impedir mecanismos de censura e garantir a privacidade necessária ao jornalismo investigativo.
  • Nos EUA, a liberdade de imprensa é protegida pela primeira emenda à constituição e se aplica também a blogs. Atualmente, provedores de Internet e serviços na rede não são considerados responsáveis por conteúdo de usuários desde que cumpram determinações judiciais de remoção.
  • A Islândia, após a crise financeira de 2008, vem implementando a Icelandic Modern Media Initiative, uma reforma jurídica para ampla defesa da liberdade de informação
  • Os Repórteres Sem Fronteiras mantém uma avaliação bastante completa das condições do jornalismo ao redor do mundo

Filtragem e priorização[editar | editar código-fonte]

Credibilidade e transparência, cidadãos e instituições, convergem e interagem para dar forma e sentido à opinião coletiva através de tecnologias para filtragem e priorização. Os mesmos padrões de participação devem, contudo, serem aplicados a essas tecnologias, atentando ao risco de esvaziar o debate ao formar uma opinião algoritmica que, como alertou recentemente o próprio Habermas, não constitui discurso em sociedade e assim não desenvolve uma esfera pública.

Jornalismo cidadão[editar | editar código-fonte]

Nesses exemplos, tanto quem prepara a matéria como quem determina o que é válido e importante é o cidadão não especializado. Para que isso dê-se eficientemente, torna-se necessário o conhecimento e desenvolvimento de processos de organização e orientação das comunidades, além do reforço de noções de ética e rigor jornalístico. Surge aí uma nova vocação para o jornalista profissional, que contudo requer habilidades nem sempre encontradas nas atuais formações.

Jornalismo editorial[editar | editar código-fonte]

Há também casos onde há um corpo e uma linha editorial de reputação, mas o veículo existe exclusivamente on-line, subsistindo com propagandas, doações e, ou, amparado em alguma instituição.

Investigação e fontes primárias[editar | editar código-fonte]

Além dos exemplos a seguir, duas referências para se pensar sobre o assunto são o texto Jornalismo Livre, onde ideias do movimento Software Livre são transportadas diretamente para a prática, e o sítio Jornalismo Digital.

Jornalismo cidadão[editar | editar código-fonte]

Como na seção anterior

Reorganizando o jornalismo investigativo[editar | editar código-fonte]

A julgar pelos exemplos de sucesso, há vários modelos viáveis para o jornalismo investigativo independente, seja como empreendimentos sem fins lucrativos mantidos através de doações e, ou, parcerias com outros veículos, seja por mecanismos de financiamento coletivo e, claro, o financiamento público já estabelecido.

Wikileaks, o terceiro necessário[editar | editar código-fonte]

Abstratamente, plataformas como o Wikileaks funcionam como um separador de poderes, dificultando a contaminação de interesses que possam prejudicar as fontes, seja na integridade das informações transmitidas ou na violação de seu anonimato. Consegue-se, assim, reforçar o estímulo às fontes e liberar o jornalista de responsabilidades às quais, diante de dificuldades e tentações econômicas, as instituições anteriores já não serviam.

Credibilidade e os mecanismos do poder comunicativo[editar | editar código-fonte]

Identidade é a base da credibilidade que organiza a atenção social. Como a atenção é limitada, a credibilidade é escassa, gerando efeitos de rede que transferem para a Internet parte significativa da concentração de poder originada na mídia de massa.

Para desfazer as oligarquias midiáticas é necessário mais que a universalização da rede. Precisa-se de processos de transferência de credibilidade e de mecanismos para gestão dessa e financiamento dos meios distribuídos, como os vistos nesta aula.