Reportagens do JOA/Rafaela e Amanda
O último resquício da cultura de rua em São Paulo
No centro de São Paulo há a famosa Galeria do Rock, adorada pelos apreciadores do popular estilo musical e pelos entusiastas de compras em geral, por sua grande e diversa gama de lojas. O que pode passar despercebido por esses consumidores é que ali perto, no número 116 da Rua 24 de Maio, há uma outra galeria – a Galeria do Reggae, dedicada à cultura black. Oficialmente chamada de Galeria Presidente, o conjunto de lojas surgiu em meados dos anos 1960 e já se difere de sua vizinha à primeira vista: quando você pisa no lugar, o som que ecoa dos estabelecimentos é o hip hop e o reggae.
A maioria deles são dedicados aos cabelos: muitos vendem e compram as madeixas e há inúmeros salões de cabeleireiros e lojas especializadas em produtos para cabelo afro. Nos anos 1990, a grande maioria dos estabelecimentos da galeria eram lojas de vinil. Com o surgimento da cultura hip hop no centro de São Paulo, os estabelecimento se enchiam com os entusiastas das bolachas. “Depois, com o advento da internet, o vinil perdeu a força e o espaço para os cabeleireiros”, conta Daniel, vendedor da loja de discos Gringo’s Records. Ele conta que a Gringo’s - que nos recebe na entrada com um grande pôster dos Racionais Mc’s pendurado -, apesar do foco no rap, também conta com muito procurados CDs de música pop. “A Britney Spears acabou de lançar um CD que tá ‘saindo’ muito”, exemplifica.
A diversidade de gostos se multiplica pelos seis andares do local: lojas de tatuagens, piercings, capoeira, reggae e até alguns boxes de camisas e outros produtos da torcida tricolor Independente - direcionado aos são paulinos - podem ser encontrados na Galeria do Reggae. A vendedora Luciana, 25, diz que sua loja é muito procurada pela tabacaria e pelos artefatos indianos. Ela é dona da Embaixada Dance Music, loja do primeiro andar que abriu com uma sócia há pouco mais de um mês. Ela conta com outra franquia, também no centro de São Paulo, mas decidiu abrir uma na Galeria do Reggae pois “o público é mais focado”.
A diversidade do lugar chama mais atenção a partir do terceiro andar: os três superiores são dedicados às religiões de matriz africana e dominados pelos estrangeiros. Muitos vendedores de toda a galeria são imigrantes, a maioria vindos de países como África do Sul, Angola e Cabo Verde. Mag, de 40 anos, é uma delas. Vinda de Angola, chegou ao Brasil há um ano e trabalha há 7 meses na galeria como cabeleireira na loja Apoliana. Ela conta que nunca tinha trabalhado com cabelos antes, mas o marido não havia conseguido um emprego, e o casal tinha filhos pra sustentar. “Como eu sou mulher, precisava cuidar das crianças”, afirma.
Pra uns, o conjunto de lojas pode significar uma oportunidade de trabalho, mas para outros a Galeria do Reggae é um importante símbolo da cultura cultivada no centro de São Paulo. Caio, 24, por exemplo, frequenta a galeria “desde que era moleque”. Para ele, o local é o último resquício de cultura de rua que restou na capital paulistana. “Aqui não é só cultura black, é cultura de rua. O skate, a pichação, o rap, tá tudo aqui. Aqui não é só a gente que é maloqueiro”, diz.