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Ciência Política Cásper/Poder Simbólico e Esfera Pública

Fonte: Wikiversidade

LEGITIMAÇÃO - INSTITUCIONALIZAÇÃO

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Em termos mais concretos, a legitimação da ordem social não é o produto, como alguns acreditam, de uma ação deliberadamente orientada de propaganda ou de imposição simbólica (...) Na luta simbólica pela produção do senso comum ou, mais exatamente, pelo monopólio da dominação legítima, os agentes investem o capital simbólico que adquiriram em lutas anteriores e que pode ser juridicamente garantido. Assim, os títulos de nobreza, bem como os títulos escolares, representam autênticos títulos de propriedade simbólica que dão direito às vantagens de reconhecimento. (...)

Há um ponto de vista oficial, que é o ponto de vista das autoridades e que se exprime no discurso oficial. Esse discurso, como Aaron Cicourel mostrou, preenche TRÊS FUNÇÕES: em PRIMEIRO LUGAR, ele opera um DIAGNÓSTICO, isto é, um ato de conhecimento que obtém o reconhecimento e que, com muita frequência, tende a afirmar o que uma pessoa ou uma coisa é (...)

Em SEGUNDO, o DISCURSO ADMINISTRATIVO, através das diretivas, ordens, prescrições, etc., diz o que as pessoas têm de fazer, considerando o que elas são.

Em TERCEIRO, ele diz o que as pessoas realmente fizeram, como nos relatórios oficiais, a exemplo dos relatórios de polícia. Em cada caso, ele impõe um ponto de vista, o da instituição, especialmente através de questionários, formulários, etc. (...)

PODER SIMBÓLICO - CAPITAL SIMBÓLICO - PORTA-VOZES

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Para mudar o mundo é preciso mudar as maneiras de fazer o mundo, isto é, a visão de mundo e as operações práticas pelas quais os grupos são produzidos e reproduzidos. O poder simbólico, cuja forma por excelência é o poder de fazer grupos (grupos já estabelecidos que é preciso consagrar, ou grupos a serem estabelecidos, como proletariado marxista), está baseado em duas condições.

Primeiramente, como toda forma de discurso performativo, o poder simbólico deve estar fundado na posse de um capital simbólico. O poder de impor às outras mentes uma visão, antiga ou nova, das divisões sociais depende da autoridade social adquirida nas lutas anteriores. (...)assim, o poder de constituição, poder de fazer um novo grupo, através da mobilização, ou de fazer existir por procuração, falando por ele enquanto porta-voz autorizado, só pode ser obtido ao término de um longo processo de institucionalização, ao término do qual é instituído um mandatário, que recebe do grupo o poder de fazer o grupo.

Em segundo lugar, a eficácia simbólica depende do grau em que a visão proposta está alicerçada na realidade. Evidentemente, a construção dos grupos não pode ser uma construção ex nihilo. Ela terá tanto mais chances de sucesso quanto mais estiver alicerçada na realidade: isto é, como eu disse, nas afinidades objetivas entre as pessoas que se quer reunir.

O PODER SIMBÓLICO É UM PODER DE FAZER COISAS COM PALAVRAS.

Nesse sentido, o PODER SIMBÓLICO É O PODER DE CONSAGRAÇÃO OU DE REVELAÇÃO, um poder de consagrar ou de revelar coisas que já existem. Isso significa que ele não faz nada? De fato, como uma constelação que, segundo Nelson Goodman, começa a existir somente quando é selecionada e designada como tal, um grupo – classe, sexo (gender, região, nação – só começa a existir enquanto tal, para os que fazem parte dele e para os outros, quando é DISTINGUIDO, SEGUNDO UM PRINCÍPIO QUALQUER, DOS OUTROS GRUPOS, isto é, através do conhecimeneto e do reconhecimento. (...)

A LUTA DAS CLASSIFICAÇÕES é uma dimensão fundamental da luta de classes. O PODER DE IMPOR UMA VISÃO DAS DIVISÕES, isto é, o poder de tornar viáveis, explícitas, as divisões implícitas, é o poder político por excelência: é o poder de fazer grupos, de manipular a estrutura objetiva da sociedade. (...)

Aqui, se tivermos em mente o problema maior que tentei resolver hoje – O DE SABER COMO É POSSÍVEL FAZER COISAS, ISTO É, GRUPOS, COM PALAVRAS (...) como o porta-voz se vê investido do pleno poder de agir e falar em nome do grupo que ele produz pela magia do slogan, da palavra de ordem, da ordem e por sua simples existência enquanto encarnação do grupo? (...)

A classe (ou o povo, ou a nação, ou qualquer outra realidade social de outro modo inapreensível) existe se existirem pessoas que possam dizer que elas são a classe, pelo simples fato de falarem publicamente, oficialmente, no lugar dela, e de serem reconhecidas como legitimadas para fazê-lo por pessoas que, desse modo, se reconhecem como membros da classe, do povo, da nação ou de qualquer outra realidade social que uma construção do mundo realista possa inventar e impor.”

(BOURDIEU, Pierre. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004 p. 161-168)