Wikiversidade - Disciplina: Cálculo I
Funções são criadas para refletir o comportamento de certos entes físicos ou estados de valores, porém existe outro meio para analisar o comportamento dos números, que não conhecemos. Trata-se da derivação, um processo destinado a analisar as variações no comportamento de um conjunto de dados numéricos, largamente utilizado hoje em dia.
Vamos criar os conceitos, desde o início, para entender como estão fundamentados os principios de derivação. Com estes teremos meios de analisar vários problemas sob a ótica infinitesimal (das pequenas variações).
Seja uma reta definida pelos pontos e . Existe uma relação entre as coordenadas dos dois pontos que expressa a inclinação da reta;
Definimos como coeficiente angular de uma reta, a seguinte razão:
O resultado desta relação é um número que expressa quanto a reta está inclinada comparada com o eixo x (das variáveis independentes).
O coeficiente m é constante para qualquer segmento de uma reta, este é visivelmente igual à tangente do ângulo formado entre a reta e o eixo x.
Agora imagine o que teríamos se ao invés de uma reta tivéssemos uma curva... Em uma função onde os pontos não acompanham uma linha reta, geralmente temos diferentes valores de m para cada par de pontos que tomamos para fazer o seu cálculo, isso se deve ao fato de que a inclinação varia de acordo com o contorno da curva, o que nos sugere que cada pequeno segmento da curva possui um m diferente.
Considerando a função , teríamos sobre o seu gráfico os pontos:
podemos fazer:
e teríamos:
Esta relação nos dá a inclinação de cada segmento de reta formado por um ponto e outro estabelecido pela distância , que nos fornece: . Podemos, a partir desta equação, encontrar os valores de m e verificar qual a inclinação aproximada da curva para cada ponto; note que quando diminuimos o módulo de a equação se torna mais precisa, no sentido de fornecer uma melhor aproximação para o coeficiênte angular de um pequeno trecho da curva, pois cada segmento que é analisado se torna menor, logo temos condições de analizar mais segmentos da curva.
Imaginemos que para cada par de pontos tenhamos uma reta, com seu respectivo coeficiente angular "", como vimos anteriormente existe uma maneira de relacionar a declividade a cada ponto da curva...
Vejamos o gráfico a seguir:
Ficheiro:Derivada1.png
Figura 2
Podemos constatar que a função tem as seguintes características:
- A função f(x), expressa pelo gráfico, apresenta uma sinuosidade no intervalo entre "" e "";
- A função não apresenta qualquer ruptura ou salto neste intervalo.
Traçamos as retas "", "" e "", entre um ponto fixo "" e os pontos "", "" , "" respectivamente. Desta forma, podemos observar que:
- A reta "" possui uma inclinação maior que "";
- Esta última possui uma inclinação maior que "";
Porém, observamos ainda que:
- A reta "" apresenta uma forma similar ao segmento inicial da função (entre os valores 0 e "" no seu domínio).
- Esta reta parece uma boa aproximação de em torno de .
O que é importante saber é que os valores das inclinações das retas se aproximam de uma similaridade às inclinações nas regiões próximas ao ponto inicial "" a medida que a distância entre os valores de "" diminuem.
Uma maneira de tornar a inclinação da reta mais próxima da inclinação da função é diminuir a distância entre os pontos até o limite de sua aproximação, ou seja, se fizermos com que cada ponto tomado para o cálculo de m seja tão próximo de que cada um se torne quase idêntico ao próximo, então teremos um m para cada ponto da curva. Desta forma, gostaríamos de definir a inclinação de em como sendo o limite:
Uma vez que tenhamos um valor deste limite para cada valor de de um certo conjunto, podemos criar uma nova função, que chamamos de função derivada de f, associando cada deste conjunto (o domínio da função derivada) com o correspondente (a inclinação de f neste ponto). A nova função é obtida através dos resultados de , esse artifício de criar uma função que nos dá a declividade de uma outra função em cada ponto é chamado de derivação, uma vez que criamos uma função que é a derivada da primeira.
A diferença entre os valores de e , quando levada ao limite próximo de zero, também é chamada de diferencial "" e a diferença entre os valores de e , quando o diferencial "" é levado ao limite, é chamada de diferencial "":
Por este motivo, esta operação é chamada de diferenciação, pois se refere à criação de variáveis diferenciais (usando as diferenças entre e ), neste caso e .
Para que as diferenciais e por conseqüência, a derivada de uma função em um determinado ponto possam existir, certas condições devem ser cumpridas pela função. Verifica-se a partir da definição de que:
- Em primeiro lugar, o limite da função no ponto deve existir;
- A função deve estar definida no ponto e seu valor ser igual ao limite;
Isso nos lembra a definição de continuidade. De fato, as condições acima significam que quando a função é diferenciável em um ponto, ela é também contínua no ponto.
O fato de funções derivadas serem contínuas se deve a existência do limite e do valor da função no ponto, uma vez que torna-se possível a existência do nestes casos.
Portanto, devemos em primeiro lugar verificar a continuidade de uma função para sabermos se há possibilidade da mesma ser diferenciável, se esta não for contínua temos condições de afirmar que a mesma não é diferenciável.
Para simplificar os métodos de derivação algumas regras básicas são universalmente utilizadas, todas partem do princípio fundamental da definição e podem ser facilmente demonstradas através do limite da definição e teoremas de limites e funções.
|
Derivada da soma e subtração
|
|
Seja a função ; sua derivada é:
|
.
|
Demonstração:
Pela definição temos:
e portanto:
|
Derivada da multiplicação
|
|
Seja a função , então sua derivada é:
|
.
|
Demonstração:
Pela definição temos:
Somamos e subtraimos na equação anterior:
e portanto:
.
|
Derivada da razão
|
|
Seja a função , então sua derivada é:
|
.
|
Demonstração:
Pela definição temos:
Podemos lançar mão de mais um artifício algébrico e somar e subtrair , o que nos dá:
Depois que aplicamos os limites, resulta em:
Seja e as diferenciais de quando sua derivada é , Então:
Demonstração:
Pelo teorema da razão do limite:
.
O que nos dá a possibilidade de fazer:
Desta forma, os operadores e são limites e podem ser operados como tal, de forma que, obedecendo às regras das operações algébricas dos limites, podem ser separados.
|
Regra da cadeia
|
|
Seja a função composta , sua derivada pode ser calculada por:
|
|
A função composta nos dá a possibilidade de generalizar diversas funções, permitindo a sua simplificação, a sua derivada pode ser conseguida pela relação
Que pode ser verificada quase que imediatamente através das propriedades algébricas das diferenciais, de qualquer forma podemos demonstrá-la como segue:
Para simplificar a interpretação do conteúdo, usaremos a notação de derivada em relação à variável dependente; nesta notação colocamos um D e um sobescrito da variável dependente, ou seja, o símbolo indica a derivada de z em relação a sua variável t.
Adotando esta notação para as derivadas, temos:
queremos e sabemos que , para isso teríamos:
Quando ocorre que , pois as duas funções são contínuas e u depende de x, logo:
então:
Podemos deduzir, a partir das regras comuns e da definição, equações que determinam a derivada para as funções mais comuns, adiante temos uma amostra destas equações e suas demonstrações.
|
Derivada da constante
|
|
Seja a função , onde c é constante e portanto, independente de x, é demonstrável que sua derivada é nula, pois não existe variação do valor da função;
|
|
Conforme constatamos:
|
Derivada da função com fator
|
|
Seja a função , onde c é um fator constante e portanto, independente de x, é demonstrável que:
|
|
- Demonstração
Façamos o cálculo pela definição:
O que nos afirma a validade do teorema.
|
Derivada da função com expoente constante.
|
|
Seja a função , onde é uma constante positiva e , sua derivada é:
|
|
Demonstração:
Temos pela definição:
Considerando o limite, temos:
Como única parte relevante, pois todas as outras terão valores nulos no limite, isto prova o teorema.
Considerando que as diferenciais podem ser tratadas separadamente e que temos meios para tratar ambas as variáveis de uma equação, a partir da regra da cadeia, temos instrumentos para diferenciar qualquer equação que represente uma função contínua. O método de diferenciação implícita é muito útil como meio de simplificar a resolução de diferenciais onde a variável dependente é de órdem superior.
A idéia mestra deste mecanismo é tornar implícito o conteúdo da variável, sem que seja necessária a sua substituição por equivalente algébrico antes da resolução; Vejamos um exemplo para simplificar a explanação:
A função é realmente complicada para ser diferenciada pelos métodos que vimos até agora, porém podemos esquecer a resolução da equação e considerar que a diferenciação pode, implicitamente, ser operada diretamente na equação inteira, desta forma:
A partir desta equação podemos operar as diferenciais algebricamente para encontrar o valor da derivada .
A equação que representa a função apresenta dois valores possiveis para y:
O que nos dá duas derivadas, quando substituimos o valor de y na sua derivada:
Simplificando:
Desta forma podemos encontrar qualquer diferencial implicitamente, reduzindo a complexidade na aplicação das regras de derivação.