Utilizador:Isis Victoria Rodrigues

Fonte: Wikiversidade

Análise do filme: "Zuzu Angel", Dir. Sérgio Rezende, 2006.


O filme baseado em fatos da vida de Zuzu Angel expõe a luta de uma mãe que tem seu filho como desaparecido durante a ditadura militar brasileira, evidenciando assim a crueldade e violência utilizada pelos militares da época para contenção e censura dos militantes que lutavam a favor da democracia.

Zuleika de Souza Netto, nascida em 5 de junho de 1921 foi uma estilista brasileira, e figura marcante na luta contra a ditadura militar, e ficou conhecida nacional e internacionalmente pela busca incessante de seu filho desaparecido durante o regime ditatorial,, Stuart Angel Jones. Além de Stuart, tinha mais 2 filhos, quem criou sozinha, sofrendo assim preconceito na época em que ser mãe solteira era muito mal visto. A estilista levava uma vida tranquila financeiramente devido ao sucesso de sua carreira, mesmo durante a ditadura militar, sofrendo assim poucos ou nenhum impacto pelo regime no Brasil, porém seu filho mais velho, Stuart se indignava com os acontecimentos que acometiam o Brasil na época sendo militante socialista, e a partir disso começa a frequentar manifestações e lutar contra a repressão policial. Tendo uma visão limitada de quais as consequências e da tamanha violência da ditadura, Zuzu se colocava diversas vezes contra a luta de seu filho, a enxergando como desnecessária ou exagerada, já que pessoalmente se encontravam em uma posição privilegiada, onde não sofriam diretamente com a repressão militar. Conforme Stuart se afeiçoava mais à luta contra a ditadura, sua mãe se preocupava com as consequências de seus atos, tendo em vista que até então, sua vida no anonimato era segura, e poderia não permanecer da mesma forma. Suas preocupações se mostram válidas, tendo em vista que após uma ligação suspeita citando o codinome “Paulo” que seu filho utilizava para se manter no anonimato, Stuart é dado como desaparecido. Após o desaparecimento de seu filho, Zuzu aciona seu advogado e junto a ele, vão procurá-lo na base do exército, acreditando que possa ter ocorrido sua prisão, e ao chegar lá, é constatado por um general presente a ausência do jovem, que garante que caso tenha ocorrido a prisão por um Órgão do exército, todas as leis da convenção de direitos humanos seriam respeitadas, fato que posteriormente é evidenciado como incorreto. Zuzu realiza buscas também em bases aeronáuticas, e sem sucesso retorna à estaca zero. Para retratar a alienação da população, o filme evidencia a fala de um padre, que ao ser questionado sobre o caso de Zuzu e seu filho, afirma veemente que os boatos de perseguição e tortura, eram maipulados e espalhados pelos comunistas da época para assustar a população. Após anos de procura, Zuzu recebe uma carta informando sobre a morte de seu filho Stuart, escrita por um colega de cela, que afirmava que durante uma interrogação na base da aeronáutica, o jovem havia sido torturado e morto por militares, que procuravam Carlos Lamarca, um dos líderes da guerrilha armada. Ao ser questionada, as autoridades da aeronáutica negam as ações descritas na carta, e afirmam que o jovem nunca esteve em nenhuma de suas bases. Ao tentar publicar a carta recebida buscando justiça pela morte do filho, a fim de descobrir quem eram os culpados, e expor as atitudes truculentas dos militares, Zuzu é censurada e impedida de realizar a publicação. Ações de censura como essas criam no imaginário da população que não houve violência durante a ditadura, e a violência conhecida, ainda hoje é justificada pela luta contra uma dita “ameaça comunista”. Ao final do filme, um militar que não concordava com as ações da polícia, decide ajudar a estilista a buscar justiça pelo filho, e propõe expor todos os fatos acerca da morte de Stuart, juntando assim provas incontestáveis de que Stuart Angel Jones havia sido perseguido, torturado e morto pela ditadura. Porém Zuzu na época, temendo por sua segurança, declara no dia 8 de Abril de 1976 em documento oficial "Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho", e entrega a Chico Buarque (artista renomado e de grande alcance no Brasil e no exterior) a quem deixa a missão de realizar a publicação, caso ela por motivos externos não conseguisse. Uma semana depois, Zuzu sofre um acidente de carro, falecendo assim em 14 de Abril de 1976 no Rio de Janeiro, acidente que posteriormente descobre-se orquestrado por uma junta de militares a fim de censurá-la. As provas da tortura de Stuart estavam junto a ela em seu carro, e nunca foram encontradas.

A história de Zuzu toma proporções internacionais, a tornando assim um grande símbolo de luta contra a ditadura militar. A estilista morre sem ter conhecimento do paradeiro do corpo de seu filho, que posteriormente de acordo com declarações realizadas a Comissão Nacional da Verdade, descobre-se que foi ocultado por oficiais da base da Aeronáutica. O filme busca evidenciar as violências cometidas no período ditatorial, e é um lembrete de que o fascismo no Brasil existiu, e não deve ser subestimado, como ainda é em dias atuais.