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Turma Joc/Engenheiras no Brasil

Fonte: Wikiversidade
(Redirecionado de ENGENHEIRAS NO BRASIL)

No Brasil, a cada 10 engenheiros registrados no CONFEA apenas um é mulher Dos 1.2 milhões de engenheiros registrados no Brasil, somente 13,7% desse total são mulheres, sendo que a maior parte dos registros são de Engenheiras de Alimentos, Florestais e Ambientais.

Escrito por Alana Claro

Em 2016, estão registrados 1 271 559 de engenheiros no CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), órgão federal responsável por catalogar os registros de profissionais. No entanto, há mais de 1,4 milhão de registros, pois cada profissional pode manter mais de uma titulação. Num país com 200,4 milhões de habitantes (IBGE 2013), o número de engenheiros (sem divisão por gênero) corresponde a 0,6% de sua população. Nos Estados Unidos, segundo uma pesquisa do Congresso americano em 2014, havia 6,2 milhões de engenheiros empregados, correspondendo a 4,8% dos vínculos empregatícios do país. Enquanto que na Alemanha, uma nação notadamente conhecida pela representatividade na área, há 840 592 registros (Associação de Engenheiros Alemães, VDI), 1% de seus habitantes. Verificando tais números na população de engenheiras, há 174 235 registros femininos nos CREA regionais, correspondendo a 13,7% dos profissionais da área e 0,08% do total de habitantes brasileiros.

De acordo com as estatísticas do INEP, que mede os principais dados de educação do Brasil, na Sinopse de 2014, há 42 tipos diferentes de cursos de Engenharia oferecidas nas instituições de Ensino Superior, sejam Universidade Privadas, Públicas (Estaduais ou Federais), Escolas Técnicas ou Faculdades. Dentre esses cursos, com enfoque em Universidades Públicas, os dez mais presentes – que em consequência terão maior oferta de vagas e ingressos – são: Produção, Civil, Elétrica, Mecânica, Computação, Florestal, Química, Alimentos e Ambiental.

Ao todo nas Universidades Públicas no Brasil, são oferecidas 225 705 vagas anuais, mas há somente 145 330 alunos ingressantes. Em outras palavras, somente 64,38% de todas as vagas ofertadas são preenchidas. Destes números, o curso com maior número vagas é Engenharia Civil, o segundo mais frequente no país, com 64.033 lugares. Enquanto que o curso com menor oferta é Engenharia Marítima, apenas 25 vagas e míseros 24 ingressantes. Engenharia de Produção, o curso mais presente nas Universidades Públicas – ao todo são 99 instituições que o ofertam – dispõe de 36 772 lugares e, entretanto, só 50% de tais vagas são preenchidas.

Analisando com mais detalhamento a distribuição de gênero nos cursos de engenharia, nota-se que há uma boa representatividade feminina, quase 50% homens e 50% mulheres em determinadas carreiras, enquanto em outras o número de mulheres não chega a 10% dos estudantes.

O curso de Engenharia de Alimentos é entre todos analisados o que possuí maior representatividade feminina, entre as Universidades analisadas, há uma média de aproximadamente 62,3% de mulheres matriculados. No entanto, há pontos fora da curva, como é o caso da Universidade Federal de Sergipe que tem uma taxa de 81,4% e a Unicamp com um total de 70,57% de garotas em 2016. A Universidade do Triângulo Mineiro, em contraponto, é a mais igualitária nesse curso, tendo cerca de 51% de vagas ocupadas por mulheres e 49% por homens. Na mesma linha, os dados do CONFEA corroboram com tal representatividade, de 2012 a 2016, os registros de títulos de Engenheiro de Alimentos foram de 73% por mulheres. Vale ressaltar também que a taxa de 73-74% se manteve quase a mesma no período analisado.

Outros dois cursos e titulações com porcentagens bastante altas tem sido as Engenharia Florestal e Engenharia Ambiental, que mantem uma taxa próxima da média de 50% em matrículas universitárias. Em quadros mais extremos, como acontece na Unifesp, a população feminina é de 68% em Engenharia Ambiental. Todavia, os dados do CONFEA não apresentam um quadro tão igualitário. Apesar das duas titulações ainda terem valores considerados altos em comparação com outros (ex. Engenharia Elétrica), os registros de Engenheiras Ambientais estão em 45,4%, apesar de terem sofrido um aumento gradativo de 7,40% desde 2012. E os registros de Engenheiras Florestais, segundo a contagem atual de Março de 2016 estão em somente 31,7%, sofrendo uma queda desde 2012, quando a taxa era de 43%. 

Assim como Ambiental e Florestal, as taxas de Engenharia Química se apresentam altas. Na Universidade Federal de Santa Maria e na Universidade Federal do Espírito Santo, por exemplo, a média é 54,5% e 52,4% de alunas matriculadas respectivamente. Já os registros mantidos nos últimos anos, demonstram um avanço em 8% dos 42,5% de registros feitos por mulheres em 2012 e os atuais 50,50%.

Embora com porcentagens mais baixas que as já mencionadas, o curso de Engenharia de Produção também apresenta valores razoáveis que giram em torno de 34% das vagas ocupadas. Em questões acadêmicas, o curso mostra resultados variáveis, afinal por um lado há a Universidade Federal de São Carlos, Ufscar, com uma média 29,75% de alunas matriculadas, enquanto se opondo há a Universidade Federal do Amazonas, com mais de 52% de lugares preenchidos.

E afinal, há poucas Engenheiras do quê? A resposta é bastante simples e se distribui numa taxa de 8 a 20% de representatividade nos cursos de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação. Entre os três, o que tem menores valores é Engenharia Mecânica, com taxas de 8% na UFSCAR e na UFTM. No CONFEA, essa distribuição é ainda mais inflamada, Engenheiras Mecânica em 2016 equivalem a 6,8% dos registros. Os cursos de Engenharia da Computação, por sua vez, mantem uma média entre as universidades avaliadas de 14,7%, apesar de haverem algumas instituições cujas porcentagens estão em 10%, como é o caso da UFSE, Unicamp, Unb e UFES.  No CONFEA, os registros de 2012 estavam com 7% de mulheres, entre 2013 e 2015 subiram para 11,65% e 10%, mas no momento estão em 8%.

Detentor do segundo maior número de instituições de Ensino de Engenharia e soberana quanto ao maior número de Engenheiros registros no CONFEA, o estado de São Paulo merece análise especial, tanto pela sua alta representatividade no cenário da Engenharia nacional, como também pela disparidade de gêneros em seu panorama profissional. São Paulo tem 331.875 engenheiros registrados no CREA-SP, monopolizando, por tanto, 26% da mão de obra do país. E das 174.235 Engenheiras registrados, 37.851 residem em São Paulo, representando 21,7% de todas as Engenheiras registradas na Federação.

Além disso, o estado detém um alto número de instituições de Ensino Superior. Sendo assim, a Universidade de Campinas (Unicamp), a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do ABC, a Unifesp e a Univesidade Federal de São Carlos merecem uma análise mais detalhada. Para tanto, foi verificado quais as porcentagens de mulheres nos cursos dessas instituições.

Por ter sido uma das primeiras Escolas de Engenharia do Brasil, a Universidade de São Paulo será a primeira analisada. Para obter os dados da USP, é necessário requerer através do portal própria da Universidade de Acesso à Informação e detalhar a qual local se destina a informação. Ou seja, como a instituição dispõe de quatro escolas de Engenharia (a Politecnica, no Butantã, a de São Carlos, a de Lorena e a Pirassununga) cada uma precisa receber pedidos diferentes. No caso da Escola Politécnica, os dados desde 2014, bizarramente estão catalogados em 50%/50%, como se metade dos alunos matriculados no campus – em todos os cursos, desde o Ciclo Básico de Engenharia até as Habilitações – inclusive em cursos que outras faculdades demonstram claramente haver pouca representatividade feminina. No entanto, a Escola de Engenharia de Pirassununga mantem porcentagens semelhantes com aquelas já mencionadas para os principais cursos de Engenharia, como Engenharia Ambiental possuir quase metade das matriculas por mulheres e Engenharia da Computação e as taxas em torno de 8 e 10% para os anos de 2014 a 2016. Já a Escola de Pirassununga, que oferta somente dois cursos, isto é Engenharia de Alimentos – no qual 72% de suas vagas são ocupadas por mulheres – e Engenharia de Biossistemas (porcentagem de 40% para mulheres).

Em adição, outras três universidades federais do estado de São Paulo são a UFSCAR, a UNIFESP, a Unicamp e a UFABC. Na Federal do ABC, os cursos mais procurados por mulheres e que corroboram com as porcentagens apresentadas de engenharias são de Engenharia Ambiental e Urbana, Engenharia Biomédica e de Materiais.  Enquanto que as porcentagens mais baixas estão em Engenharia da Informação (cuja grade é muito semelhante à Engenharia da Computação) e também Engenharia Aeroespacial (cuja porcentagem de 13% é muito semelhante à do curso de Engenharia Aeronaútica da Escola Politecnica de São Paulo da USP).

A UFSCAR, entretanto, oferece 11 cursos de Engenharia e a média de representação feminina para todos estes é de 32,10% em 2016. Novamente, o curso de Engenharia de Alimentos se sobressai como o mais procurado e o de Computação como o menos.  A Unifesp e seus 6 cursos ofertados, todavia, agrega uma porcentagem maior de 40% de participação de mulheres, inclusive em cursos como Engenharia de Petróleo que não são tão comuns. A UNICAMP, na contramão, oferece 13 cursos, mas sua taxa média em 2016 para a população feminina matriculada é de 20%, a menor entre as outras federais. Apesar de haverem cursos como Engenharia de Alimentos (70,6% de mulheres) e Engenharia Ambiental ( 57,4%) que elevam seus números, cursos como Engenharia de Telecomunicações, Elétrica e Mecânica com menos de 20% contrabalanceiam.

Processo de Levantamento de Dados por meio da LAI

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Por ser uma informação principalmente de cunho educacional, a primeira fonte checada foi o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), cujo banco de dados é extremamente abrangente. Todavia, tanto nos microdados do INEP quanto na Sinopse deles (versão mais atual de 2014) não há um número preciso de alunos matriculados nos cursos de Engenharia a partir de uma divisão de gênero, apenas os dados brutos. Através da Sinopse de 2014, obtive a quantidade e as modulações dos cursos de Engenharia oferecidos no Ensino Superior, desde quantas instituições (federais, estaduais e particulares) possuem esses cursos até quantas vagas são oferecidas, quantos alunos ingressam e estão matriculados em cada tipo de engenharia.

Contudo, devido a importância de dados mais focados, foram contatados diferentes universidades públicas federais, por meio do site da Lei de Acesso à Informação, para me fornecerem os dados de alunos matriculados por gênero e tipo de curso nos últimos três anos. O contato direto com as faculdade permitiria o recebimento de informações mais especificas e fáceis de manusear em tabelas de Excel. No caso da USP e da Unicamp, o contato teve de ser feito pelo site da própria universidade, numa área especial. Para a USP, é necessário um requerimento diferente para cada campus, então foi preciso formular quatro pedidos, um para a Escola Politécnica e outros para Lorena, Pirassununga e São Carlos.

Após os dados mais acadêmicos, foi interessante e complementar obter dados com o  Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), órgão federal responsável por regular e registrar profissionais da Engenharia e atividades da área, bem como difundir mais o setor e promover cursos, prêmios e palestras. Ao Confea foi demandado quantas mulheres estão registradas em cada área da Engenharia por ano, podendo comparar os setores que mais cresceram em representatividade feminina. No site do Confea, os dados fornecidos acerca de diferenças em registros por gênero são quantos homens ou mulheres estão registrados no CREA (Conselho Regional) de cada estado e também qual é a média de idade destes. Por isso, foi fundamento enviar um pedido de acesso a informação sobre esses registros em cada área por gênero e não somente estado. Logo, poderia haver uma intersecção ou uma divergência das alunas matrículas em determinados cursos de engenharia e quais, de fato, exercem a profissão.

A opção pelo requerimento e obtenção desses dados foi online, através do site da LAI ou dos próprios órgãos, Confea, por exemplo tem seu próprio sistema, assim como USP e Unicamp. Outrossim, a escolha por universidades públicas se deve, sobretudo, a facilidade de contatar e obter uma respostas mais rápido dessas instituições, bem como por sua alta taxa de vagas ofertadas e também seu prestígio na área da Engenharia.

Universidades contatadas: USP – Campus Escola Politecnica, Lorena, São Carlos e Pirassununga, Unicamp, UFRJ, UFG, UNIFESP, UFSCAR, UFABC, UFES, UFSM, UFPE, UFAC, UNB, UFT, UFRR, UFTM, UFV, UFAM, UFSE, UFSC.

Relevância da Lei de Acesso à Informação

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Considerando o termo “informação”, advindo do latim informatio, que significa dar forma e moldar, pode-se depreender que os dados e fatos são si meros recortes da realidade em sua forma mais abstrata. Todavia, uma vez traduzidos e aplicados às condições políticas, econômicas e sociais, esses dados, antes tão ininteligíveis, podem efetivamente demonstrar o estado concreto real da situação contemporâneo, elucidando a maneira pela qual somos direta ou indiretamente afetados por estes.

Assim, caberia tanto aos jornalistas como às organizações não governamentais e aos pesquisadores especializados, ou mesmo cidadãos interessados, a busca e a demanda por dados até então selados por governos e instituições. E também a sua tradução, permitindo que um público maior entenda o panorama dessas informações e possa a partir disso exercer com plenitude o exercício democrático[1].

Logo, a “autonomia do direito de informação visou, sobretudo, a assegurar à coletividade um fluxo de informações indispensáveis para que os cidadãos participem ativamente da gestão da coisa pública” (Stroppa, 2010, p. 81)[2]. Essa permissibilidade em fornecer informações caso sejam requisitados garante uma soberania popular e uma legitimidade democrática à governos e cidadãos. Ademais, quanto mais pessoas tiverem acesso a esses dados, mais liberdade terão ao formarem sua opinião e à não serem manipuladas.

Em adição, a liberdade do fluxo dessa informação e de seu acesso determina um limite nos direitos dos cidadãos de exercitar suas opiniões e formá-las frente à mensagem reproduzida pela imprensa.

Ou seja, uma vez que essa informação é livre, tanto os jornais e meios de comunicação devem busca-la e reproduzi-la, de forma a disseminá-la e integrar o debate entre as pessoas. A informação não requisitada e não publicadas por esses veículos, caso não seja pedida também por civis, continuará na obscuridade e por consequência fadada a não se tornar pública por completo. Desse modo, o que se percebe é que a garantia do acesso de informações e o seu pedido aos orgãos públicos, e às vezes privados, por pessoas comuns tornaria o fluxo de dados mais autonômo e menos mediados – seja pelo rápido, pelo jornal, pela televisão – produzindo um aumento na qualidade do debate político e da participação democrática. Voorhoof afirma que “guarantindo efetivamente os direitos de liberdade de expressão e informação contribui para a qualidade da democracia, a proteção de direitos humanos e tem contribuído também para criação de um mundo mais sustentável e gentil para morarmos” (2014, p. 7)[3].

Assim, a importância dessa pesquisa está verificação tangível da desigualdade de gênero presente no imaginário das carreias mais voltadas à Exatas e Engenharia. A obtenção de dados como esse pode atestar uma baixa representatividade feminina, além de possibilitar um debate mais abrangente de se a) há áreas da Engenharia que acolhem ou não as mulheres e quais são estas b) as alunas graduandas se inserem no mercado de trabalho como engenheiras c) se os estados com o maior número de cursos de Engenharia ofertados correspondem com maior taxa de mulheres participantes ou não. Ao se trabalhar a questão de gênero deve-se focar tanto nos grandes dados, como o número geral de mulheres matriculados em cursos superiores, bem como adentrar áreas mais especificas e perceber dentro desses nichos os tipos de desigualdade e quais seus pontos de embate. Por exemplo, por quais razões há um alto número de mulheres matriculadas em Engenharia Química e de Alimentos, mas uma taxa completamente menor para Engenheiras de Computação. Portanto, elucidar quais subáreas dentro de maiores áreas são inclusivas e quais se fecham em estereótipos, como “mulheres não gostam de computação” e logo não estudam engenharia da computação. Apesar dos dados comunicarem de forma tangível o que tem ocorrido, eles não fornecem por completo o panorama humano do setor, embora sejam cruciais para então desenvolver uma pesquisa mais empírica, entrevistando engenheiras, professores de engenharia e alunas e também assistindo como ouvinte aulas em faculdades.

  1. UNESO. Disponível em http://www.unesco.org/new/en/communication-and-information/resources/news-and-in-focus-articles/all-news/news/access_to_information_journalists_freedom_and_safety_at_the_core_of_world_press_freedom_day_2016/#.WAOaFMmGNpsa
  2. Stroppa, Tatiana. As dimensões constitucionais do direito de informação e o exercício da liberdade de informação jornalística. Belo Horizonte: Fórum, 2010.
  3. Voorhood, Dirk. The Right to Freedom of Expression and Information under the European Human Rights System: Towards a more Transparent Democratic Society, 2014. Disponível emhttp://cadmus.eui.eu/bitstream/handle/1814/29871/RSCAS_2014_12.pdf?sequence=1

Relatórios dos pedidos de acesso à informação

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Pedido de acesso a informação para a Universidade Federal de Sergipe
Pedido de acesso a informação para a Universidade Federal de São Paulo