Análise do vendaval em Piracicaba em 31 de janeiro de 2024

Fonte: Wikiversidade
Mapa das principais áreas atingidas

Às 15h05 de 31 de janeiro de 2024, a Região Metropolitana de Piracicaba (RMP) foi atingida por uma onda de tempo severo, desencadeada pela entrada brusca de uma frente fria em um dia quente e úmido. Também chamado não-oficialmente de Vendaval do Campestre de 2024, foi um fenômeno extremo, mas não raro, causado por uma condição comum que foi intensificada. A zona sul de Piracicaba foi a área mais atingida da respectiva cidade. Os ventos foram estimados em até 102 km/h nos bairros Campestre, Novo Horizonte, Itapuã e Monte Líbano, onde foram registrados diversos estragos. Apesar da intensidade do vendaval, não houve falta de luz, feridos, mortos, desabrigados ou desalojados. Este estudo do grupo Piracicaba Meteorológica busca analisar o fenômeno específico detalhadamente em diferentes partes, como causas, consequências e a recuperação da área afetada.

O vendaval em Piracicaba em 31 de janeiro de 2024 teve ventos estimados em até 102 km/h, começou a partir das 15h05 e durou cerca de 15 minutos, com o bairro Campestre sendo o mais atingido. Não houve registro de chuva durante o evento. Moradores relataram que a ventania começou de maneira repentina, sem aviso prévio e que somente a primeira rajada de vento já foi suficiente para provocar diversos estragos. Apesar da intensidade do fenômeno, não houve falta de luz, desabrigados, desalojados ou feridos.

Estatísticas[editar | editar código-fonte]

  • Horário de ocorrência: 18h05 UTC (15h05, local) de 31 de janeiro de 2024.
  • Tipo: Período de rajadas de vento intensas e persistentes; frente de rajada.
  • Principais áreas atingidas: Campestre, Monte Líbano, Itapuã, Novo Horizonte, Planalto, Nova Suíça, Água Branca e zona rural.
  • Duração aproximada: 9-13 minutos.
  • Velocidade máx. dos ventos: ±102 km/h.
  • Precipitação: Ausente
  • Causa:
    • Onda de tempo severo
    • Chegada de frente fria.
  • Fatalidades: 0
  • Feridos: 0
  • Desabrigados ou desalojados: 0

Metodologia[editar | editar código-fonte]

A metodologia do estudo consiste em analisar os dados meteorológicos disponíveis sobre o evento ocorrido em 31 de janeiro de 2024, que causou um vendaval de grande intensidade na zona sul de Piracicaba. Os dados utilizados são:

  • Imagens de radar de trovoadas do IPMet/UNESP de Bauru, que mostram a formação e o deslocamento das nuvens convectivas que geraram as tempestades severas no sul de Piracicaba. As imagens de radar permitem identificar a intensidade das precipitações, a altura das nuvens, a velocidade e a direção dos ventos nas camadas inferiores da atmosfera.
  • Imagens de satélite do INMET, que mostram a cobertura de nuvens sobre o estado de São Paulo e a entrada da frente fria que provocou a instabilidade atmosférica. As imagens de satélite permitem observar a temperatura e a umidade das nuvens, bem como a presença de sistemas frontais e de massas de ar.
  • Dados de estações meteorológicas do INMET, que registram as variações de temperatura, pressão, umidade, precipitação, radiação solar e vento em diferentes pontos do estado de São Paulo. Os dados das estações permitem comparar as condições atmosféricas antes, durante e depois do vendaval, bem como verificar a ocorrência de fenômenos como chuva intensa e rajadas de vento.
  • Filmagens feitas por moradores da região afetada pelo vendaval, que mostram os efeitos do vento. As filmagens permitem estimar a velocidade e o padrão do vento.

Causas[editar | editar código-fonte]

O vendaval em Piracicaba em 31 de janeiro de 2024 foi resultado de uma combinação de fatores atmosféricos que favoreceram a ocorrência de tempo severo na região. O principal fator foi a entrada de uma frente fria vinda do Sul do Brasil, que encontrou uma massa de ar quente e úmido que predominava sobre o estado de São Paulo. Esse contraste térmico e de umidade gerou uma alta instabilidade atmosférica, que se manifestou em forma de nuvens convectivas que causaram tempestades severas.

As tempestades que se formaram no sul de Piracicaba, próximo às cidades de Rio das Pedras e Saltinho, foram responsáveis por produzir correntes descendentes muito fortes, que são fluxos de ar que descem verticalmente das nuvens até a superfície. Essas correntes descendentes, também chamadas de downdrafts, podem atingir velocidades muito altas, e ao chegarem ao solo, se espalham horizontalmente em todas as direções. Quando o ar frio e seco do downdraft encontra o ar quente e úmido do ambiente, ocorre a frente de rajada. A frente de rajada é uma linha de ventos intensos que se desloca à frente das tempestades, podendo atingir velocidades superiores a 100 km/h.

Consequências[editar | editar código-fonte]

Os danos causados pelo vendaval em Piracicaba em 31/01/2024 foram comparáveis aos provocados por um tornado de intensidade F0 na Escala Fujita, concentrados em uma faixa de 3,5 km de comprimento por 2 km de largura, onde estão localizados os bairros Campestre, Novo Horizonte, Itapuã e Monte Líbano.

Queda de árvores e galhos[editar | editar código-fonte]

Houve dezenas de queda de árvores, principalmente no entorno de córregos. Algumas chegaram a derrubar cercas e a cair dentro dos leitos dos cursos d'água. A maior parte das quedas foram de árvores de pequeno e médio porte, que caíram em áreas arborizadas, não oferendo grandes riscos à população. Além disso, devido à intensidade do vento, vários galhos foram espalhados pelas vias e calçadas, dificultando a mobilização urbana. A limpeza foi realizada de forma voluntária pelos próprios residentes, sem a ajuda do poder público, como é comum nas áreas periféricas.

Destelhamentos[editar | editar código-fonte]

Alguns moradores relataram destelhamentos parciais de residências, demonstrando a intensidade da ventania. Todos os casos observados envolveram telhados de zinco, que são mais leves e sujeitos a serem carregados por ventos fortes. Uma moradora do bairro Campestre, por exemplo, contou que estava tirando as roupas do varal, quando uma rajada de vento muito intensa fez uma telha voar com a antena parabólica da sua casa. Algumas telhas chegaram a ser encontradas a dezenas de metros dos locais originais, em barrancos, ruas e até mesmo nos quintais de outros imóveis.

Danos a estruturas[editar | editar código-fonte]

Muro do córrego Itapuã danificado
Muro do córrego Itapuã derrubado na manhã de 16 de fevereiro
Na comunidade Pantanal, no bairro Itapuã, a parede de um barraco em reforma foi derrubada

O vendaval também causou danos a estruturas. O muro do córrego Itapuã, composto por telhas leves, foi derrubado em alguns pontos ou apenas inclinado em outros. Alguns barracos de madeira perderam parte de suas paredes, porém nada grave que afetasse a segurança dos residentes. Na comunidade Pantanal, no bairro Itapuã, um barraco de madeira que estava em reforma não suportou a força do vento e perdeu uma parede. Segundo o morador, as tábuas já estavam mal-colocadas para facilitar a reforma.

Por que tão intenso?[editar | editar código-fonte]

O vendaval que atingiu Piracicaba em 31 de janeiro de 2024, conhecido como Vendaval do Campestre de 2024, foi intenso devido à dinâmica atmosférica específica da região naquele momento. Uma frente de rajada originada dos downdrafts (correntes descendentes) das tempestades ao sul da cidade avançou rapidamente em direção à zona sul, afetando bairros como Campestre, Novo Horizonte, Itapuã, Monte Líbano, entre outros. Esses bairros estavam situados na borda das nuvens de tempestade, onde as diferenças de pressão atmosférica são maiores. Essa configuração cria uma aceleração dos ventos, tornando-os mais violentos. Como resultado, o vendaval em Piracicaba em 31 de janeiro de 2024 foi tão intenso porque os bairros atingidos estavam na borda do downdraft, onde a frente de rajada - área de transição entre o ar frio e seco que desce da nuvem e o ar quente e úmido do ambiente - amplifica as diferenças de pressão entre as massas de ar, intensificando os ventos.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]