Introdução ao Judaísmo/Conceitos religiosos

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O judaísmo como já analisamos anteriormente não é uma religião unificada. Com a evolução histórica surgiram variadas formulações das crenças judaicas, a maioria das quais com muito em comum entre si, mas divergentes em vários aspectos.

Os 13 príncipios de fé[editar | editar código-fonte]

Diversas tentativas de sistematizar os príncipios que regulam o Judaísmo foram feitas através da história. Rambam definiu treze príncipios básicos:

  • Creio plenamente que D’us é o Criador e guia de todos os seres, ou seja, que só Ele fez, faz e fará tudo.
  • Creio plenamente que o Criador é um e único; que não existe unidade de qualquer forma igual à d’Ele; e que somente Ele é nosso D’us, foi e será.
  • Creio plenamente que o Criador é incorpóreo e que está isento de qualquer propriedade antropomórfica.
  • Creio plenamente que o Criador foi o primeiro (nada existiu antes d’Ele) e que será o último (nada existirá depois d’Ele).
  • Creio plenamente que o Criador é o único a quem é apropriado rezar, e que é proibido dirigir preces a qualquer outra entidade.
  • Creio plenamente que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
  • Creio plenamente que a profecia de Moshe Rabeinu é verídica, e que ele foi o pai dos profetas, tanto dos que o precederam como dos que o sucederam.
  • Creio plenamente que toda a Torá que agora possuímos foi dada pelo Criador a Moshe Rabeinu.
  • Creio plenamente que esta Torá não será modificada e nem haverá outra ortorgada pelo Criador.
  • Creio plenamente que o Criador conhece todos os atos e pensamentos dos seres humanos, eis que está escrito: "Ele forma os corações de todos e percebe todas as suas ações" (Tehilim 33:15).
  • Creio plenamente que o Criador recompensa aqueles que cumprem os Seus mandamentos, e pune os que transgridem Suas leis.
  • Creio plenamente na vinda do Mashiach e, embora ele possa demorar, aguardo todos os dias a sua chegada.
  • Creio plenamente que haverá a ressurreição dos mortos quando for a vontade do Criador.

Monoteísmo[editar | editar código-fonte]

O Tetragrama YHWH no alfabeto fenício, aramaico e hebraico moderno.

O príncipio básico do judaísmo é a unicidade absoluta de YHWH como o D-us e Criador, onipotente, onisciente, onipresente, que influencia todo o universo, mas que não pode ser limitado de forma alguma (o que carateriza em idolatria, o pecado mais mortal de acordo com a Torá). A afirmação da crença no monoteísmo manifesta-se na profissão de fé judaica conhecida como Shemá. Assim qualquer tentativa de politeísmo é fortemente rechaçada pelo judaísmo, assim como é proibido seguir ou oferecer prece a outro que não seja YHWH. Pelo fato do mandamento de não tomar o nome do Criador em vão, o Judaísmo toma extremo zelo em utilizar este nome.

Conforme o relacionamento de YHWH com o povo de Israel, o judaísmo enfatiza certos aspectos da divindade chamando-o por títulos diferenciados como por exemplo Adonai (Meu Senhor).

O judaísmo posterior ao exílio na Babilônia no entanto assumiu a existência de uma corte espiritual na qual D-us seria uma espécie de rei, o qual controlaria seres para execução de sua vontade (anjos). Esta visão era aceita pelo partido dos Fariseus e passada para o posterior judaísmo rabínico, mas no entanto desprezada pelos Saduceus.

A Revelação[editar | editar código-fonte]

O judaísmo defende uma relação especial entre o Criador e o povo judeu manifesta através de uma revelação contínua de geração a geração. O povo judeu teria sido escolhido pelo Criador como uma nação sacerdotal entre as nações do mundo e como guardiã dos mandamentos. O judaísmo crê que a Torá é a revelação eterna dada por aos judeus. Os judeus rabinitas e caraítas também aceitam que homens através da história judaica foram inspirados pela profecia, sendo que muitas das quais estão explícitas nos Neviim (Profetas) e nos Kethuvim (Escritos). O conjunto destas três partes formam as Escrituras Hebraicas conhecidas como Tanakh.

A profecia dentro do judaísmo não tem o caráter exclusivamente adivinhatório como assume em outras religiões, mas manifestava-se na mensagem da Divindade para com seu povo e o mundo, que poderia assumir o sentido de advertência, julgamento ou revelação quanto à Vontade da Divindade. Esta profecia tem um lugar especial desde o príncipio do mosaismo, seguindo pelas diversas escolas de profetas posteriores (que serviam como conselheiros dos reis) e tendo seu auge com a época dos dois reinos. Oficialmente se reconhece que a época dos profetas encerra-se na época do exílio babilônico e do retorno a Judá. No entanto o judaísmo reconheceu diversos profetas durante a época do Segundo Templo, e durante o posterior período rabínico.

Ciclo de vida judaico[editar | editar código-fonte]

Para o judaísmo, a obediência aos mandamentos se mostra na vida prática do dia-a-dia. Esta devoção é expressa pelo Ciclo de Vida Judaico, que resume os principais eventos pela qual uma pessoa praticante do Judaísmo atravessa:

Material usado em uma cerimônia de brit milá, exibido no museu da cidade de Göttingen
  • Brit milá, ou circuncisão, é o ato ritual de circuncidar os membros do sexo masculino aos oito dias de idade. A Brit Milá também é requerida daqueles convertidos ao Judaísmo.
  • B'nai Mitzvá é a celebração da passagem de uma criança à maioridade, tornando-se responsável, daí em diante, por seguir uma vida judaica e cumprir os mandamentos.
  • Casamento Judaico
  • Shiv'á - O judaísmo tem práticas de luto em várias etapas. À primeira etapa (observada durante uma semana) chama-se shiv'á, à segunda (observada durante um mês) chama-se sheloshim e, para aqueles que perderam um dos progenitores, existe uma terceira etapa, a avelut yod bet chódesh, que é observada durante um ano.

Literatura do judaísmo[editar | editar código-fonte]

Sefer Torá.

Os diversos eventos da história judaica levaram à uma valorização do estudo e da alfabetização dos membros da comunidade judaica. Na Diáspora a busca de conexão com o judaísmo e a busca de não-assimilação com os costumes gentílicos levaram à uma ênfase na necessidade da educação e alfabetização desde a infância, pelo que na maior parte das comunidades judaicas o analfabetismo é praticamente inexistente. Este pensamento levou à criação de uma vasta literatura principalmente de uso religioso.

Dentro do judaísmo, a escritura mais importante é a Torá, que seria o livro contendo o conjunto de histórias da origem do mundo, do homem e do povo de Israel, assim como os mandamentos a serem seguidos pelo povo judeu. Para a maior parte das ramificações judaicas, acrescenta-se a história de Israel e as palavras dos profetas israelitas até a construção do Segundo Templo, com sua literatura relacionada, que compiladas na época do retorno de Babilônia, constituiram o que conhecemos como Tanakh, conhecido comumente pelo público cristão como Antigo Testamento (em oposição ao Novo Testamento, que no entanto não é aceito pelo judaísmo).

Cada ramificação do judaísmo tem também seus próprios textos devocionais. Os judeus rabinitas crêem que Moshê (Moisés) recebeu além da Torá escrita, uma tradição oral que serviria como um complemento da primeira, e que seria passada de geração à geração desde Moshê, e que viria a ser compilada no século IV DEC como o Talmud, o qual é desprezado pelos judeus caraítas.