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Humanidades Digitais/Aula 3

Fonte: Wikiversidade

Ciberspaço e Cibercultura

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O termo ciberespaço aparece em um conto de William Gibson (Burning Chrome) e em um de seus romances mais famosos da chamada literatura cyberpunk (Neuromancer) de 1984.

Para Lévy, ele é composto por um conjunto de protocolos, comutação por pacotes, redes distribuídas, softwares, cabos ou fibras conectadas, transmissões por satélites utilizada de diversas formas e com diferentes propósitos. Essa nova configuração marca o que podemos chamar de sociedade pós-industrial, um termo que vem caindo em desuso com o tempo.

Steven Levy

O termo cibercultura (todos termos derivados de algum modo da cibernética) costuma se referir a (1) um certo projeto utópico ou distópico produzidos por hacker e pela literatura cyberpunk, (2) a cultura produzida por um tipo de interface computacional muito particular – a internet, (3) alguns novos modos de vida e estilo baseado no consumo e uso de novas tecnologias de comunicação e (4) uma nova teoria da comunicação baseada na lógica das novas mídias (Felinto)

O ciberespaço e a cibercultura, graças à arquitetura das redes, pode combinar uma combinação sincrônica com uma comunicação assíncrona. Ela pode permitir a comunicação um-a-um, um-para-muitos, poucos-para-poucos, muitos-para-muitos etc.

Cultura Hacker/Cultura da Internet

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A Internet (na qual o ciberespaço e a cibercultura foram desenvolvidos) não foi, apenas, o produto de um desenvolvimento tecnológico. Ela foi produto de uma série de visões de mundo sobre o que deveriam ser os computadores e as redes. O perfil das pessoas que participaram de sua construção e as visões que traziam sobre a importância da computação no mundo contemporâneo, geraram certos valores (muitas vezes mitificados) da “Cultura Hacker” ou "Ética Hacker".

A cibercultura, por sua vez, é marcada pela possibilidade de uma escrita diferente baseada em hiperlinks, que fazem com que textos possam ser conectados uns aos outros de uma forma que podemos chamar de rizomática. Podemos navegar entre eles de forma não-linear, saltando por blocos de informação, combinando, texto, som, fotos, vídeos etc.

A Internet (e as mídias digitais, de um modo geral) tornou-se um espaço "natural" de práticas de recombinação e de remixagem. Castells observou que a cultura da Internet é parte da cultura dos criadores da Internet.

E é ela que, atualmente, está sendo colonizada por interesses mercantis que os criadores originais da Internet procuraram manter afastados. Na verdade, eles desconfiavam tanto dos Mercados quanto dos Governos.

Para Castells, a Internet é uma combinação de quatro grandes camadas: a) a cultura hacker, baseada na b) lógica meritocrática (uma sub-categoria da cultura hacker), c) um certo tipo de cultura empresarial e d) na cultura das comunidades virtuais (herdeiras da contracultura).

The spirit behind other hackers' creations is very similar to this. Torvalds is not alone in describing his work with statements like "Linux hackers do something because they find it to be very interesting." For example, Vinton Cerf, who is sometimes called "the father of the Internet," comments on the fascination programming exerts: "There was something amazingly enticing about programming." Steve Wozniak, real personal computer, says forthrightly about his discovery of the wonders of programming: "It was just the most intriguing world." This is a general spirit: hackers program because programming challenges are of intrinsic interest to them. Problems related to programming arouse genuine curiosity in the hacker and make him eager to learn more.[1]

A Cultura Hacker não reconhece a autoridade de títulos acadêmicos ou hierarquias tradicionais. O lugar que um hacker ocupa em um projeto qualquer depende da avaliação que ele tem de seus pares. O conhecimento que ele (ou ela - podemos falar disso em outro momento) produz deve ser um conhecimento livre (capaz der acessado e modificado livremente) A Cultura Hacker defende o livre acesso aos computadores. Toda informação deve ser livre, ou seja, é preciso ser livre para criar, apropriar, modificar, compartilhar. As primeiras formas de licenças livres para bens intelectuais apoiaram-se nesses valores (Richard Stallman e a licença GPL)

Howard Rheingold

Hackers não devem ser julgados por instituições, mas por seus pares e por sua reputação. Não acreditam na centralização ou na autoridade instituída (defendem a colaboração e o compartilhamento). A atividade hacker é uma arte, pois há beleza nos códigos.

The same attitude may also be found in any number of other spheres of life among artists, artisans, and the "information professionals," from managers and engineers to media workers and designers, for example. It is not only the hackers' "jargon file" that emphasizes this general idea of being a hacker. At the first Hacker Conference in San Francisco in 1984, Burrell Smith, the hacker behind Apple's Macintosh computer, defined the term as follows: "Hackers can do almost anything and be a hacker. You can be a hacker carpenter. It's not necessarily high tech. I think it has to do with craftsmanship and caring about what you're doing." Raymond notes in his guide "How to Become a Hacker" that "there are people who apply the hacker attitude to other things [than software], like electronics and music — actually, you can find it at the highest levels of any science or art."[2]

A cultura comunitária é fundamental nesse meio e entre seus representantes estão Stewart Brand, Howard Rheingold e outros que ajudaram a construir a rede WELL (Whole Earth ‘Letronic Link) na Califórnia. Essa camada da Internet é herdeira dos movimentos contraculturais e têm duas regras básicas: (1) a comunicação é livre e horizontal (2) a liberdade é um valor compartilhado.

Whole Earth Catalog
Palestra ufabc-uscs divulgação científica-open science

Nesse movimento, há uma profunda crença na capacidade que os próprios usuários das redes tem para encontrar as soluções para seus problemas sem intermediários oficiais. A Comunidade dá grande importância ao registro da memória e compartilhamento do aprendizado gerados em suas buscas por alternativas e soluções para determinados problemas. Todo novo ingressante deve ter acesso a esse espaço para se familiarizar com a história do grupo.

Já a cultura empresarial é a base do Vale do Silício. Há um investimento no futuro. Os projetos precisam desenvolver algum tipo de escala que seja capaz de atrair investidores que apostam em vender o futuro. Ela demanda um trabalho compulsivo e incessante de produção e observação de inovação com potencial de mercado.

De que modo a Teoria das Mídias Digitais podem ser consideradas Teorias da Comunicação no sentido que conhecíamos até então?


Ler:

LEVY, Steven. Os Heróis da Revolução. São Paulo: Évoara, 2012 (Linha do tempo da Internet / Cap. 2 – Ética Hacker / Cap. 12 – Ada para sempre / Pósfácio )

The Californian Ideology, por Richard Barbrook e Andy Cameron, publicado na revista Mute, Vol 1, Nº3 em 1º de Setembro de 1995./Traduzido por Marcelo Träsel


Complemento:

The Californian Ideology, por Richard Barbrook e Andy Cameron, publicado na revista Mute, Vol 1, Nº3 em 1º de Setembro de 1995./Traduzido por Marcelo Träsel

Ver, ainda: Os 20 anos da "Ideologia Californiana"

CASTELLS, Manuel. A Galáxia de Gutemberg. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. Cap.2 – A cultura da internet.

DOIMO, Amanda C. FRAGA, Laís S. Hackers: Discursos e Perspectivas. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 3(gt25):1-21

SILVEIRA, Sergio Amadeu da. Ciberativismo, cultura hacker e o individualismo colaborativo. Revista USP, 2010

TURNER, Fred, From Counterculture to Cyberculture: Stewart Brand, the Whole Earth Network, and the Rise of Digital Utopianism (2006) University of Chicago Press

__________."Where the Counterculture met the New Economy: The WELL and the Origins of Virtual Community", Technology and Culture, Vol.46, No.3 (July, 2005), pp. 485–512.

WARK, McKenzie. A Hacker Manifesto. Harvard University Press Cambridge, Massachusetts, and London, England, 2004


Outras leitura complementares (reportagens)

“Los hackers son los científicos de la nueva Ilustración” - Bernardo Gutierrez, 20 min, 23 de enero de 2012

Time Magazine Staff. 1965. “The Cybernated Generation.” Time. April 1965.

The essential cyberpunk reading list – Diana Biller – io9

Defining Cyberculture (v. 2)- Jakub Macek(Translated by Monika Metyková and Jakub Macek)

O que é Affordance e como projetar pensando nisso – Blog HomemMáquina

ELAS VÃO HACKEAR O MUNDO – Marcela Morgado – TRIP, 05/04/2018

The Caos Computer Club

The Chaos Computer Club e. V. (CCC) is Europe’s largest association of hackers. For more than thirty years we are providing information about technical and societal issues, such as surveillance, privacy, freedom of information, hacktivism, data security and many other interesting things around technology and hacking issues

The Internet Biographies – Hillary W. Poole, Laura Lambert, Chris Woodford, Christos J.P. Moschovitis

Dicionário Colaborativo das gírias da cultura hacker(Eric Raymond)

Steward Brand – Spacewar ROLLING STONE · 7 DECEMBER 1972/ Stewart Brand Recalls First ‘Spacewar’ Video Game Tournament - Chris Baker, Revista Rolling Stone, 23/05/2016

The Electronic Kool-Aid Acid Test – Tom Wolf

Burning Chrome – William Gibson – July 17, 2000 (autor de Neuromancer)

O hacker barbudo que inspirou Steve Jobs e os fundadores da Apple - John Draper, também conhecido como "Captain Crunch", vem ao Brasil para evento de cultura hacker e prepara sua biografia. Flavia Martin, Medium, nov 8, 2017

Notas de Rodapé

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  1. (The Hacker Ethic And the Spirit of the Information Age - By PEKKA HIMANEN - The New York Times)
  2. (The Hacker Ethic And the Spirit of the Information Age - By PEKKA HIMANEN - The New York Times)