Introdução ao Jornalismo Científico/Metodologia e Filosofia da Ciência/Metodologia e comunicação/script

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O campo da comunicação[editar | editar código-fonte]

A palavra "comunicação" carrega uma ambiguidade conceitual. Pois pode se referir tanto à uma disciplina, a Comunicação, quanto ao seu objeto de estudo, a comunicação[1]. Tal ambiguidade, no entanto, não deve tirar de vista o fato da Comunicação ter se constituído enquanto campo ao se desdobrar da grande área das Ciências Sociais e Humanas. Esse processo de se tornar um campo autônomo tem se dado, principalmente, pela demonstração da especificidade de seu objeto: fenômenos comunicacionais da sociedade atual.

Até os anos 1970 "Pesquisa em Comunicação" era referida como "Pesquisa em Comunicação de Massa".

Tendo isso em vista, é um campo que se autonomiza à medida que as organizações culturais da sociedade também se autonomizam, criando, na contemporaneidade, o que chamamos de meios de comunicação de massa (MCM). Os cursos de comunicação contribuem com a legitimação do campo por promoverem a formação especializada dos profissionais para o mercado cultural e concentrarem a pesquisa acadêmica. Fatores histórico-sociais direcionam os estudos comunicacionais, sendo assim, a organização da sociedade em um sistema capitalista orienta a análise dos fenômenos de uma cultura industrializada. Esses estudos poderiam facilmente ser designados como Comunicação Social ou Comunicação de Massa.

"A pesquisa em Comunicação aparece movida sobretudo por uma motivação política de compreender os efeitos da mídia sobre o público na democracia"[2]. Em termos de localização histórica, isso se situa em meados do século XIX, quando o desenvolvimento da indústria de comunicações norte-americanas apresentava um crescimento sem precedentes em relação ao mundo todo. Começava a surgir o interesse nos estudiosos das Ciências Sociais em entender os resultados do aumento da tiragem de jornais impressos, do desenvolvimento do rádio, do cinema e, mais tarde, da televisão na vida do cidadão. Qual seria o impacto da oferta de uma quantidade inédita de informação?

Já na América Latina, as pesquisas em comunicação começaram a ganhar corpo nas décadas de 1960 e 1970, no contexto de governos autoritários e democracias frágeis. O estabelecimento do rádio nos anos 1920 e da televisão nos anos 1950 não ensejaram os estudos em comunicação, que só foram se consolidar nas décadas seguintes. O objetivo era mostrar como os meios de comunicação corroboravam para a manutenção do sistema político vigente e criticá-los era uma forma de criticar o próprio sistema.

"Como partimos do pressuposto de que a Comunicação se constitui historicamente como campo autônomo de estudos (aliás, o que ocorreu na história de cada ciência), ela não pode ser investigada fora dos marcos do contexto econômico, social, político e cultural que a envolve. As condições de produção dessa pesquisa são as condições concretas impostas pela realidade do país onde ela se faz." Maria Immacolata V. Lopes

Os objetos da pesquisa[editar | editar código-fonte]

Uma propaganda, como esta de recrutamento de soldados norte-americanos, pode ser um dos objetos de pesquisa da comunicação

Os objetos de pesquisa em comunicação seguem alguns recortes clássicos, são eles: os estudos ligados à produção da mensagem, à mensagem em si, à recepção e às interações. É claro que a Comunicação é um fenômeno mais complexo do que qualquer recorte e uma parte não pode ser dissociada da outra. Mas, como estratégia metodológica, destaca-se uma parte ou outra.

Estudos de produção - O objeto de pesquisa, aqui, são as condições de produção, a criação das mensagens. Ou seja, procura-se entender o motivo das mensagens serem criadas das formas como são. O método geralmente associado a esse objeto é uma pesquisa de campo. O pesquisador dirige-se a redações, agências de publicidade, assessorias de imprensa, produtoras entre outros espaços especializados em comunicação para realizar a coleta de dados.

Mensagem - Este objeto como o próprio nome sugere tem como foco o produto, podendo ser uma propaganda, um vídeo online, música de uma campanha política etc. Nesse caso, a pergunta que normalmente orienta a pesquisa é "O que isto quer dizer?" e investiga-se questões de representação e significado. Os estudos de mensagem tendem a ser feitos a partir de análises de discurso, análises de narrativa ou análises de conteúdo.

Estudos de recepção - Investigam como pessoas entendem mensagens das mídias dentro de seu contexto social. O foco nesse objeto é o processo de atribuição de sentido. Partindo-se da premissa que a recepção da mensagem é um processo ativo, os receptores vão construir e reconstruir os significados de acordo com suas referências.

Interação - Esse tipo de pesquisa considera as interações e relações simbólicas entre os seres humanos.

Coleta de dados[editar | editar código-fonte]

Entrevistas - Uma das atribuições básicas do jornalista, a entrevista, também se mostra como mecanismo de pesquisa e pode acontecer mediada por alguma tecnologia ou não;

Grupos Focais - Nessa categoria, as entrevistas são feitas em conjunto. Um grupo de pessoas se reúne para discutir as questões propostas pelo pesquisador a respeito de algum produto, mensagem ou interação;

Diagrama de uma rede social

Etnografia - Com bases na Antropologia, esse método ocorre a partir do contato inter-subjetivo entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados, sejam eles indígenas de alguma etnia ou integrantes de qualquer outro grupo social. O trabalho de campo e o contato prolongado entre as partes são critérios fundamentais;

Netnografia - Derivada da etnografia, analisa o comportamento de indivíduos e grupos sociais na internet e as dinâmicas desses grupos on-line e off-line;

Observação - Pode ocorrer por meio de pesquisas de campo ou por interpretações de discursos no meio digital;

Documentos - A coleta e análise de documentos, tais como fotos, noticias, registros oficiais, entre outros, configura uma das formas reunir dados para a pesquisa em comunicação;

Histórias de vida - Relacionando-se diretamente com a prática da História Oral, essa modalidade consiste na entrevista com fontes que, geralmente, facilitam uma compreensão sobre o passado. A partir de relatos pessoais, é possível estabelecer conexões entre a vida do entrevistado e determinados eventos históricos;

Estudo de casos - Caracteriza-se por descrever um evento ou caso de forma aprofundada. O caso consiste geralmente no estudo de uma unidade individual, tal como: uma pessoa, um grupo de pessoas, uma instituição, um evento cultural, etc. Quanto ao tipo, podem ser exploratórios, descritivos, ou explanatórios.

Pesquisa, inovação e produto experimental[editar | editar código-fonte]

Sendo a comunicação um campo tão amplo em termos de objeto e possibilidades metodológicas, o produto experimental é uma realidade para os trabalhos da área. Nesse sentido, é comum que haja inovação nos formatos e linguagens propostos para as investigações.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. LOPES, Maria Immacolata V. Pesquisa em comunicação. Formulação de um modelo metodológico. São Paulo: Edições Loyola, 8ª ed, 2005.
  2. MARTINO, Luís Mauro Sá. Métodos da pesquisa em comunicação: Projetos, ideias, práticas. Editora Vozes, 2018.