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Análise comparativa dos vendavais de 03-11-2023 e 24-08-2024 em Piracicaba

Fonte: Wikiversidade

A cidade de Piracicaba, situada no interior do estado de São Paulo, vivenciou dois eventos significativos de vento intenso em um período relativamente curto: o vendaval de 3 de novembro de 2023 e o vendaval de 24 de agosto de 2024. Este estudo tem como objetivo realizar uma análise comparativa detalhada desses dois eventos, com o intuito de identificar as semelhanças e diferenças em suas características atmosféricas, impactos e possíveis causas. Por meio da análise de dados históricos, registros de estações meteorológicas e relatos da população, busca-se oferecer uma compreensão mais profunda dos fatores que influenciam a formação e evolução desses fenômenos, bem como avaliar sua frequência e intensidade em comparação com eventos históricos.

Análise do evento de 3 de novembro

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Nos primeiros dias de novembro de 2023, um ciclone extratropical se formou próximo ao Sul do Brasil, criando condições atmosféricas favoráveis para eventos meteorológicos intensos. No dia 3, uma frente fria associada a esse ciclone se deslocou em direção ao nordeste, interagindo com o ar quente e úmido presente na região. A convergência desses dois sistemas atmosféricos gerou uma linha de instabilidade, caracterizada por um forte cisalhamento do vento.

O cisalhamento ocorreu devido ao contraste significativo entre a frente fria e a massa de ar quente e úmido que se movia em direção oposta. Esse choque gerou uma mudança abrupta na direção do ar quente, resultando em um ambiente propício para a formação de tempestades severas. Às 13h, a linha de instabilidade estava se aproximando do sul do estado de São Paulo, e às 15h55, já havia alcançado Piracicaba.

Cronologia e características

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A linha de instabilidade chegou à zona central de Piracicaba às 15h55 do dia 3 de novembro de 2023. Poucos minutos antes desse horário, o céu começou a se cobrir com nuvens carregadas, e o vento começou a intensificar, trazendo uma leve chuva. À medida que a linha de instabilidade avançava, a velocidade do vento aumentou abruptamente, com rajadas superiores a 70 km/h. Esse momento marcou a entrada da frente de rajada.

Às 16h02, a cortina de chuva já havia coberto completamente Piracicaba, trazendo chuva forte acompanhada de trovões. O vendaval continuou até cerca de 16h10-16h15, quando sua intensidade começou a diminuir. Após esse período, a cidade recebeu uma leve garoa.

De acordo com medições do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), as rajadas de vento chegaram a 73,0 km/h. No entanto, a ausência de dados específicos sobre o valor máximo do vento entre 16h e 17h — o período crítico da ocorrência — levantou questões sobre a possibilidade de rajadas ainda mais intensas. Estimativas realizadas indicaram que a velocidade do vento poderia ter alcançado até 90 km/h.

Danos e impactos

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fig. 1 - Galho de árvore caído ao lado do Cemitério da Saudade após o vendaval de 3 de novembro.
fig. 2 - Telhas derrubadas no bairro Alto.

O vendaval que atingiu Piracicaba em 3 de novembro de 2023 causou danos significativos em várias áreas da cidade. Entre os principais impactos, destaca-se a queda de aproximadamente 20 árvores, que bloqueou ruas e causou transtornos no tráfego. Além disso, o evento provocou destelhamentos em diversas residências e no terminal de ônibus da Paulicéia.

A tempestade também gerou problemas de fornecimento de energia, com falta de luz em alguns pontos da cidade. Por consequência do mau-tempo, o anemômetro da estação meteorológica automática do INMET não divulgou o valor da maior rajada de vento no horário entre as 16h00 e 17h00, bloqueando parte dos dados sobre a intensidade do vendaval.

Os bairros mais afetados foram Alto, Centro, Vila Rezende, Piracicamirim, Pompéia e Dois Córregos. Outras consequências incluem a queda de muros leves e danos consideráveis nas instalações do Campus do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), que resultaram na indisponibilidade de diversas áreas. O aviso oficial sobre os danos no IFSP foi publicado no dia 6 de novembro.

Análise do evento de 24 de agosto

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fig. 3 - Linha de instabilidade se aproximando de Piracicaba às 15h35 de 24/08/2024, momento em que houve um forte cisalhamento do vento e fortalecimento das tempestades. [Windy.com]

O vendaval de 24 de agosto de 2024 em Piracicaba teve origem a partir da linha de instabilidade de uma frente fria. De acordo com o radar IPMet/UNESP de Bauru, na manhã daquele dia, uma frente fria estava situada no Paraná e avançava lentamente em direção ao norte. Sua progressão foi dificultada por uma massa de ar quente e seco que se deslocava em direção ao sul.

Por volta das 15h, quando a frente fria encontrava-se a cerca de 100 km a oeste de Piracicaba, a massa de ar quente já havia se intensificado o suficiente para gerar um forte cisalhamento do vento na zona de encontro entre as duas massas de ar (quente e fria). Esse cisalhamento provocou o desenvolvimento de tempestades e a formação de uma linha de instabilidade, como mostrado na figura 3.

Às 15h55, o vento em Piracicaba começou a aumentar gradualmente, conforme a linha de instabilidade se aproximava. No entanto, a partir das 16h00, houve surgimento de um forte cisalhamento horizontal do vento próximo à superfície, marcando o início do vendaval intenso.

Cronologia e características

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A frente de rajada tornou-se visível no horizonte por volta das 15h40. Às 15h55, o vento começou a intensificar. Nesse momento, a força da ventania já era perceptível. O momento mais intenso do vendaval começou por volta das 16h03, quando uma fraca nuvem de poeira apareceu no horizonte. A partir das 16h07, as rajadas de vento já ultrapassavam os 70 km/h, marcando o pico da intensidade do vendaval. Durante esse período crítico, a cidade experimentou ventos intensos que tiveram um impacto considerável.

O fenômeno continuou até aproximadamente 16h17, quando começou a enfraquecer. Após o enfraquecimento das rajadas, o céu começou a escurecer notavelmente e uma pancada de chuva se seguiu, marcando o fim das condições adversas. De acordo com medições do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), as rajadas de vento atingiram até 72,7 km/h durante o evento. No entanto, estimativas realizadas posteriormente sugeriram que as rajadas poderiam ter alcançado até 80 km/h.

Danos e impactos

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fig. 4 - Lona presa no telhado de uma casa no bairro Jardim Itapuã após o vendaval de 24 de agosto
fig. 5 - Queda do muro de um terreno baldio no bairro Monte Líbano após o vendaval de 24 de agosto.

O vendaval de 24 de agosto de 2024 causou uma série de danos e impactos significativos em Piracicaba. O evento foi precedido por uma nuvem de poeira que se formou no horizonte, sinalizando a intensidade crescente das rajadas de vento. Durante o vendaval, a força dos ventos resultou na queda de galhos e árvores de pequeno porte, o que contribuiu para bloqueios nas vias e dificuldades no tráfego urbano.

Além dos danos causados pelas árvores e galhos, o vendaval também gerou acúmulo de folhas dentro de edifícios. Destelhamentos e queda de muros leves também foram registrados. Outro impacto significativo foi a interrupção no fornecimento de energia elétrica na zona central de Piracicaba, resultando em transtornos após o evento. Três pessoas ficaram feridas após a queda de uma estrutura metálica do Sthorm Festival.

Conclusão final

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A análise comparativa dos vendavais de 3 de novembro de 2023 e 24 de agosto de 2024 revela várias semelhanças notáveis, bem como algumas diferenças importantes.

Ambos os vendavais tiveram origens semelhantes, formados a partir de linhas de instabilidade. No caso do vendaval de 3 de novembro, a linha de instabilidade se desenvolveu a partir de uma frente fria que se formou no Paraná e avançou em direção a São Paulo. Por outro lado, o vendaval de 24 de agosto teve sua formação praticamente sobre Piracicaba, com uma frente fria se movendo lentamente em direção ao norte e interagindo com uma massa de ar quente e seco.

A duração dos dois fenômenos foi bastante similar, com ambos durando cerca de 15 minutos. O vendaval de 3 de novembro começou às 15h55 e durou até às 16h10. Já o vendaval de 24 de agosto iniciou-se às 16h02 e prosseguiu até às 16h17, ou das 16h03 às 16h18. O horário de ocorrência também foi muito próximo, com apenas 7-8 minutos de diferença entre o início dos dois eventos.

A velocidade do vento medida pelo INMET foi praticamente idêntica nos dois eventos. O vendaval de 3 de novembro registrou rajadas de até 73,0 km/h, enquanto o de 24 de agosto teve uma medição de 72,7 km/h. As estimativas indicam que a velocidade do vento pode ter sido um pouco maior, com 80 km/h para o evento de 24 de agosto e até 90 km/h para o de 3 de novembro. Essas estimativas sugerem que, embora as medições oficiais sejam próximas, as condições de vento durante o evento de novembro podem ter sido um pouco mais intensas.

Em termos de danos e impactos, os dois vendavais apresentaram características bastante semelhantes e foram típicos de eventos de vendaval. Ambos causaram queda de galhos e árvores, destelhamentos, interrupção no fornecimento de energia elétrica e danos estruturais leves. A diferença notável foi que o vendaval de 24 de agosto resultou em três feridos, diferente do de 3 de novembro, que não causou ferimentos relatados.