Humanidades Digitais/Aula 10

Fonte: Wikiversidade

Aula 10: Remix, Mashup e Memes[editar | editar código-fonte]

No cenário contemporâneo, a relação entre emissor e receptor vem cada vez mais sendo alterada, pois com o advento da internet o receptor que antes tinha menos influência no processo de produção da notícia passa

Durante décadas, a máquina de escrever foi símbolo do jornalismo

a fazer parte do processo comunicacional, podendo interagir com ela ou fazer alterações que podem ressignifica-la. Esse processo foi facilitado pelo rápido desenvolvimento tecnológico que por consequência trouxe um maior acesso às ferramentas de produção pelo público em geral.

Para Machado e Palacios (2007) o processo jornalístico compreende as seguintes etapas: apuração, produção, circulação e consumo. Apesar de parecerem ser lineares, essas fases não ficam estanques esperando que uma seja concluída para que outra seja iniciada, ou seja, por mais que o processo teoricamente seja concluído no consumo da notícia, este pode ser continuado com a recirculação da notícia por parte de seus interagentes que podem comentar e interagir com ela. E muitas vezes, esse processo de recirculação volta aos veículos jornalísticos ao noticiarem que algo “foi bastante discutido” ou “repercutiu” nas redes sociais.

Porém, a recirculação não é uma característica presente apenas nos dias de hoje uma vez que na época em que a imprensa escrita era dominante, depois de ler uma notícia, as pessoas comentavam entre si e a repercussão era feita de forma oral. Os próprios veículos estimulavam a interação com o público através do envio de cartas ou da publicação de artigos de opinião dos leitores. A internet tornou-se um novo ambiente para a ocorrência da interação entre veículo e público, trazendo ferramentas como os campos de comentários ou a função de compartilhar conteúdos em sua página de rede social.

A origem dos memes[editar | editar código-fonte]

O termo "meme", cunhado por Richard Dawkins (1976) em seu livro "O gene egoísta" o compara a um gene. O meme é, para memória, o que o gene é, na genética: a sua unidade mínima. Ele é de fácil replicação e adaptação. Dawkins enxerga no meme "a menor unidade complexa de reprodução cultural. Isso significa que em determinado ambiente um símbolo, uma imagem, um artefato ganha características e se transforma em função de aspectos sociais e culturais desenvolvidos a partir de apropriações e reproduções.". Nessa mirada, podemos entender porque algo que é altamente compartilhado em outro país pode não fazer sucesso no Brasil, por exemplo, pois a cultura e contexto estão ligados diretamente ao seu significado. É a construção comunal dessas histórias e significados (Milner e Burguess).

Richard Dawkins, o criador do termo "meme"

Com o advento das redes sociais, como Facebook e Whatsapp, o compartilhamento de memes se dá de maneira muito rápida e contínua.

A intertextualidade é importante quando falamos de memes. “ ...espera-se que os leitores/ouvintes consigam reconhecer o intertexto por meio da ativação de sua memória discursiva, uma vez que, sem isso, a significação estará prejudicada.” (BUZATO P.1207)

Os memes no contexto social[editar | editar código-fonte]

Importante ressaltar que grandes debates e discussões viram meme rapidamente na internet. O canal Porta dos Fundos, no Youtube, inclusive, gravou um vídeo onde satiriza essa "grande indústria" de criação de imagens de cunho humorístico de rápida viralização.

Diversas páginas no Facebook e Instagram se dedicam a criar conteúdos meméticos para engajar os seus fãs. Grupos no Facebook como o LDRV (Lana Del Rey Vevo) são a base de diversas campanhas publicitárias e memes que encontramos na internet.

Uma das principais características desse tipo de linguagem é o seu tom "amador" e descompromissado com a qualidade estética. A não necessidade de utilização de grandes recursos tecnológicos permite a criação em grande escala dessa nova forma de se comunicar. É possível encontrar, por exemplo, sites como o Meme Generator.

Imagem e Jornalismo[editar | editar código-fonte]

A imagem jornalística se apresenta sob a forma de representação visual, tanto por meio de fotografias como por meio de infográficos. Além disso, apresentam-se na maioria das vezes ancoradas no texto, que

Fotomontagem de 16 images, manipuladas digitalmente através do Photoshop com a intenção de formar uma paisagem real

apresenta um caráter complementar, nos dizendo o que olhar na imagem.

Na internet, a imagem jornalística pode circular tanto por meios tradicionais, como é o caso de um site de web jornal, quanto pelo público leitor que pode circular a imagem fora de seu contexto original em suas redes sociais, por exemplo, ou podem ser combinadas para gerar novos significados, como é o caso da fotomontagem.

A combinação de elementos na fotomontagem tem por objetivo possibilitar o registro de novos significados e a circulação da imagem ressignificada. Desse modo, no ambiente conectado as imagens podem ser remixadas ou recombinadas fora do seu contexto.

Cibercultura remix e apropriações[editar | editar código-fonte]

O remix pode ser visto como uma forma de colagem e compreendido como um processo criativo em que os elementos são combinados de forma consciente

Cibercultura

trazendo assim “vínculos culturais, imagéticos e imaginários” (LEÃO, 2012), características que fazem com que o remix possa ser considerado como uma linguagem. Na internet, essa prática é potencializada, gerando a apropriação de imagens pelo público que parte de um conteúdo prévio e acrescenta sua marca para gerar uma nova circulação.

Para Lemos (2005, p.1) a remixagem é o princípio que rege a cibercultura, pois a combinação entre as tecnologias e os processos comunicacionais geradas pela remixagem daria lugar a uma nova reconfiguração cultural, que o autor chama de cibercultura remix. Ainda segundo Lemos (2005, p.1), a cibercultura se caracteriza por três leis fundadoras que também guiam o processo de remixagem, são elas: “a liberação do pólo da emissão, o princípio de conexão em rede e a reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais”. Ademais, outro ponto em comum é o processo de apropriação que está na essência da cibercultura, além de estar no cerne do processo de remixagem.

No contexto jornalístico, o remix pode ser encontrado em sites de notícias satíricas, como é o caso do site Sensacionalista que se apropria de elementos reais para produzir conteúdo humorístico.


Referências[editar | editar código-fonte]

Ler:


BITENCOURT, Maria C. A., GONZATI, Christian. House of Memes: Midiatização do Ativismo e Transformações no Jornalismo a partir de uma (ciber)cultura Pop. Revista Geminis, ano & n.1 p. 101-116

ZAGO, Gabriela da Silva. A recirculação do acontecimento jornalístico em imagens remixadas: Cibercultura e apropriações. Rizoma, Santa Cruz do Sul, v. 1, n. 1, p. 85, julho, 2013


Leituras Complementares:

BRUNS, Axel. Distributed Creativity: Filesharing and Produsage

BUZATO, Marcelo El Khouri et al. Remix, mashup, paródia e companhia: por uma taxonomia multidimensional da transtextualidade na cultura digital. Rev. bras. linguist. apl. [online]. 2013, vol.13, n.4 pp.1191-1221.

CHAGAS, Viktor. A febre dos memes de política. FAMECOS, Porto Alegre, v. 25, n. 1, janeiro, fevereiro, março e abril de 2018.

DIÓGENES, Paulo César Rodrigues. Sobre máquinas de escrita e remistura: o método cut-up de William Burroughs. ESTUDOS DE LINGUAGEM E CULTURA. Vol. 13 nº 25 – 2º Sem. 2012

GLEICK, James. A informação : Uma história, uma teoria, uma enxurrada São Paulo : Companhia das Letras, 2013. Cap. Um mergulho no caldo dos memes.

LEÃO, Lucia. O remix nos processos de criação de imagens e imaginários midiáticos. Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Imagem e Imaginários Midiáticos” do XXI Encontro da Compós na UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, de 12 a 15 de junho de 2012.


Outras leituras complementares


Prefeito e vice de cidade do RS ‘vistoriam’ obras em fotomontagem e viram meme (Internautas desconfiaram da veracidade da foto e o chamaram de ‘prefeito chroma key’; postagem foi apagada em rede social da prefeitura) – POR DANIEL SALGADO, O Globo, 19/04/2018 13:05 / atualizado 20/04/2018 5:23

SOCIAL MASHUP

How Meme Culture Is Getting Teens into Marxism – Hannah Ballantyne – VICE -APR 27 2017

MASSIVE ATTACK – How a weapon against war became a weapon against the web – By Sean Illing – Vox Apr 14, 2017

HERB, Silvia. Re-Imaging War: Internet Memes based on War Photography as an Act of Resistance against Visual Manipulation. American International Journal of Social Science Vol.5, No. 4; August 2016