Jornalismo Básico 2: reportagens especiais/Reportagens do JOB/Ana Luiza Couto e Victória Lício
A mais paulistana das padocas
Já é sabido que os paulistanos nutrem um amor especial e duradouro por suas “padocas”. A Santa Tereza é com certeza a mais paulistana delas. A ideia que se tem quando se está de frente para a fachada da padaria mais antiga do Brasil é a de que se trata de apenas mais um estabelecimento simples e tradicional, como tantos outros do tipo. Porém, é aí que está o engano: Santa Tereza, que além de padaria também é conhecida como confeitaria e restaurante, está em funcionamento desde 1872 e frequentá-la é uma grande tradição não só aos paulistanos, mas para todo tipo de público que visita a Praça João Mendes, no centro de São Paulo.
Conhecida como uma memória antiga ainda viva e de grande importância, Santa Tereza foi fundada por imigrantes portugueses, e esteve nas mãos das famílias Teixeira e Vaz até a metade da década de 1990, mas atualmente o estabelecimento é administrado pela família Maturana (mais especificamente pelos irmãos Marcos, Juliana e Natália, que fazem parte da terceira geração). O fato de ter sido comandada por diversas gerações, passando de avós para pais e dos mesmos para os filhos, é o que segue mantendo esse ar tradicional próprio do estabelecimento, cujo nome foi dado em homenagem à Rua Santa Tereza (onde se localizava antigamente e na qual ficou até 1947, quando mudou-se para a Praça João Mendes).
Segundo o gerente Rodrigo Alves Pedrosa, de 25 anos, os frequentadores da padaria são principalmente advogados, juízes e promotores, além do público em geral, por conta da existência dos fóruns João Mendes e Maria Paula nos arredores. Uma placa pendurada em lugar de destaque na parede, na qual se lê “Homenagem ao poder judiciário”, comprova isso.
Rodrigo afirma que para o sucesso ter sido tão grande e permanecer até os dias de hoje, o bom atendimento e a alta qualidade dos produtos foram primordiais aos longo desses 144 anos. Sorrindo e com um ar de simpatia, ele faz jus à própria descrição do atendimento: de bom humor, toca as teclas de um piano, um dos vários objetos antigos que pertencem à decoração do restaurante, e mostra ter orgulho de este ter sido o seu primeiro emprego, que conserva-se há 10 anos. O rapaz, que mora aos arredores, conta alegre sobre seu começo como entregador e a evolução para se tornar um dos 5 gerentes que compõem a equipe de funcionários.
O ambiente, muito ruidoso e agitado, conta com dois andares, ligados por um elevador e uma escada que emana um leve aroma de alecrim. No primeiro andar, funciona a padaria, e no segundo, se localiza o restaurante. Para dar conta de todo o movimento (cerca de 400 refeições são servidas na hora do almoço todos os dias), os 50 funcionários se dividem em 2 turnos. O mais antigo deles é o aposentado Seu Pedrosa, o primeiro a nos receber.
Os itens mais tradicionais (e também mais famosos) vendidos na Santa Tereza são o filé a parmegiana, a canja e a coxa-creme, sendo que essas duas últimas, ambas especialidades da casa, estão no cardápio há mais de 130 anos e atraem também um público diferenciado, vindo tanto de outras regiões da cidade, quanto de outros países, como os turistas norte-americanos. Além dos itens mais pedidos, todos a preços acessíveis, a padaria conta com um dos buffets mais completos da cidade.
Santa Tereza permite que seus clientes consumam essas receitas em um ambiente moderno e simultaneamente tradicional, enquanto fazem uma viagem pelo tempo ao observar as paredes, feitas com azulejos aparentemente mais velhos, e cheias de quadros com fotos antigas da região do centro, que mostram a construção da Catedral da Sé, o Viaduto do Chá, o Vale do Anhangabaú, a Faculdade de Direito, entre outros. É possível ver expostas também uma foto da santa católica Tereza e matérias feitas pela mídia sobre o estabelecimento.
Na saída, uma última olhada na fachada pouquíssimo modificada da versão original da “padoca” nos permite guardar essa experiência na memória e viver, ao menos um pouco, o clima tradicional de São Paulo.