Wikinativa/Elisa Lima Villaméa Cotta (vivencia Guarani 2018 - relato de experiência)

Fonte: Wikiversidade

Este relatório tem como objetivo apresentar a minha experiência durante a visita de campo à Aldeias Tenondé Porã e Yvy Porã (Pico do Jaraguá) e a Aldeia Rio Silveiras (Bertioga/SP). A disciplina Seminários de Políticas Públicas Setoriais II - Multiculturalismo e Direitos ministrada pelo Professor Dr. Jorge Alberto Machado tem como objetivo introduzir à temática das comunidades indígenas e os desafios enfrentados atualmente. Com a obrigatoriedade de imersão na comunidade indígena, a disciplina inova em relação ao modelo usado em sala de aula e possibilita aos alunos o contato e intercâmbio com outra cultura.

Aldeias Tenondé Porã e Yvy Porã (Pico do Jaraguá)

A imersão na Aldeia do Jaraguá iniciou com a passagem pelos núcleos. Depois de conhecermos o território os monitores da disciplina puderam explicar melhor as dificuldades encontradas pela Aldeia e como foi a forma de resistência quando houve um retrocesso na demarcação das terras indígenas. Enquanto passávamos pelas casas é notável a necessidade de ampliação da demarcação, considerando que é a menor terra demarcada no mundo e lá residem aproximadamente 700 pessoas. Além disso, há também o problema enfrentado em relação ao saneamento básico, muito restrito a algumas áreas da aldeia. Após a visita aos núcleos nós fomos ao quinto núcleo, o mais recente e onde iríamos ajudar na construção da casa de reza, um local de respeito e sagrado para os indígenas. Durante a construção da casa de reza eu ajudei a fazer o barro e também a construir as paredes da casa. Também tivemos a oportunidade de experienciar o contato maior com a natureza, tendo em vista que o núcleo está inserido em uma área de Mata Atlântica. A comunidade nos recebeu muito bem e estava aberta a nos mostrar como fazer as coisas e a importância daquela resistência. Um momento que para mim foi marcante foi quando estávamos fazendo a casa de reza e algumas crianças começaram a brincar com o barro, ao contrário do que faríamos se estivéssemos em nossos círculos de amigos e familiares, ninguém chamou a atenção das crianças. Após notar a forma como se relacionam com as crianças, percebi que elas são livres para fazerem o que quiserem. Infelizmente tive que voltar por volta das 18 horas e não pude ficar para participar da reza que celebraria a inauguração da casa.

Aldeia Rio Silveiras

A imersão na Aldeia Rio Silveiras ocorreu do dia 11 ao dia 14 de outubro de 2018. Chegamos na aldeia por volta das 19 horas do dia 11 e após nos organizarmos fomos para a casa de reza para a primeira reza. Participando daquele momento eu pude conhecer mais sobre as tradições indígenas, como eles valorizam a própria língua, os instrumentos que são usados e a participação das mulheres e dos homens durante a reza. Como estava chovendo sem parar e com muito barro, fomos dormir na casa de reza. No dia seguinte a chuva diminuiu e pudemos montar as barracas. Ficamos a procura do forno, conhecemos os outros núcleos e depois fomos para uma cachoeira, muito bonita e onde nadamos. Depois fomos para o local onde estava o forno e ajudamos os indígenas que fizeram a massa de pão francês, voltamos para o núcleo. Ficamos brincando com as crianças o que foi muito bom e divertido. Depois fomos para a casa de reza, lá contamos com a presença de dois representantes do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) que nos conscientizaram sobre a luta indígena pela demarcação e pela defesa dos direitos indígenas. No terceiro dia fomos ao Rio e lá experimentei o rapé, gostei muito da sensação e pude ter uma conexão muito forte com a natureza. Após voltar do rio, fizemos a massa do pão francês e saímos para assar o pão, no carro do professor. Chegando lá o carro do Prof. Jorge ficou preso na margem do rio e ele voltou para chamar um guincho e um carro para ir nos buscar. Enquanto o pão estava assando os indígenas que eram responsáveis pelo forno chegaram e abriram a porta. Ficamos por volta de 3 horas e meia lá sem termos previsão de quando o carro nos buscaria. Durante esse tempo ficamos conversando e nos distraindo, o que foi muito bom para que mantivéssemos calmos e bem humorados. Após essa experiência eu percebi que tinha internalizado alguns ensinamentos das comunidades indígenas. Normalmente, me estresso com coisas pequenas e durante todo o período que estávamos lá eu fiquei de bom humor e não me preocupei tanto quanto me preocuparia. No último dia ficamos no primeiro núcleo e arrumamos as coisas para irmos embora.


Caminhada de volta do Rio Silveiras

Conclusão

Na Aldeia Rio Silveiras, fiz parte do grupo da padaria, enfrentamos alguns desafios como o local onde estava o forno, a dificuldade de acesso e a falta de alguns materiais. Mas acredito que os momentos que compartilhei fazendo o pão e conversando com as pessoas do meu grupo enriqueceram muito minha experiência. Participar das vivências foi uma grande aprendizado. Onde houveram muitas trocas com os alunos que participaram da disciplina, com os indígenas que residiam nas aldeias e com a natureza. Após a experiência consegui olhar para a causa indígena com mais empatia e compreensão por suas dificuldades.