História Oral - Apis Teles, Laura Beatriz Doreto, Luis Augusto da Silva Alves, Rafaella Vitte
O entendimento comum sobre a época da Ditadura Militar Brasileira no interior de São Paulo.
[editar | editar código-fonte]INTRODUÇÃO:
[editar | editar código-fonte]O presente trabalho pretende mostrar diferentes perspectivas de pessoas que viveram o período da Ditadura Militar, que confere o período desde o golpe de 1º de Abril de 1964 até a eleição de Tancredo Neves em 1985, os aspectos que lembram são os que mais nos importam por carregar justamente o peso da memória significativa. Apresentar referenciais diferentes nos permite discutir e desenvolver diversos temas e, tendo uma pluralidade de pensamentos, facilita o entendimento da sociedade sobre o fato histórico político que ocorreu nessa época.
DESENVOLVIMENTO:
[editar | editar código-fonte]A história contemporânea é marcada por períodos que desafiaram os fundamentos da democracia e da liberdade individual, e entre esses episódios, as ditaduras se destacam como capítulos sombrios que deixaram marcas profundas nas sociedades que as experimentaram. O presente trabalho se propõe a explorar a perspectiva da ditadura através de um prisma singular: as narrativas pessoais registradas em entrevistas. Por meio dessa abordagem, buscamos transcender as análises convencionais e mergulhar nas experiências individuais que moldaram e foram moldadas pelos regimes autoritários.
A utilização de entrevistas como método de pesquisa oferece um acesso íntimo às vozes daqueles que viveram tempos de repressão política. Ao dar espaço para as narrativas pessoais, pretendemos capturar nuances e detalhes muitas vezes perdidos em análises mais abrangentes. Esta abordagem, além de contribuir para uma compreensão mais completa do impacto da ditadura na vida cotidiana, também permite a construção de um mosaico multifacetado das complexidades e contradições desse período histórico.
Ao longo deste trabalho, examinaremos as diferentes formas pelas quais as entrevistas podem iluminar os aspectos sociais, políticos e psicológicos da vivência sob regimes ditatoriais. Analisaremos as estratégias de sobrevivência, as transformações nas relações sociais, as implicações na identidade individual e coletiva, bem como as perspectivas de resistência que emergiram em meio à adversidade. Em última análise, nossa abordagem busca não apenas documentar os fatos históricos, mas também dar voz àqueles que estiveram à margem da narrativa oficial, promovendo uma compreensão mais rica e matizada da ditadura e de suas consequências duradouras.
Assim, separamos quatro pessoas do convívio social que presenciaram a partir do governo de Jânio Quadros (1961), com um foco principal em compreender o contexto histórico a partir de sua renúncia, que teve como objetivo a queda do seu vice-presidente João Goulart, que era visto como uma ameaça à política capitalista brasileira por conta de suas visitas pessoais em países com sistemas socialistas. Com isso, a primeira entrevistada é uma pedagoga, da cidade de Cordeirópolis, interior de São Paulo, que nasceu no ano de 1971 e conviveu 14 anos da Ditadura, ao ser questionada sobre o governo de João Goulart, a mesma respondeu:
"Lembro de quando eu chegava na escola e falavam para tomarmos cuidado com as idéias comunistas trazidas por Jango, todo mundo do meu convívio tinha medo do que o país iria se tornar, então sempre o enxerguei como uma ameaça. Isso apenas mudou quando eu entrei na universidade pública e aprendi o que realmente aconteceu".
É visível que os indivíduos que viveram em cidades pequenas no período relatado, não recebiam informações do que se passava dentro do país, nem as torturas. Focalizando nessa temática, os quatro entrevistados responderam que não ouviam falar sobre torturas e nem iam atrás de entender o que acontecia, de fato. O segundo entrevistado, é um autônomo de 53 anos, que viveu durante 15 anos da Ditadura na cidade de Cordeirópolis. Ao ser questionado sobre sua opinião durante a época, respondeu:
"Durante a Ditadura a gente não podia perguntar se aquilo era certo ou errado, apenas vivíamos aquilo sem entender de verdade. Lembro muito do meu pai dizendo que a segurança do país era muito forte durante a época, pois a polícia era repreensiva e que quem ficava quietinho não tomava".
As notícias e informações do país passavam por sérias censuras e não mostravam a realidade que se passava na cidade grande, portanto os indivíduos das cidades pequenas não possuíam tantas informações. Porém existiam algumas histórias que marcaram. As duas últimas entrevistadas são duas mulheres, da cidade de Marília, que vivenciaram o período e afirmaram:
"Realmente não víamos o que estava acontecendo no nosso país, não chegava as notícias de tortura e na escola só nos falavam que João Goulart era um perigo comunista. Porém, lembro de uma história que meu pai nos contava de quando vivia em São Paulo, de que em um determinado horário não podia mais sair de casa e se você saia, por qualquer motivo, eles te levavam para a delegacia e pegavam seus documentos para verificar se existia um passado na polícia. E se você estivesse de roupa vermelha ainda era noite na prisão na certa".
Por fim, podemos concluir que os sujeitos das cidades do interior de São Paulo não possuem até hoje, o entendimento do que aconteceu em seu próprio país durante o período de 1964 a 1985 e com essa pesquisa, pudemos ouvir o que os próprios indivíduos vivenciaram e o que seus familiares ensinaram sobre a temática. Entretanto deixo aqui um foco especial para a importância da universidade pública para o conhecimento aprofundado da história do Brasil, afirmou a pedagoga de Cordeirópolis:
"Agradeço ao meu pai e minha mãe que sempre me influenciaram a estudar e me tornar quem eu sou hoje. Graças ao meu curso de pedagogia na UNESP de Rio Claro, pude entender a história escondida do meu país".
CONCLUSÃO:
[editar | editar código-fonte]A memória, seja ela coletiva ou individual, desempenha um papel crucial na construção e compreensão da identidade e história de uma sociedade. Neste estudo, investigamos as relações entre memória coletiva e individual, ressaltando não apenas a coexistência, mas também a mútua influência entre esses dois aspectos. Ao examinar a memória coletiva, evidenciamos sua natureza como um elo social que une os integrantes de uma comunidade por meio de narrativas compartilhadas, mitos e eventos de importância significativa. Essa memória coletiva molda a forma como uma sociedade percebe seu passado e, por conseguinte, orienta suas escolhas e valores presentes.
Por outro lado, a memória individual contribui para essa tessitura coletiva ao agregar perspectivas singulares e experiências pessoais à narrativa comum. Cada indivíduo se torna um guardião de lembranças que, ao serem compartilhadas, enriquecem e ampliam a compreensão da comunidade sobre sua própria história. No entanto, é crucial reconhecer que a memória, tanto coletiva quanto individual, é suscetível a distorções, esquecimentos e reinterpretações ao longo do tempo. Essas distorções podem ser influenciadas por diversos fatores, como mudanças sociais, políticas e culturais, além das características intrínsecas do processo de lembrança.
A análise realizada por meio de uma contextualização histórica e através de relatos e entrevistas é de extrema relevância para compreendermos as dificuldades destes cidadãos que vivem no interior de São Paulo, de conhecer este acontecimento tão violento na história do Brasil. Analisar as consequências da ditadura militar brasileira sob as perspectivas dos sujeitos nos permitiu identificar os processos de apagamento histórico e a obliteração de problemas, como as torturas e violências presentes sobretudo nas capitais durante a época.
No contexto específico de períodos históricos marcados por regimes autoritários, como a ditadura, é fundamental reconhecer o impacto significativo que a censura e a repressão exercem sobre a formação da memória individual. Durante esses períodos, as políticas de controle da informação frequentemente distorcem, silenciam e moldam as narrativas históricas, influenciando diretamente a maneira como as pessoas recordam e interpretam eventos cruciais. A censura imposta durante esse período, não apenas limita a disseminação de informações, mas também impõe narrativas oficiais muitas vezes distorcidas.
Ao incorporar essas considerações ao estudo da memória individual por meio de entrevistas, é crucial reconhecer que as experiências vivenciadas durante a ditadura podem ser ofuscadas pelo medo, restrição e manipulação informativa. A autocensura e a imposição de uma narrativa única podem resultar em lacunas e distorções na recordação individual, afetando não apenas a precisão dos eventos recordados, mas também as emoções associadas a essas lembranças. Destarte, a compreensão completa da memória requer uma abordagem integrada, considerando tanto os elementos coletivos quanto individuais. É na interseção dessas duas dimensões que podemos encontrar uma narrativa mais rica e abrangente, capaz de capturar a complexidade e a diversidade das experiências humanas ao longo do tempo.
Em última análise, reconhecer as distorções causadas pela censura permite um entendimento mais profundo das complexidades da memória individual em contextos históricos desafiadores e contribui para uma narrativa mais completa e precisa sobre o passado. A compreensão entre as dinâmicas da memória coletiva e individual é fundamental para uma perspectiva crítica não apenas sobre o passado, mas também sobre o presente e o futuro de uma sociedade permitindo então, levantar grandes questionamentos dos diversos acontecimentos durante o regime, e identificar as suas consequências por meio dos relatos dos indivíduos. Diante disso, identificar as dificuldades enfrentadas pelos cidadãos, sobretudo os sujeitos que vivenciaram este processo violento, é fortalecer e garantir quanto a verdadeira história deste País e colaborar para evitar que qualquer desvio semelhante que possa permanecer até os dias atuais, possam ser eliminados.