Wikinativa/Mayara Cristini Corrêa (vivência Guarani 2019 - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Reserva Indígena Rio Silveiras[editar | editar código-fonte]

Nossa viagem a aldeia do povo indígena aconteceu no dia 15 de novembro, porém desde agosto já vínhamos estudando e nos preparando para essa ação durante as aulas. Nas últimas 5 aulas antes da viagem montamos grupos separados entre o jogos e brincadeiras, audiovisual, artes, alimentação e infraestrutra. Eu escolhi ficar no grupo de jogos e brincadeiras por já ter mais experiência na área por trabalhar com recreação. Junto do meu grupo buscamos desenvolver idéias que pudéssemos desenvolver junto com o povo da aldeia de uma maneira que pudéssemos transmitir algo através das brincadeiras como também receber deles. Tentamos priorizar atividades que não dependesse tanto de matériais que necessitavam ser comprados. Dessa forma fizemos uma lista com brincadeiras que pensamos desenvolver de um modo que não houvesse somente um ganhador.

Saímos da EACH as 10h na sexta feira do feriado do dia 15 de novembro e por conta do transito acabamos chegando ao destino as 16h. Ao chegarmos na aldeia tiramos as nossas coisas do ônibus para que pudéssemos montar nossas barracas. Aqueles que tinham barracas mãos frágeis ficaram dentro da antiga casa de reza, os outros se distribuíram ao redor.

No primeiro dia, então chegamos, armamos as barracas e fomos para a casa de reza. Esse momento foi importante pra mim pois desde a experiência que tivemos no Jaraguá fiquei ombro a expectativa de poder ter esse momento novamente. No segundo dia acordamos por volta de umas 9h, tomamos café da manhã preparado pelo grupo de alimentação, nos arrumamos e fomos para a cachoeira. Durante o caminho passamos por outro núcleo da aldeia onde conversamos com o cacique de lá e pudemos ter uma visão menos voltada para o senso comum de como funciona uma comunidade originária. O representante de seu povo nos contou sobre a forma que atuam politicamente dentro e fora da aldeia, e como isso é importante para manterem sua cultura viva sem que sofram com as influências da sociedade de fora.

Ao final de sua fala fomos conduzidos para o início da trilha para a cachoeira, mas antes de adentrarmos a mata destruíram para nos alunos mudas de árvores, de diversos tipos,para que pudéssemos plantar em algum momento do trajeto. Iniciamos a trilha logo um grupo de 10 pessoas pararam juntamente com o cacique para plantar suas mudas enquanto o restante do grupo continuou. Paramos em um local que antigamente era o núcleo da aldeia, mas a grande surpresa é que não perceberiam os que houve ali uma passagem humana se não tivessem nos falado. A partir daí até consegui visualizar melhor as formas de diferentes impactos causadas por diferentes comunidades. Foi nesse espaço que grupos passados plantaram suas árvores e pudemos ver o quão grande já estavam. Como ali ja tinha muitas mudas cada um procurou um local onde pudesse alocar a sua com uma determinada distância da outra. Após plantar continuamos nosso caminho até a cachoeira onde chegamos passando por um rio de pedrinhas. Ao chegar lá nadamos, conversamos e acabamos fazendo uso do rapé, uma substância natural a qual sugamos pelo nariz e que tem propriedades de limpeza corporal. Depois de ficarmos um tempo na cachoeira voltamos para a aldeia e desenvolvemos brincadeiras com as crianças. Entre todas as brincadeiras que pensamos ficou evidente que a preferida deles eram os bamboles.

Depois de um período brincando com as crianças fomos convidados pelo pajé a ir para a casa de reza. Lá ele nos explicou como funcionaria naquela noite pois seria deles inerente deles diferente das demais. Ele nos preparou um ritual de força, de melhoras, onde caso tivéssemos fé e acreditássemos seria efetiva a cura. Nos ofereceu um chá, amargo tão quão dipirona, para iniciarmos o ritual. Ao tomar o chá eu comecei a ver luzes dentro da casa, como se fossem sombras iluminadas, porém não sei ao certo do que se tratou. Logo após, chamava três pessoas por vez no centro da casa de reza para fazer a oração.

Quando foi a minha vez eu me sentei e fechei os olhos. Senti ele passando as mãos nas minhas costas e nos meus ombros enquando dançava e cantava, e nisso eu ficava cada vez menos tensa. Ao final do ritual eu estava com uma extrema sensação de tranquilidade e conexão com aqueles ali presentes. Quando a reza acabou fomos para fora e formamos uma fogueira, onde fizemos um lua com todo mundo cantando junto e jantando. No dia seguinte acordamos cedo para que pudéssemos ir à praia. Ficamos lá até o horário de almoço e voltamos para desenvolver mais brincadeiras com as crianças. Nesse dia fizemos uma oficina de bilboque, que é um brinquedo feito com garrafa pet reutilizada e barbante. As crianças se mostraram extremamente artísticas e fizeram lindos desenhos com tintas em casa brinquedo que fizeram. Tiveram uma grande conexão com os monitores que aplicaram a oficina e se mostraram muito carinhosas. Ao final da oficina brincamos mais um pouco com eles e com os bamboles, e logo após almoçamos, fizemos pinturas corporais feitas pelos adultos, onde cada desenho tinha um significado. Ao terminar arrumamos nossas barracas e viemos embora novamente.

Apesar de terem sido dias de experiências incríveis tiveram momentos tristes. Um deles foi ter de pegar de volta os bamboles das crianças já que os objetos pertencem a Universidade de São Paulo. Fora isso, tudo foi incrível. Desenvolvemos atividades onde tão nos quanto eles aprenderam simultaneamente, comemos comidas típicas da aldeia e tivemos uma grande aprendizado coletivo que podemos levar pra vida, como por exemplo o respeito mútuo que designam um ao outro. As únicas questões hierárquica que há entre eles é a do cacique , que é reconhecido como o representante da aldeia, e do pajé, que é o 'curandeiro' de seu povo. Independente disso o respeito é igualmente distribuído independente de gênero, cor ou raça, indo até mesmo além pois levam esse respeito até a natureza já até diferentemente de nos eles se reconhecem como parte da natureza, e não estando fora dela.


Conclusão[editar | editar código-fonte]

Essa experiência foi importante para termos noção de que existem outros modos de vida além do que conhecemos, onde o consumismo é um fator totalmente diferente do qual utilizamos no dia a a dia. Ao sair dali morreram preconceitos, morreram tabus e estereótipos direcionados a um povo que a milênios vivem de um jeito a qual é o perfeito exemplo de amor, força e resistência.