Realidade, Ensino e Filosofia

Fonte: Wikiversidade

Introdução[editar | editar código-fonte]

Algumas questões se sobrepõem não só no ensino de Filosofia mas em qualquer âmbito do ensino. No texto de Walter Kohan, Sobre o ensinar e o aprender... Filosofia, surgem questões como: (1) ensina-se algo quando se diz que se está ensinando? (2) será que alguém aprende algo quando um outro está ensinando? (3)e ao ler O que isso, a Realidade (de João-Francisco Duarte Júnior)? De que realidade está-se falando? Existem várias realidades, planos de realidade, níveis de realidade?

Um processo de ensino-aprendizado de Filosofia é parte de uma desconstrução de realidades, se se tratar os alunos como indivíduos, para uma construção de uma realidade distinta daquela que estão inseridos, ou acostumados: o mundo cotidiano. Na leitura de Realidade percebe-se que a construção do real é feito com a apropriação da linguagem, dos símbolos que determinam o que é a realidade em que se está inserido, quanto mais linguagem, mais símbolos mais signos -- que é a decodificação da realidade para os observadores externos, -- mais realidade é apropriada, ou, dizendo de outra forma, adquire-se conhecimento, internaliza-o, constrói-se.

Portanto partindo desse pressuposto, possuindo maior quantidade de signos, mais conceitos para explicar as coisas, melhor conseguiremos nos relacionar com as diferentes realidades que se apresentam para nós e, consequentemente, poderemos de outras formas explicá-la. Pois o que determina a consciência da realidade é dado em três momentos da institucionalização: primeiro o ser humano cria a realidade; no segundo momento a realidade se desliga do ser humano, torna-se objetiva, reificada; e em terceiro, no processo de aprendizagem, o ser humano torna-se produto do que ele mesmo produziu, sendo tudo a ação de um sistema lingüístico, é dentro deste processo que se dá a formação das instituições.

As instituições são normatizadas, legitimadas e nesta legitimação existem quatro níveis de conhecimento: um primeiro nível pré-teórico, um segundo contendo proposições teóricas, terceiro de especialistas de um corpo de conhecimentos e um quarto nível, e acredito ser o mais importante, o Universo Simbólico onde não existem alusões á vida cotidiana. O que realço é a estreita ligação deste Universo Simbólico com processo educacional, mesmo não possuindo uma referência com o cotidiano ele é a forma de explicar a realidade seja ela mitológica, religiosa, filosófica ou científica. Dentro desta questão a aprendizagem aparece como forma de socialização, ou como classificou o autor, como "processo de aprendizagem da realidade" , sendo eles socialização primária e socialização secundária, tendo maior importância a primária pois é a que se dá dentro da família, e a que formará o indivíduo por toda sua vida, estando ele carregado de "alta dose de afetividade". Já o a socialização secundária marcada por uma menor quantidade de afetividade. E é neste processo secundário que se dá a ação dos professores e talvez por isso é tão difícil. Atualmente o processo de ensinar simbolicamente está cada vez mais afastado do cotidiano, mas aqui aparece um paradoxo: não seria este o sentido do ensino, afastar do cotidiano para refletir sobre ele?

Como as questões suscitam mais e mais questões. Por exemplo uma afirmativa Walter Koham, no texto em que ele afirma não existir método para ensinar, escreve ele: "Não há métodos fórmulas, técnicas para ensinar". Isto me lembra um texto de Nietzsche onde ele diz que pode se chegar um dia na sala de aula e não ter nada para falar, pode ser um dia daqueles em que não nos sentimos bem e temos que falar de Filosofia, de História ou qualquer outra disciplina, como fazemos se temos que seguir um método? É evidente que podemos até seguir algum método, mas ele não pode se tornar um dogma. Mesmo que não possuir um método possa ser considerado "método", é essencial que na educação se trabalhe com a contingência.

Seguindo as questões do texto Epistemologia da Educação, de Gilberto Krombauer, onde ele explicita claramente as questões referentes ao método e a realidade objetiva, no processo de aprendizagem, voltando ao Kohan, o que menos importa é o método pois se a realidade é composta de várias realidades, aqui entendida que pode ser compreendida de muitas formas, o método apenas vai direcionar o conhecimento para uma determinada direção, para um lugar já definido sem um questionamento, apenas com um objetivo já definido anteriormente é por isso que o perguntar é importante. O saber perguntar é o que faz do diálogo o momento filosófico por excelência, pois é no perguntar, sem ter uma resposta já definida ou com um objetivo já dado pelo método, é onde acontece o processo dialético do conhecimento e por conseqüência da realidade, é o perguntar para o diálogo que se pode, acredito, inverter os processos já institucionalizados de aprendizagem e, por que não, usando um termo de Giovanni Reale, desmitizar, os "universos simbólicos".

Filosofia é algo que possa ser ensinado? e aprendido?[editar | editar código-fonte]

De acordo com Celso Candido, em referência a Immanuel Kant, filósofo alemão, "nós não aprendemos filosofia, simplesmente porque não há nada para aprender. E se nada há para aprender tampouco há algo a ensinar". Segundo o mesmo professor, a filosofia não é um corpo de conhecimentos bem definidos e acabados, o qual os professores deveriam ensinar e os alunos aprender. A filosofia é uma disciplina não acabada, em construção permanente,ela é um sistema em evolução e contradição perpétuo e que só se aprende no seu exercício, ou seja, pensando por si mesmo. A prática do ensino da filosofia consiste na prática de um diálogo que envolve o pensamento livre e autônomo. Trata-se de ensinar o pensamento livre, o amor ao pensamento autônomo. Ensinar fazendo (filosofia). Um ensinar a aprender o tempo todo. Ensinar filosofia é ensinar a arte do diálogo, um diálogo que permita uma reflexão de si e do outro. A filosofia tem a função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo ente as diversas formas do saber e do agir. Quer superar o conhecimento fragmentado das ciências, o saber parcelado, para resgatar o homem na sua integridade, restabelecendo a visão de conjunto. A Filosofia é movimento, pois o mundo é movimento. As perguntas são mais importantes que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta. Ela provoca o desvelamento do que está encoberto pelo costume, pelo poder, pelo convencional. O filósofo sai em busca, não do valor da ação, mas do significado dela.

Para novas Leituras Instigantes: veja-se [1] (parte de cursos de filosofia)