Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Anhanguera/Turma A
GRUPO:
[editar | editar código-fonte]- André Garda;
- Caio Bitencourt;
- Gustavo Zaraya;
- Isabella Mori;
- Vicente Machado;
- Victor Campanelli.
1. Sobre o distrito
[editar | editar código-fonte]O nome do distrito “Anhanguera” é a combinação de duas palavras da língua Tupi: “anhangá”, que significa espírito temível, sendo utilizada pelos índios para designar as popularmente conhecidas como “almas penadas”; e “puêra”, que significa “aquilo que se foi, velho”. Foi encontrada pelo grupo a informação de que, em 1722, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva partiu de São Paulo para encontrar ouro nas outras partes do país. Seu intento era chegar em Minas, Goiás, seguindo por aquela direção. Logo no início da viagem, chegando às terras que hoje correspondem ao distrito em questão, ameaçou atear fogo em toda uma aldeia indígena que não queria dizer a ele sobre a existência do ouro. Ganhou o nome “Anhanguera”, que significa “diabo velho”.
Anhanguera fica sob a administração da subprefeitura de Perus, no extremo noroeste da cidade de São Paulo, na base do Pico do Jaraguá, sendo considerado por algumas fontes como um subdistrito do distrito vizinho, também chamado de Perus. Possui a segunda menor densidade demográfica da cidade, com 1.978 habitantes por km², ganhando apenas do distrito do Marsilac, no extremo da zona sul, que tem 41 habitantes por km². Sua população, contudo, sofre um processo de crescimento desde 1948, a partir da inauguração da Rodovia Anhanguera, em 1948. No ano de 1980, os dados marcavam mais 5.350 habitantes no distrito, um aumento de 7,5%. No ano de 1991, 12.408 crescimento de 13,38%; 38.427, no censo de 2000, com crescimento de 5,54%, e, por fim, 65.859 em 2010, com crescimento de 3,3%. Segundo o SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados), é previsto o atingimento do índice de quase 100.000 habitantes em 2030.
O IDH (Índice de desenvolvimento humano) do Distrito de Anhanguera é de: 0,774.
Anhanguera conta com 9 bairros, são eles: Jardim Anhanguera - Jardim Britânia - Jardim Clei - Jardim Escócia - Jardim Jaraguá - Morro Doce - Parque Esperança - Vila Chica Luísa - Vila Jaraguá.
O distrito é característico pela sua tranquilidade, existente não por um forte policiamento e organização urbana, mas sim pela ausência de desenvolvimento, tendo muitas áreas ainda não urbanizadas e poucos edifícios. Há algumas indústrias, mas afastadas. O censo de 2000 registrou um total de 33.973 habitantes, com cerca de 18.500 habitando áreas rurais. Muitas pessoas se transferiram para Anhanguera em busca de uma maior qualidade de vida, evitando lugares cujo crescimento ainda maior que o do distrito causava muitos problemas, como a criminalidade. A vinda dessas pessoas só demonstrou mais ainda o quão deficiente é a infraestrutura da região, principalmente na época, quando mal comportava os moradores antigos, isolados entre a rodovia Anhanguera - o único acesso as outras áreas da cidade - e a serra. Foi devido à atuação dos moradores, reclamando aos responsáveis os investimentos necessários, e negligenciados durante muito tempo, que ruas começaram a ser pavimentadas e unidades de serviço básico foram implantadas, como as UBSs.
O distrito de Anhanguera faz fronteira com o município de Caieiras (norte), minimamente com Osasco e Barueri (sul), e os municípios de Santana de Parnaíba e Cajamar (oeste). Há nove bairros em Anhanguera: Jardim Anhanguera, Jardim Britânia, Jardim Clei, Jardim Escócia, Jardim Jaraguá, Morro Doce (onde havia a concentração da plantação de cana de açúcar, muito cultivada na região e utilizada para a produção de cachaça), Parque Esperança, Vila Chica Luísa e Vila Jaraguá. No distrito é que está situado o CDT - Complexo Anhanguera, inaugurado em 1996, no qual está sediado o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), emissora da TV aberta. Nas proximidades, há o Parque Anhanguera, um dos maiores da cidade, possuindo cerca de 9.000.000 m² de mata atlântica. Nele há ainda partes da antiga e extinta Ferrovia Perus-Pirapora, cuja ligação era da usina de cal da Brasilian Portland Cement (Cajamar) até à São Paulo Railway.
2. Pré-roteiro dos temas a serem abordados na aplicação do questionário:
[editar | editar código-fonte]Pesquisando sobre Anhanguera, conseguimos compreender que o distrito não possui grande desenvolvimento, tendo IDH médio e quase todo seu território tendo alta privação, sendo pertencente ao Grupo 7, segundo os dados do projeto “Mapa da vulnerabilidade social e do déficit de atenção a crianças e adolescentes no Município de São Paulo”, realizado pelo CEM junto à Secretaria de Assistência Social, SAS-PMSP. No site, há a seguinte definição:
"Alta privação – condições de precariedade socioeconômicas altas e presença de famílias adultas (Grupo 7): este grupo é formado por 16,2% dos setores censitários, com 18,0% da população. É caracterizado por chefes adultos, com baixa renda (60,4% ganham até 3 salários mínimos) e baixa escolaridade (apenas 31,5% dos chefes têm ensino fundamental completo). Apresenta ainda grande concentração de crianças de 0 a 4 anos e forte presença de adolescentes (11,2% da população do grupo têm entre 15 e 19 anos), além de 30% dos responsáveis serem do sexo feminino (25,4% com até 8 anos de escolaridade). No Mapa 3, nota-se que esse grupo está tipicamente presente nas áreas periféricas".
A região, portanto, sendo muito pobre, e mais residencial do que comercial, fica de certa forma apartada da região metropolitana de São Paulo. Diante deste quadro, iremos abranger o questionário sobre questões políticas, indo do macro ao micro, buscando entender a visão de mundo de seus habitantes, como elas encaram o governo atual e o funcionamento da própria cidade, bem como quais são as perspectivas que possuem para o distrito e para si próprias.
Além disso, iremos tentar entender um pouco sobre o cotidiano, sobre o ritmo do bairro, a existência ou inexistência da religião, sobre as áreas de lazer, gosto musical geral, etc. Capturaremos, na medida do possível, as várias atmosferas de Anhanguera. Procuraremos, também, contrastes: a massa pobre com a minoria rica.
3. Lugares para aplicação do questionário:
[editar | editar código-fonte]Ponto de ônibus/terminal da SPTrans no bairro Jardim Britânia. A razão é a maior concentração de pessoas nesta localidade, proporcionando multiplicidade entre os entrevistados. Temos consciência de que há maior chance de abordarmos aqueles que só estão de passagem ou que apenas trabalham no distrito de Anhanguera, sem residência fixa no local. Horário: próximo à tarde, em horários de pico. Também poderemos visitar as proximidades, o Parque Anhanguera e o CDT - Complexo Anhanguera, do SBT, porém como complemento da localidade principal escolhida.
4. Divisão de tarefas:
[editar | editar código-fonte]Apuração de dados estatísticos: CAIO, VICENTE, VICTOR - 10/08 até 14/08.
Texto do Planejamento (Pré-Apuração): TODOS - 10/08 até 14/08.
Postagem do Planejamento (Wikiversidade): GUSTAVO - 14/08.
Construção do Questionário: TODOS - 15/08 até 23/08.
Aplicação do Questionário: TODOS - 24/08 até 28/08.
Planilha: ANDRÉ, CAIO, GUSTAVO, VICTOR, VICENTE - 28/08 até 30/08.
Análise de dados: CAIO, VICENTE, VICTOR - 31/08 até 06/09.
Pauta / Preparação das entrevistas: ANDRÉ, GUSTAVO, ISABELLA - 31/08 até 06/09.
Entrevistas (retorno): TODOS - 07/09 até 15/09.
Áudio: ISABELLA - 07/09 até 15/09.
Fotos: ISABELLA - 07/09 até 15/09.
Decupagem: GUSTAVO - 16/09.
Texto: TODOS - 16/09 até 20/09.
5. Referências bibliográficas:
[editar | editar código-fonte]Entrevista informal com Estevam Monteiro, que morou por seis anos e meio em Anhanguera e hoje mora em Perus, distrito vizinho.
DICIONÁRIO TUPI GUARANI. Disponível em: <http://www.dicionariotupiguarani.com.br/dicionario/anhanguera/>
CEM - MAPA DE VULNERABILIDADE - GRUPOS. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/584>
CEM - MAPA DE VULNERABILIDADE - PERUS. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/centrodametropole/cemsas/1.3.1.Perus.pdf>
DADOS DEMOGRÁFICOS. Disponível em:<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758>
CADERNOS - ANHANGUERA BAIRRO VIVO. Disponível em: <http://www.policeneto.com.br/wp-content/uploads/2012/08/CMSP_Cadernos_ANHANGUERA-2_AFweb.pdf>
GEOSAMPA - PREFEITURA. Disponível em: <http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx#>
MAPA DA REDE DE TRANSPORTE PÚBLICO DE SP. Disponível em: <http://www.mobilize.org.br/mapas/5/mapa-da-rede-de-transporte-publico-de-sao-paulo.html>
6. Respostas do questionário:
[editar | editar código-fonte]1. Como você se define? - Homem (14 respostas) - Mulher (14 respostas) - Outro (0 respostas)
2. Quantos anos você tem? - Até 20 anos (8 respostas) - De 21 a 40 anos (10 respostas) - De 41 a 60 anos (4 respostas) - Acima de 60 anos (6 respostas)
3. Você gosta de morar em Anhanguera? - Sim (19 respostas) - Não (8 respostas) - Um dos entrevistados não era morador de Anhanguera
4. Há quanto tempo você mora no distrito? - Até 10 anos (8 respostas) - De 11 a 20 anos (12 respostas) - De 21 a 30 anos (5 respostas) - Há mais de 30 anos (2 respostas)
5. Como você classifica a segurança da região? - Ótima (0 respostas) - Boa (4 respostas) - Regular (15 respostas) - Ruim (3 respostas) - Péssima (6 respostas)
6. Você trabalha? - Sim (16 respostas) - Não (12 respostas)
7. Caso trabalhe/estude fora da região, ou já tenha trabalhado/estudado, como é a locomoção até seu trabalho/estudo? - Ônibus (23 respostas) - Automóvel próprio (3 respostas) - Perua (Uma resposta) - Mais de um transporte (Uma resposta)
8. Você demora quanto tempo para chegar no seu trabalho/estudo? - Até 30 minutos (15 respostas) - Entre 31 e 60 minutos (0 respostas) - Entre 61 e 90 minutos (9 respostas) - Acima de 90 minutos (4 respostas)
9. Qual a sua renda mensal? - Até 1000 reais (6 respostas) - Entre 1001 e 2000 reais (10 respostas) - Entre 2001 e 4000 reais (0 respostas) - Acima de 4000 reais (0 respostas)
- Os outros 12 entrevistados não possuíam emprego
10. Na sua opinião, o que há de melhor para o lazer na região? - Parques/Praças (9 respostas) - Bares/Restaurantes (5 respostas) - Shopping/Cinema (0 respostas) - Não há opções boas para o lazer (14 respostas)
- Dos 14 entrevistados que assinalaram a última opção, oito deles mencionaram o bairro da Lapa como local mais próximo onde há opções de lazer
11. O que mais te incomoda na região? - Furtos/assaltos (14 respostas) - Barulho (9 respostas) - Infraestrutura (8 respostas) - Lixo (Duas respostas) - Nada (Duas respostas)
- Alguns entrevistados assinalaram mais de uma alternativa
- Um dos entrevistados mencionou o uso de drogas na região
- Um dos entrevistados mencionou o fato de não haverem alguns bancos na região, como Bradesco e Itaú, por exemplo
- Um dos entrevistados mencionou o uso de drogas na região
12. O que você acha que é mais urgente para a melhoria de sua região? - Lazer (11 respostas) - Segurança (15 respostas) - Transporte (Duas respostas) - Saúde (0 respostas)
13. Quantos filhos você tem? - Nenhum filho (12 respostas) - Um filho (4 respostas) - Dois filhos (4 respostas) - Três filhos (6 respostas) - Mais de três filhos (Duas respostas)
14. A Rodovia Anhanguera interfere de que maneira na sua vida? - Positivamente (22 respostas) - Negativamente (0 respostas) - Não interfere (6 respostas)
15. Qual a sua escolaridade? - Ensino Fundamental I (4 respostas) - Ensino Fundamental II (11 respostas) - Ensino Médio (12 respostas) - Ensino Superior (Uma resposta)
16. Qual a sua opinião sobre as cotas para o Ensino Superior? - Concordo completamente (15 respostas) - Concordo parcialmente (Duas respostas) - Não tenho opinião formada (3 respostas) - Discordo completamente (6 respostas) - Discordo parcialmente (Duas respostas)
17. Deve ser ensinado sobre sexualidade na escola? - Concordo completamente (13 respostas) - Concordo parcialmente (5 respostas) - Não tenho opinião formada (0 respostas) - Discordo completamente (8 respostas) - Discordo parcialmente (Duas respostas)
18. O impeachtment da Presidente Dilma Rouseff foi um golpe? - Concordo completamente (6 respostas) - Concordo parcialmente (Duas respostas) - Não tenho opinião formada (4 respostas) - Discordo completamente (12 respostas) - Discordo parcialmente (4 respostas)
19. O sistema de saúde pública em Anhanguera é ótimo? - Concordo completamente (Duas respostas) - Concordo parcialmente (0 respostas) - Não tenho opinião formada (Duas respostas) - Discordo completamente (24 respostas) - Discordo parcialmente (0 respostas)
20. Deve haver uma nova ditadura militar no Brasil? - Concordo completamente (6 respostas) - Concordo parcialmente (0 respostas) - Não tenho opinião formada (5 respostas) - Discordo completamente (0 respostas) - Discordo parcialmente (17 pessoas)
21. Você acha que a juventude atual está correspondendo às suas expectativas? - Sim (5 respostas) - Não tenho opinião formada (0 respostas) - Não (23 respostas)
22. Você acha que as escolas deveriam ter ensino religioso? - Sim (16 respostas) - Não tenho opinião formada (0 respostas) - Não (12 respostas)
23. O que você acha do CEU Parque Anhanguera? - Ótimo (0 respostas) - Bom (18 respostas) - Razoável (Duas respostas) - Ruim (0 respostas) - Péssimo (0 respostas) - Não tenho opinião formada (8 respostas)
- Três dos entrevistados mencionaram que a frequência do local é péssima
- Quatro dos entrevistados mencionaram que não conhecem o lugar
- Um dos entrevistados mencionou que o local precisa de mais segurança
- Quatro dos entrevistados mencionaram que não conhecem o lugar
7. Análise dos dados e da aplicação do questionário:
[editar | editar código-fonte]Localizado na Zona Noroeste da cidade de São Paulo, o distrito Anhanguera é parte da subprefeitura de Perus, uma das 31 da capital paulista. A região tem como grande meio de locomoção, para fins profissionais e de lazer, a Rodovia Anhanguera, que cruza a região Sudeste do Brasil e liga Brasília (DF) a Santos (SP).
A ligação entre o distrito e a rodovia Anhanguera é direta. No questionário aplicado em campo, mais de três quartos (78,6%) das pessoas consultadas exaltaram o lado positivo da pista, enquanto 21,4% disseram que ela não tem interferência em suas vidas. Nenhum dos consultados apontou pontos negativos, seja em relação a barulho, acesso ou qualidade de infraestrutura da própria via.
Região composta por um bom número de aposentados e jovens, 42,9% das pessoas consultadas declararam que não exercem função remunerada, enquanto outros 57,1% disseram que trabalham. Desta taxa, 82,1% dos consultados declararam que utilizam ônibus para chegar ao local de trabalho, 10,7% disseram que utilizam automóvel próprio, e outros 3,6% falaram que usam outros meios ou necessitam de mais de um meio de transporte para chegar ao local. Mais da metade das pessoas consultadas (53,6%) também declarou que demoram cerca de meia hora para chegar ao serviço, outros 32,1% disseram que levam de 30 a 60 minutos, enquanto os outros 14,3% afirmaram que levam mais de 120 minutos para concluir o trajeto.
Quando questionamos as pessoas sobre as melhorias mais urgentes para a região, 39,3% declararam que o lazer é o ponto fundamental para elas. Isto faz sentido quando relacionamos com outra pergunta do questionário elaborado, sobre o que há de melhor para cada um na região. Nesta questão, 50,0% afirmaram outros, ou seja, questões que não estavam presentes nas opções do questionário (que eram justamente opções relacionadas a lazer); os outros 50,0% se dividiram entre Parques/Praças (32,1%) e Bares/Restaurantes (17,9%).
Corroborando com o ponto Lazer ser uma das questões mais urgentes para os moradores da região, muitos dos questionados destacaram que precisam se locomover até a Lapa (outro distrito de São Paulo) para ir a um shopping. Com estas afirmações, novamente a questão da Rodovia Anhanguera entra em pauta, sobre a sua importância tanto na locomoção, com fins profissionais, quanto com fins recreativos.
O contato com as fontes em Anhanguera foi um trabalho árduo. A primeira barreira encontrada pelos jornalistas em campo foi a abordagem adotada: o questionário concretizado, isto é, impresso e formalmente exposto intimidava os entrevistados de forma que os mesmos não se sentiam muito a vontade de respondê-lo. Foi preciso muita habilidade para que atingíssemos a espontaneidade e sinceridade dos entrevistados para que o questionário ficasse o mais próximo possível da realidade das pessoas daquela região. Concluímos que, a apresentação introdutória formal do questionário provocou-nos uma preocupação em deixar o entrevistado à vontade, ao invés de nos concertarmos exclusivamente na aplicação e no bom resultado de apuração.
8. Pauta
[editar | editar código-fonte]O distrito de Anhanguera é detentor de uma infraestrutura muito precária. Há casos mais graves os quais se necessita de mais hospitais, mais escolas públicas, mais transporte público – tendo ausência de linhas de metrô, por exemplo – mas há também a ausência de desenvolvimento em áreas que possuem também sua particular importância. Lazer é uma delas.
Muitos entrevistados responderam, em seus questionários, que não possuem opções para lazer. Não podem se divertir em Anhanguera, pois há somente praças públicas, nas quais, infelizmente, o consumo e tráfico de drogas, além da insegurança devido à violência de assaltos e furtos, tomou conta. Não há shoppings, casas de teatro, danceterias, etc. Há, quando muito, bares pouco estruturados e o CEU, da prefeitura, que divide opiniões: muitos têm seus prós e contras. É, pelo visto, um grande quebra-galho, mas não uma solução digna do distrito: ele necessita de muito mais.
Para lidar com esta carência, os habitantes são obrigados a irem a outros distritos, como PERUS e LAPA, para fazer compras, passear, se divertir – para ter lazer, ação que a região onde moram é incapaz de proporcionar. São obrigados a pegar ônibus e ir para outros distritos através do único caminho: a Rodovia Anhanguera, de única e fundamental importância.
Isso é apenas um fragmento do grande quadro de abandono dos poderes públicos em relação à Anhanguera, que até bem pouco tempo não tinha asfalto nas ruas. Com protestos e reclamações, o distrito vem recebendo investimentos – mas ainda é necessário mais, muito mais. Quanto tempo ainda para que Anhanguera seja autossuficiente para seus habitantes e frequentadores, isso ainda ninguém sabe a resposta. Mas demorará, isso é uma realidade indiscutível.
Adotaremos o CEU como foco de reportagem. Procuraremos saber mais sobre as estruturas do CEU de Anhanguera, segundo as pessoas, indo além da propaganda da prefeitura em seu site de divulgação. Listaremos informações, pontuando pontos positivos e negativos do local, através de imagens, entrevistas, depoimentos, áudio visual. Entrevistaremos seus usuários e funcionários a fim de elaboramos um ponto de vista do grupo em relação a o que valeria a pena ser feito (ou não) para melhorias dessa estrutura. Também investigaremos qual as outras formas/atividades de lazer, que podem ser as mais diferenciadas possíveis em relação a vida no centro/urbano, executadas tanto por crianças e jovens como adultos e idosos. Levantaremos a questão “O que se gostaria que tivesse em Anhanguera para um melhor lazer para a população?”.
Em relação aos grandes casos de migração ao distrito vizinho em busca de suprir o que falta em Anhanguera, procuraremos saber quais são os focos da população, o que é mais frequentado, o porquê e se a própria região de Anhanguera teria condições de presidir este foco de lazer. Como e quando as pessoas vão até seu ambiente de lazer? Por que Anhanguera carece tanto nessa categoria?
Entrevista de Profundidade
[editar | editar código-fonte]Assista à entrevista de profundidade feita com Thiago de Camargo, 16 anos, morador do bairro Sol Nascente- Anhanguera, frequenta o CEU de Anhanguera e conta um pouco sobre como é morar nessa região.
Clique Aqui: https://www.youtube.com/watch?v=PboZQxwKZlg
Áudio da entrevista de profundidade feita com o engenheiro do CEU Anhanguera.
Clique aqui: https://soundcloud.com/caio-bitencourt-1874158/entrevista-engenheiro
Áudio da entrevista de profundidade feita com Luan da Silva Oliveira, 12 anos. Frequenta o CEU Anhanguera todos os dias da semana.
Clique aqui: https://soundcloud.com/user-415694887/entrevista-luan-da-silva-oliveira
Áudios Entrevistas
[editar | editar código-fonte]Entrevista com Segurança do CEU Anhanguera: https://soundcloud.com/user-415694887/seguranca-ceu-anhanguera
Entrevista com Crianças no parque CEU Anhanguera: https://soundcloud.com/user-415694887/entrevista-criancas-ceu-anhanguera
Encontramos uma moradora de Anhanguera no ponto de ônibus da Estação Rodoviária Lapa. Ela conta um pouco como é viver naquela região e porque estuda na Lapa. Frequentou poucas vezes o CEU por motivos apontados na entrevista: https://soundcloud.com/user-415694887/entrevistada-caroline-cruz
O céu de Anhanguera
[editar | editar código-fonte]Só deu para ouvir o ronco do motor, alternado por sofridos “misericórdia” do motorista.
― Tem que estar em primeira, porque faz mais atrito com o solo.
Tivemos o ímpeto de decretar outro caminho que não fosse subir o morro. A tensão era sufocante.
― Relaxa, gente – sorriu o motorista, vaidoso – já vim muitas vezes por aqui.
O cenário era inóspito. Estávamos todos pressionados contra o banco traseiro, tendo a impressão de que a qualquer momento o uber iria deslizar pela subida íngreme. O carro, contudo, ganhava cada vez mais velocidade, mais ia se embrenhando pelas ruelas abandonadas com todo o seu lixo, permeadas de pequenos barracos, pobríssimos.
A São Paulo que conhecíamos plenamente estava distante. Estávamos inseguros diante do desconhecido. Era a hora do medo. Casinhas foram aparecendo, entretanto, coloridas, cimentadas, com portão e tudo. Nos pareceu mais familiar, menos agressivo tudo aquilo.
Chegamos à portaria secundária do CEU: a dos carros. O motorista disse que iria voltar para nos pegar. Pagamos a corrida e nos dirigimos à entrada; era grafitada, cheia de estilo. Estávamos entrando em um lugar mais agradável. O clima de infância e alegria nos deixou mais aliviados, até mesmo protegidos. O perigo estava lá fora: tudo estava melhor.
― O moleque não vem.
Duas horas da tarde. Marcamos duas e meia. Ele viria, estava tudo certo. Fomos andar pelo Céu, observar a estrutura: grandes áreas decoradas, equipadas com estruturas de ferro, mas desertas de gente. Estava um dia frio. Em um canto, uma segurança nos olhava. Sorriu, disse que não poderia falar com a gente, era terceirizada, tinha medo de perder o emprego.
― E não pode tirar foto aqui, moça. Tem que pedir pra responsável.
Surpresas são comuns na vida: umas agradáveis, outras nem tanto.
Pedimos orientação e nos dirigimos para a área onde ficavam os responsáveis. Subimos uma rampa e vimos no horizonte pleno: a favela. Imensa em sua pobreza, como se brotada da terra, frágil. Ali, as pessoas se abrigavam, talvez também frágeis. Do outro lado do CEU, a Rodovia, impetuosa, firme em seu fluxo voraz. Vemos uma placa lá fora: “Aqui passa o Trópico de Capricórnio”. Em silêncio, quisemos fotografar.
― Não pode usar a câmera sem autorização! – Ela gritou lá de baixo.
Não ouvimos...
Chegamos em uma quadra. Havia um time de crianças de sete a dez anos jogando futebol. Miramos as crianças com a lente da máquina e começamos a fotografar. Pelas fotos, vimos que estavam primeiro correndo de um lado do campo para o outro. Depois, foram se unindo, a bola foi sendo esquecida de lado, olhos foram se amontoando para a câmera. No fim, uma grande captura de um time desorganizado, eufórico.
― Tia, fotografa aqui!
― Tia, fotografa eu jogando a bola!
Um começou a driblar cheio de marra; outro tentou tirar a bola dele, e começou a provocar; outros foram atrás de outras bolas e também faziam passes e até gols; um corria pelo campo, feliz. A quadra ecoava a gritaria com mais intensidade ainda.
Um cutucão nas costas. Nos viramos. Outro segurança.
― Ô moça, não pode fazer isso, não. Tem que pedir pra administração.
Mas não é público?
― Mas não é público, aqui?
― Precisa pedir autorização, se não vou pedir pra te retirarem.
A secretária atrás do balcão nos olha pedindo silêncio. Está vestindo um casaquinho cinza. O chão é de azulejos cor terracota, opacos e encardidos.
― Oi, nós viemos gravar uma matéria, somos...
― Não é comigo, é com a Gláucia. Tá almoçando.
A senhora nos desculpa?
― Vou chamar.
A secretária se levantou e sumiu por uma porta. Cochichamos palavras revoltadas, cheias de nervosismo.
Veio Gláucia. Mulher de meia idade, apagada. Estava com dois papéis na mão, talvez grandes guardanapos. Mastigava ainda.
― Olha, aqui tá a ficha de inscrição – e engoliu – tem que mandar e-mail com a sua proposta, porque eles bloquearam tudo, ainda mais agora na época de eleição. Se não fosse, poderia gravar, filmar, taria tranquilo.
― Podemos gravar só áudio? – Apelamos, inocentes.
― É, teoricamente não poderia, mas eu não vou poder ficar atrás de você dizendo pra não gravar.
― Pode você falar comigo?
O atrevimento me fez rir sem vontade. De repente, Glaucia era apenas Glaucia, constrangida em sua intimidade.
― Não posso, querida, realmente não vai dar, tudo bem? – nos deu as costas e foi, soberba e lenta, para o seu almoço.
Nos sentimos indesejados diante daquele quadro hostil, mas percebemos que não havia espaço para o orgulho: era a matéria que importava.
Fomos para fora do CEU e sentamos em uns bancos de entrada. Não estávamos na rua, não havia nervosismo. Duas e meia em ponto: Thiago chega, nosso entrevistado. Cabelo azul, calça colada. Câmera no tripé, roteiro na mão, entrevistadora e entrevistado sentados. O CEU como pano de fundo.
― Eu gosto do CEU. Já vim aqui umas três vezes, a última vez foi ano passado, na festa junina. Foi divertido. Dancei, tava todo mundo dançando e tinha muita coisa para comer, também. Vi jogo de futebol, porque quando eu era novo, eu vinha jogar bola com o meu pai. Aí eu vi um jogo lá.
― Pagou alguma coisa?
― Só paga o lanche, o resto é de graça.
― Tem muitas atividades aqui, natação, judô... já fez alguma coisa?
― É, eu nunca fiz nada. Tem teatro, futsal, dança... Na região, tem quadras para jogar bola. Só. Nunca tive vontade porque tem que se inscrever e demora, é bastante concorrido.
Ele está ameno. Estamos no aquecimento.
― Eu moro no bairro Sol Nascente mesmo, é residencial. A minha escola fica do lado da minha casa, na esquina, eu vou a pé, mesmo. Aqui pro CEU demora mais, eu também venho a pé, mas de ônibus deve demorar uns quinze minutos, é o tempo de ele chegar no ponto de lá. Aí para vir pra cá demora mais cinco, no máximo.
― E o que você faz final de semana?
― A gente vai muito para a Lapa, pro Tietê, muito pra parques, que é tranquilo também, porque aqui só tem o CEU e a pracinha, que é perto da escola. Eu me encontro com o pessoal lá de fim de semana, e antes e depois do horário da escola. Entro seis horas e saio dez e quarenta e cinco. A gente vai a pé mesmo pra casa.
― Não tem medo, não?
― A gente vai em grupos de cinco, dez pessoas e eles moram mais longe. Eu chego em casa e eles continuam. O percurso a pé tá meio perigoso, de noite, mas os assaltos estão acontecendo de manhã, a hora que eles estão indo trabalhar, umas seis, sete horas. Aí é ruim de andar por ali.
― E você mora com quem?
― Minha mãe – revela, ainda morno. Ele não se transborda.
― E seu pai é falecido? – Inquirimos.
― Não, ele mudou pro interior, tem a família dele lá e não vem pra cá, não.
Pronto, agora não fala mais nada mesmo.
― E a sua mãe não fica preocupada com o percurso?
― Minha mãe é tranquila, sim, mas ela não dorme direito, porque ela fica preocupada comigo, mas eu digo para ela não se preocupar, que não tem o que fazer – ele ri discretamente. ― Ela fica desesperada quando eu não respondo as mensagens, porque ela acha que aconteceu alguma coisa.
― Disseram que nas praças há muito uso de droga, você acha que isso influencia você?
― Nós andamos em bando, cinco a dez pessoas, então não influencia tanto, mas tem bebida, drogas, essas coisas, mas não tem assalto lá, só o medo de frequentar lá por causa da droga. Você vai achar droga em todo lugar. Tem na esquina de casa. Não é por causa da praça, é algo de você, você só se influencia se deixar.
― Algum amigo seu se envolveu e se afastou por causa disso?
― Não, ninguém se envolveu tanto assim para se afastar de todo mundo – e revela: ― Vendem principalmente maconha e farinha.
― Farinha? É cocaína?
― Sim, sim, cocaína, eles falam isso porque é mais fácil de comercializar.
― E isso tem do lado da sua casa?
― É, qualquer lugar que você chegar tem, é só você ver a pessoa que está parada em um lugar o dia inteiro, aí você sabe que é ela que vai vender para você.
Dois porteiros conversam perto do portão. Parecem atentos.
― Aqui no Céu tem?
― Não sei, mas deve ter sim. Não aqui dentro, mas no Morro Doce, com certeza.
― O nome é Morro Doce, mesmo?
― Sim, Morro Doce. Então, e quanto mais para cima do morro, mais é a comercialização da droga. A polícia passa por aqui, pelo morro, enquadra um, mas eles voltam depois de uma semana.
― A polícia aqui é violenta?
― Eles fazem a ronda, se virem algo suspeito, enquadram. E se o cara tiver com muita coisa, vai pra prisão. Mas nunca vi batendo. Enquadrando, sim, lá em perto de casa eu já vi, lá é meio tenso, mas batendo não. Ficam fazendo ronda.
Descobrimos que sua mãe trabalha em casa, cuidando de algumas crianças. Ganha uns 300 reais. Thiago recebe a pensão do pai.
― As pessoas trabalham fora de Anhanguera. Pegam ônibus. A Rodovia é essencial.
― E o que você acha do CEU e da sua escola?
― Eu gosto do CEU, avalio como bom. Só não é ótimo porque tem algumas regras chatas, não dá para fazer sempre o que você quer. Não pode usar quadra sempre, por exemplo, só final de semana, porque tem turmas de alunos que usam para fazer atividades.
― E o ensino? – damos corda, interessados.
― O ensino aqui é razoável, poderia ser melhor, mas não é. Ele não é tão bom porque os professores às vezes faltam, principalmente porque muitos alunos matam aula sexta feira. E quando tem feriado prolongado, muita gente não vai e o professor costuma não ir também.
― Aqui só tem colégio público, né?
― Sim, só.
― O que você acha da juventude atual?
― Alguns jovens são desinteressados para fazer as coisas, praticamente tudo. Ficam vagabundeando por aí. Mas alguns querem fazer, sim, muitas coisas.
― E você, o que quer fazer?
― É que esse ano eu não consegui me inscrever no Enem, a situação financeira tá meio ruim, não deu para pagar a taxa, 50 reais. Vou tentar fazer ano que vem, porque quero entrar na USP, fazer medicina.
Seu rosto é impassível, mas sua presença é forte. Entendemos: ele conhece a seriedade da vida. Ou está tímido, simplesmente.
Quer ajudar as pessoas. Conta que frequenta o SUS e o posto de saúde da região, quando está doente. É um bom atendimento, só muito demorado. É muita gente para pouca infraestrutura. Já esperou duas horas.
― Você vê o médico cuidando de você no dia que você está mal, eu queria fazer isso também, deixar as pessoas bem quando elas estão mal – oficializa, racional.
― E como será quando passar?
― Se eu entrar, vou ter que trabalhar um período e ir pra USP para fazer o curso. Vou ter que morar num lugar mais perto, talvez na Lapa. Minha mãe não sei se vai se mudar comigo, mas se eu pudesse não me mudava daqui. Vi as coisas mudarem aqui, cresci, vivi aqui, não quero sair. Só me vejo indo embora pra fazer faculdade.
― Podemos dizer que você ama Anhanguera, então?
― Sim, eu amo morar aqui.
O amor é profundo, sabemos. Vai além de sorrisos.
Dentro do CEU, encontramos um parquinho de chão de areia, murado. Crianças de cinco anos brincam nele, vestem o uniforme escolar da prefeitura. Um mais velho se hipnotiza com a câmera. O nome é Luan.
― Você gosta do quê na escola?
― Não gosto de matemática, gosto de leitura.
Que criança linda!
― Ah, que legal, e do que você gosta de ler?
― A sua câmera, queria uma igual essa, quanto custou?
Ele ficou hipnotizado.
― Ah, mas essa é cara. Você vai achar muito complicada, mas se você gosta de fotografia, é melhor você começar com uma mais simples.
O olhar de Luan captura a câmera e a câmera devolve o olhar, valiosa.
― Você quer ver como é?
Ele tirou uma foto, a câmera pendurada no pescoço.
― Nossa.
Não sabemos se ele se encantou com a qualidade da imagem ou se achou ruim. Estava fascinado, absolutamente. Sabemos que ele não tem condição de comprar essa câmera. É um pré-adolescente, tem doze anos. Pensei no adulto, que trabalha dia e noite e tem que dizer: não. Dizer “não” por motivos financeiros, não educacionais. Luan era singelo. Em sua simplicidade, queríamos cuidar dele, do seu futuro. Não senti tristeza nem compaixão, mas profundidade, algo mais vasto do que todo aquele horizonte de favelas, do que aquela rodovia, inexorável à Anhanguera, arterial.
― Você gosta de futebol?
― Sim.
― Você gosta de algum jogador?
― Sim.
― Gosta do Neymar?
Pausa. As chaves giram e novas comportas se abrem:
― Gosto, mas eu prefiro o Cristiano Ronaldo. Eu até tinha a camiseta e uma chuteira, mas a chuteira furou – diz, prático. Luan está feliz.
As outras crianças continuam brincando. Os gritos chamam a atenção, brincam desatentas, espontâneas de tudo.
Dentro do céu é tudo muito colorido. O horizonte contrasta com as quadras, com os parquinhos, com a grama verde, com as tantas árvores. Há muitos passarinhos.
As crianças param, se agrupam. Olham através da cerca do muro.
Elas comentam entre si como a jovem com a câmera é bonita.
Se aproximam. A professora está longe, costurando papo com uma funcionária. Acompanhamos pacientemente aqueles tocos virem gingando, sem um grama de medo. A hora dele havia passado.
É bobo, sabemos. Mas é bonita a cena. Entenda quem possa entender.
As crianças entrevistam a menina. Elas gritam, parece que cada uma quer berrar mais que a outra. Explodem de alegria, uma felicidade bonita.
As crianças escalam a grade. Um deles denuncia para a professora.
São ingênuos, não inocentes.
Professora chega perto, gritando desde o outro lado do parquinho. Olha feio para nós. Elas descem da grade. Dá meia volta e fica um pouco menos distante. Sua companhia se aproxima. Voltam a costurar.
Os adultos estão cansados, em todos os sentidos.
As crianças gritam o nome dela: Isabella.
Descobrimos que uma menina faz aniversário naquele dia; todos cantamos os parabéns. As crianças deram nela um abraço coletivo.
Tivemos medo que a professora voltasse. Fomos em um banco distante, pelo qual só dava para avistar e ser avistado da quadra apenas por uma fresta no muro. Quanta ingenuidade a nossa. As crianças acharam o ínfimo portal. Uma riu, chamou atenção de todas as outras e gritou o nome dela. Isabella viu que elas tinham ficado bastante felizes com a atenção que ela lhes deu.
As crianças continuam brincando, embebidas de despreocupação. O movimento delas, solto, irradia certa sacralidade descuidada. Começamos a rir também, nós, os adultos cansados, previsíveis, as crianças já crescidas, renovando o peso leve daquilo que é eternidade.
Um casal de pré-adolescentes namora em um banco distante.
Saímos do CEU como guerrilheiros que saem de uma guerra vencida. Já está anoitecendo. Vemos os barracos. Não são tão feios como quando entramos. Os barracos, entretanto, continuam iguais.
O uber chega. Entendemos, definitivamente, que descer o morro é muito mais fácil do que subir: e vislumbramos, nas memórias do CEU, aquilo que é dignidade.