Reportagens do JOA/Taina Freitas e Elena Costa
Ramos de Azevedo: Um arquiteto imortal
Andar pelas ruas do “centro velho” de São Paulo é como fazer uma viagem ao passado. Essa região é conhecida pela preservação dos antigos prédios – que ainda guardam a aparência de séculos atrás – e caracterizam a região. Ramos de Azevedo, um arquiteto paulista, foi um dos responsáveis por formar essa importante parte da cidade. Em seu currículo estão o Mercado Municipal, a Pinacoteca do Estado de São Paulo (antigo Liceu de Artes e Ofícios), a agência central dos Correios, a Casa das Rosas e entre outras. No centro que ele ajudou a erguer, hoje existe uma praça que leva o seu nome: Praça Ramos de Azevedo. Ela é uma prova que o arquiteto continua vivo pelas ruas de São Paulo. Mas Azevedo não está presente apenas em praças: ele está presente em cada ladrilho, azulejo, grade e janela dos lugares que desenhou e/ou executou projetos.
O Teatro Municipal, um importante ponto turístico da cidade, foi elaborado por Azevedo e por dois italianos, Cláudio Rossi e Domiziano Rossi. 20 mil pessoas presenciaram a abertura do teatro, que também foi um importante palco na Semana de Arte Moderna, em 1922. O monumento funciona até hoje - e é possível fazer visitações até mesmo na Sala de Espetáculos (quando não está ocupada). Ao entrar no teatro, é como se estivéssemos adentrando um castelo: ele é ostensivo, e toda peça que é realizada no lugar já tem início logo na entrada, pois o luxo e a arquitetura renascentista fazem parte do espetáculo. A presença das pessoas que ali estão é até reduzida com a grandiosidade da construção - e, literalmente, os atendentes dos guichês da bilheteria são reduzidos a meros corpos nos quais apenas os rostos aparecem, pois os guichês são cabines com portas, nos quais o único contato com o mundo afora é através uma janela gradeada. “O horário de visitação é a partir das 11h”, diz um funcionário entediado que nos olha por trás das grades.
O Shopping Light (antigo Edifício Mackenzie) também é notável no centro da cidade. Por fora, exibe uma arquitetura antiga, com cores claras, colunas suntuosas e janelas com toldos vermelhos. Hoje, por dentro, é o retrato da modernidade, totalmente contrastante com a visão que temos de fora. Ao entrarmos, nos deparamos com lojas, stands e guichês: à primeira vista, parece ser um shopping comum - mas, ao olhar com olhos mais atentos, é possível observar os resquícios da antiguidade. Há partes do shopping, como a escada de incêndio e uma pequeno átrio, que conservam os elevadores e escadas originais. O teto é abobadado e possui lindos vitrais. O chão daquela área possui ladrilhos translúcidos. Apesar de Azevedo apenas ter executado o projeto, que foi desenhado pelos norte-americanos Preston e Curtiss, quem conhece as obras do arquiteto consegue reconhecer sua presença ali.
Ramos de Azevedo não morrerá enquanto suas obras existirem, enquanto seu nome estiver pelas ruas de São Paulo. Suas obras são acessíveis: não é preciso ter dinheiro para visitá-las, todos podem fazer parte dela e admirá-las. Seu trabalho, sempre com cores claras e alaranjadas, se destaca na selva de pedra que a cidade se tornou. Suntuosa e destacada em meio a grandes e modernos prédios, a arte de Azevedo estará sempre visível a todos, para voltarmos ao passado e relembrar-nos do homem que deu origem a estas construções.