Humanidades Digitais/lt/Aula1

Fonte: Wikiversidade

Histórico do termo “Humanidades Digitais”:[editar | editar código-fonte]

O termo vem sendo usado há menos de duas décadas. Em 2002, John Unsworth, um professor universitário dos Estados Unidos, foi o primeiro a utilizar a expressão. Contudo, só passou a ser utilizada em maior escala em 2004, a partir da publicação do livro Companion to Digital Humanities. Relaciona-se o êxito da designação “Humanidades Digitais” ao fato de que ela abarca outras nomeações, como Computação para as Humanidades, Informática Aplicada à História, Linguística Computacional, Patrimônio e Computação, Arte Digital.

O que são as Humanidades Digitais?[editar | editar código-fonte]

As Humanidades Digitais representam uma forte ligação entre a investigação em Humanidades e a incorporação de métodos e ferramentas das Tecnologias Digitais. Existem distintas definições que tratam o termo “Humanidades Digitais” às vezes como designação de um conjunto de práticas, às vezes como um novo campo acadêmico.  Contemporaneamente, tem surgido na forma de um reposicionamento intelectual, político e ideológico diante da inclusão das tecnologias computacionais em diversos setores da sociedade. Essa diversidade de designações pode significar que a área ainda está se desenvolvendo e procurando se afirmar, tanto entre o meio acadêmico quanto entre o público em geral.

O Manifesto das Humanidades Digitais, elaborado no ThatCamp 2010, trata as Humanidades Digitais como uma “transdisciplina” que incorpora os métodos, os dispositivos e as perspectivas heurísticas das ciências humanas e sociais, ao mesmo tempo em que mobiliza as ferramentas e perspectivas singulares abertas pela tecnologia digital. Eles deixam claro que a opção da sociedade pelo digital altera e questiona as condições de produção e divulgação dos conhecimentos.

No livro Companion to Digital Humanities, a professora Susan Hockey, da área das Ciências da Informação na University College London, trata as Humanidades Digitais como uma área acadêmica interdisciplinar que fornece metodologias específicas da área das tecnologias digitais para serem incorporadas na investigação nas Humanidades como um todo.

Já P. O’Donell define “Humanidades Digitais” como uma “atividade interdisciplinar que transfere para os meios digitais o trabalho tradicional com textos, objetos culturais e outros dados, com isso estendendo radicalmente seus usos potenciais“.

Para James Cummings, “Humanidades Digitais” designa um campo de estudos cujo objeto de (auto-)reflexão é a própria aplicação da tecnologia digital nas investigações em humanidades. Já para Alex Reid, as humanidades digitais, simplesmente, são as humanidades do momento atual.

Percebe-se, então, uma intrincada relação entre práticas tradicionais e novas tecnologias. Como também está claro no Manifesto de 2010, as práticas nesse campo não negam o passado: apoiam-se, pelo contrário, no conjunto dos paradigmas, savoir-faire e conhecimentos próprios dessas disciplinas, mobilizando simultaneamente os instrumentos e as perspectivas singulares do mundo digital.

Exemplos:

Thesaurus Linguae Graecae: projeto pioneiro iniciado em 1972 e que constitui hoje a maior e mais bem trabalhada coleção de textos clássicos sob forma digital. É um exemplo da transferência do saber acadêmico tradicional ao ambiente digital

HyperCities: trata-se de uma rede de representações de mapas de satélite atuais com mapas antigos de diversas cidades do mundo. É um exemplo de manipulação computacional de outros objetos além dos textos. Nesse projeto, percebe-se a mobilização de outros saberes tradicionais, além da filologia, nos projetos de Humanidades Digitais, e é, sobretudo, representativa do caráter transdisciplinar do campo.

Sobre a transdisciplinaridade: É fundamental que haja uma profunda compreensão entre todos os pesquisadores neste movimento- os ditos ‘tradicionais’ e os da área de computação. Os humanistas precisam se tornar ‘sujeitos da tecnologia’ e aprender a “pensar como seus computadores”.

História da Computação nas Humanidades[editar | editar código-fonte]

1949: Padre jesuíta Roberto Busa iniciou a elaboração do Index Thomisticus , que analisou a obra de São Tomás de Aquino. Utilizou máquinas de processamento informático desenvolvidas na Segunda Guerra Mundial. Naquele tempo, o processamento era feito em computadores que ocupavam salas inteiras e com cartões perfurados.

1960 a 1990: Os computadores passaram a ter cada vez maior capacidade de armazenamento e processamento. Dessa forma, a computação passou a ser utilizada de forma significativa, por exemplo, na História Quantitativa, pela elaboração de grandes bases de dados com informação sobre longas séries de preços, salários ou impostos.

Década de 1980: Surgimento dos computadores pessoais, que passaram a ser usados fora do ambiente universitário ou empresarial. No entanto, se criou um afastamento entre as áreas de Humanidades, como Estudos Literários ou Demografia, que sempre haviam dependido dos departamentos de computação e se mantiveram afastados dos processos de planificar, desenvolver e até, em algumas situações, de utilizar as ferramentas digitais em seus projetos.

1991: advento da Internet. Possibilitou cada vez mais interação entre os investigadores em Humanidades e os meios digitais. Grandes projetos de digitalização e disponibilização online de fontes iniciaram e a relação dos acadêmicos com os meios digitais foram alterados significativamente através do processador de texto, e-mail, bases de dados, sistemas de informação geográfica.

2005: explosão da Web 2.0 e das redes sociais (como Twitter, o Youtube, o Facebook ou o Academia.edu), que possuem conceitos, linguagens e ferramentas próprias. Este momento fundamental coincide com a divulgação da expressão “Humanidades Digitais”. Com essas ferramentas da web social, a forma de trabalhar passa a ser facilitada pela possibilidade de criação de redes, partilha de resultados, dar a início a trabalhos colaborativos e interdisciplinares, etc.

Comunidades e comunidades de práticas das Humanidades Digitais[editar | editar código-fonte]

A Comunidade de Humanidades Digitais é constituída pelo conjunto de investigadores que faziam da ligação entre computação e Humanidades o centro da sua atividade científica e acadêmica.

As comunidades de práticas são geradas pelo uso comum de uma mesma ferramenta ou metodologia digital. O foco está na efetiva aplicação- em oposição à mera formulação teórica- de ideias, conhecimentos ou métodos das disciplinas das Humanidades. O conceito de ‘comunidade’ funciona entre os humanistas porque cria uma identidade entre pesquisadores que vêm de áreas diversas que pouco se comunicariam- se não fossem as metodologias digitais servindo como elemento agregador e ponto de contato. Um exemplo de uma uma das comunidades de práticas mais dinâmicas é a do TEI (Text Encoding Initiative), dedicada à edição eletrônica de textos e fontes.

Referências Bibliográficas

ALVES, Daniel. As Humanidades Digitais como uma comunidade de práticas dentro do formalismo académico: dos exemplos internacionais ao caso português , Ler História [Online], 69 p. 91-103,| 2016

Manifesto das Humanidades Digitais – 26 de março de 2011/Um breve panorama – Maria Clara Paixão de Sousa, setembro de 2011