Wikinativa/Julia do Nascimento de Sá (vivencia Guarani 2019 - SMD - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

INTRODUÇÃO[editar | editar código-fonte]

Este relatório se trata de um relato individual vivenciado na viagem de campo da disciplina Seminários de Políticas Públicas Setoriais III - Multiculturalismo e Direitos. O objetivo da disciplina foi aprofundar os conhecimentos sobre multiculturalismo, diversidade e direitos por meio do estudo dos direitos povos indígenas e suas práticas tradicionais. O intuito da viagem de campo da referida disciplina foi realizar uma pesquisa de campo com imersão na cultura do povo originário Guarani, especificame alocado na Aldeia Rio Silveiras, em Bertioga. A Aldeia Rio Silveiras está localizada na divisa dos municípios de Bertioga e São Sebastião, e é um território demarcado por decreto desde.

RESUMO DA VIVÊNCIA NA ALDEIA RIO SILVEIRAS[editar | editar código-fonte]

O Resumo da minha experiência pode ser dito como uma vivência única, um dos melhores finais de semana da vida. Desde o início da disciplina já podia imaginar que a experiência de viver alguns dias em uma aldeia indígena, ainda mais em uma área demarcada, seria sem dúvidas uma experiência incrível. Contudo, toda vivência composta por diversas atividades superaram as minhas expectativas. A vivência ficou ainda mais surpreendente pra mim pelo fato do poder de fazer eu, assim como todos, imergir em um ritmo de vida sem relógio, sem preocupação o tempo passando e com a padronização de um horário, tal como ocorre com as nossas vidas na cidade. O maior aprendizado que levei da aldeia, sem dúvidas, foi que não precisa de muito para viver feliz. A palavra coletividade e harmonia resumiram também a minha experiência. Senti também que todos da turma estávamos envolvidos na mesma vibração. A seguir descrevo algumas dessas vivências que mais me marcaram durante a nossa viagem de campo na aldeia Rio Silveiras.

VIVÊNCIA NA CASA DE REZA DA ALDEIA GUARANI - RIO SILVEIRAS[editar | editar código-fonte]

Sem sombra de dúvidas, uma das melhores e mais inesquecíveis experiências que vivenciei foi na casa de reza da aldeia. É inexplicável como o ambiente envolve a todos por sua vibração e boa energia. Senti-me muito privilegiada por vivenciar a reza milenar dos povos originários, que segundo o Pajé, é a mesma reza desde dos anos 1500. Também tivemos a oportunidade e o privilégio de perguntar várias dúvidas diretamente ao Mariano, Cacique da aldeia, foi um momento muito enriquecedor, pois obtivemos vários conhecimentos sobre a cultura indígena. Um exemplo dos conhecimentos transmitidos foram: a diferença entre o Pajé (“líder” religioso, já nasce com o dom divino) e o Cacique (líder que representa a aldeia politicamente), podendo esses atores também serem representados por mulheres ou homens; O Canto das mulheres ser sempre mais forte e mais potente que o dos homens; Os diferentes instrumentos de reza das mulheres e dos homens; O Significado da vida para os indígenas, que acreditam em vida após a morte, mas também reconhecem que é imprescindível viver e expressar seus sentimento para as pessoas amadas enquanto há vida. Entretanto, presenciar a vibração da casa de rezas repletas com músicas e danças foi capaz de refletir em mim muitas questões internas. Em um momento tive coragem de me expressar para tentar transmitir um pouco do que estava sentindo, mesmo normalmente eu não conseguindo falar em público, naquele momento não houve receio nem medo de abrir meu coração à todos durante uma fala sobre a experiência vivida e agradecimento. Foi algo que me tomou, senti-me corajosa agradecer, sem medo de não ser algo perfeito. Esse momento me emocionou bastante, alertando-me que sim pode ser possível não ter receio de ser eu mesma e para não ter medo de errar. No entanto, um dos momentos que queria ter me aprofundado na reza ocorrida no sábado, foi na cura proporcionada pelo Pajé. Mesmo não conseguindo ir na frente para receber a cura, senti que só de estar presente nas rezas foi capaz de me purificar e renovar. Por fim, acredito que não cabe em palavras tudo sobre essas vivências pessoais nas rezas presenciadas, foi algo que transbordou a minha existência no momento. Senti e sinto ainda muito agradecida por ter tido o privilégio de vivenciar o momento.

VIVÊNCIA NAS ATIVIDADES DA ALDEIA - GRUPO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL[editar | editar código-fonte]

Como parte das atividades desenvolvidas na aldeia fiquei junto com o Grupo responsável pela alimentação. Desde o início vivenciamos um grupo muito harmônico, sempre buscando pelo melhor para todos envolvidos na turma, para que todos ficassem satisfeitos com as refeições durante a viagem de campo. A experiência de cozinhar para praticamente mais de 100 pessoas foi, sem dúvidas, extremamente desafiadora, desde o planejamento do cardápio até, principalmente, nos momentos de dedicação à cozinha para as refeições. Apesar das dificuldades enfrentadas quanto ao cansaço e tempo para dar conta do preparo das refeições, foi muito gratificante poder cozinhar com as minhas companheiras e companheiros de aula, principalmente em proporcionar alimentos nutritivos, vivos e saborosos para todos. No entanto, também pudemos com a ajuda das cozinheiras da aldeia, que fez muita diferença, principalmente no dia que fomos para trilha em direção a cachoeira, como também durante os cafés da manhã na preparação dos “tipás”, um pão tradicionalmente indígena A alimentação vegana oferecida nas refeições foi algo inovador nas viagens da disciplina feitas até agora. Do mesmo modo, também creio que essa escolha e preocupação com o oferecimento e preparo de alimentos veganos foi muito essencial para debater e enfatizar a nossa realidade socioambiental e política. Tal realidade que deixa mais vulnerável a população indígena aos impactos do agronegócio. Por isso, pra mim como adepta de uma alimentação vegetariana a quase quatro anos, foi muito legal poder cozinhar e compartilhar receitas entre o grupo, bem como estar em uma viagem em o não consumo de animais e alimentos prejudiciais a populações vulneráveis. Desse modo, para mim a viagem se tornou ainda melhor quando presenciei o posicionamento do professor contra o agronegócio e toda a organização dos alunos da alimentação foi pensada em aderir uma alimentação na aldeia como um ato político. Assim sendo, eu realmente espero que muitas pessoas tenham saído da vivência com a vontade de continuar fazendo escolhas de uma alimentação em prol das justiças sociais, ambientais e territoriais, ou seja, em prol da resistência e existência dos povos originários.

VIVER EM COLETIVO NA ALDEIA RIO SILVEIRAS[editar | editar código-fonte]

Viver de forma coletiva na aldeia entre minhas amigas e amigos de aula foi algo bastante enriquecedor. Pude vivenciar muitos momentos bonitos e construtivos junto de minhas amigas do curso de Gestão Ambiental; todas me deram muito suporte na viagem, acolhendo-me principalmente em uma de suas barracas. Outros momentos que marcaram a vivência em coletivo na aldeia foi no sábado, durante a roda de música, na qual grande parte dos alunos estavam presentes, auxiliando em alguma parte no acontecimento da atividade. No último dia na aldeia, no domingo, também foi muito legal termos ido em conjunto a praia com o suporte do motorista da viagem. Após o retorno da aldeia, também pudemos realizar pinturas corporais como pode ser vista no meu braço. Assim como, um porco do mato (super carinhoso) veio até a aldeia para receber carinho de todos, nunca até então tinha visto algo parecido, foi muito encantador. Para finalizar, foi muito bonito de observar a música tocada pelos garotos indígenas, composta por suas danças e brincadeiras. Até eu consegui depois entrar em uma roda de dança com todas as mulheres e meninas presentes neste momento. Sem dúvidas, sentir o carinho de todas as crianças indígenas no fim da viagem, foi bastante esperançoso, finalizando o fim da vivência com sentimentos de muitas saudades da Aldeia Rio Silveiras. Desejo muito um próximo encontro coletivo com os povos originários.