Temperaturas Paulistanas/Planejamento/Bom Retiro/Turma A
Texto introdutório
[editar | editar código-fonte]O bairro, localizado no centro do estado de São Paulo, tem grande importância histórica. Abrigando a estação São Paulo Railway (hoje Estação da Luz) e a Estrada de Ferro Sorocabana (atual Júlio Prestes), a região recebia os viajantes que aqui chegavam. Nos anos 20, o município recebeu a primeira fábrica de automóveis, inaugurando a Ford do Brasil. A grande concentração de comércios relacionamos ao vestuário – hoje uma das características mais marcantes do Bom Retiro – iniciou-se na década de 60, com lojas e pequenas fábricas de confecção.
Em termos culturais, o município abriga importantes instalações, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu da Língua Portuguesa, Museu de Arte Sacra, Sala São Paulo e o Centro de Estudos Musicais. A imigração é também um ponto relevante: judeus, coreanos e bolivianos são os principais imigrantes que habitam a região, muitos deles donos dos comércios.
De IDH elevado (0,847), as maiores parcelas do município são de muito baixa e baixa privação, com condições de vida média e alta, respectivamente. Ainda de acordo com Mapa da vulnerabilidade social e do déficit de atenção a crianças e adolescentes, percebem-se áreas de média e alta privação, onde os índices socioeconômicos apresentam-se menores. Em termos de faixa etária, boa parte da população é adulta e idosa.
Anete Rosenberg, moradora do Bairro
Moradora do Bom Retiro desde pequena, Anete Rosenberg passou sua infância no bairro e recentemente se mudou para Higienópolis. Apesar de gostar da vizinhança e guardar boas recordações de lá, ela buscava um ambiente mais familiar e movimentado. “É uma região muito segura, tranquila e gostosa de morar, mas com o tempo as fábricas e os comércios foram tomando conta do espaço e hoje é o que mais tem por lá”, contou Anete. Judia, ela conta que a comunidade judaica é grande no bairro, composto por muitas sinagogas. “Minha família sempre frequentou Sinagoga no Bom Retiro, lá tem muitos judeus, minha filha, inclusive, trabalha lá em uma empresa de judeus”. Ela saiu do bairro, mas o bairro não saiu dela. “Não consigo me desligar, ainda frequento muito lá, principalmente restaurantes. Eu e os meus filhos estamos sempre na Casa do Arais, um restaurante armênio, é o nosso preferido”.
Planejamento
[editar | editar código-fonte]Visitas e Temas do Questionário
[editar | editar código-fonte]Aproveitando da expressividade cultural do Bom Retiro, escolhemos explorar três centros culturais e verificar como os moradores e visitantes usufruem deles. Os lugares são: Sesc Bom Retiro, Centro Cultural Hallyu (cultura coreana) e Memorial da Imigração Judaica.
Endereços:
Sesc Bom Retiro
Alameda Nothmann, 185, Bom Retiro - São Paulo | (11) 3332-3600
terça a sexta 09h às 20h30, sábados 10h às 18h30, domingos e feriados 10h às 17h30
Centro Cultural Hallyu
Rua Guarani 149, Bom Retiro - São Paulo | (11) 2538-7453
segunda a sábado 10h às 18h
Memorial da Imigração Judaica
Rua da Graça, 160, Bom Retiro - São Paulo | (11) 3331-4507
domingo 10h às 17h, terça a quinta 10h às 17h, sexta 10h às 15h
Temas a serem abordados no questionário:
- Questões de imigração
- Influência religiosa
- Moradores e trabalhadores
- Transporte
- Segurança
- Incentivos públicos para a cultura
- Aproveitamento dos centros culturais
- Identidade do bairro
Responsabilidades
[editar | editar código-fonte]Nome do Integrante | Responsabilidade |
Bárbara Barros | Elaboração e aplicação do questionário, visita ao Centro Cultural Hallyu, análise dos dados coletados, elaboração da pauta e áudio. |
Bianca Gomes | Aplicação do questionário, postagem do conteúdo na plataforma, análise dos dados coletados, visita au Memorial da Imigração Judaica e reportagem. |
Elena Costa | Aplicação do questionário, contabilização dos dados coletados e grupo focal. |
Giulia Nardone | Elaboração e aplicação do questionário e reportagem. |
Mariane Reghin | Elaboração e aplicação do questionário, visita ao Centro Cultural Hallyu, análise dos dados coletados, elaboração da pauta, edição do conteúdo na plataforma e reportagem. |
Cronograma
[editar | editar código-fonte]Responsável | Dias | Horários |
Bárbara e Mariane | segunda à sexta | 14h até 18h |
Bianca, Elena e Giulia | sábado e domingo | 9h até 12h |
As visitas serão realizadas durante a semana e o fim de semana do período compreendido entre 15/08 a 21/09.
Questionário (Dados)
[editar | editar código-fonte]Qual é sua idade? | |
Até 20 anos | 6 |
De 21 a 40 anos | 27 |
De 41 a 60 anos | 8 |
Mais de 61 anos | 5 |
Qual é o seu grau de escolaridade? | |
Ensino Fundamental | 4 |
Ensino Médio incompleto | 1 |
Ensino Médio completo | 19 |
Superior incompleto | 8 |
Superior completo | 11 |
Pós-graduado | 2 |
Você mora no bairro? Se sim, há quanto tempo? | |
Menos de um ano | 1 |
Até 5 anos | 4 |
Até 10 anos | 7 |
Até 15 anos | 3 |
Mais de 20 anos | 7 |
Com quem você mora? | |
Sozinho | 3 |
Com pais e/ou familiares | 13 |
Com companheiro(a) | 4 |
Com amigos/conhecidos | 4 |
Qual é a sua opinião sobre a qualidade de vida do bairro? | |
Excelente | 2 |
Boa | 9 |
Regular | 9 |
Ruim | 1 |
Péssima | 2 |
Qual é o custo de vida do bairro? | |
Alto | 8 |
Médio | 14 |
Baixo | 2 |
Você já pensou em se mudar do bairro? Se sim, por qual(is) motivo(s)? | |
Questões pessoais | 5 |
Segurança | 5 |
Transporte | 0 |
Custo de vida | 0 |
Outro | 1 |
Você trabalha no bairro? Se sim, há quanto tempo? | |
Menos de um ano | 7 |
Até 5 anos | 14 |
Até 10 anos | 4 |
Até 15 anos | 3 |
Mais de 20 anos | 6 |
Se não trabalha no bairro, gostaria? | |
Sim | 2 |
Não | 9 |
Qual é o meio de transporte que mais utiliza no bairro? | |
Veículo pessoal | 9 |
Ônibus | 6 |
Metrô/Trem | 21 |
Táxi/Uber | 3 |
Bicicleta | 0 |
A pé | 7 |
Qual é a sua opinião sobre o transporte público do bairro? | |
Excelente | 0 |
Bom | 22 |
Regular | 19 |
Ruim | 1 |
Péssimo | 3 |
Qual é a sua opinião sobre a segurança do bairro? | |
Excelente | 0 |
Boa | 9 |
Regular | 15 |
Ruim | 9 |
Péssima | 13 |
Qual é o período do dia que considera ser mais perigoso no bairro? | |
Manhã | 1 |
Tarde | 2 |
Noite | 43 |
Como é o acesso a cultura no bairro? | |
Excelente | 1 |
Bom | 22 |
Regular | 17 |
Ruim | 4 |
Péssimo | 1 |
Com que frequência? | |
Diariamente | 0 |
Semanalmente | 4 |
Mensalmente | 8 |
Em eventos especiais | 15 |
Nunca frequentou | 11 |
O bairro oferece boas opções de refeição para a hora do almoço/jantar? | |
Muitas | 21 |
Algumas | 18 |
Poucas | 7 |
Qual é a primeira imagem que vem a cabeça em relação ao bairro? | |
Comercial | 39 |
Industrial | 3 |
Histórica | 3 |
Outro | 0 |
Na sua opinião, qual é a identidade do bairro? | |
Judaica | 5 |
Coreana | 16 |
Boliviana | 1 |
Miscigenada | 22 |
Outra | 1 |
Religiões encontradas no distrito: | |
Budismo | 2 |
Evangélica | 5 |
Não segue | 10 |
Católica | 12 |
Espírita | 1 |
Cristianismo | 3 |
Protestante | 1 |
Umbanda | 1 |
Judaísmo | 3 |
Profissões encontradas no distrito: | |
Cabeleireira | 1 |
Atendente | 5 |
Vendedora | 7 |
Gerente | 4 |
Projetista | 1 |
Garota de programa | 1 |
Empregada doméstica | 2 |
Auxiliar administrativo | 2 |
Ator | 1 |
Comerciante | 2 |
Estudante | 5 |
Dona de casa | 1 |
Professora | 1 |
Engenheiro | 1 |
Empresário | 2 |
Zelador | 1 |
Corretor | 1 |
Publicitária | 1 |
Aposentado | 4 |
Ascendências encontradas no distrito: | |
Polonesa | 4 |
Portuguesa | 5 |
Indígena | 2 |
Italiana | 7 |
Espanhola | 5 |
Coreana | 12 |
Judaica | 1 |
Havaiana | 1 |
Árabe | 1 |
Russa | 1 |
Alemã | 1 |
Não sabe/respondeu | 4 |
Locais de lazer encontrados no distrito: | |
Shopping | 1 |
Parque | 7 |
Baladas | 2 |
Bares | 5 |
Cafeterias | 3 |
Centros | 1 |
Teatros | 1 |
Cinemas | 1 |
Minhocão | 1 |
Praças | 1 |
Lojas | 1 |
Restaurantes | 1 |
Rua das Noivas | 1 |
Não frequenta | 19 |
Centros culturais frequentados no distrito: | |
Pinacoteca | 13 |
Museu da Língua Portuguesa | 7 |
Centro Cultural Banco do Brasil | 2 |
Centro Cultural Hallyu | 2 |
Sala São Paulo | 1 |
Instituto Dom Bosco | 1 |
Centro Oswald de Andrade | 3 |
Biblioteca | 1 |
Arquivo histórico | 1 |
Museu de Engenharia Elétrica | 1 |
Não frequenta | 20 |
Pontos positivos do distrito: | |
Comércio favorável | 20 |
Localização | 7 |
Fácil acesso | 5 |
Beleza | 2 |
Oficinas culturais | 1 |
Multicultural | 4 |
Amizades do bairro | 3 |
Moradia | 1 |
História | 1 |
Pontos negativos do distrito: | |
Cracolândia | 1 |
Segurança | 21 |
Moradores de rua | 4 |
Sujeira | 10 |
Especulação mobiliária | 1 |
Transporte | 3 |
Grande presença de coreanos | 3 |
Não sabe/respondeu | 1 |
Não tem pontos negativos | 2 |
Outros | 3 |
Análise do questionário
[editar | editar código-fonte]Com visitas realizadas nos dias 25, 27 e 29 de agosto, foram aplicados 46 questionários. Dentre os entrevistados, 28 são homens e 18 são mulheres. Com relação às faixas etárias, 58,6% têm entre 21 e 40 anos, 17,3% entre 41 e 60 anos, 13% tem até 20 anos e o restante (10,8%), tem mais de 61 anos. Sobre o grau de escolaridade, 41,3% possuem ensino médio completo e 23,9% possuem ensino superior completo. Uma menor porcentagem possui ensino médio incompleto (2,1%) e pós-graduação (4,3%).
Do total de entrevistados, 22 deles moram no bairro, dos quais 15,2% estão lá há menos de 10 anos. Outros 15,2% vivem no Bom Retiro há mais de 20 anos. A maioria (28,3%) vive com os familiares. Dos que já consideraram mudar-se do bairro (50%), são por questões relacionadas à segurança e/ou questões pessoais. Em relação à qualidade de vida no bairro, a maioria dos moradores a considera entre regular e boa (52,9%). Enquanto 41,2% dos moradores consideram o custo de vida médio, enquanto 23,5% o consideram alto e apenas 5,9% baixo.
Entre os entrevistados, 73,9% trabalham no bairro, sendo a maioria (61,7%) há menos de 5 anos. De maneira geral, os entrevistados consideram que a segurança do bairro é regular, sendo que a noite é considerada o período mais perigoso.
Em termos de transportes utilizados no bairro, 45,6% utiliza metrô e trem. A grande maioria (89%) considera o transporte público do bairro regular/bom. Com relação ao acesso à cultura do bairro, a maioria (84,8%) considera regular/bom. Os lugares mais visitados são a Pinacoteca, o Museu da Língua Portuguesa e o Centro Oswald de Andrade, visitados principalmente em eventos especiais (32,6%).
Para 47,8% das pessoas que responderam ao questionário, a identidade do Bom Retiro é miscigenada, 34,8% acredita ser coreana e para 10,8% é judia. Diante desse dado, concluimos que houve um aumento no número de imigrantes coreanos na região, o que alterou a imagem histórica de ser um bairro judeu.
Entre os entrevistados, 26% são de ascendência coreana, 15,2% italiana e 10,8% são de espanhola e portuguesa. Isso comprova a iminente ascensão da etnia oriental. Entre as religiões praticadas, 26% são católicos, 10,8% evangélicos, 6,5% judeus, 4,3% budistas e 21,7% não segue nenhuma religião, o que mostra a diminuição de judeus no distrito.
Sobre a imagem do bairro de acordo com a perspectiva dos entrevistados, 84,8% o veem prioritariamente como comercial. A maioria dos entrevistados tem profissões como: vendedor, atendente e comerciante, o que ressalta a identidade comercial do bairro. Entre os demais entrevistados, sobressaem os estudantes e os aposentados.
Em 25 de agosto, quinta-feira, realizamos a primeira visita ao Bom Retiro para aplicar o questionário. Utilizamos um veículo pessoal para chegar ao local e andamos pelas ruas do bairro, muito vazias, por sinal. Nesse dia, especificamente, o maior número de respostas foi concedido por trabalhadores da região. Além de encontrar pouquíssimo movimento em horários que não o do almoço, também estivemos com muitas pessoas com pressa, que se negaram a responder.
Na tarde de 29 de agosto, segunda-feira, realizamos a terceira visita ao Bom Retiro para aplicarmos o questionário. O metrô foi o meio de transporte utilizado para chegar ao destino. Desembarcamos na estação Tiradentes em frente a Praça Coronel Fernando Prestes. Seguimos a pé para o Centro Cultural Hallyu na Rua Guarani. O fluxo de pessoas no local contrariou as nossas expectativas, pois no momento havia apenas um frequentador. Por ter sido inaugurado recentemente, o CC Hallyu ainda é pouco frequentado e a maioria das suas atividades somente iniciarão após as Paralímpiadas. Caminhamos pelas ruas ao redor em busca de pessoas dispostas a responder o questionário em estabelecimentos como açougue, padarias, mercados, docerias e lojas. Nesse dia, novamente, o maior número de respostas foi concedido por trabalhadores da região.
Inicialmente, notamos uma certa desconfiança das pessoas que abordamos para responder o questionário. Houve diversas tentativas, por parte das integrantes do grupo, de aplicar o questionário com imigrantes que moram e/ou trabalham nas fábricas do bairro, principalmente coreanos e bolivianos. Além de demonstrarem significante receio com nossa aproximação, eles, em maior parte, se negavam a responder o questionário. Os poucos que respondiam, eram breves e não demonstravam interesse em participar.
Por outro lado, conhecemos pessoas bastante interessantes como: Antônio José, morador e zelador do edifício Prelude há 35 anos; Davi Ben Avran, comerciante iugoslava, dono da Doceria Burikita há 46 anos e membro do Conselho de Segurança do Bom Retiro; Vilma Sangiorgio, Betty Kirjner e Vilma Paladino, trio de senhoras moradoras do bairro há mais de 60 anos.
Entrevistas
[editar | editar código-fonte]Material bruto da apuração disponível em:
https://drive.google.com/open?id=0Byvti7Tl9Lrwb1hJYWN0SGRjbXM
Reportagens
[editar | editar código-fonte]1) Bom Retiro: uma profusão de histórias
Definir a identidade de um bairro como o Bom Retiro não é uma tarefa simples. Na verdade, qualquer tipo de definição aqui é invariavelmente excludente. Isso porque o bairro, localizado na região central metropolitana de São Paulo, recebeu imigrantes das mais diversas nacionalidades ao longo de sua história. Os primeiros a se instalarem por lá - no início do século XX -, foram os italianos, seguidos pelos espanhóis, portugueses, turcos, sírios e libaneses. Refugiados das perseguições na Europa, chegaram os judeus e lituanos ainda na primeira metade do século XX. A partir dos anos 50, gregos, armênios e principalmente coreanos alteraram mais uma vez o cenário do bairro. E por fim, nas últimas décadas do século XX, bolivianos, paraguaios e peruanos também adotaram o bairro como um novo lar.
Para vivenciar de perto a diversidade cultural do Bom Retiro, o melhor exercício é caminhar pelas ruas. Ao desembarcar da estação de metrô Tiradentes, você encontra de um lado a congestionada Av. Tiradentes e do outro a praça Coronel Fernando Prestes, que reúne foodtrucks – em alguns dias da semana –, estudantes das escolas e faculdades próximas, moradores de rua e claro, pessoas carregando enormes sacolas, resultado das compras. Ao fim da praça, a extensa Rua Três Rios e suas adjacentes são repletas de vozes falando em coreano, iídiche, espanhol e claro, português. Mesmo com um número considerável de comércios, essa é a região do Bom Retiro mais fleumática e com carinha de bairro residencial.
Quanto mais próximo da icônica Rua José Paulino, maior é a efervescência comercial, mesmo nos tempos de crise. E é falando em compras e comércio que chegamos a um ponto importante. Ainda que cada nacionalidade tenha colaborado à sua maneira para compor o cenário plural da região, a vocação comercial, característica intrínseca ao Bom Retiro não seria possível sem um povo em específico: os judeus.
Já ouviu falar em Samuel Klein? Possivelmente um dos nomes mais importantes para a história do bairro, o sobrevivente do Holocausto chegou no Brasil em 1952 e após cinco anos trabalhando como comerciante ambulante, ele conseguiu capital o suficiente para abrir uma loja, fundando a Casas Bahia, um dos primeiros empreendimentos voltados para as camadas populares. O segredo de Samuel e tantos outros judeus que chegaram ao Brasil sem nada e construíram verdadeiros legados? Em primeiro lugar, a solidariedade. Em segundo, a implantação do sistema crediário.
Logo que chegaram à São Paulo, os judeus eram assistidos por outros judeus que já viviam aqui. Chamados de “clapers”, eles batiam na porta de seus correligionários e logo eram incorporados à comunidade e encaminhados para a Cooperativa de Crédito Lai-Spar Kasse, fundada em 1928 e sediada na rua da Graça, funcionando até 1972. Lá, eles recebiam o capital para iniciar suas vidas em seu novo lar. E assim os comerciantes conhecidos como clientelshiks (ou mascates) vendiam tecidos e mercadorias de porta em porta.
Era na forma de pagamento, uma novidade até então, que os comerciantes obtiveram êxito: “o sistema crediário facilitou muito porque as pessoas em São Paulo não tinham recursos para comprar. Além disso, fidelizava o freguês”, explica Reuven Faingold, um gentil professor de 59 anos, e verdadeiro perito em História Judaica.
Reuven nasceu na Argentina – o sotaque que mistura o português com espanhol não nega as raízes – e vive há mais de 20 anos no Brasil. Tem PhD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica em Jerusalém e uma profissão acadêmica produtiva, com dezenas de artigos publicados. Atualmente, ele leciona para judeus no Bom Retiro e todas as quartas-feiras, realiza visitas guiadas no Memorial da Imigração Judaica. Estrategicamente, escolhemos esse dia da semana para conhecer o memorial. Ao chegar no charmoso edifício azul turquesa e sustentado por grandes colunas brancas, fomos direcionadas ao subsolo do Memorial. Lá, o professor se esforçava para receber a atenção de jovens estudantes dispersos, muito deles entretidos com selfies.
Acompanhando os minutos finais da excursão escolar, ouvimos as explicações didáticas do professor de terno cinza e uma pequena boina da mesma cor na cabeça. No momento da nossa chegada, ele mostrava aos alunos as instituições judaicas do Bom Retiro em um painel interativo. Nas paredes, chama atenção as grandes fotografias de judeus que ajudaram a construir a história do bairro. Terminada a excursão, Ruaven nos conduz a sua sala – ainda improvisada – para responder às nossas dúvidas. Após a entrevista, ele mais uma vez faz um tour pelo memorial especialmente para nós. Construído no lugar que abriga a sinagoga mais antiga de São Paulo, na bifurcação das ruas da Graça e Lubavitch, o memorial foi inaugurado em fevereiro de 2016 e em seus três andares (em breve, quatro) mais de 1000 itens reconstroem a história dos judeus no Brasil.
O Memorial da Imigração Judaica é um entre os muitos centros culturais da região. Seus vizinhos, no entanto, não possuem a mesma estrutura impecável. É o caso da Casa do Povo, inaugurada em 1953 com o intuito de homenagear os que morreram na Segunda Guerra Mundial. Foco importante de resistência da comunidade judaica à ditadura militar, o edifício tem suas paredes marcadas por cicatrizes do tempo por preservar as estruturas originais. Para mudar esse cenário, uma associação de ex-alunos da escola luta para restaurar o prédio e resgatar seu propósito inicial, de dialogar com a construção da história do bairro e ser um monumento vivo.
A verdade é que mesmo com os edifícios pouco preservados, não faltam pessoas responsáveis por manter a história do bairro viva.
David Ben Avram, comerciante
A Doceria Burikita, na rua Três Rios, impressiona pela simplicidade. Com capacidade para dezesseis pessoas, expõe quitutes de dar água na boca. Os doces e os salgados europeus se destacam nas vitrines: o rocambole de figo com nozes - doce típico iugoslavo - e a própria burikita - salgado típico do Leste Europeu - que dá nome à casa.
O cheiro de uma nova fornada de burikitas, o barulho da máquina de café e a conversa dos clientes compõem o recinto. O movimento estava intenso naquela quinta-feira de outono em que visitamos o local. As paredes de azulejo marfim são preenchidas por um diploma do Conselho Comunitário de Segurança Pública em reconhecimento aos serviços prestados ao bairro como Conselheiro de Segurança do Bom Retiro além de recortes de jornais e revistas que destacam a qualidade da doceria, os quais David Ben Avram mostra com orgulho. Em realce está a indicação entre os destaques gastronômicos de 2005 pelo guia ‘O melhor da cidade’ promovido pela Revista Veja São Paulo.
O relógio antigo na parede ao lado do retrato preto e branco dos fundadores da doceria são vestígios da história. Há mais de três décadas, a mãe de David fazia burikitas em casa para os amigos. Diante dos constantes elogios, o casal de iugoslavos, Avraham e Matilda Ben Avram, decidiu transformar o hobby em negócio.
Inaugurada em 1970, a Doceria Burikita permanece há 46 anos no mesmo endereço. Após a morte de Matilda, David passou a administrar o estabelecimento. Engenheiro por formação, Avram abdicou da carreira estável em uma multinacional para cuidar do negócio da família. Em sua gestão, reformou a doceria, ampliou o negócio além do fornecimento de bolos e petit fours para eventos.
Apesar de saber agradar os clientes com um sorriso largo e simpatia de sobra, o olhar cansado, o bigode e os cabelos grisalhos não escondem as marcas da idade.Nascido há 70 anos na antiga Iugoslávia, David Ben Avram mudou-se para Israel com dois anos. Devido a eclosão da Segunda Guerra Mundial, veio de navio com a família para o Brasil aos nove.
O judeu tem boas lembranças da infância e da adolescência no bairro: “Morei em frente ao Jardim da Luz. Naquela época, o bairro não tinha ruas duplicadas e o parque não tinha grades. Corria até lá, brincava com bolinha de gude e jogava futebol. Parece difícil de imaginar hoje em dia, mas eu já nadei no Rio Tietê“.
Avram morou no Bom Retiro até o ano 2000. Apenas se mudou do bairro quando se casou pela segunda vez com um amor da adolescência e foi morar no apartamento dela na Vila Buarque. O trabalho na doceria e o cargo de Conselheiro de Segurança do Bom Retiro, porém, não permitem que rompa esse laço.
Do primeiro casamento, tem dois filhos. A mais velha mora em Jerusalém e lhe deu onze netos. O caçula ainda mora no Bom Retiro com a esposa e os três filhos. David mostra com o orgulho a foto com os quatorze netos além dos quatro bisnetos.
Diante das circunstâncias atuais, o caçula pretende seguir os mesmos passos da irmã e mudar-se para Israel no ano que vem. Por esse motivo, o aposentado pensa em ir também e reunir a família lá. “As pessoas dizem ter medo de Israel porque só veem as guerras na televisão e as brigas entre judeus e árabes. Meus netos pequenos saem sozinhos na rua e não tem problema nenhum. Eu, com 70 anos, tenho medo de sair na rua aqui. Não é fácil ir para lá, tem que trabalhar muito e respeitar as leis. Mas pelo menos, você tem qualidade de vida. A guerra daqui é pior que a de lá. Aqui você para num semáforo e pode levar um tiro. Lá você só leva tiro se for na fronteira”.
Apesar de ainda apresentar resquícios de sua língua nativa, o estrangeiro, naturalizado brasileiro, cumpre seu papel de cidadão ao ser conselheiro de segurança do Bom Retiro. O iugoslavo quer retribuir tudo o que recebeu do país: “Quero fazer algo pelo bairro e pela cidade. Algo que realmente ajude a população do Bom Retiro”.
O conselheiro participa de reuniões mensais para expor as demandas da população aos órgãos públicos. “Nós reclamamos para estas entidades, mas não adianta. A cidade está muito suja e abandonada, as coisas não funcionam. Piorou muito, não só esse bairro, mas como a cidade toda. Muitas vezes, parto para a mídia. Infelizmente para conseguir alguma coisa aqui no Brasil, precisa de muita briga”.
Rebeca Rosenberg, aposentada
Com a voz trêmula, Rebeca Rosenberg, aos 82 anos, relembra a vinda de sua família para o Brasil. Seu pai veio sozinho para o país, deixando sua mãe e irmão na Polônia. Ele se instalou no Bom Retiro e, quando juntou dinheiro o suficiente, mandou para a família vir de navio. “Os judeus que vieram para cá, inclusive minha família perderem muitas pessoas. Eu não conheci ninguém da minha família. Não conheci tias, tios, primos, enfim”, compartilha a aposentada.
Apesar de ter em sua bagagem desagradáveis recordações, como ela mesma afirma, Rebeca conta com orgulho dos tempos que morou em um dos bairros do centro de São Paulo: “O Bom Retiro foi um porto seguro para quem veio nos primeiros anos. Ele leva a lembrança da minha infância. Eu morei por muitos anos lá e na época eu gostava muito do bairro. Meu pai, junto com outros poloneses, criaram uma sociedade de judeus onde instituíram uma biblioteca judaica e um local de recreação. Todos se encontravam aos fins de semana e alimentavam a vida cultural no bairro. Lá na Rua Prates também tinha um centro para os moradores, era um lugar de apoio hospitalar. ”
E foi assim, em meio a tantos elogios que, em um estalar de dedos, veio à memória de Rebeca uma das situações mais constrangedoras e marcantes que passou no Bom Retiro: “Nós tínhamos vergonha de dizer nossa religião. No dia que chamam de Sexta-feira da Paixão, eu me escondia em casa porque eles faziam boneco, colocavam fogo no boneco e jogavam para dentro da casa para dizer que estavam matando judias. Aquilo era muito desagradável, muito marcante para mim e para todos. ”
Depois de muitos anos vivendo no mesmo bairro, a filha de Rebeca ingressou na Fundação Armando Álvares Penteado, motivo de grande orgulho para a mãe. E os motivos para deixar o Bom Retiro apareçam gradativamente: a construção barulhenta do metrô, o consultório novo do marido em Higienópolis, a faculdade da filha e a melhor condição de vida. “Os judeus foram saindo do Bom Retiro, porque tinham a possibilidade de melhorar a sua vida pessoal, oferecer uma melhor condição e estrutura aos filhos, e os coreanos começaram a ocupar o bairro. A parcela da comunidade judaica que mora lá hoje não evoluiu economicamente e não pode sair de lá, aí eles frequentam a UNIBS e moram muito isolados, porque há um número muito pequeno de judeus”, relatou.
O desejo de ascensão e a constante busca por condições melhores de vida como no caso de David e Rebeca são características inatas à cultura judia. Tanto é verdade que os processos migratórios dos judeus são divididos em três fases relacionadas a sua posição econômica. A primeira delas refere-se à chegada dos primeiros de imigrantes por volta de 1907, em Porto Alegre. Trabalhando com a agricultura, eles não conseguiram se adaptar ao trabalho com a terra. Além disso, não queriam que seus filhos tivessem o mesmo destino. Começam então a mudar-se para regiões centrais do Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
Uma vez instalados em núcleos mais desenvolvidos, a segunda fase refere-se aos filhos dos judeus, agora com acesso ao ensino superior: formam-se médicos, advogados, arquitetos e engenheiros. A terceira fase, explica Reuven, é o caso da família de Rebeca. Com o bairro do Bom Retiro sem perspectivas de evoluções financeiras e culturais, os donos dos estabelecimentos os vendem (principalmente aos coreanos) e mudam-se para bairros bem desenvolvidos em São Paulo, como Higienópolis e Jardins. Ao final da conversa, Reuven acrescenta: “Se você reparar, o judeu fixou-se em regiões como Porto Alegre, Bonfim e Bom Retiro, todos os lugares cujo nome remetem a algo positivo. Isso não foi à toa. Bonito, não é?”
Histórias como a de Rebeca e Davi mostram algumas das infinitas vidas dos judeus no nosso país. Mesmo com sua grande contribuição cultural e econômica que modelaram por completo a história do Bom Retiro – e tantos outros bairros –, o maior legado que fica é o da hospitalidade e da cooperação. Dos judeus entre si, e de nós, brasileiros, com todos os imigrantes que encontraram aqui a chance de escapar da guerra, da opressão, da fome, e conseguiram sobreviver. Alguns mais bem-sucedidos, outros menos. Mas todos, moradores de uma mesma nação. Em tempos de obscurantismo político tão forte como o atual, lembrar dos traços positivos do nosso país não é saudosismo, nem alienação: é resistência.
2) Bom Retiro: muito além do comércio
Desembarcar na estação Tiradentes do metrô e caminhar em direção à rua Três Rios é como fazer uma viagem pela história. Vemos traços da ocupação de diferentes etnias que contribuíram para a formação da identidade cultural do bairro. Até o século XIX, a região à beira dos rios Tietê e Tamanduateí, recebia famílias abastadas da cidade para descansar nos finais de semana. Um desses locais de refúgio era a “Chácara do Bom Retiro”, que deu nome ao bairro. Hoje, as ruas estão tomadas por automóveis e pessoas apressadas que, com um primeiro olhar já é possível suspeitar de qual ascendência derive.
Italianos, judeus, coreanos e latino-americanos dividem o mesmo lar no bairro do centro de São Paulo. Atraídos pela indústria e pelos terrenos baratos, os imigrantes se instalaram no entorno desde a construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e da Estação da Luz.
Em meio a tantos restaurantes e cafeterias, uma pequena e aconchegante doceria chamou a nossa atenção. A Burikita impressiona pela simplicidade. Com capacidade para dezesseis pessoas, expõe quitutes de dar água na boca para todos os gostos. Os doces e os salgados europeus se destacam nas vitrines entre os bolos confeitados: o rocambole de figo com nozes - doce típico iugoslavo - e a própria burikita - salgado típico do Leste Europeu - que dá nome à casa.
O cheiro de uma nova fornada de burikitas, o barulho da máquina de café e a conversa dos clientes compõem o recinto. O movimento estava intenso naquela quinta-feira de outono em que visitamos o local. Diante de tantas guloseimas, a dúvida do que escolher pairava entre os clientes. Dos mais assíduos até aqueles de passagem pela região, o elogio era certo após a primeira garfada de uma das delícias da vitrine.
As paredes de azulejo marfim são preenchidas por um diploma do Conselho Comunitário de Segurança Pública em reconhecimento aos serviços de David Ben Avram prestados ao bairro como Conselheiro de Segurança do Bom Retiro além de recortes de jornais e revistas que destacam a qualidade da doceria, os quais Davi, como prefere ser chamado, mostra com orgulho. Em realce está a indicação entre os destaques gastronômicos de 2005 pelo guia ‘O melhor da cidade’ promovido pela Revista Veja São Paulo.
O relógio antigo na parede ao lado do retrato preto e branco dos fundadores da doceria são vestígios da história. Há mais de três décadas, a mãe de David fazia burikitas em casa para os amigos. Diante dos constantes elogios, o casal de iugoslavos, Avraham e Matilda Ben Avram, decidiu transformar o hobby em negócio.
Inaugurada em 1970, a Doceria Burikita permanece há 46 anos no mesmo endereço. Após a morte de Matilda, Davi passou a administrar o estabelecimento. Engenheiro de formação, Avram abdicou da carreira estável em uma multinacional para cuidar do negócio da família. Em sua gestão, reformou a doceria, ampliou o negócio além do fornecimento de bolos e petit fours para eventos.
Apesar de saber agradar os clientes com um sorriso largo e simpatia de sobra, o olhar cansado, o bigode e os cabelos grisalhos não escondem as marcas da idade. Nascido há 70 anos na antiga Iugoslávia, David Ben Avram mudou-se para Israel com dois anos. Devido a eclosão da Segunda Guerra Mundial, veio de navio com a família para o Brasil aos nove.
O judeu tem boas lembranças da infância e da adolescência no bairro: “Morei em frente ao Jardim da Luz. Naquela época, o bairro não tinha ruas duplicadas e o parque não tinha grades. Corria até lá, brincava com bolinha de gude e jogava futebol. Parece difícil de imaginar hoje em dia, mas eu já nadei no Rio Tietê“.
Avram morou no Bom Retiro até o ano 2000. Apenas se mudou do bairro quando se casou pela segunda vez com um amor da adolescência e foi morar no apartamento dela na Vila Buarque. O trabalho na doceria e o cargo de Conselheiro de Segurança do Bom Retiro porém, não permitem que rompa esse laço.
Do primeiro casamento, tem dois filhos. A mais velha mora em Jerusalém e lhe deu onze netos. O caçula ainda mora no Bom Retiro com a esposa e os três filhos. David mostra com o orgulho a foto com os quatorze netos além dos quatro bisnetos.
Diante das circunstâncias atuais, o caçula pretende seguir os mesmos passos da irmã e mudar-se para Israel no ano que vem. Por esse motivo, o aposentado pensa em ir também e reunir a família lá. “As pessoas dizem ter medo de Israel porque só veem as guerras na televisão e as brigas entre judeus e árabes. Meus netos pequenos saem sozinhos na rua e não tem problema nenhum. Eu, com 70 anos, tenho medo de sair na rua aqui. Não é fácil ir para lá, tem que trabalhar muito e respeitar as leis. Mas pelo menos, você tem qualidade de vida. A guerra daqui é pior que a de lá. Aqui você para num semáforo e pode levar um tiro. Lá você só leva tiro de for na fronteira”.
Apesar de ainda apresentar resquícios de sua língua nativa, o estrangeiro, naturalizado brasileiro, cumpre seu papel de cidadão ao ser conselheiro de segurança do Bom Retiro. O iugoslavo quer retribuir tudo o que recebeu do país: “Quero fazer algo pelo bairro e pela cidade. Algo que realmente ajude a população do Bom Retiro”.
O conselheiro participa de reuniões mensais para expor as demandas da população aos órgãos públicos.”Nós reclamamos para estas entidades mas não adianta. A cidade está muito suja e abandonada, as coisas não funcionam. Piorou muito, não só esse bairro, mas como a cidade toda. Muitas vezes, parto para a mídia. Infelizmente para conseguir alguma coisa aqui no Brasil, precisa de muita briga”.
No próximo quarteirão, encontramos o Instituto Israelita Brasileiro (ICIB), mais conhecido como Casa do Povo. Assinado pelo arquiteto Jorge Wilheim, o edifício abrigava a Escola Israelita Brasileira Scholem Aleichem, o Teatro de Arte Israelita Brasileiro (TAIB) e o Jornal Nossa Voz, se estabelecendo como centro de encontro da cultura iídiche e das vanguardas pedagógicas e artísticas.
Em 1953, a Casa do Povo foi criada com o intuito de homenagear os que morreram na Segunda Guerra Mundial. Foco importante de resistência da comunidade judaica à ditadura militar. O edifício tem suas paredes marcadas por cicatrizes do tempo por preservar as estruturas originais.
Em meio à poeira, subimos pelas escadas os três andares explorando o espaço, que é amplo e mal iluminado, até chegarmos ao que restou das salas do que devia ser a Escola Israelita Brasileira Scholem Aleichem e uma quadra improvisada, onde nos deparamos com um vasto céu azul e a imensidão da cidade.
Recentemente, uma associação de ex-alunos da escola, luta para restaurar o prédio e resgatar seu propósito inicial. Segundo Pedro Koberle, estagiário da Casa do Povo, o centro cultural fomenta projetos experimentais que dialoguem com a construção da história do bairro, de forma a ser um monumento vivo.
A Casa oferece um audioguia que conta a história do Bom Retiro por 55 minutos. Nessa jornada a pé, o visitante é conduzido a percorrer ruas, estabelecimentos tradicionais, sinagogas, construções significativas para a história do bairro e lugares pouco conhecidos para quem não está habituado com a região.
Depois de lá, seguimos até o Memorial da Imigração Judaica. No caminho, passamos pela Oficina Cultural Oswald de Andrade, que fica em frente ao tradicional colégio de freiras, Santa Inês.
A sinagoga Kehilat Israel, erguida em 1912, transformou-se no Memorial da Imigração Judaica no Brasil, inaugurado em fevereiro deste ano.
É um espaço multimídia, interativo e moderno com documentos históricos que contam a trajetória do povo judeu no Brasil, como afirma Isabel Lichand Paulino, guia e recepcionista do memorial.
Como já previu o escritor Mark Twain na Harpers’s Magazine de 1899: “Se as estatísticas estão corretas, os judeus constituem apenas um por cento da raça humana. Normalmente, jamais se ouviria falar do judeu; porém se fala e sempre se ouviu falar dele. Mas ele faz-se ouvir, e sempre se fez ouvir. Ele é tão predominante no planeta quanto qualquer outro povo e sua importância comercial é bastante fora de proporção com a pequenez de seu grupo. O judeu viu a todos, venceu a todos, sem enfraquecer suas partes, sem esmorecer suas energias, sem embotar sua mente alerta”.
O comerciante judeu, David Ben Avram reflete sobre a transformação da paisagem urbana diante das mudanças de etnias no bairro: “Quando cheguei ao Bom Retiro, 90% das pessoas que moravam na região pertenciam a comunidade judaica. As principais ruas de comércio, como a José Paulino, era predominantemente composta por lojas de judeus. Com o passar do tempo, os filhos desses imigrantes, foram para a faculdade. Formados e trabalhando em grandes empresas, não queriam continuar nas lojas e mudaram de bairro. Diante da velhice, os pais, sem condições de continuar trabalhando, vendiam as lojas. Nessa época, os coreanos começaram a se instalar na região. Hoje é ao contrário, 90% do bairro é coreano”.
Para representar o povo coreano, a escritora e jornalista Yoo Na Kim idealizou o Centro Cultural Hallyu. Inaugurado em Julho deste ano na Rua Guarani, o centro recebe exposições e palestras que incentivem o intercâmbio entre as culturas coreana e brasileira.
As flores brotam nos ipês anunciando que o início da primavera está próximo. Passamos por botecos, cafeterias, restaurantes, lojas e supermercados. Moradores em situação de rua e transeuntes de diversas nacionalidades convivem lado a lado. Talvez não exista bairro em São Paulo que se renove tanto e que agregue tantas etnias e classes sociais distintas de forma tão harmoniosa. Ao caminhar pelas ruas do Bom Retiro, é possível escutar conversas em aimará, coreano, espanhol, guarani, iídiche e português, além de placas de estabelecimentos comerciais em diferentes idiomas, isto reflete a disposição de um país em sempre receber os estrangeiros de braços abertos. Nesse pedaço do Bom Retiro, o bairro tem cara de interior, tranquilo e cordial, bem diferente do caos da José Paulino.
Referências
[editar | editar código-fonte]- Prefeitura de São Paulo
http://infocidade.prefeitura.sp.gov.br
2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/unit.asp?codunit=17566&z=t&o=4&i=P
3. Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
4. Banco de Dados da Folha
http://almanaque.folha.uol.com.br/bairros_bom_retiro.htm
5. Cidade de São Paulo
http://www.cidadedesaopaulo.com/sp/br/o-que-visitar/atrativos/pontos-turisticos/4485-bom-retiro
6. UOL- Amizade entre judeu e árabe no Bom Retiro
https://www.youtube.com/watch?v=ZhO-W6v6Wz4
7. Jornal da Gazeta - Casa do Povo preserva a memória da imigração
https://www.youtube.com/watch?v=xdgQIUovad4
8. O Bom Retiro é o mundo