Wikinativa/Tapuia

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Tapuias
"Dança dos Tapuias", por Albert Eckhout

"Aldeia dos Tapuias", por J. M. Rugendas
População total

235

Regiões com população significativa
Área Indígena Carretão
Línguas
Português
Religiões
A religião dos Tapuias era basicamente animista, eles adoravam as forças da natureza com o trovão, a lua, o sol, além disto, acreditavam que certos animais, como serpentes, aves e alguns mamíferos, como morcegos, praticaram sacrifícios de animais, até humanos. Os europeus aqui chegados trataram de demonizar os deuses dos Tapuias, como podemos ver na frase do cronista Morisot, "Os brasilianos só adoram o diabo, não que daí esperem um bem, mas porque o temem, e por esse motivo oferecem sacrifícios e o invocam". (30, 125).
Grupos étnicos relacionados
Xavantes, Caiapós, Botocudos, Tarairus, Cariris

Os Tapuias são um grupo indígena que habita o noroeste do estado brasileiro de Goiás, mais precisamente nas colônias indígenas Carretão I e II. Na luta pelo domínio do litoral, a expressão tapuia foi usada para designar as populações indígenas não pertencentes à família Tupi-Guarani, o grupo dominante, que ocupava o litoral, quando os portugueses descobriram o Brasil.

Numa carta de um bandeirante, Domingos Jorge Velho, de 15 de julho de 1694, ao rei de Portugal, identifica o tapuia como "gentio bárbaro e comedor da carne humana". O canibalismo é também referido pelo Padre António Vieira que, no Sermão de Santo António aos Peixes, pergunta "Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros?"

O passado de cunho mitológico dos tapuios não remonta aos tempos imemoriais de seus ancestrais que dominavam um território vastíssimo, correspondente a uma boa parcela do atual estado de Goiás. O passado dos tapuias coincide com o da fundação da aldeia do Carretão, no século XVIII, quando partes de diferentes povos indígenas da região são ali assentadas e perdem sua autonomia tribal. A rainha Dona Maria I, o imperador Dom Pedro II, o presidente Getúlio Vargas, o interventor Pedro Ludovico, o inspetor Mandacaru são personagens benfeitores que revalidaram a posse do Carretão em diversas ocasiões.

Localização[editar | editar código-fonte]

Coordenadas -15.196870645124779,-49.867400050000015

http://toolserver.org/~geohack/geohack.php?params=15_11_48_S_49_52_2_W

Veja no mapa


Mapa Interativo[editar | editar código-fonte]

Localização do povo

História[editar | editar código-fonte]

Autores quinhentistas como Gabriel Soares de Sousa já utilizavam o termo "tapuia", contrastando os índios dessa estirpe com os tupi-guaranis (tupinambás). Os tupi-guaranis marcavam presença no litoral, enquanto os tapuias predominavam no interior. Grupos incluem, por exemplo os botocudos e muitos do nordeste do Brasil, como os tarairus e os cariris. Os tapuias também eram conhecidos por "bárbaros", explicando melhor, os gregos antigos em função do grande avanço que sua sociedade havia conquistado chegavam ao ufanismo de julgar inferior toda cultura que se diferenciasse. Por causa disso, todos os que não falavam grego soavam como “bar-bar-bar” por isso os gregos lhes davam o nome de bárbaros. Algo semelhante acontecia aqui no Brasil pré-colônia, no período que os nativos ainda chamavam essa terra de Pindorama. Todos os que não pertenciam ao tronco linguistico tupi-guarani era chamados de tapuias.

Esse povo habitava os sertões da capitania do Rio Grande do Norte, divididos em vários grupos nomeados de acordo com a região onde moravam – Cariris (Serra da Borborema), Tarairiou (Rio Grande e Cunhaú), Canindés (no sertão do Acauã ou Seridó), e eram chefiados por vários reis e falavam línguas diversas, e entre os mais destacados eram os reis Janduí e Caracar, cujo poder real não era hereditário.

Os tapuias eram fortes, possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eles eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal, eram endocanibalistas, isto é, devoravam até mesmo os de sua tribo quando da sua morte.

Os homens apresentavam-se corpulentos, possuidores de grande força física, pele queimada, em tons de marrom, cabelo longo, eram desprovidos de pêlos por todo o corpo, não costumavam usar roupas porém cobriam as partes íntimas com peças feitas de materiais rudimentares, extraídos da natureza.

As mulheres apresentavam estrutura física pequena, mas a cor era a mesma da dos homens, costumavam manter os cabelos curtos ou longos, de corpos rechonchudos. Elas também escondiam suas partes íntimas e adornavam seu corpo com o que encontravam na natureza.

Resistência aos colonizadores[editar | editar código-fonte]

A nação Botocuda/Guerém/Tapuia, nomes dados em diferentes épocas da Historia, travou uma sangrenta batalha com os Portugueses na região litorânea da Bahia, atual Costa do Dendê, que ficou conhecida como a Guerra dos Guerém que durou cerca de 15 anos e terminou em 1750, contradizendo então desta forma, as teorias positivistas que estigmatizavam os índios como passivos, preguiçosos e facilmente controlados. Ao contrario, esses não se deixaram escravizar e lutaram bravamente com um sistema de resistencia extremamente organizado ,como o acontecido na America Espanhola, onde os Ameríndios, antes da chegada dos Exploradores/Colonizadores,quem fosse pego bêbado sem motivo, poderiam sofrer a pena de Morte, pois usavam a bebida para exaltação em cerimoniais de suas divindades, contudo com o aprisionamento e exploração por parte dos Europeus, os índios passaram a manter-se embriagados para não terem que trabalhar para seus opressores como forma de resistencia.Outra forma de resistência organizada pelas nações indígenas na America Espanhola foi sem dúvida a negação da palavra, ou seja, a recusa de falar com seus “colonizadores”, sendo severamente castigados ,humilhados e muitas vezes mortos.

A resistência organizada no litoral do Brasil (Guerra dos Guerém) durou quinze longos anos, tendo sido invadido a cidade histórica de Cairu, onde moravam ouvidores do Rei e figuras políticas ilustres da época que tiveram que fugir e se refugiarem nas ilhas componentes do arquipélago de Tinharé como Gamboa do Morro, Morro de São Paulo, Boipeba, Garapuá e outras, por serem esta nação indígena péssimos navegadores de longas distâncias, contribuindo assim para o povoamento da referidas ilhas pela colonização Portuguesa. Até o momento dos índios terem sido pacificados por frades italianos, chefiados pelo Frei Bernardino de Milão, que acabou organizando um povoado ao sul da Bahia à margem direita do Rio Una , com cerca de 450 índios, em volta de uma capela que recebeu o nome de Capela de Nossa Senhora do Amparo, sendo denominado Povoado de Una, que em 1842 transformou-se na cidade Industrial de Valença na atual região que fica a cidade de Valença na Bahia.

Língua[editar | editar código-fonte]

Quais são as características linguísticas desse povo? Descrever melhor aspectos como língua, tronco, etc.

A linguagem era um tanto mal entendida, pois era trêmula, e cantada, não se entendia nada. Dezenas de palavras foram usadas na linguagem dos tapuias como por exemplo; carfa, caruatá, cayú, comatyn, corpamba, corraveara, cucuraí, ditre, entre outros.

Assim, por exemplo, segundo o jesuíta Jácome Monteiro, escrevendo no início do século XVII, foram os colonizadores que estabeleceram a distinção entre Tupis e Tapuias: “Dizem mais que este Maíra Tupã dividiu entre eles as línguas para que tivessem guerra com os Tapuias, mas não sabem dar a razão delas” (apud Leite, 1938-50, 8:408).

Se é nos primeiros relatos e crônicas coloniais que se encontra esta clara distinção entre grupos da “língua geral” e “tapuias”, esta visão foi aprimorada pelos historiadores e escritores do século XIX, que tomavam o Tupi do século XVI como símbolo maior da nacionalidade. Não é difícil identificar os contrapontos deste Tupi idealizado: além do onipresente escravo africano e mulato, encontramos também uma legião de Botocudos, Coroados e Bugres, abordada pela expansão pós-colonial e pelos cientistas estrangeiros. Nas palavras de Manuela Carneiro da Cunha, “o que os Tupi- Guarani são para a nacionalidade, os Botocudos são para a ciência” (Carneiro da Cunha, 1992, 136). Em São Paulo, era praticamente unânime o consenso em torno da insignificância do Tapuia, “que contingente quase nulo forneceram à nossa constituição de povo” (Freitas, 1936, 29-30).

Cosmologia e Religiosidade[editar | editar código-fonte]

Rituais de Vida e Morte

Os Tapuias, por vezes, atingiam aproximadamente um século de vida. Quando isso acontecia eram homenageados por sua tribo. Isto quando do sexo masculino - se do sexo feminino, ao darem à luz a mais de um filho, tornavam-se cativas. Estando doentes são visitados pelos amigos e se o caso de morte, matavam-nos para que não houvesse sofrimento. A causa mais frequente de óbito entre os Tapuias era o veneno de cobra. Eram endocanibalistas, devoravam até mesmo os de sua tribo, quando da sua morte.

Da Gravidez, do Parto e das Crianças

A índia, quando grávida, não tinha relações com o marido, também enquanto amamentava. A tapuia dava à luz nas matas, cozia o umbigo e a placenta e comia. Quando voltava ao acampamento, o filho era cuidado por outra mulher. Os maridos tinham o mesmo resguardo da parturiente. Esta se alimentavam de farinha de mandioca, milho, feijão, até o nascimento dos dentes dos lactentes. Os nascidos mortos eram devorados pelos tarairiús. As crianças começavam a andar com nove meses e aprendiam a nadar nesta mesma época. Entre sete e oito anos eram furados o lábio inferior e as orelhas e colocados ossos e paus, depois eram batizados, ficando aptos para as lutas.

Rituais religiosas e crenças

Os Tapuias tinham como Deus principal a Constelação Crux, para eles um inimigo dos Tapuias o intrigou com o seu Deus, este era a raposa, a causadora de sua expulsão do paraíso. Os tapuias acreditavam na imortalidade da alma desde que a pessoa não tivesse morrido de morte matada ou de picada de serpente.

Os Tapuias não faziam nada sem antes consultar os feiticeiros e adivinhos. De um modo geral, a religião dos tapuias lembra um pouco as religiões da África, no tocante a influência forte dos feiticeiros na vida indígena. Os europeus viam nos rituais dos tapuias um comércio direto com os poderes do inferno, além disto os tapuias possuíam deuses também que regiam a agricultura, a pesca e a caça, os invocaram e sacrificaram a eles para obter boas colheitas, pesca e caça fartas. Os tapuias tinham uma lenda que falava no Deus da criação, que tinham dois filhos, o mais novo foi embora para a terra, o Deus pai enviou seu filho mais velho para buscar seu filho mais novo, mas este e seus filhos acabaram maltratando e matando o irmão mais velho, que depois de morto ficou na terra, entre seus parentes, por vários dias e somente depois ascendem ao céu, retornando para o seu pai.

Os europeus acreditavam que o Deus em quem os tapuias falavam era o Deus de Israel, o filho mais velho Jesus Cristo e o filho mais novo seria o próprio Lúcifer ou Caim.

Aspectos Culturais[editar | editar código-fonte]

A Vida Amorosa dos Tapuias

A puberdade era o período em que a donzela estaria pronta para casar-se. A virgindade era bastante valorizada. O namoro, acontecia entre danças, onde eram escolhidos os pretendentes. No noivado, o pretendente oferecia presente ao sogro. Quando a donzela não arrumava pretendente, era levada ao rei e este a possuía.

Os jovens tinham que demonstrar valor pessoal, exibindo força física. O rei aprovava a cerimônia e quando esta se realizava, furavam-se as faces dos noivos e colocavam pauzinhos. A festa durava cinco dias. Os matrimônios eram severos, apesar da poligamia, mas as cerimônias eram reservadas às primeiras esposas. Possuir várias mulheres era sinal de prestígio. O adultério era raro, e o marido expulsava a ré, depois de açoitá-la, no caso do flagrante e poderia matá-los. Sobre os tapuias cariris, eram praticantes do adultério, e era recíproco.

Ferocidades, Armas e Lutas dos Tapuias

Os Tapuias possuíam semblante ameaçador, corriam igual as feras, por isso eram muito temidos. Eram inconstantes, fáceis de ser levados a fazer o mal. Eram fortes, carregavam nos ombros grandes pesos. Ao irem para guerra, marchavam em silêncio, mas no embate faziam bastante alarido, jogando setas envenenadas das quais os feridos jamais escapavam.

Foram úteis, como aliados dos holandeses, conduzindo aos lugares mais difíceis. Os tapuias que se destacavam nas lutas eram considerados heróis.

O poder real não era hereditário, este era substituído quando morto. O rei distinguia-se dos outros pelos cabelos e pelas unhas. Os tapuias eram muito obedientes ao rei.

Os tapuias se enfeitavam da cabeça aos pés para as lutas. Suas armas eram as flechas, as pranchetas, arcos e dardos, que usavam com grande habilidade. Usavam também as clavas e machados de mão; as armas eram enfeitadas com bonitas plumas. Eles não se utilizavam das armas de fogo, passaram a usar em razão da Guerra dos Bárbaros.

Caça, Pesca e Agricultura dos Tapuias

Os tapuias levavam uma vida descuidosa. Não semeavam, não plantavam, nem se esforçavam por coisa alguma. Alimentavam-se com mel de abelhas e maribondos e com outras coisas da terra, como cobras e lagartos. Os tapuias armavam ciladas aos peixes e animais, utilizando seu admirável olfato e sua habilidade para comer. Alimentavam-se ainda de frutos agrestes, caça fresca, peixes, tudo sem temperos ou condimentos. Não semeavam outra coisa além da mandioca.

Para assar a carne, eles cavavam um buraco na terra e colocavam a carne, depois enterravam pondo folhas de árvores por cima e faziam uma fogueira por cima de tudo.

Para atraírem felicidade na caça e pesca, os tapuias cariris queimavam ossos de animais ou espinhas de peixes.

Os Jovens caçadores presenteavam os velhos da tribo com caças e pescarias, sem sequer comer um único pedaço. Durante o período de caça e pesca, comiam uma sopa muito rala, feita com farinha de milho ou mandioca. Depois dessa temporada, estavam magros, por razão do intenso trabalho e da alimentação inadequada.

Momento atual

Encontram-se num processo adiantado de aculturação; incorporam elementos culturais da sociedade nacional, sistema de trabalho, organização econômica, casamento com pessoas de fora da comunidade (casamentos interétnicos); e conservam a noção de pertença às origens indígenas.

Medicina tradicional[editar | editar código-fonte]

Quais são as formas de conhecimento ancestral relacionados neste item? Quais são as plantas principais e métodos utilizados pelos pajés para as curas de males físicos e espirituais.

Os pajés em geral, curadores por excelência, atuam a partir dos sonhos e a partir da música. Seu diagnóstico das doenças, o prognóstico e o tratamento escolhido – rituais, banhos, beberagens à base de misturas de plantas, etc. – vai depender do que seja revelado pela música, pela fala cantada (kewére, a prece) e pela dança. O grande veículo mercurial que liga os atos xamanísticos do pajé ao suprassensível é o tabaco, o fumo. Em geral, utilizam-se variedades exóticas de tabaco (Nicotiana rustica e outras), diferentes do tabaco industrial, e misturas de ervas diversas, cujas folhas são secas e preparadas sob a forma de um charuto – o Petüm (origem do termo “pitar”).

Em termos antroposóficos, dir-se-ia que as plantas dotadas de forte astralidade e cheias de alcalóides, como o tabaco, ou o paricá (Anadenanthera peregrina), tornam-se mediadores entre o mundo sensível e o mundo anímico-elemental – uma vez inseridas no corpo dos pajés. O objetivo destas plantas é o da indução de estados alterados nos pajés. Todavia, os mais experientes deles alteram seus estados de consciência simplesmente pelo canto e pela dança. As plantas que exalam óleos voláteis, sendo, portanto, odoríferas, são geralmente utilizadas como plantas de limpeza ou como capazes de reconstruir limiares rompidos entre pessoa e mundo (“fecham o corpo”) – como, por exemplo, a Siparuna guianensis.

Situação territorial[editar | editar código-fonte]

A Área Indígena Carretão compreende duas glebas: a gleba 1, subdividindo-se em gleba 1A, localizada no município de Nova América, e a gleba 1B, localizada no município de Rubiataba, com uma área de 1.666 hectares; e a gleba 2, localizada no município de Nova América, com uma área de 77,5 hectares. Seu território já é demarcado e homologado; ainda há invasores tanto da gleba 1 como da gleba 2. Os Tapuias ocupam somente a gleba 1; a gleba 2 está totalmente ocupada por invasores.

Referências[editar | editar código-fonte]

ANCHIETA, José de.. Cartas, Obras Completas, vol.6

FEMENICK, Tomislav R.. Tapuios e Outros Índios. Gazeta do Oeste, Mossoró 28-01-2007; O Jornal de Hoje, Natal 29-01-2007

FILHO, Olavo Medeiros.. Índios do Açu e Seridó. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1984.

MONTEIRO, John M.. Tupis, Tapuias e Historiadores. Estudos de História Indígena e do Indigenismo. Departamento de Antropologia, IFCH-Unicamp, Campinas 2001

NETO, Francisco C. de Aguiar.. Revista Leituras na Historia. Artigo-Tiragem Nacional, 2010

OLIVEIRA, E. da S.; MORAIS, M. A de; MEDEIROS, E. D. de & MEDEIROS, M. de L. P. de. Tapuias. História do RN n@ WEB [On-line] (ufrn.br)

VESPÚCIO, Américo.. Carta a Lorenzo diMedici

SOUSA, Soares de.. Cartas de 1971 [1587], P. 78-79

Atlas Histórico, Goiânia, Cecab, 2001. P. 31

CEPLAC. Cidades do cacau, Ilhéus, Bahia, 1982

Momento UCG, abril de 2000

Adrian, Thalita 2 ANO A

Enlaces externas[editar | editar código-fonte]

Atlas Histórico, Goiânia, Cecab

Momento UCG