Saltar para o conteúdo

História Oral- Giovanna Villas Boas Santos e Júlia Beatriz Porta

Fonte: Wikiversidade

Trabalho de História do Brasil II- Memória[editar | editar código-fonte]

As grandes mídias e o processo de impeachment de Dilma Rousseff.[editar | editar código-fonte]

Introdução[editar | editar código-fonte]

Na história do Brasil, podem ser percebidas constantes tensões entre política e mídia, como durante os governos de Getúlio Vargas, João Goulart, Fernando Collor, e mais atualmente, de Dilma Rousseff, todos presidentes que não terminaram seus mandatos. Assim, o presente trabalho busca discutir o papel das mídias no impeachment da única presidente mulher do país, através da memória daqueles que viveram aquele tempo, argumentando que o papel desestabilizador dos meios de comunicação permanece atual.

O impeachment de Dilma Rousseff (PT) pode ser analisado como um catalisador das condições políticas no país, evidenciando a polarização política do Brasil. Dessa maneira, com uma mídia aliada aos interesses dos grandes produtores brasileiros, é notável sua grande imparcialidade, quando se diz respeito às notícias e aos editoriais analisados. Como perspectiva norteadora das análises no campo da memória, foi utilizado o trabalho de Maurice Halbwachs, que utiliza os conceitos de memória individual e memória coletiva.

Desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

O presente trabalho tem o objetivo de discutir o papel das grandes mídias nas decisões políticas no Brasil, a partir da memória de indivíduos da sociedade brasileira, assim, buscando ressaltar uma perspectiva que não está presente nos grandes veículos de comunicação do país.

Um dos grandes momentos de decisões políticas que o Brasil enfrentou, aconteceu no dia 31 de outubro de 2016, o qual representa a finalização do processo de impeachment da Dilma Rousseff, este processo foi marcado por dualidade e rupturas políticas, culturais, sociais entre o povo brasileiro, evidenciado pela extrema polarização política presente tanto na sociedade como nos órgãos representativos da política (Senado, Câmara).

É importante ressaltar que ambos os mandatos da ex-presidente foram marcados por crises internacionais e nacionais: no âmbito econômico, a crise internacional produziu reflexos na economia brasileira, desencadeou desaceleração do crescimento econômico brasileiro, já na esfera política a Dilma enfrentou escândalos de corrupção e dificuldades em negociações com o Congresso Nacional e os partidos aliados. Assim, a partir desse contexto, pode-se observar como as crises influenciaram na opinião pública e a popularidade da, então, presidente.

A partir da queda da popularidade de Dilma, passaram a ocorrer diversas manifestações populares em várias regiões brasileiras, desencadeadas pelo aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Como a solução para tais crises, os grandes editoriais, como O Globo, O Estado de S. Paulo, Estadão e o Estado de Minas,  passam a apoiar abertamente o impeachment da ex-presidente e dado a potencialização dos grupos de crítica e oposição ao governo. No dia 15 de março de 2015, milhões de brasileiros saíram às ruas em atos registrados em pelo menos 160 cidades brasileiras, como argumenta Jessé Souza (2016, p. 122-123) “a linha de frente do golpe reacionário” era formado pela “articulação entre mídia - como braço dos endinheirados que cuida da violência simbólica -, comandando e estimulando as manifestações de rua da fração mais conservadora da classe média, e a facção mais conservadora e corporativa da casta jurídica”. Dessa maneira, é de extrema importância ressaltar o papel das mídias nas manifestações e, posteriormente, no processo de impeachment.

Para evidenciar o contexto apresentado, foi realizada uma entrevista com indivíduos que têm grande interesse político e acompanham diariamente notícias de grandes jornais do país, trazendo, então, a perspectiva de memória, a qual foi discutida por Maurice Halbwachs.

Assim, segundo a perspectiva de Maurice Halbwachs, o indivíduo é uma singularidade socialmente determinada. Logo, o indivíduo capta uma parcela da realidade a partir da sua interpretação, tal captação depende de cada trajetória de vida pessoal influenciada pelas diferentes relações e posicionamentos que pode ter com determinados grupos.

Além disso, o autor traz a ideia de recordação, a qual é desenvolvida a partir da relação entre o indivíduo e eventos da realidade, dessa forma, toda recordação é uma representação de um evento do passado, demonstrando o recorte da realidade determinada pela percepção. Assim, a partir da visão de Maurice Halbwachs, pode-se perceber o papel fundamental das entrevistas, já que ele argumenta que para evocar uma memória é necessário que se realize uma reflexão anterior, então para a reconstrução de uma memória é necessário reproduzir as condiçõe sociais e o objetivo do evento pelo menos parcialmente. Tal reprodução, é possibilitada por elementos sociais, como quadros sociais de memória.

Já a memória coletiva  é entendida  como a memória compartilhada por um grupo, semelhantes a respeito de um evento, produto da intersecção de memórias individuais. Logo, por ser a convergência de memórias individuais, esta ganha mais consistência conforme é rememorada com mais vigor e constância, por indivíduos que precisam estar cada vez mais coesos, alinhados a uma corrente de pensamento comum. Nesse processo, é já se torna possível verificar a influência e o papel que as grandes mídias exercem, contribuindo para manter e fortalecer a coesão e a consistência da memória coletiva que interessa aos grupos dominantes.

Diante do que foi exposto, os conceitos apresentados por Maurice Halbwachs, podem ser associados ao objetivo do trabalho, uma vez que o autor deixa claro a importância das influências externas, representadas pela mídia na construção da memória coletiva e há uma relação de troca e complementação entre a memória coletiva e a individual.

Perguntas e Respostas[editar | editar código-fonte]

Entrevista 1[editar | editar código-fonte]

  1. História com a Política:

1.1.    Você tem algum envolvimento político?

Não.

1.2.) Apoia algum partido em específico? Desde quando? Já apoiava na época do Golpe?

               Não apoio nenhum partido político. Nunca tive nenhum envolvimento com partido político.

  1. Impeachment e a Mídia

2.1.) Qual a sua opinião sobre o período do Impeachment?

               Processo tumultuado da história do Brasil. Um processo que não precisaria ter ocorrido. Havia muito descontentamento com o governo pelos constantes escândalos de corrupção e a estagnação econômica. Me parece que existia também um descontentamento político com o governo da época.

2.2.) Qual a sua memória sobre o que passava nas grandes mídias (Globo, CNN…)?

               Muitas reportagens sobre os escândalos de corrupção e a situação econômica desfavorável. Muita cobertura jornalística sobre passeatas em várias cidades contra o governo, e uma discussão que parte dos escândalos e das condições econômicas do governo para um movimento político de Impeachment.

2.3.) Sua opinião sobre o Impeachment coincidia com o que se passava nas mídias?

               Os escândalos de corrupção eram constantes e foi perceptível uma degradação econômica do país e um movimento de organização de passeatas contra o governo em várias cidades, que eu não me lembro ter acontecido antes.

2.4.) Qual a sua memória sobre a época em que o Impeachment era votado? Você se lembra do que as grandes mídias falavam a respeito?

               Me parece que as mídias já demonstravam um consenso político e social da realização do impeachment e que seria a solução para os casos de corrupção. Muitos políticos foram mostrados se aproveitando do momento para usar a tribuna e se conectar com esse consenso.

2.5.) E após o Golpe, você se lembra do que foi noticiado?

               Em um primeiro momento, havia uma certa esperança de que o Brasil se tornaria livre dos escândalos rumo à melhoria econômica. Mas na sequência houve um grande escândalo que paralisou o governo vigente.

  1. Atuação Política

3.1.) Na época, você participou de alguma manifestação política? Se sim, como elas ocorreram? Havia uma grande adesão da população?

               Sim, participei de uma passeata contra a corrupção no governo na cidade onde moro. Me parece que foi um movimento bem organizado em todo o país. Nunca tinha visto ocorreram passeatas em tantas cidades no país. Para os padrões normais, muita gente participou e muitas cidades tiveram essas passeatas.

3.2.) Atualmente, participa ativamente de algum partido político?

               Não.

Entrevista 2

  1. História com a Política:

1.1.) Como começou seu envolvimento com a política?

Meu envolvimento com a política se iniciou no meu 8° ano, 2014, com as discussões a respeito da eleição da Dilma e a grande maioria das pessoas dizendo que o Brasil não sabia votar. Como não entendia nada na época comecei a estudar mais e me envolver com política.

1.2.) Apoia algum partido em específico? Desde quando? Já apoiava na época do Golpe?

Não tenho nenhum partido específico. Na época do golpe ainda não tinha tanto envolvimento e conhecimento político para apoiar partidos.

  1. Impeachment e a Mídia

2.1.) Qual a sua opinião sobre o período do Impeachment?

Um momento político muito conturbado, início do crescimento do sentimento antipetista, sem falar nas diversas notícias de corrupção no senado. Pra mim era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e vendo apenas os jornais tudo ficava ainda mais bagunçado, acredito que isso tenha sido proposital.

2.2.) Qual a sua memória sobre o que passava nas grandes mídias (Globo, CNN…)?

Nas grandes mídias só se passavam reportagens sobre casos de corrupção, mas mais direcionados aos políticos petistas ou de esquerda. Além disso, o governo Dilma era muito criticado, sem falar dos discursos que também sofriam várias críticas.

2.3.) Sua opinião sobre o Impeachment coincidia com o que se passava nas mídias?

Não. Me recordo de não conseguir entender muito bem o motivo do Impeachment ou dos movimentos do  "Vem pra rua" e "O gigante acordou", mas achava toda aquela movimentação muito esquisita. Não aceitava as explicações dos jornais e acabei não concordando ou sendo a favor do Impeachment.

2.4.) Qual a sua memória sobre a época em que o Impeachment era votado? Você se lembra do que as grandes mídias falavam a respeito?

Lembro que as grandes mídias estavam acompanhando a votação e mostrando os votos. Me recordo que estava uma completa bagunça, um falando por cima do outro, vários comentários misóginos, era um show de horrores. A mídia estava mais focada no resultado da votação e comentava os absurdos que estavam acontecendo.

2.5.) E após o Golpe, você se lembra do que foi noticiado?

Após o Golpe ainda continuavam as diversas notícias sobre casos de corrupção, mas uma visão mais esperançosa para o futuro. Não me recordo de tantas críticas ao governo Temer.

3

  1. Atuação Política

3.1.) Na época, você participou de alguma manifestação política? Se sim, como elas ocorreram? Havia uma grande adesão da população?

Não

3.2.) Atualmente, participa ativamente de algum partido político?

Não

Conclusões

A partir das respostas dadas, percebe-se um consenso que havia entre não só a imprensa, que influenciou a população de que o processo de impeachment seria a única solução para a crise econômica e política que se encontrava o Brasil. Assim, como pode ser observado com a contradição nas respostas da entrevista 1, já que apesar do entrevistado ser contra o processo de impeachment, mesmo assim participou das passeatas organizadas contra o governo e a favor do impeachment, dessa forma pode ser observada a confusão causada pelas mídias que o entrevistado 2 citou. A partir dessa influência e de tais contradições, é possível analisar o processo de influência da memória coletiva, que é construída por fatores como as grandes mídias, sobre as memórias individuais. Processo esse teorizado e descrito por Maurice Halbwachs.


Referências Bibliográfica

VIEIRA , Aiane de Oliveira. Crise política e impeachment:: uma análise dos efeitos da cobertura midiática na deposição da Dilma Rousseff. Impeachment, [s. l.], 2017.

RODRIGUES, Theófilo Machado. O papel da mídia nos processos de impeachment de Dilma Rousseff (2016) e Michel Temer (2017). Contracampo, Niterói, v. 37, n. 02, pp. 37-58, ago. 2018/ nov. 2018.

CORDEIRO, Veridiana Domingos. Por uma sociologia da memória:: análise e interpretação da teoria da memória coletiva de Maurice Halbwachs. 2015. Tese (Pós graduação em sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, [S. l.], 201