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Filosofia da mente: Conteúdo mental

Fonte: Wikiversidade



Em filosofia analítica chama-se de conteúdo mental àquilo que o sujeito tem em mente.

Do ponto de vista lógico, o conteúdo mental pode estar estruturado como termo ou como proposição. Quando o conteúdo mental tem a estrutura de um termo lógico (um nome próprio ou um indicial, por exemplo), trata-se de um conteúdo acusativo. Quando o conteúdo mental tem a estrutura lógica de uma proposição, trata-se de um conteúdo proposicional.

Conteúdos mentais se apresentam acompanhados por atitudes mentais (acusativas ou proposicionais). A atitude mental é o modo como o sujeito se relaciona com o conteúdo mental. Por exemplo, um mesmo conteúdo mental, "A água é transparente", pode estar acompanhado de diferentes atitudes mentais: "Creio que a água é transparente", "Penso que a água é transparente", "Afirmo que a água é transparente" etc.

Seis quebra-cabeças sobre o conteúdo mental

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A partir dos trabalhos de Gottlob Frege, Saul Kripke, Hilary Putnam, John Perry, Tyler Burge e Stephen Schiffer, David Chalmers lista seis quebra-cabeças sobre o conteúdo mental, em seu texto "The Components of Content":

  1. O conteúdo está na cabeça? Putnam com seu experimento mental da Terra Gêmea, e Burge com seu experimento mental sobre 'artrite' nos deram razões para concluirmos que o conteúdo mental é relativo ao ambiente. Pensamentos empíricos não têm nenhum componente privado? Não há conteúdo estrito (narrow content)?
  2. O quebra-cabeça de Frege. Embora 'Cícero' e 'Túlio' sejam os nomes de uma mesma pessoa, e, conseqüentemente, os pensamentos "Cícero é Cícero" e "Cícero é Túlio" pareçam expressar a mesma proposição, a primeira frase é trivial e aborrecida, enquanto a segunda é informativa e interessante. Como pode haver direfença no conteúdo informativo dessas frases?
  3. O quebra-cabeça de Kripke. Na França, Pierre diz e crê: "Londres est jolie" ("Londres é bela"). Mais tarde ele se muda para uma vizinhança pouco atraente de Londres, cidade que ele chama de 'London', sem saber que é a cidade que ele chama de 'Londres', e diz e crê: "London is not pretty" ("Londres não é bela"). Pierre é racional. Como ele pode ter crenças contraditórias?
  4. O problema do indicador essencial (essential indexical). Se acredito que estou com algum problema de saúde, consulto um médico e faço exames. Essa crença é dirigida a mim mesmo. Se eu acreditasse que alguém está em perigo, ocorrendo que esse alguém sou eu mesmo, estivesse com algum problema de saúde, meu comportamento seria diferente, pois minha crença seria voltada a alguém, não a mim. Como coordenar o aspecto indicativo com o aspecto proposicional do pensamento?
  5. Semântica da atribuição de atitudes proposicionais. Quando Jimmy diz "Lois acredita que o Super-Homem é mais forte do que Clark Kent" ele está dizendo algo verdadeiro. Mas quando Jimmy diz "Lois acredita que o Super-Homem é mais forte do que ele mesmo" ele está dizendo algo falso. Todavia, Super-Homem e Clark Kent são a mesma pessoa, mudando apenas o modo como se apresentam. O que é um modo de apresentação? Como os modos de apresentação se relacionam com a atribuição de crenças?
  6. O contingente a priori. Por estipulação, a palavra 'metro' designa o comprimento de uma vara muito bem guardada em Paris. Logo, podemos saber a priori que essa vara tem um metro. Todavia, a proposição "O metro de Paris tem um metro" é contingente. Como pode um conhecimento a priori ser contingente?

Esses são quebra-cabeças relacionados. Todos dizem respeito ao papel dos termos indiciais no pensamento.