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História Oral - Marcelo Otavio Mozini Godoy

Fonte: Wikiversidade

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS – CAMPUS DE MARÍLIA



MARCELO OTAVIO MOZINI GODOY




TRABALHO DE HISTÓRIA ORAL

A Política Brasileira na segunda década do século XXI





MARÍLIA

2023





   INTRODUÇÃO

No ano seguinte à promulgação da Constituição Cidadã, datada de 1988, o Brasil celebrou sua primeira eleição direta para Presidente, após o obscuro período da ditadura militar. O candidato eleito pelo sufrágio universal, Fernando Collor, seria destituído do cargo poucos anos depois, em decorrência de escândalos deflagrados em sua gestão. Findado o breve período turbulento, o país vivenciou anos de estabilidade política, malgrado contradições que amiúde despontavam nos debates públicos. No ano de 2002, o metalúrgico e ex-líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, elegera-se Presidente da República, após sucessivos malogros. Sob o jugo deste, o país vivenciou um período de aceleração econômica, inclusão social e fortalecimento das instituições públicas. Ungido pela opinião pública, em virtude da política exitosa à frente de seu governo, sobretudo no campo econômico, Lula escolheu uma figura técnica para ser sua sucessora, não obstante esta não tivesse obtido, até então, nenhum cargo eletivo. Dilma Rousseff, ex-ministra da Casa Civil e de Minas e Energia, fora a escolhida. Eleita, seria a primeira Presidenta mulher na história do país, o qual, historicamente, é marcado pela secular constituição patriarcal.

Após um período de bonança econômica, a então Presidenta tentou, num primeiro momento, dar continuidade às políticas de seu antecessor. Contudo, em virtude da crise econômica de 2008, o contexto internacional já não era o mesmo. Confrontando-se com uma desaceleração econômica, o Brasileiro, imbuído de grandes expectativas, não obstante tenham sido geradas pelas políticas exitosas do Partido dos Trabalhadores, resolveu ir às ruas, em forma de protesto, no ano de 2013. Os movimentos de junho de 2013, a priori situados à esquerda do espectro político, logo foram cooptados pelos opositores de Dilma Rousseff, desobstruindo movimentos que perdurariam até a destituição desta, em 2016, a despeito de sua então reeleição, em 2014. Tal deformação no tecido social brasileiro culminaria, no ano de 2018, na eleição de um candidato de extrema direita, Jair Bolsonaro.

Portanto, mediante a sublevação da sociedade brasileira na segunda década do século atual, o presente trabalho cumpre, através de uma entrevista estruturada, e a técnica de história oral, auferir respostas acerca dos acontecimentos que marcaram o intervalo supracitado.


OBJETIVO



Em virtude dos acontecimentos que marcaram o Brasil na segunda década do século atual, o presente trabalho intenta explorar novas perspectivas acerca dos fatos ocorridos e, por conseguinte, suplementar o arcabouço teórico que visa o entendimento do passado recente, bem como o presente momento.



DESENVOLVIMENTO

      Para a consecução da pesquisa, foram arroladas cinco questões, escolhidas monocraticamente pelo pesquisador, as quais serão destinadas a uma entrevistada, também escolhida por aquele. As questões abordam temas distintos, não obstante haja um ponto de contato entre elas. A entrevista foi estruturada, previamente, pelo pesquisador. Ao final, será realizadas uma técnica de história oral, onde a entrevistada irá discorrer livremente sobre suas considerações finais.

     Mediante a distância física entre pesquisador e sujeito, a entrevista foi concebida por meios eletrônicos, mais precisamente por um aplicativo de mensagens instantâneas, sendo que as perguntas foram previamente elaboradas e disponibilizadas textualmente, e, as respostas por parte da entrevistada, retornaram por áudio. Posto isto, é importante salientar que os áudios serão aqui transcritos.

   O nome da entrevistada será preservado, sendo chamada, portanto, por “B”. B nasceu no ano de 1987, é bacharel em Direito e também em História da Arte.

As questões elaboradas pelo pesquisador foram as seguintes:

1 – Ao final dos governos Lula, o Brasil apresentava evidentes mudanças em seu tecido social, decorrentes das políticas públicas implementadas, bem como um período de ascensão econômica das classes sociais outrora desassistidas. Qual sua percepção acerca do país após a década Lulista?

2 - A sucessora de Luiz Inácio Lula da Silva é Dilma Rousseff, a primeira presidenta mulher da história do país. Para você, o que isso representou? E hoje, sabendo do desfecho do governo da então presidenta, você acredita que o sexismo teve papel marcante em todo processo?

3 – Como você, B, bacharel em Direito, interpretou a operação Lava Jato num primeiro momento? E depois, era evidente a motivação política por trás da operação?

4 – A diversidade, resultante das políticas de inclusão social dos governos petistas, ganhou aspecto central nesse período recente da história Brasileira. Você consegue associar o recrudescimento do conservadorismo Brasileiro com os avanços que o país logrou, na área cultural, sob os governos Lula e Dilma?

5 – Por derradeiro, gostaria de aproveitar o fato de você ser Historiadora da Arte. Após a eleição do Presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, a cultura foi continuamente açoitada, tendo sido relegada ao status de Secretaria – anteriormente tinha um próprio Ministério – além de severamente castigada pela falta de recebimento de recursos. Qual o papel da arte na defesa de nossa democracia?


TRANSCRIÇÕES DAS RESPOSTAS


Sem dúvida alguma, a década Lulista foi fundamental para diminuirmos a desigualdade social, tirando diversos brasileiros da linha da pobreza, democratizando o consumo que outrora era destinado somente às classes mais altas. O Brasil apoderou-se de um espírito de autonomia, projetando-se internacionalmente, expurgando o tal conceito de “vira-lata”. Nós, brasileiros, sentíamos orgulho de sermos reconhecidos como tal.

O país ficou conhecido como uma terra diversa, com variadas culturas, ligado à Amazônia. Exercemos papel de destaque na América Latina, nos tornando um país de destaque. Como estudante, à época, me lembro do primeiro ano que houve a política de cotas, e mesmo estudando longe da minha casa, eu tinha acesso aos programas culturais, além de conseguir manter-me com poucos recursos.

Foi motivo de muito orgulho, para mim, ter uma Presidenta mulher, e eu acho que nós sempre buscamos essa representatividade, sobretudo nas posições de poder, que sempre foram ocupadas por homens. E, a partir disso, conseguimos expandir essa representatividade para outras minorias, como os povos originários, o povo LGBTQIAP+.

Não há duvida de que houve sexismo na saída da Presidenta, resultado de uma grande injustiça, com a história dela, legitimamente eleita e, infelizmente, é muito duro lembrar de muitos momentos que antecederam o golpe. Lembro-me de muitas capas de revistas, a própria mídia, que adentravam no sexismo, estereotipando a mulher, e atribuindo características que jamais seriam direcionadas para os homens, como louca e agressiva. Nós temos uma grande dívida com a Presidenta Dilma.

Com relação à operação Lava Jato, a gente sempre deve ter em mente que qualquer crime ou suspeita de crime deve ser investigado, e punido, se for o caso, mas sempre respeitando a constituição federal, a legislação e o ordenamento jurídico. Mas, ficou evidente que ao longo da operação, estas garantias foram desrespeitadas, o que é inadmissível. No andamento deste processo, a gente percebe o quanto a mídia conseguiu influenciar a opinião pública, inflou a reação dos espectadores, sendo que um processo jamais deve ceder a esse apelo. Nós temos um arcabouço normativo, que guia esse andamento, e ele deve ser balizado no cumprimento da lei.

A lava jato, além de trazer à tona todas essas questões, ela evidenciou questões de suma importância, como a ocupação de cargos públicos, suscitando a necessidade de adotarmos um período de espera, vacância, para que tais cargos sejam ocupados. Enfim, ficam vários questionamentos importantes para nós, Brasileiros.

Com certeza conseguimos listar diversos ganhos na área da cultura, nos governos Lula e Dilma. No primeiro, foi criado o Instituto Brasileiro de Museus, o IBRAM, o que logrou que diversos recursos fossem destinados para aos equipamentos culturais. Diversas conferências acerca da cultura foram estabelecidas, trazendo não somente o poder público, mas também a sociedade civil para o debate cultural, o que é fundamental para desenharmos políticas públicas mais eficientes para o setor, reunindo todos os agentes que permeiam esse processo.

Tivemos um acréscimo no número das salas de cinema, que trouxeram mais recursos para o audiovisual. Portanto, tivemos diversas conquistas que não foram continuadas pelos últimos presidentes, o que faz com que agora, novamente o governo Lula, reanime essa área, para que possamos recuperar nossa cultura. Nossa ministra, Margareth Menezes, em diversas falas preconiza o aumento das verbas destinadas à área, o que faz com que tenhamos uma esperança muito grande, permitindo sonharmos com um país diverso, que exporte nossa produção cultural, reanimando essa cena tão debilitado em virtude da pandemia e, sobretudo, o último governo.

A arte exerce o papel político que projeta a realidade e também sonha com novas possibilidades de futuro. E ela é sobretudo resistência. O que nós vimos nos últimos quatro anos dialoga com isso, a cena cultural, os artistas, produtores, educadores, todos foram muito resistentes, tendo que manter-se fiéis aos seus propósitos, para que a desídia do governo não destruísse nossa potencia artística. Foi um grande alívio a troca de presidente, e que agora nós possamos fortalecer nosso ministério. Basta ver que, a despeito de tudo que produzimos e nosso tamanho, nós não tivemos sequer um ministério da cultura no último governo. É inaceitável.

Agora, de início, nós tivemos um presidente que organizou uma posse tão bonita, com diversos shows, artistas de origens variadas. Isso é muito rico! Mostra o que nós somos capazes de produzir. Então nós, do setor, ficamos muito esperançosos. Eu, como historiadora da arte, fico muito orgulhosa de ver que estamos aqui, apesar de tudo, e vamos continuar seguindo produzindo, e pesquisando, toda essa imensa riqueza cultural que é o nosso país.