Humanidades Digitais/MPG/Aula13

Fonte: Wikiversidade

A internet e a democratização[editar | editar código-fonte]

A internet com o seu caráter interativo nunca antes visto, além de oferecer uma extensa variedade e uma grande quantidade de informação, também reduz os custos da participação política proporcionando o estabelecimento de uma relação entre o público e os políticos através da troca de informação e do debate de forma menos burocrática.

É recorrente que em grande parte da literatura da Cyberdemocracia seja encontrado uma ênfase exagerada na associação entre as novas tecnologias e a democracia, porém simplificar a internet apenas como um instrumento da democracia pode gerar alguns equívocos, pois em primeiro lugar é necessário que além da oferta de estruturas

Concepção de Esfera Pública desenvolvido por Jürgen Habermas

comunicacionais eficientes, apresentem-se também cidadãos motivados a participar e se engajar no debate. Além disso, se por um lado as novas tecnologias possibilitam um local para a participação descentralizada, por outro também sustentam a centralização extrema do poder, como é o caso das empresas que disputam espaço para a venda de serviços e produtos em um mundo quase sem fronteiras.

Habermas (1995; 1997) entende a democracia de uma forma pluralista. O autor acredita que de um lado está estabelecida a comunicação entre os cidadãos e de outro está a relação entre a tomada de decisão institucionalizada e a opinião pública que apesar de informal, é racionalizada.

A comunicação informal é um importante recurso para a esfera pública pois possibilita a formulação de demandas e preocupações públicas que podem ser enviadas aos corpos administrativos.

A universalização do acesso à internet e o debate público online[editar | editar código-fonte]

A internet se mostra como um importante espaço aberto a conversa que se desdobra em novas conversações políticas, permitindo que seus participantes interajam localmente transcendendo barreiras físicas com discussões em nível global. Porém, inevitavelmente, a universalização da internet esbarra na barreira do acesso, pois para ser considerada universal é necessário que nenhum participante ou grupo de debate sejam excluídos de ter acesso as discussões. Essa desigualdade no acesso às tecnologias de comunicação causa grandes assimetrias entre os conectados e os desconectados.

Para discutir a barreira do acesso às tecnologias é necessário ir além das dificuldades estruturais causadas pelos elevados custos das tecnologias e expandir suas causas também ao alto índice de analfabetismo existente, principalmente em regiões periféricas. Anthony Wilhem, chama a atenção para os diferentes tipos de acesso e utilização dos meios para assim entender a lógica da exclusão digital. Segundo o autor, essas barreiras acabam por reforçar desigualdades socioeconômicas e culturais já existentes. Gerando assim um mecanismo retroalimentador, que reforça assimetrias e amplia as exclusões (Wilhelm, 2000, pp. 73-85).

Para evitar o crescimento das desigualdades criados por essas barreiras de acesso é necessário que sejam criadas políticas que garantam o acesso comunitário às tecnologias em locais públicos como bibliotecas e escolas por exemplo. Além disso, é fundamental a formação e capacitação das pessoas para que consigam utiliza-las além de uma formação discursiva que possibilite o desenvolvimento desses cidadãos para o debate público.

É relativamente utópico que apenas com o acesso total as tecnologias, tenhamos uma sociedade 100% engajada em todos os assuntos políticos, porém é possível que com o maior acesso a espaços de discussões mais pessoas se envolvam em discussões que afetem diretamente suas vidas, possibilitando ainda que parcialmente, uma diversidade maior de pensamento nos espaços de debate.

A configuração da participação virtual não segue a mesma lógica das presenciais, pois a internet possibilita que um número maior de pessoas esteja presente nas discussões de forma que não haja nenhum tipo de coação por parte do Estado. Além disso, o anonimato também é uma característica presente no ambiente virtual que pode contribuir que um número maior de pontos de vista seja levados em consideração durantes discussões, pois uma vez que as desigualdades vividas no “mundo real” não estão presentes no contexto, é possível o estabelecimento de um ambiente livre de intimidação ou medo. Entretanto, a internet também pode ser utilizada de forma hierárquica, aproximando grupos que disseminam ideias racistas e xenofóbicas, por exemplo.

Também é questionado se o debate público em meio online pode ser considerado como debate, pois é comum que se encontre comentários sem edição e sem filtros que tem como objetivo principal apenas a exposição de uma opinião pessoal e não o estabelecimento de uma prática argumentativa que leve a exposição de diferentes pontos de vista que levem a resolução de determinadas questões. Porém, havendo condições apropriadas de conexão e o interesse em participar dos cidadãos, é através do exercício do debate que será possível clarear os problemas existentes e os interesses que o envolvem, tornando as pessoas através de um processo de aprendizagem mais críticas e mais envolvidas nas questões públicas.