Wikinativa/Carlos Vieira (vivencia Guarani 2018 - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

     Ajna

Nome: Carlos Crysthian Vieira da Silva                      N 10281431

Antes de relatar a experiência da vivência na aldeia Rio Silveiras, gostaria de dizer sobre a experiência da vivência na aldeia do pico do Jaraguá e as expectativas criadas para a segunda vivência.

Na aldeia do Pico do Jaraguá é nítido a diferença do espaço e a interação dos índios com a cidade sendo a menor área indígena demarcada e se localizando próximo ao centro de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo. O modo de vida indígena sofre muita interferência do modo de vida da cidade em todas as esferas, onde não possuem uma escola indígena, ocupam uma área que o Estado não demarcou e ainda propôs um acordo de compartilhar o controle da área onde os índios não poderiam estabelecer nada fixo na área, os ìndios responderam com a construção da casa de reza na qual me senti muito grato por ter participado da parte final, o barreamento, desde o início a recepção foi muito boa, realmente é vista e sentida a idéia passada em aula que na aldeia todo mundo é parente, onde todo mundo é tratado muito bem, e muito igual, como uma família, e gostei muito de poder acampar no meio da floresta alta daquela montanha sagrada onde os macaquinhos pegavam banana direto da nossa mão, o trabalho no barreamento da casa de reza ocorreu de forma extremamente fluida, onde se era preciso dar ordem, ou sistematizar, o trabalho se desenrolava de forma extremamente natural, depois vim a saber que antigamente pessoas não indígenas não podiam entrar na casa de reza, é um extremo prazer não só assistir como participar, fazer parte graças ao relacionamento criado pelo Carlos e pelas outras vivências, da cerimônia na casa de reza, uma cerimônia maravilhosa, carregada de saberes existentes antes disso se chamar Brasil, com muita energia vibrando em algo bom e sincero que pouco se vê na cidade grande, onde todo mundo é livre para participar e tocar os primeiros instrumentos da terra que conjunto as repetições dos primeiros gritos do homem com a floresta, foi uma cerimônia com muita dança, todos pulando felizes com a casa de reza, depois da cerimônia acampamos em um espaço no meio da floresta com uma grande fogueira, os alquimistas diziam que olhar para o fogo ajudava na evolução espiritual pois faziam perder o interesse no mundo exterior e olhar para dentro, buscando a luz interior, passar horas respirando um ar limpo, e ver o nascer do sol escutando o barulho dos pássaros foi uma purificação para a alma.

Para aldeia do Rio Silveiras eu esperava que seria um Jaragua mais para o meio do mato e longe da cidade mas quando cheguei lá vi que são muitos núcleos, como uma grande bairro perto da cidade litorânea, onde eles vivem em situação de vulnerabilidade, não plantam tudo que comem, aliás bem pouco, e a relação com o homem branco está estabelecida e acabar com o preconceito partiu dos índios ao aceitarem o homem branco dentro de sua aldeia, e o homem branco vai na aldeia e busca catequizar, fazer culto, como aconteceu no sábado.

Os xamãs buscavam os estágios de êxtase através da batida dos tambores, a repetição do som do chocalho e dos cantos me levou a um profundo estado de transe e conexão com o universo na cerimônia do segundo dia, alcancei uma profundidade na meditação que nunca tinha atingido, onde lágrimas e lágrimas caiam de um sentimento genuíno de felicidade, de união e amor à vida, no dia seguinte fomos até a cachoeira, entrar debaixo da queda de uma cachoeira é entrar em estado meditativo instantâneo em contato com a abundância de vida, no terceiro dia enquanto uma criança tocava violão, um garoto santista que gostou da minha camiseta e prometi levar uma para ele ano que vem, eu comecei a sacudir o chocalho e em menos de 15 minutos aquilo se transformou em uma brincadeira muito divertida com todas as crianças, poder viver três dia em contato com a natureza na qual nosso corpo está completamente adaptado, sem comer carne, se alimentando bem, e aprendendo muito sobre um modo de vida de profunda conexão do homem com a natureza conjunto á essas experiências relatados transformaram a vivência em uma viagem transformadora na minha vida.

Por fim, fico muito feliz de fazer parte da luta e dessa ponte que está sendo construída que é uma esperança para um novo modo de vida em tempos tão sombrios, aprendi muito nessa experiência sobre relação do homem com o divino, sobre política e quanto o modo de vida da cidade grande nos afeta e nos suga energia, e prejudica até os índios como no caso dos índios que começam a se alimentar mal e engordar comendo a comida da cidade, os jovens indígenas que têm grande contato com a tecnologia, fazem uso de celulares mas não sabem fazer armadilhas para animais, perpetuar a cultura e o modo de vida indígena é questão de sobrevivência, pois em tempos tão conturbados político, econômico e socialmente o que aprendi nessa viagem é que a natureza, a vida, em perfeita conexão sempre esteve ali e independente de qualquer coisa ela sempre estará lá, fornecendo tudo que precisamos para sobreviver, e que o modo civilizacional e a matrix que gere nossos comportamentos e modo de vida prejudicou e prejudica o modo de vida indígena até hoje, tudo que eh de concreto na aldeia é abandonado, mal cuidado, muito lixo pelo chão, pois nunca precisaram lidar com o descarte deles, as frutas na floresta não são embaladas com plastico.

Muito bonito o trabalho que está sendo a cada vivência, queria eu poder ter pensando no projeto depois de vivenciar a experiência e entender melhor o que eles precisam, como a horta que deixou de existir para a construção da escola, e as ocas que desejam construir com a nossa ajuda, grato escutar de um indígena do primeiro núcleo que a nossa ida fez eles refletirem mais e buscar saber melhor os problemas e poder ajudar mais os outros núcleos.

Jês, Kariris, Karajás, Tukanos, Caraíbas

Makus, Nambikwaras, Tupis, Bororós

Guaranis, Kaiowa, Ñandeva, YemiKruia

Yanomá, Waurá, Kamayurá, Iawalapiti, Suyá

Txikão, Txu-Karramãe, Xokren, Xikrin, Krahô

Ramkokamenkrá, Suyá

Hey! Hey! Hey!

Hey! Hey! Hey!

Curumim chama cunhatã que eu vou contar

Cunhatã chama curumim que eu vou contar

Curumim, cunhatã

Cunhatã, curumim

Antes que os homens aqui pisassem

Nas ricas e férteis terraes brazilis

Que eram povoadas e amadas por milhões de índios

Reais donos felizes

Da terra do pau-brasil

Pois todo dia, toda hora, era dia de índio

Pois todo dia, toda hora, era dia de índio

Mas agora eles só têm um dia

O dia dezenove de abril

Mas agora eles só têm um dia

O dia dezenove de abril

Amantes da pureza e da natureza

Eles são de verdade incapazes

De maltratarem as fêmeas

Ou de poluir o rio, o céu e o mar

Protegendo o equilíbrio ecológico

Da terra, fauna e flora

Pois na sua história, o índio

É o exemplo mais puro

Mais perfeito, mais belo

Junto da harmonia da fraternidade

E da alegria

Da alegria de viver

Da alegria de amar

Mas no entanto agora

O seu canto de guerra

É um choro de uma raça inocente

Que já foi muito contente

Pois antigamente

Todo dia, toda hora, era dia de índio

Todo dia, toda hora, era dia de índio