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História Oral - Giovanna Maria Furlan; Pedro Megid Anunciação

Fonte: Wikiversidade

Disciplina: História do Brasil II

Prof. Paulo Eduardo Teixeira

Ciências Sociais – 2022 – Turma Matutino

Giovanna Maria Furlan R.A: 211064301

Pedro Megid Anunciação - R.A: 211060781


Os trotskistas da convergência socialista no período da ditadura militar

Pesquisas realizadas de forma online, usando da plataforma do Google Meet.


Introdução

O trabalho pressente procura contar a história da construção do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado), partindo do período da ditadura civil/militar brasileira, mais especificamente a partir do governo de Geisel com o começo da abertura política. A história ainda passa pelo começo da ditadura, o exilio no Chile no governo de Salvador Allende e o golpe de Pinochet. Ainda pincela sobre a ditadura da argentina, as relações internacionais desses países em ditadura. A história da Convergência Socialista passa pela ditadura e todos os males que os militantes da ditadura passaram, com presos políticos, torturas e mortes, uma história que, infelizmente, é banhada de sangue. Os lutadores trotskistas conseguiram resistir durante a ditadura sendo um grupo muito ativo dentro do movimento estudantil e no meio dos metalúrgicos do ABC paulista.


Objetivo:

Esse trabalho tem o objetivo de trazer a história de vários lutadores que sofreram com a ditadura, se distanciando da história oficial. Podendo ouvir os agentes da própria história, e da história do Brasil. Trazendo a perspectiva da construção de um partido político.


Desenvolvimento:

Decidimos partir da década de 70, onde a politica de guerrilhas, inspirada pela revolução cubana, havia sido derrotado no restante da américa latina pelas ditaduras militares estabelecidas no continente através do plano condor. Um grupo de militantes brasileiro se refugia no Chile e conhece Mario Pedrosa, um dos primeiros trotskistas brasileiros que apresentou a teoria da minoria do Secretariado Unificado, representante da quarta internacional da época. A teoria da minoria era representada por Nahuel Moreno, revolucionário trotskista argentino, que racha com Mandel, atual dirigente trotskistas da época. Esses militantes brasileiros, permaneceram no Chile até o golpe de Pinochet, onde eles decidem voltar para o Brasil, mas não para o Rio de Janeiro, onde estava mais perigoso. Então eles vão para São Paulo e decidem focar nos movimentos de estudantes universitários, que eram as massas mais organizadas até o momento. Dos cinco jovens brasileiros, que possuíam a missão de levar a posição da minoria para o Brasil, só quatro conseguem chegar. Tulio Quintiliano foi fuzilado no estádio nacional, se tornando o primeiro mártir da recente organização. Maria José Lourenço, Jorge Pinheiro, Valdo e Valdeires, foram os nomes daqueles militantes que retornavam ao Brasil depois de anos no exilio, chegando no começo da década de 70, fundando a Liga Operaria, que posteriormente se chamaria Convergência Socialista. Eles já não pertenciam ao secretariado unificado, mas sim a Tendencia Leninista Trotskista, que era a nova organização da quarta internacional, organizada por Moreno. Eles chegam em 1974, ano de eleição para o legislativo. Essas eleições foram muito significativas para a esquerda brasileira, pois o MDB, partido de oposição dos militares da época, ganham a maioria dos eleitos dentro do senado. A recém nascida Liga Operaria, atua nessa eleição apoiando os candidatos operários do MDB, e não o partido em si, pela quantidade de posicionamentos singulares que existiam dentro do mesmo. A estratégia adotada pelo militantes da época para o crescimento do partido clandestino foi se adentrar nos movimentos estudantis, principal antro de militantes na época, o setor que mais resistia contra a ditadura. Eles começaram pelo eixo Rio/São Paulo, atufando-se primeiramente em universidades como UFF, UFSCAR, UNICAMP. Em dois anos, com a militância velada, imprimindo jornais e panfletos via mimeógrafo, o partido cresceu de 4 para 100 militantes, um numero pouco expressivo, porem demonstra o trabalho incansável daqueles que não descansavam para fazer o trabalho de base em favor da revolução. Nesse período, a Liga Operaria se rebatiza com um novo nome, convergência socialista. Com um trabalho se consolidando nas bases universitárias, os dirigente então decidem que estava na hora de tentar entrar nas massas operarias, eles decidem o ABC paulista como principal foco de sua atuação. Nesse trabalho, é “recrutado” o que viria a ser um dos principais quadros do partido, Zé Maria. E atuação se estende por lá durante décadas. Em uma panfletagem em abril de 77, celebrando o 1 de maio, alguns militantes são parados pela polícia. A policia que estava procurando um fusca roubado por perto da estação de metrô, vê o fusca de Zé Maria e resolve investigar se era o mesmo fusca. Não era, porem eles encontram os panfletos de primeiro de maio e levam os subversivos para a delegacia. Lá eles ficam por dois dias até decidirem o que fariam com eles, pois nenhum tinha passagem pela polícia, e o panfleto não falava sobre socialismo ou contra a ditadura, só celebrava o dia do trabalho. Nesse momento, os militares vão até a casa dos militantes, e aí um amadorismo reconhecido por todos os participantes, os militantes moravam com outros camaradas, estes que possuíam muitos documentos comprometedores, e assim 8 camaradas foram presos. Eles foram torturados por dias, pela cadeira do dragão, pau de arara, agressões físicas e psicológicas das piores possíveis. O restantes da Convergência Socialista sabendo do que estava acontecendo com seus companheiros, tentam mobilizar as massas estudantis para uma campanha de libertação desses 8 militantes. Eles vão até os movimentos estudantis, procurando ajuda, e em primeiro momento o PC que dirigia o movimento estudantil se recusou, pois acreditava ser muito perigoso arriscar uma manobra como essa. Porem a CS levou operários para as salas do estudantes e eles faziam discursos dizendo que eles haviam construído as universidades, produziam tudo, e agora precisavam de ajuda dos estudantes para libertar os camaradas operários que estavam presos, o discurso foi comovente e todos concordaram em ir para rua para a libertação deles. Foi a maior passeata que havia ocorrido durante a ditadura, acontecendo primeiramente em São Carlos, depois na praça da Sé em São Paulo. Imagens das assembleias e passeatas são possíveis de ver em um documentário de época intitulado “o apito da panela de pressão”. As mobilizações foram tão fortes que chamaram a atenção da imprensa que queria ver aqueles detidos, que nem tinham registros ainda de estarem presos, pois as torturas aconteciam as “escondidas”. Então a policia para de torturar os prisioneiros uma semana antes. Para que as marcas e cicatrizes diminuíssem e depois soltam eles, pois o próprio conteúdo do panfleto pelo qual eles foram presos não havia mensagem subversiva. O partido cresce cada vez mais, dentro das massas de estudantes e nas fileiras operarias, assim a ditadura militar cria uma operação apenas para prender os atuantes da Convergência, operação essa que vai se intitular como “operação lotus”. Operação essa que teria implicações graves no futuro, podendo ter acabado com o próprio futuro da internacional, que se tornaria posteriormente a LIT (Liga Internacional do Trabalhadores). Em 1979, Nahuel Moreno, principal nome da internacional e fundador da Tendencia Leninista Trotskista vem ao Brasil, para uma reunião nacional do partido e DOPS armou uma enrascada para pega-lo. Capturando ele, mais a maioria dos dirigente nacionais e militantes de base do partido, a intenção da ditadura era deportar Moreno para Argentina, onde ele seria fuzilado. A partir desse cenário é feita uma mobilização internacional pela soltura de Moreno, tendo participado dessa campanha o próprio Gabriel Garcia Marques, a mobilização foi tão grande que o sucesso veio, extraditaram Moreno para Colômbia, onde ele já residia e não havia ditadura no momento.


Conclusão:

A Historia do partido continua, se tornando uma fração do PT depois da abertura política, e posteriormente virando o próprio PSTU nos anos 90. Uma historia de luta e resistência de revolucionários que nunca desistiram da revolução e que lutam por ela até hoje, uma história banhada de lagrima e sangue em busca da libertação dos grilhões capitalistas.

O trabalho presente surgiu de interesse de um dos participantes em compreender melhor a história do partido político em que atua, dessa conversa surgiu a ideia de entrevistarmos militantes antigos que compunham o partido dos anos 70 até a atualidade, passando por toda a história da militância. Como o grupo era pequeno, composto de apenas duas pessoas, os processos foram feitos inteiramente em conjunto, desde a escolha do tema, passando pela entrevista, elaboração escrita e até a apresentação. Em muitos momentos do próprio ócio foram surgindo ideias para a entrevista e montagem do trabalho. Sobre as entrevistas, sentimos um pouco de dificuldade pelo tardar das propostas que enviamos aos entrevistados em potencial, pois muitos desses são dirigentes nacionais e internacionais do Partido, dificultando espaço nos agendamentos de reuniões para entrevistas. Conseguimos marcar uma reunião com uma militante que atua no centro de formação do partido, que possuía muito conhecimento, porem não havia vivido o período. A saída que achamos foram lives que estes atores históricos fizeram durante a pandemia relatando a história em sua perspectiva. Ainda acerca da entrevista, fizemos uma entrevista de formato aberto, via google meet, que pareceu muitas vezes uma roda de conversa, devido ao conhecimento que adquirimos com o material disponibilizado online. O trabalho poderia ser aprimorado se tivéssemos conseguido as entrevistas a tempo, de qualquer forma as entrevistas foram agendadas, e o trabalho pode se desenvolver ao longo do tempo. É algo que fez parte da nossa formação acadêmica, da nossa formação como militantes e sobretudo, na nossa formação como seres humanos, buscando o processo de ouvir aqueles que tem muito a falar.