Saltar para o conteúdo

Ciência Política Cásper/Política: Enquadramentos e Esfera Pública

Fonte: Wikiversidade

Esfera Pública[editar | editar código-fonte]

A esfera pública literária, por exemplo, foi a precursora da esfera pública política. Ela foi produzida pela transformação da arte em mercadoria e a sua liberdade de circulação para além das esferas restritas de consumo aristocrático. As novas condições sociais em meio às quais a literatura passa a ser produzida, distribuída e consumida acabam por exigir novas instâncias sociais de legitimação. É o caso da crítica literária, por exemplo.

O crescimento da circulação dos jornais trouxe novas formas de visibilidade e publicidade (tornar público) para questões que afetavam a burguesia de formas muito particulares. Com essas novas formas de publicidade, novos espaços de discussão são formados, gerando o que Habermas chamou de Esfera Pública (Política) Burguesa que envolvia a conversação estabelecida por pessoas privadas a respeito dos assuntos públicos segundo algumas regras.

Essas regras estabeleciam:

  1. Não restrição (quanto a entrada de pessoas no debate) e redução do cerimonial de hierarquia entre os debatedores
  2. Polidez no relacionamento entre os debatedores
  3. Problematização Pública das questões por meio de argumentação


Nesse sentido, é possível perceber que a espontaneidade das conversas cotidianas (o “mundo da vida”) não é necessariamente a base da conversa democrática. [...] Espontaneidade não é sinônimo de transparência, muito menos de autenticidade ou vontade de produção do entendimento.

Por meio da produção de esferas públicas, amplia-se e diversifica-se a capacidade de produção de discursos não-especializados capazes de identificar discursivamente o que se pode chamar de situações-problema do mundo da vida.

Essas conversações deveriam se valer da linguagem não-especializada capaz de tornar o debate aberto e acessível a todos que estivessem dispostos a buscar o entendimento sobre questões públicas trazidas ao debate.

A esfera pública é, portanto, uma rede adequada para a Comunicação de conteúdos, tomadas de posição e formação de opiniões: “...nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões pública enfeixadas em temas específicos

As esferas públicas formam-se, agora, em ambientes midiáticos “cruzados” e diversos, que podem organizar-se sob a lógica da colaboração em determinados momentos, mas de conflito e competição em outros.

Eu descrevi a esfera pública política como uma caixa de ressonância dos problemas que precisam ser processados pelo sistema político porque não podem ser resolvidos em outro lugar. Nesse sentido, a esfera pública é um sistema de vigilância com sensores que, embora não sejam especializados, são sensíveis ao que acontece na sociedade. (Habermas, 2003 p. 359)

Ela representa uma rede complexa que se ramifica espacialmente num sem número de Arenas de debate internacionais, nacionais, regionais, comunais etc. [...] As esferas públicas formam-se, agora, em ambientes midiáticos “cruzados” e diversos, que podem organizar-se sob a lógica da colaboração em determinados momentos, mas de conflito e competição em outros.

Esfera Pública e Meios de Comunicação[editar | editar código-fonte]

“...o sistema dos media atua na esfera pública com a responsabilidade de processar as demandas vindas dos atores centrais (políticos, lobistas, representantes administrativos etc.) e dos atores de base (movimentos sociais, associações, especialistas, grupos minoritários etc.)" (MARQUES, 2008 p.29)


No entanto, “é preciso levar em consideração que, para fortalecer a democracia, são necessárias NÃO APENAS estruturas comunicacionais eficientes, ou instituições propícias à participação... Devem estar presentes, também, “a motivação correta, o interesse e a disponibilidade dos próprios cidadãos para se engajar em debates.” [...] Há pouca evidência de que o acesso mais amplo às tecnologias irá, por si só e sem mais, expandir o interesse pelas questões políticas simplesmente porque uma parcela maior do público tem chances de participar.” (MAIA, 2002 p. 2 e 6


Enquadramentos[editar | editar código-fonte]

Os enquadramentos (frames) são, frequentemente, analisados com o auxílio das analogias dos enquadramentos na imagem (fotográfica, cinematográfica, etc.) [...] Assim, o enquadramento é um tipo de mensagem que visa ordenar ou organizar a percepção do observador dizendo: “Tenha em conta o que está dentro e não o que está fora”. Deste modo, a definição de framing aponta para a existência de um processo graças ao qual determinados elementos são incluídos ou excluídos de uma potencial comunicação. [...]

Os enquadramentos foram estudados no campo da sociologia por Erving Goffman como construções mentais que permitem aos seus utilizadores localizar, perceber, identificar e catalogar um número infinito de ocorrências concretas (Goffman, 1986, p. 21). [...]

Assim, frames são, mais ou menos, elementos básicos que governam os acontecimentos sociais e o nosso envolvimento subjetivo neles (Goffman, 1986, p. 10). São esquemas de interpretação graças aos quais determinados acontecimentos aos quais prestamos atenção são tornados visíveis e organizados. [...]

Alguns profissionais da comunicação procedem a um enquadramento estratégico, procurando exercer poder e influências sobre as audiências a fim de que estas aceitem interpretações que favoreçam os seus interesses e objetivos. Isto inclui políticos, alguns bloggers, editorialistas e líderes de opinião. Outros comunicadores, especialmente jornalistas, procedem a enquadramentos sem compromisso com nenhuma agenda de interesses estrategicamente definida, o que não quer dizer que não reflitam indiretamente a influência dessas agendas. [...]

Entre os elementos que, no plano simbólico e discursivo, na pesquisa sobre um determinado texto, podem ser analisados contam-se:

a) manchetes e títulos;

b) subtítulos;

c) fotografias

d) legendas fotográficas;

d) leads;

e) seleção das fontes;

f) citações selecionadas;

g) realce das citações;

h) identificação gráfica dos artigos caso seja feita uma série sobre um tema;

i) estatísticas e gráficos;

j) parágrafos conclusivos (Tankard, 2001, p. 101),

ou, inclusive, as metáforas e o estilo (Zoch, 2001, pp. 195-205). [(CORREIA, 2011) reorganizei o parágrafo]


Referências

CORREIA, João Carlos. O Admirável Mundo das Notícias. UBibliorum, 2011 Disponível em: https://ubibliorum.ubi.pt/handle/10400.6/4344 Acesso em 20.01.2023

HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia vol.II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003 p. 92

MAIA, Rousiley C. M. A democracia e a Internet como esfera pública virtual: aproximando as condições do discurso e da deliberação. In: MOTTA, Luiz Gonzaga et alii. Estratégias e Culturas da Comunicação. Brasília: UnB: Compôs, 2002 p. 2 e 6

MARQUES, Angela. Os meios de comunicação na esfera pública: novas perspectivas para as articulações entre diferentes arenas e atores. Líbero - Ano XI - nº 21 - Jun 2008 p.29