Myrciaria dubia

Fonte: Wikiversidade

Creme Dermatológico Antioxidante com Extrato de myrciaria dubia (camu-camu)[editar | editar código-fonte]

Antioxidantes[editar | editar código-fonte]

Podemos definir antioxidantes como átomos ou moléculas que possuem a capacidade de inibir ou reduzir reações indesejáveis provocadas pelo oxigênio. De modo geral, as substâncias antioxidantes estão presentes em todos os seres vivos, como um sistema de contenção e combate a ação de espécies de oxigênio no interior das células (RIGANO; DISTANTE, 2010).

Em determinadas situações, a proteção celular contra a ação oxidante se torna insuficiente, resultando em aumento descontrolado da peroxidação lipídica. Nesses casos, a arquitetura das membranas celulares é influenciada, com a redução funcional das organelas. A lipoperoxidação também pode ativar novas reações radicalares, formando, em série, agentes destruidores dos grupos tióis, proteínas e outros elementos celulares (RIGANO; DISTANTE, 2010).

O Efeito da Radiação UV[editar | editar código-fonte]

A radiação ultravioleta (UV) e a luz visível são as formas de energia que golpeiam a pele durante toda a nossa vida, e atuam como potentes catalisadores para muitas reações oxidantes que envolvem as moléculas das células vitais (RIGANO; DISTANTE, 2010).

Os efeitos provocados pela radiação UV são preocupantes, pois podem iniciar o desenvolvimento de um câncer. Isso se deve à geração de radicais livres e depleção dos antioxidantes endógenos, que iniciam no organismo uma cascata de reações que resultam em ativação do sistema de sinalização, liberação de mediadores inflamatórios, alterações cutâneas, imunossupressão e dano (mutação) ao DNA pelos dímeros de pirimidina (SANTOS, 2010). E embora o organismo conte com mecanismos antioxidantes, a concentração destes se apresenta reduzida com o envelhecimento, o que pode causar a propagação de radicais livres (JENKIS, 2002).

Vitamina C[editar | editar código-fonte]

A vitamina C, ou ácido ascórbico, é uma vitamina hidrossolúvel existente em frutas cítricas e vegetais, sendo também o antioxidante mais abundante presente na pele (GAO, 2008).

Funções Cutâneas da Vitamina C[editar | editar código-fonte]

O ácido ascórbico (vitamina C) possui várias funções biológicas na pele, dentre elas: inibição da melanogênese, estimulação da síntese do colágeno, contribuição na síntese da barreira lipídica do estrato córneo, prevenção da formação dos radicais livres, devido à sua propriedade antioxidante, os quais são os principais responsáveis pelos efeitos prejudiciais das radiações solares no envelhecimento cutâneo, consequentemente exercendo uma atividade anti-envelhecimento e possui um efeito antiinflamatório, podendo ser útil no tratamento de dermatoses inflamatórias, doenças auto-imunes e doenças fotosensibilizantes (KRAMBECK, 2009).

Um tratamento tópico prolongado com ácido ascórbico pode resultar na ativação da síntese de fibroblastos e diminuir as cicatrizes causadas pela idade, principalmente na região peri-orbital (KRAMBECK, 2009).

No entanto, a aplicação tópica do ácido ascórbico pode apresentar uma eficácia reduzida na presença de luz, oxigênio, altas temperaturas de armazenamento e altos valores de pH. Além disso, a reação do ácido ascórbico com o oxigênio é fortemente catalisada por íons metálicos, particularmente íons cúprico e férrico (KRAMBECK, 2009).

Camu-camu[editar | editar código-fonte]

Na Amazônia existem inúmeras espécies vegetais com potencial econômico, dentre os quais destaca-se o camu-camu (Myrciaria dubia (H.B.K.) McVaugh), uma Myrtaceae, silvestre, de ocorrência nas margens de rios e lagos da Amazônia, conhecido também como caçari, araçá d’água ou sarão, dependendo da região (MAEDA et al., 2006)

O camu-camu é uma fruta nativa da Amazônia peruana, em seu ambiente nativo, pode atingir até cerca de quatro a oito metros de altura (LUDUVIG, 1997), e pode ficar até seis meses submerso em água (VILLELA; SOUZA, 1996), por isso, cresce naturalmente na área de várzea (LUDIVIG, 1996). Além da Amazônia, a espécie é encontrada em estados do Pará e Rondônia (Brasil) e no Peru, Venezuela e Colômbia (ROQUE, 1994).

A principal característica do camu-camu é o seu alto teor de ácido ascórbico, que supera frutas significativamente cítricas, como limão e laranja (50 a 60 vezes mais). Além disso, o recente interesse dos polifenóis em plantas tem-se centrado no seu grande potencial para beneficiar a saúde humana, com especial referência para os polifenóis em frutas e legumes (DREOSTI, 2000).

A concentração de ácido ascórbico do camu-camu é superior à da acerola, até pouco considerada como a fruta mais rica em vitamina C. O camu-camu tem despertado o interesse de diversos setores industriais como fármaco, cosmético, conservante natural e alimentício. Da casca extrai-se corante natural (antocianinas). Além disso, o tipo de vitamina C encontrado no camu-camu não é destruído pelo calor (METZKER, 2001).

Maeda et al., em 2006, realizaram um estudo para determinar características físicas, químicas e físico-químicas de 100g do epicarpo, mesocarpo, polpa e néctar do camu-camu, em todas as matérias-primas analisadas foram elucidadas a presença de ácido ascórbico, antocianinas, flavonóides, compostos fenólicos, entre outros. A matéria-prima que apresentou a maior quantidade desses compostos foi o mesocarpo, com índice de 3064mg de ácido ascórbico, 181,38mg de antocianinas, 143,27mg de flavonóides e 1344mg de compostos fenólicos.

Em 2010, Tiburcio, Hoyos e Asquieri realizaram um estudo p/ quantificar substâncias da póla, casca e sementes de camu-camu, além de quantificar o grau de atividade antioxidante do fruto frente a alguns agentes oxidantes. Observou-se que o maior índice de antocianidinas (4642mg/100g), ácido ascórbico (4349mg/100g) foram detectados na casca do fruto fresca e na casca do fruto seca, respectivamente. A maior atividade antioxidante observou-se no extrato aquoso da casca seca do fruto, os radicais avaliados foram o DPPH, ABTS e peroxil.

Outro estudo realizado para detectar a quantidade de ácido ascórbico no fruto de camu-camu, foi desenvolvido em 2002, por Yuyama et al., no qual foi verificada a presença de 1950mg de vitamina C em 100g de camu-camu.

Justi et al., em 2000, realizaram um outro estudo para comparação no teor de ácido ascórbico em três estágios de maturação do camu-camu, imaturo, quase maduro e maduro. O maior teor foi evidenciado no fruto imaturo, possivelmente devido às transformações bioquímicas de ácido ascórbico durante o processo de maturação.

Creme Não-iônico com Extrato de Camu-camu[editar | editar código-fonte]

A proposta de formulação deste trabalho baseia-se em um creme dermatológico contra o envelhecimento cutâneo de ação antioxidante e estimulador da síntese de colágeno, à base de extrato de camu-camu. Como apresentado anteriormente, esse fruto contém uma quantidade significativa de ácido ascórbico, que é uma componente importante em formulações com o intuito proposto desta publicação.

Matérias-primas Utilizadas na Formulação[editar | editar código-fonte]

Extrato camu-camu 10%....................................10g

Extrato de banana 5%.........................................5g

EDTA................................................................0,1g

Creme não iônico q.s.p......................................100g

Ácido cítrico........................................................q.s.p

Hidróxido de sódio 50%........................................q.s.p

Funções de Alguns Componentes, pH e Estocagem[editar | editar código-fonte]

O EDTA, que comumente é utilizado como agente sequestrante de íons metálicos em formulações cosméticas, tem um papel muito importante, pois o ácido ascórbico é sensível a traços metálicos, e com a adição de EDTA, fica protegido da ação catalítica desses íons. A opção de se colocar extrato de banana justifica-se pela grande quantidade de magnésio que esse fruto apresenta, o mineral é capaz de formar um sistema com o ácido ascórbico cuja função é de inibir a sua ionização, que é o primeiro passo do processo de sua degradação (LEE, J. S.; KIM, J. W.; HAN, S. H. et al., 2004).

O valor escolhido para o pH da formulação é de 3,5, que é ideal para uma melhor estabilidade do ácido ascórbico em formulações cosméticas. Quando em pH neutro e básico, o ácido ascórbico tem sua estabilidade prejudicada quando em solução, plasma, preparações semissólidas, como gel e emulsão. O ácido cítrico e o hidróxido de sódio só serão utilizados para corrigir o pH da formulação, caso o mesmo não apresente o valor ideal (MENDEZ; GARCIA e SARAIVA, 2010).

A estocagem do creme deve ser feita em geladeira, em torno de 4°C, que é a temperatura ideal para uma maior estabilidade do ácido ascórbico, quando este é incorporado a um produto cosmético, e a embalagem adequada para reduzir o contato do produto com o oxigênio ambiental é em bisnaga de alumínio (MENDEZ; GARCIA e SARAIVA, 2010).

Estabilidade da Formulação[editar | editar código-fonte]

Além da adoção de embalagem adequada, a estratégia de formulação requer o uso de antioxidantes na fase externa das emulsões e o uso de um complexo adicional de antioxidantes, capaz de estabilizar, em sinergia, a molécula ativa mais importante. Na verdade, misturas “naturais” (vegetais) de antioxidantes são sempre mais ativas do que uma única molécula na mesma concentração, provavelmente devido ao efeito conjunto de muitas moléculas antioxidantes atuando concomitantemente, ou por causa da potencial reação redox localizada (KRALJIC; EL MOSHNI, 1978).

Com base nesta informação, pode-se sugerir que a formulação terá uma boa estabilidade, pois o camu-camu contém, além de ácido ascórbico, outros componentes com potencial antioxidante: os flavonóides, que em maior quantidade são as antocianinas.

Medição de Eficácia[editar | editar código-fonte]

Para medir a eficácia de produtos que contém antioxidantes, já foram propostos alguns tipos de medição. Em farmácia de manipulação esta medição seria praticamente inviável, pois requer o uso de tecnologias encontradas em empresas de grande porte, como indústrias.

A técnica que seria utilizada seria a Eliminação do Oxigênio Singlete, que pode ser verificada em soluções usando o azul de metileno e, como fotossensibilizante, o UVA. O oxigênio singlete reage com a L-histidina para formar um peróxido transanular, que descolore N,N-dimetil-p-nitroso-anilina. A reação é quantitativamente controlada por espectroscopia de absorção a 440nm (REHMAN; WHITEMAN; HALLIWELL, 1997).

Referências[editar | editar código-fonte]

DREOSTI, I. E. Antioxidant Polyphenols in tea, Cocoa, and Wine. Nutrition. V. 16, n. 7/8, 2000.

GAO, X.; ZHANG, L.; WEI, H.; CHEN, H. Efficacy and Safety of Innovative Cosmeceuticals. Clinics in Dermatology. 26, 2008.

JENKIS, G. Molecular Mechanisms of Skin Ageing. Mech Ageing Dev. V. 123:801-810, 2002.

JUSTI, Karin C.; VISENTAINER, Jesuí V.; SOUZA, Evelásio de; MATSUSHITA, Makoto. Nutritional Composition and Vitamin C Stabiliy in Stored camu-camu (Myrciaria dubia) Pulp. ALAN. V. 50, n. 4. Caracas dic. 2000.

KRALJIC, I.; EL MOSHNI, S. A New Method for the Detection of Singlet Oxygen in aqueos solution. Photochem Photobiol. V. 28, 1978.

KRAMBECK, Karolline; Amaral, Maria H. dos A. Desenvolvimento de Preparações Cosméticas contendo Vitamina C. Dissertação de Mestrado de Tecnologia Farmacêutica. Universidade do Porto. Faculdade de Farmácia, 2009.

LEE, J. S.; KIM, J. W.; HAN, S. H. et al. The Stabilization of L-ascorbic Acid in Aqueous Solution and Water-in-oil-in-water Double Emulsion by Controlling pH and Electrolyte Concentration. J. Cosmet Sci. V. 55, 2004.

LUDUVIG, M.M. A Nova Rainha da Vitamina C. Saúde. 148, 1996. LUDUVIG, M.M. A Superfruta da Amazônia. Natureza. 12, 1997.

MAEDA, Roberto N.; PANTOJA, Lílian; YUYAMA, Lucia K.O.; CHAAR, José Merched. Determinação da Formulação e Caracterização do Néctar de camu-camu (Myrciaria dubia McVaugh). Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, 26(1): 70-74, jan/mar, 2006.

MENDEZ, Andreas S. L.; GARCIA, Cássia V.; SARAIVA, Felipe S. Estabilidade de Creme Não Iônico com Ácido Ascórbico. Cosmetics & Toiletries. V. 22, n. 4, jul/ago, 2010.

METZKER, M. Pela Soberania Científica da Amazônia. Revista SEBRAE, n. 2, dez/jan. 2001.

REHMAN, A.; WHITEMAN, M; HALLIWELL, B. Scavening of hydroxyl radicals but not of peroxynitrite by inhibitors and substrates of nitric oxide synthases. British Journal of Pharmacology. V. 122, 1997.

ROQUE, P. O camu-camu. Manchete Rural. 88(7), 1994.

SANTOS, Júlia S. Antioxidantes de Origem Vegetal em Cosméticos. Cosmetics & Toiletries. V. 22, n. 3, mai/jun, 2010.

TIBURCIO, Juan Edson Villanueva; HOYOS, Luis Alberto Condezo; ASQUIERI, Eduardo Ramirez. Antocianinas, Ácido Ascórbico, Polifenoles Totales y Actividad Antioxidante, em la Cáscara de camu-camu (Myrciaria dubia (H.B.K) McVaugh). Ciência e Tecnologia de Alimentos. Vol. 30, supl. 1. Campinas, maio 2010.

VILLELA, G; SOUZA, W. Camu-camu, a Fonte Brasileira de Vitamina C. Manchete Rural. 112(9), 1996.

YUYAMA, Lucia K. O.; ROSA, Rosane D.; AGUIAR, Jaime P. L.; NAGAHAMA, Dionísio; ALENCAR, Fernando Hélio; YUYAMA, Kaoru; CORDEIRO, George W. de O.; MARQUES, Hedylamar de O. Açaí (Euterpe oleracea Mart.) e camu-camu (Myrciaria dubia (H.B.K.) McVauch) Possuem Ação Anti-anêmica? Acta Amazônica 32(4): 2002.