Educação na Web/Agrotóxicos e Desnutrição como causa do surto de microcefalia
Conversa com os professores
[editar | editar código-fonte]O interessante desses boatos é que eles possuem uma base na realidade, o que os tornam desafiadores para contra-argumentar. Talvez seja proveitoso criar um debate com os alunos discutindo os pontos contra e a favor de cada ideia ou dar a eles as informações para discussão em grupo sobre a relevância de cada afirmação.
Ao ler o texto
[editar | editar código-fonte]Este boato afirma que os casos de microcefalia não são causados pelo vírus zika e sim pelas condições de alimentação do Nordeste. Ele é dividido em duas partes: uma afirma que a subnutrição é a causa da microcefalia e a outra afirma que agrotóxicos são os culpados.
Note que tanto o agrotóxico citado (2,4-D) quanto a desnutrição são de fato relacionados com microcefalia. Mas nenhum dos dois fatores aumentou subitamente entre 2014 e 2015 e portanto não se pode atribuir o surto de microcefalia nem a agrotóxicos nem a desnutrição.
Boatos
[editar | editar código-fonte]Os boatos dizem que surto de microcefalia é causado pelo uso de agrotóxico 2,4-D e/ou subnutrição materna. Esse boato é dividido em duas afirmações encontradas em páginas diferentes, mas que ambas tentam refutar a relação entre Zika Vírus e microcefalia ao responsabilizar outros possíveis causadores da má formação.
Afirmação 1: O surto está relacionado com o uso do agrotóxico 2,4 - D[1]
[editar | editar código-fonte]Encontrado no site Notícias Naturais em publicação de 12 de novembro de 2015.
Afirmação 2: O surto está relacionado com um quadro de desnutrição no Brasil[2]
[editar | editar código-fonte]Encontrado no site Hortolândia News em publicação de 30 de novembro de 2015.
O que é verdade?
[editar | editar código-fonte]Microcefalia tem outras causas além de Zika
[editar | editar código-fonte]Existem diversos fatores que podem causar microcefalia [3]: Fatores genéticos estão entre as principais causas, mas a doença também pode ter causas ambientais: está associada com uso de drogas (principalmente ingestão abusiva de álcool e tabaco) durante a gravidez e a infecção por diversos vírus e outros patógenos, como a toxoplasmose. De modo geral, a saúde da mãe durante toda a gestação pode influenciar nos riscos da criança ter microcefalia.
O uso de medicamentos também pode estar relacionado com o surgimento de teratogenias (deformidades na criança em formação durante a gravidez). Se usados nos primeiros três meses de gravidez, alguns anti-convulsantes podem causar o surgimento de teratogenias.[4]
Não tem nenhuma comprovação cientifica que relacione o agrotóxico e microcefalia
[editar | editar código-fonte]A microcefalia congênita é uma teratogenia, isto é, uma má-formação, que pode ser causada por diversos fatores. Há fontes que indicam o surgimento de danos teratogênicos relacionados à exposição (mesmo em diferentes níveis) do embrião ao agrotóxico ácido diclorofenóxiacético (2,4-D), principalmente em sua formulação comercial.[5][6][7]
O produto é o terceiro agrotóxico mais usado no Brasil, sendo aplicado nas culturas de arroz, aveia, café, cana-de-açúcar, centeio, cevada, milho, pastagem, soja, sorgo e trigo como um herbicida seletivo. É classificado como tóxico e possivelmente cancerígeno para humanos.[8][9]
Relação entre subnutrição e microcefalia
[editar | editar código-fonte]Se presente desde a primeira infância, e especialmente caso tenha ocorrido crescimento retardado intra-uterino, é possível que ocorra comprometimento do desenvolvimento mental e crescimento cerebral, ocasionando microcefalia. A subnutrição durante a gravidez está entre os principais fatores causadores de microcefalia e deficiência de iodo é um agravante notável [10]. Além disso, um ganho não adequado de peso durante a gravidez quase dobra as chances de nascer um filho com microcefalia.[3]
Por que não é o bastante?
[editar | editar código-fonte]Aumento nos casos de microcefalia
[editar | editar código-fonte]Em boletim publicado pelo Ministério da Saúde [11] vemos que o número de casos de microcefalia permaneceu entre 139 (em 2011) e 175 (em 2012) de 2011 a 2014. Só em 2015, por outro lado, tivemos 1761 casos até o dia 5 de dezembro, dez vezes mais do que qualquer um dos anos anteriores.
Verificando os boletins publicados entre 24 de novembro [12] e 5 de dezembro de 2015 [13],vemos que nesse intervalo de 11 dias (apenas) foram registrados mais de mil casos de microcefalia.
Uso de agrotóxicos
[editar | editar código-fonte]De acordo com a EMBRAPA [14], o uso de agrotóxicos aumentou em 700% ao longo dos últimos 40 anos, nada que se compare ao aumento súbito de casos de microcefalia em apenas um ano. Além disso, a maior concentração do uso de agrotóxicos no Brasil é na região Sudeste, não no Nordeste onde a maior parte dos casos ocorre.
Casos de subnutrição
[editar | editar código-fonte]O surto de microcefalia ocorre em uma época de chuvas onde o Aedes aegypti se reproduz com maior intensidade. No entanto, nessa mesma época os níveis de nutrição não tendem a cair.[15]
Além disso, as chances de uma mãe que não ganha peso adequadamente durante a gravidez ter o filho com microcefalia é 1,8 vezes maior do que de uma mãe que ganha peso adequadamente. Considerando que os casos de microcefalia no Nordeste aumentaram em 10 vezes, seria preciso que entre 2014 e 2015 o número de grávidas com esse problema de peso tenha aumentado absurdamente.[3] Esse aumento súbito não foi registrado, assim como o índice de desnutrição no Brasil vem diminuído ano a ano, sendo que desde 2005 o número total de desnutridos brasileiros já não é mais considerado estatisticamente significativo pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura)[16].
Estimativa do custo-vida da microcefalia
[editar | editar código-fonte]Além da mortalidade, outro problema relacionado às doenças congênitas, como a microcefalia, são as complicações crônicas que impõe custos altos de tratamento. Estima-se que crianças com doenças congênitas representam até 30% de todas as hospitalizações pediátricas [17]. A estimativa de custo-vida médio por criança deve considerar, entre outros, a necessidade de estimulação precoce do desenvolvimento (geralmente com Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional), educação especial ou inclusiva, perda da produtividade por incapacidade ou morte e a diminuição da renda salarial familiar do responsável pelos cuidados da criança [18]. A este cálculo, devem ser adicionados também os custos psicossociais como trauma psicológico da família e as dificuldades de adaptação à sociedade “normal”, com grande risco de desestruturação familiar.
É considerado um caso de microcefalia quando o perímetro cefálico do neonato possui valor menor que dois desvios padrão ou mais do que a média para determinada faixa etária e sexo, ou seja, menos de 32 cm de perímetro ao nascer com 9 meses. É uma anomalia geralmente pré-natal e congênita. Em 2015 houve um surto de microcefalia no Brasil, afetando principalmente o Nordeste. Oficialmente o surto foi associado ao vírus Zika transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ https://web.archive.org/web/20151215164821/http://www.noticiasnaturais.com/2015/11/microcefalia-herbicida-24-d-pode-estar-ligado-ao-surto-da-condicao-no-nordeste-do-pais/
- ↑ https://web.archive.org/web/20151215164958/http://www.hortolandianews.com.br/o-zika-virus-nao-e-a-causa-principal-da-microcefalia-27680/
- ↑ 3,0 3,1 3,2 Krauss, M. J., Morrissey, A. E., Winn, H. N., Amon, E., & Leet, T. L. (2003). Microcephaly: an epidemiologic analysis. American journal of obstetrics and gynecology, 188(6), 1484-1490.
- ↑ Bjørling-Poulsen, M., Andersen, H. R., & Grandjean, P. (2008). Potential developmental neurotoxicity of pesticides used in Europe. Environmental Health, 7, 50.
- ↑ Aronzon, C. M., Sandoval, M. T., Herkovits, J. and Pérez-Coll, C. S. (2011), Stage-dependent toxicity of 2,4-dichlorophenoxyacetic on the embryonic development of a South American toad, Rhinella arenarum. Environ. Toxicol., 26: 373–381. doi: 10.1002/tox.20564
- ↑ Gomes, J., Lloyd, O. L., & Hong, Z. (2008). Oral exposure of male and female mice to formulations of organophosphorous pesticides: congenital malformations. Human & experimental toxicology, 27(3), 231-240.
- ↑ López, S. L. et al. (2012). Pesticides used in South American GMO-based agriculture: A review of their effects on humans and animal models. Advances in Molecular Toxicology, 6, 41-75.
- ↑ International Agency for Research on Cancer,(2015). IARC Monographs evaluate DDT, lindane, and 2,4-D. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://www.iarc.fr/en/media-centre/pr/2015/pdfs/pr236_E.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2015.
- ↑ Ministério do Desenvolvimento Agrário, Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (2014). OFÍCIO Nº 90/2014/NEAD - MDA, Reavaliação Toxicológica dos agrotóxicos a base de 2,4-Diclorofenoxiacético (2,4-D). Diponível em: <http://aspta.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Dossie_GEA-ANVISAmar2014.pdf> Acesso em: 15 de dez. de 2015.
- ↑ Cao, X. Y., Jiang, X. M., Dou, Z. H., Rakeman, M. A., Zhang, M. L., O'Donnell, K., ... & DeLong, G. R. (1994). Timing of vulnerability of the brain to iodine deficiency in endemic cretinism. New England journal of medicine,331(26), 1739-1744. Acesso em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7984194
- ↑ Portal da Saúde. (2015). Ministério da Saúde divulga novos casos de microcefalia. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agencia-saude/21164-ministerio-da-saude-divulga-novos-casos-de-microcefalia> Acesso em: 16 de dez.de 2015.
- ↑ Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública Sobre Microcefalias (2015). Informe Epidemiológico Nº 01/2015, Monitoramento dos casos de microcefalias no Brasil.
- ↑ Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública Sobre Microcefalias (2015). Informe Epidemiológico Nº 03/2015, Monitoramento dos casos de microcefalias no Brasil.
- ↑ http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/agricultura_e_meio_ambiente/arvore/CONTAG01_40_210200792814.html
- ↑ Viana, D. V., & Ignotti, E. (2013). A ocorrencia da dengue e variacoes meteorologicas no Brasil: revisao sistematica. Revista Brasileira de Epidemiologia, 16(2), 240-256.
- ↑ Food and Agiculture Organization of the Unitaded Nation. (2015), The State of Food Insecurity in the World 2015. Disponível em: <http://www.fao.org/hunger/en/> Acesso em: 16 dez. 2015.
- ↑ COLVIN, L.; BOWER, C. A retrospective population-based study of childhood hospital admissions with record linkage to a birth defects registry. BMC Pediatrics, v. 9, n. 32, May 2009.
- ↑ CASE, A. P.; CANFIELD, M. A. Methods for developing useful estimates of the costs associated with birth defects. Birth Defects Research. Part A, Clinical and molecular teratology, v. 85, n. 11, p. 920-924, Nov. 2009.