Introdução à Prática do Xadrez/Introdução ao Xadrez

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Bem vindo à Introdução da Prática do Xadrez

O Xadrez é considerado uma arte, uma ciência e um jogo. O objetivo do jogo é simples: vencer o oponente, dando xeque-mate. Para conseguir atingir este objetivo, os jogadores devem, além de dominar os conhecimentos básicos do jogo, saber desenvolver uma estratégia, e implementá-la através de lances de desenvolvimento e de golpes táticos.

O jogador completo de xadrez, não necessariamente um mestre, deve ser capaz de iniciar uma partida, desenvolvendo suas peças de modo a não criar vulnerabilidades sérias no seu lado, e aproveitando as vulnerabilidades que porventura o oponente crie. Deve ser capaz de conduzir o meio-jogo em direção a um final que o favoreça, e deve ser capaz de jogar finais conforme a teoria.

Como jogar Xadrez[editar | editar código-fonte]

O jogador iniciante deve em primeiro lugar buscar conhecer muito bem as regras de xadrez. Deve ser capaz de reconhecer um xeque e distingui-lo de um xeque-mate, aplicar corretamente as leis sobre a captura "en passant" e o roque. Deve também aprender a julgar uma posição de xadrez, avaliando qual o lado está com a iniciativa, e a vantagem. Além disso, deve ser capaz de resolver os problemas de finais que serão apresentados neste manual.

O bom aproveitamento de uma posição passa pela criação e utilização de golpes táticos. Saber onde colocar as peças para conseguir um ganho de material ou de posição é muito importante. Por isto, mais do que saber como movimentar as peças, é preciso saber para onde movimentá-las. O estudo de temas táticos, neste ponto, é importantíssimo.

A teoria de aberturas é um assunto espinhoso e bastante insípido. O jogador novato não deve fazer mais do que aprender os princípios de aberturas, e montar um pequeno repertório para jogar com brancas ou com pretas - as aberturas preferidas. Eventualmente ele irá se deparar com uma abertura desconhecida, ou uma linha que só é familiar a grandes mestres. Nesta situação, o melhor a fazer é jogar obedecendo os princípios do xadrez. Mais importante do que saber (ou mesmo decorar) qual a melhor linha a jogar contra o Gambito do Rei ou a Abertura Grob, é ser capaz de examinar a posição no tabuleiro, detectando pontos fortes e fracos, e montar planos para aproveitar uns e outros.

História do Xadrez[editar | editar código-fonte]

Mitos da criação[editar | editar código-fonte]

O brâmane indiano Lahur Sessa criando o Chaturanga, predecessor do Jogo de Xadrez (na concepção do artista brasileiro Thiago Cruz, 2007).

Existem diversas mitologias associadas à criação do xadrez, sendo uma das mais famosas aquela que a atribui a um jovem brâmane indiano chamado Lahur Sessa. Diz uma outra lenda que a criação do xadrez deve-se ao grego Palamedes[1], que teria inventado o jogo de xadrez como um passatempo para distrair os príncipes e seus soldados durante o longo período que durou o cerco imposto pelos gregos a cidade-estado de Troia. Os gregos foram os primeiros a documentar a existência do jogo. O poeta Homero descreve no primeiro livro da Odisseia uma partida de xadrez entre os pretendentes da rainha Penélope, às portas da casa do esposo Ulisses, em Ítaca. Já o dramaturgo Eurípedes, em sua tragédia Ifigênia em Áulis, apresenta dois personagens, Ajax e Protesilau, disputando uma partida de xadrez.

A queda de Troia, por Johann Georg Trautmann (1713–1769). Da coleção dos granduques of Baden, Karlsruhe.

Já uma terceira lenda atribui a invenção do jogo ao deus Ares que foi inspirado pela dríade Caissa. Trata-se de uma lenda contemporânea, tendo sido criada em 1763 por Sir William Jones, um famoso orientalista britânico, que publicou durante a juventude, quando ainda estudava na Universidade de Oxford, um longo poema[2] intitulado Caíssa sobre uma encantadora ninfa dos carvalhos que habitava nos bosques da antiga Trácia. Caíssa e sua associação à criação do jogo de xadrez adquiriu enorme popularidade nos países anglófonos após as citações de Petter Pratt em seu livro Studies of Chess (Londres, 1803) e George Walker em Chess and Chessplayers (Londres, 1950). Posteriormente, na França, a musa foi citada por La Bourdonnais, Mery, Saint Aimant, dentros outros, em artigos escritos na La Palamède, a primeira revista do mundo dedicada ao xadrez. Desta forma, o jogo de xadrez também veio a ser conhecido poeticamente como a Arte de Caíssa.[3]

Origens históricas[editar | editar código-fonte]

Nobres egípcios jogando uma forma primitiva de xadrez, segundo a concepção artística de Sir Lawrence Alma-Tadema, (1879).

Muito embora diversas civilizações antigas tenham sido apontadas como o berço do xadrez, tais como o Antigo Egito e a China dinástica, na atualidade a maioria dos pesquisadores concorda que o jogo tenha se originado na Índia por volta do século VI d.C., na forma de uma antiga forma de xadrez com regras diferentes das atuais e denominado Chaturanga em sânscrito.[4]

Krishna e Radha jogando Chaturanga

Posteriormente o Chaturanga difundiu-se na Pérsia durante o século VII, recebendo o nome persa de Shatranj, provavelmente com regras diferenciadas em relação ao jogo indiano. O Shatranj, por sua vez, foi assimilado pelo Mundo Islâmico após a conquista da Pérsia pelos muçulmanos, porém as peças se mantiveram durante muito tempo com os seus nomes persas originais. Dentre os praticantes de Shatranj à época, aqueles que mais se notabilizaram foram al-Razi, al-Adli e o historiador al-Suli e seu discípulo e sucessor al-Lajlaj. Diversos estudos foram feitos por al-Suli com o objetivo de compreender os princípios das aberturas e os finais de partida, além de classificar os praticantes de Shatranj em cinco categorias em razão de sua força de jogo[5].

Na passagem do primeiro milênio da nossa era, o jogo já tinha se difundido por toda a Europa e atingido a Península Ibérica no século X[6], sendo citado no manuscrito do século XIII, o Libro de los juegos, que discorria sobre o Shatranj, dentre outros jogos.

Conjunto de jogo shatranj iraniano, século 12. New York Metropolitan Museum of Art.

Origens do xadrez moderno (1450-1850)[editar | editar código-fonte]

Enxadristas árabes disputando uma partida de xadrez, na concepção de Ludwig Deutsch, (1896).

As peças no jogo antecessor ao xadrez eram muito limitadas em seus movimentos: o elefante (o antecessor do moderno bispo) somente podia mover-se em saltos por duas casas nas diagonais, o vizir (o antecessor da dama) somente uma casa nas diagonais, os peões não podiam andar duas casas em seu primeiro movimento e não existia ainda o roque. Os peões somente podiam ser promovidos a vizir que era a peça mais fraca, depois do peão, em razão da sua limitada mobilidade[7].

Por volta do ano de 1200, as regras do xadrez começaram a sofrer modificações na Europa e aproximadamente em 1475, deram origem ao jogo assim como o conhecemos nos dias de hoje. As regras modernas foram adotadas primeiramente na Itália (ou, segundo outras fontes, na Espanha): os peões adquiriram a capacidade de mover-se por duas casas no seu primeiro movimento e de tomar outros peões en passant, enquanto bispos e damas obtiveram sua mobilidade atual[7]. A dama tornou-se a peça mais poderosa do jogo. Estas mudanças rapidamente se difundiram por toda a Europa Ocidental, com exceção das regras sobre o empate, cuja diversidade de local para local somente se consolidou em regras únicas no início do século XIX.

Por esta época iniciou-se o desenvolvimento da teoria enxadrística. A mais antiga obra impressa sobre o xadrez, Repetición de Amores y Arte de Ajedrez, escrito pelo sacerdote espanhol Luís de Lucena, foi publicado em Salamanca no ano de 1497[8]. Lucena e outros antigos mestres do século XVI e século XVII, como o português Pedro Damiano de Odemira, os italianos Giovanni Leonardo Di Bonna, Giulio Cesare Polerio, Gioacchino Greco e o bispo espanhol Ruy López de Segura, desenvolveram elementos de aberturas e defesas, tais como Abertura Italiana, Ruy López e o Gambito do Rei, além de terem feito as primeiras análises sobre os finais.

O nascimento do esporte (1850-1945)[editar | editar código-fonte]

Benjamin Franklin disputando uma partida de xadrez, quadro do artista Edward Harrison May (1824-1887).

O primeiro torneio moderno de enxadrismo ocorreu em Londres em 1851. O campeão foi o alemão Adolf Anderssen, relativamente desconhecido à época, sendo aclamado como o melhor enxadrista do mundo. O seu estilo enérgico e brilhante, tornou-se muito popular, sendo imitado pelos outros praticantes. Suas partidas repletas de sacrifícios, tais como a Imortal ou a Sempreviva, foram consideradas como as mais altas realizações da arte enxadrística. A Imortal é citada por alguns autores como a mais famosa partida da história do enxadrismo[9].

Uma visão mais profunda sobre a estratégia enxadrística veio com dois jovens enxadristas: Paul Morphy e Wilhelm Steinitz.

O Imperador Germânico Oto II jogando xadrez com uma cortesã numa iluminura de 1320.
Rei europeu disputando uma partida de xadrez numa iluminura do Liber de Moribus, (aprox. 1300).

O norte-americano Morphy, um extraordinário prodígio, venceu todos os seus mais fortes oponentes, incluindo o próprio Anderssen, durante sua curta carreira entre os anos de 1857 e 1863. O sucesso de Morphy originou-se de uma combinação de ataque fulminante e profunda estratégia.[10]

Este esquema foi mais tarde reinventado e descrito pelo outro mestre e teórico, o alemão Wilhelm Steinitz. Steinitz iniciou uma outra importante tradição: após o seu triunfo sobre o proeminente mestre alemão Johannes Zukertort, em 1886, foi considerado como o primeiro campeão mundial de xadrez[11]. Steinitz veio perder a coroa somente em 1894 para um jovem filósofo e matemático alemão, Emanuel Lasker, que manteve o seu título por 27 anos, a mais longa permanência como campeão do mundo de todos os tempos. Lasker foi o primeiro enxadrista a utilizar métodos psicológicos contra seus adversários[12].

Mas foi o prodígio cubano, o diplomata José Raúl Capablanca, campeão do mundo no período compreendido entre 1921 e 1927, que colocou um fim no reinado germânico do mundo do xadrez[13]. Capablanca amava posições simples e os finais de jogo; permaneceu imbatível nos torneios por oito anos até 1924[14]. Capablanca é considerado nos dias atuais como o maior talento natural da história do enxadrismo e o maior enxadrista hispânico de todos os tempos[15]. Seu sucessor foi Alexander Alekhine, um forte atacante, que faleceu como campeão do mundo em 1946, tendo perdido seu título por um breve período de tempo para o enxadrista holandês Max Euwe em 1935, conquistando-o novamente dois anos depois[16].

Partida entre Capablanca e Alekhine.

No período compreendido entre as duas grandes guerras mundiais, a teoria enxadrística foi revolucionada por uma nova escola de pensamento conhecida como Hipermodernismo [17], liderada por Aaron Nimzowitsch[18] e Richard Réti[19]. Eles negavam a validade absoluta dos princípios da escola posicional que tinha sido estabelecida por Steinitz e Tarrasch. Os hipermodernistas defendiam o controle à distância do centro do tabuleiro por meio de peças, em lugar de ocupar as casas centrais com peões, convidando os adversários a ocupar o centro com seus peões que logo se tornariam alvos de ataque.[20]

Desde o final do seculo XIX, o número de torneios e matches entre mestres vem rapidamente crescendo. Em 1914, o título de grande mestre foi pela primeira vez conferido oficialmente pelo czar russo Nicolau II aos cinco finalistas do torneio de São Petersburgo: Capablanca, Lasker, Alekhine, Tarrasch e Marshall. Esta tradição continua sendo seguida pela FIDE, fundada em 1924, até os dias de hoje.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Filguth (b), 151.
  2. O poema Caíssa. Acessado em 19 de fevereiro de 2009.
  3. A origem do nome Caíssa.
  4. Filguth (b), 98 e 99.
  5. Lasker, 48-55.
  6. Lasker, 56.
  7. 7,0 7,1 Giusti, p.5
  8. Giusti, p.8
  9. González e Manzano, 27.
  10. Giusti, p.57
  11. Giusti, p.73
  12. González e Manzano, 64-69.
  13. Giusti, p.103
  14. Giusti, p.109
  15. González e Manzano, 92-99.
  16. Giusti, p.126
  17. Filguth (b), 98.
  18. González e Manzano, 80-85.
  19. González e Manzano, 75-78.
  20. Giusti, p.116
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