Introdução à Audiologia Básica/Audiometria Tonal Liminar/Conceitos Iniciais/script

Fonte: Wikiversidade

Na prática clínica audiológica, o profissional tem como objetivo determinar a existência da perda auditiva, assim como definir, quando possível, o local da alteração no sistema auditivo. Dentre os procedimentos existentes, a audiometria tonal liminar é o método comportamental utilizado para verificar a audibilidade por meio da pesquisa dos limiares auditivos por condução aérea e óssea.[1]

Define-se limiar auditivo como o nível mínimo de pressão sonora de um sinal acústico capaz de produzir uma sensação auditiva (ANSI S3.20-1973). Contudo, na prática clínica, o limiar auditivo é definido como a menor intensidade do sinal percebida em 50% das apresentações.[2]

Na análise da audiometria tonal liminar, enquanto o limiar auditivo obtido por condução aérea demonstra a presença da perda auditiva, permitindo classificá-la quanto ao grau do comprometimento, a pesquisa do limiar auditivo por condução óssea fornece informações quanto à funcionalidade das estruturas da cóclea e acima destas. A diferença entre o limiar auditivo obtido por condução aérea e por condução óssea proporciona uma medida da alteração da orelha externa e/ou média. Isso porque os limiares por condução óssea são menos afetados pela alteração condutiva do que os limiares por condução aérea.[1]

A comparação entre os limiares encontrados por condução aérea e por condução óssea só é possível devido à determinação do 0 dB audiométrico para cada frequência na calibração dos equipamentos para a avaliação audiológica. O conceito de 0 dB audiométrico refere-se ao limiar mínimo de detecção, ou audibilidade, registrado, para cada frequência, em indivíduos normais.[1]

É importante ressaltar que a quantidade de energia do 0 dB audiométrico difere não apenas entre as frequências, mas também quanto ao tipo de estimulação, condução aérea ou óssea, visto que esta última requer maior quantidade de energia para estimular a cóclea devido à impedância oferecida pela inércia do crânio. Assim, na calibração dos transdutores, fone e vibrador, dos equipamentos para a avaliação audiológica, essa diferença na quantidade de energia é considerada, havendo maior energia no 0 dB por condução óssea do que por condução aérea. Por esse motivo, a faixa de intensidade possível de ser pesquisada no teste por condução óssea é limitada (nos equipamentos atuais varia de 60 a 80 dB) e, como consequência, reduz o máximo de perda auditiva que pode ser medida com esse tipo de estimulação.[1]

O limiar por condução óssea tem sido pesquisado tradicionalmente com o vibrador posicionado na mastoide do osso temporal. Apesar da confiabilidade do teste-reteste e da variabilidade inter-indivíduos ser igual entre a pesquisa do limiar ósseo pesquisado com o vibrador posicionado na mastoide e na fronte, encontraram diferença de até 25 dB na sensibilidade da condução óssea com o vibrador posicionado na fronte.[3] Considerando que a saída máxima dos equipamentos para a estimulação com os vibradores é limitada, em especial para as baixas frequências, devido à distorção em fortes intensidades, a fronte não é a posição indicada na prática clínica, principalmente na avaliação de indivíduos com perda auditiva nas frequências baixas e com perda auditiva de graus severo e profundo.[1]

Na pesquisa dos limiares por condução óssea, as variáveis que apresentam maior influência (confiabilidade) na obtenção de valores reais nessa medida são o tipo de vibrador, a força estática aplicada, a utilização do mascaramento na orelha não testada e a localização do vibrador no crânio. Entretanto, o tipo de vibrador passa a não ter importância desde que a força estática exceda a 4N.[4]

Referências

  1. 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 ISBN 85-89892-35-2
  2. «Catalog of American National Standards on Acoustics, Catalog 9‐1990». The Journal of the Acoustical Society of America (1): 582–587. 1 de julho de 1990. ISSN 0001-4966. doi:10.1121/1.399903. Consultado em 19 de novembro de 2022 
  3. Khanna, Shyam M.; Tonndorf, Juergen; Queller, Judith E. (julho de 1976). «Mechanical parameters of hearing by bone conduction». The Journal of the Acoustical Society of America (em inglês) (1): 139–154. ISSN 0001-4966. doi:10.1121/1.381081. Consultado em 19 de novembro de 2022 
  4. Dirks, D. (1 de junho de 1964). «Factors Related to Bone Conduction Reliability». Archives of Otolaryngology - Head and Neck Surgery (em inglês) (6): 551–558. ISSN 0886-4470. doi:10.1001/archotol.1964.00750030564002. Consultado em 19 de novembro de 2022