Introdução à Sociologia
Bem-vindo a disciplina de Introdução à Sociologia
Meus amigos há algo divergente que implica a não exposição de textos tão importantes para aqueles que não tem condições de buscar na web informações gratuitas para seu aprendizado, um desses é justamente o de Pérsio Santos de Oliveira. Introdução à Sociologia deixando opção somente de compra, me perece muito estranho.
As ciências sociais tem por objetivo introduzir no individuo de uma coletividade o entendimento ainda que subjetivo de perceber as maneiras e formas que se comportam um grupo de pessoas em uma sociedade, é elucidar questões que estão na coletividade através da compreenção da forma de comportamento de todo grupo social.(fonte: julios maximus a. a.Bacharelado em Administração )
Cursos que ensinam esta disciplina
[editar | editar código-fonte]Pré-requisito
[editar | editar código-fonte]O que são as Ciências Sociais?
Por Ciências Sociais entende-se o conjunto de saberes relativos às áreas da Antropologia, Sociologia e Ciência Política. Em nossa disciplina estudaremos mais especificamente elementos da análise antropológica e do método sociológico.
Ao contrário de outras ciências, as Ciências Sociais lidam não apenas com o que se chama de realidade, com fatos exteriores aos homens, mas igualmente com as interpretações que são feitas sobre a realidade.
O conhecimento científico da vida social não se baseia apenas no fato, mas na concepção do fato e na relação entre a concepção e o fato. É o estudo da ação dos homens em sociedade, de seus símbolos, sua linguagem, seus valores e cultura, das aspirações que os animam e das alterações que sofrem.
As ciências históricas e humanas não são, portanto, como as ciências naturais.
A diferença entre as condições de trabalho dos físicos e químicos e a dos sociólogos não é de grau, mas de natureza:
FÍSICOS E QUÍMICOS è trabalham em um ambiente em que há unanimidade nos juízos de valor sobre a pesquisa e o conhecimento.
SOCIÓLOGOS è enfrentam divergências de todo tipo.
Semelhanças e Diferenças
[editar | editar código-fonte]- Ciências Naturais: Estudam fatos simples, eventos que presumivelmente têm causas simples e são facilmente isoláveis. São fenômenos recorrentes e sincrônicos.
- Ciências Sociais:Estudam fenômenos complexos. Não é fácil investigar sua matéria-prima por ser difícil isolar causas e motivações.
Tais fatos podem ser vistos, isolados e reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório. O objeto de investigação ou matéria-prima é o homem nas relações intersubjetivas, os fenômenos sociais, ou seja, eventos com determinações complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados.
Nesta área encontramos a possibilidade de OBJETIVIDADE. Uma mesma experiência poderá ser repetida e observada por dois cientistas em locais distintos. No âmbito das Ciências Sociais torna-se difícil desenvolver uma teoria capaz de transmitir com precisão uma causa única ou motivação exclusiva.
Muitas vezes atitudes semelhantes têm significados diferentes. Cada cultura constrói seu significado social. Os fatos estudados pelo cientista social podem ser pretéritos ou serem reproduzidos em situações muito distintas. Não podem ser reproduzidos em condições controladas.
Compare
[editar | editar código-fonte]Ciências Naturais e Ciências Sociais
Os fenômenos podem ser percebidos, divididos, classificados e explicados dentro de condições de relativo controle e em condições de laboratório.
Alcança-se a objetividade científica.
As descobertas possibilitam o desenvolvimento de novas tecnologias.
Os fenômenos são complexos.
As percepções são variadas, porquanto históricas.
Corre-se o risco de simplificar demais as situações.
O resultado prático é visto em livros, romances, arte, teatro, novelas, onde tais idéias podem ser aplicadas para produzir modificações no comportamento das pessoas – nos sistemas de valores.
Reproduzível e Irreproduzível
[editar | editar código-fonte]Os fatos naturais são reproduzíveis em condições controladas. Os fatos sociais são irreproduzíveis em condições controladas e, por isso, quase sempre fazem parte do passado. São eventos a rigor históricos e apresentados de modo descritivo e narrativo, nunca na forma de uma experiência.
Nossas reproduções são sempre parciais!
A realidade e os métodos de observação
[editar | editar código-fonte]A organização da sociologia como ciência se deu no século XIX, após muitos séculos, nos quais primeiramente os filósofos – e os cientistas depois – procuraram desvendar as relações entre homem e meio social. Conceber o comportamento social como decorrente de leis próprias à vida em sociedade e não da vontade divina ou das características pessoais dos agentes em questão, como até então se fazia, representou uma profunda ruptura nas formas de interpretação da sociedade.
Até esse momento em que se constitui o pensamento sociológico, como vimos, tinham pleno sucesso as interpretações míticas e transcendentais que viam nos fenômenos sociais e nas calamidades públicas formas de castigo divino. Mesmo os gregos – que já buscavam analisar as possíveis causas e relações entre as coisas – tendiam a interpretar questões sociais, ao menos em suas tragédias , como resultantes dos desígnios dos deuses. Quem não lembra de Édipo Rei, Sófocles, o autor da tragédia atribui a peste de Tebas ao desonroso casamento de Jocasta com seu próprio filho, Édipo. Na idade Média, as pestes também eram atribuídas ao pecado humano.
A emergência e a sistematização do pensamento sociológico – a separação entre senso comum e ciência – constituíram, assim um processo de lenta gestação. À medida que as teorias foram se desenvolvendo e cada vez mais se desvendava a base social do comportamento humano, mais fidedignos se tornavam os procedimentos de pesquisa e análise. Mais se compreendia que a vida social tem características próprias, existindo uma regularidade nos fatos sociais. E ainda, que essa regularidade, empiricamente constatável, e até mensurável, pode ser expressa sob forma de uma tendência que se manifesta no tempo e no espaço.
- Conceitos : Senso comum – tipo de conhecimento subjetivo, empírico, espontâneo, acrítico, assistemático que todo ser humano possui a partir da inserção e aprendizado em uma cultura.
Conhecimento científico- saber objetivo, metódico, crítico que busca conhecer as causas e relações entre as coisas. Conhecimento empírico – todo conhecimento que nos é oferecido pelos nossos sentidos, algo que pode ser observado de forma imediata. Métodos e Técnicas
Dissemos que a metodologia científica utilizada em determinada pesquisa é aquela que ensina o cientista a “ver” a realidade, isto é, a distinguir nela determinados acontecimentos e as relações existentes entre eles. Isso se torna especialmente verdadeiro se lembrarmos que na pesquisa social o objeto de estudo não é um organismo ou um ser, nem um fenômeno determinado, mas certo aspecto de toda conduta social. As teorias e os conceitos são os elementos que permitem ao cientista discernir o caráter social dos fenômenos humanos observados. Em sentido figurado, podemos dizer que os conceitos são as “ferramentas” de trabalho, como o binóculo e a bússola, enquanto as técnicas de pesquisa são as instruções para o uso correto desses instrumentos. Existe, portanto, uma relação direta entre os conceitos e o modo de abordar a realidade. Para poder observar os conceitos que quer analisar ou comprovar, o sociólogo deverá ser valer de indicadores – elementos observáveis nos quais os conceitos se traduzem. Veremos a seguir as técnicas para verificar estes indicadores. Observação: Dá-se o nome de observação à técnica de pesquisa em que o cientista guiado por uma metodologia, por conceitos e indicadores correspondentes, coleta seleciona e ordena dados da realidade a fim de tentar explicar sua gênese e suas características.
O que comemos, bebemos, vestimos, acreditamos, a música que escutamos, tudo isso depende em grande parte de nossa cultura. Apesar de aceitarmos com muita facilidade nosso modo de vida como o modo de vida mais correto, a diversidade de culturas e comportamentos humanos é admirável. Os americanos comem ostras, mas não comem escargots. Os franceses comem escargots, mas não comem gafanhotos. Os judeus comem peixe, mas não comem porco. Os indianos comem porco, mas não carne de gado. Os russos comem gado, mas não comem cobras. Os chineses comem cobras, mas não comem seres humanos. E os nativos da nova Guiné acham os humanos deliciosos.
No momento em que o mundo transformou-se numa aldeia global, e o mercado das empresas não mais se limita a um universo local ou nacional, já não é possível ignorar a variável cultural quando estudamos o comportamento do consumidor. Entretanto, por mais óbvio que isso possa parecer, várias empresas tiveram lançamentos de produtos fracassados, justamente por terem esquecido esse princípio tão simples. Foi o caso do líder americano em vendas de bolas de golfe, que, ao lançar-se no mercado japonês, comercializou seu produto em caixas de quatro bolas. O erro: no Japão o número 4 é maldito, pois significa morte e desgraça.
A influência da cultura sobre o ato de compra e de consumo é hoje extremamente reconhecida, e a maior parte das abordagens avançadas sobre o comportamento do consumidor integra, de uma forma ou de outra, o fator cultural. Em sua forma mais observável, a cultura aparece como um conjunto de comportamentos distintos. O que diferencia imediatamente uma cultura de outra é certa forma de se alimentar, de se vestir, de morar, de falar, de expressar seus sentimentos. Por mais essenciais que sejam do ponto de vista comercial, esses comportamentos demonstram apenas um pedaço do iceberg. Eles são a concretização de um conjunto de normas e um sistema de valores que exprime a o modo desejado de funcionamento de uma cultura. É a partir de um sistema de valores que julgamos que o comportamento de alguém é moral ou “normal”. Os valores influenciam o comportamento de compra uma vez que eles determinam os objetivos almejados, o nível de envolvimento, os atributos buscados e as atividades praticadas; logo, os produtos e modos de consumo. Em uma sociedade, os valores culturais dominantes são veiculados pelas instituições, como a família, a escola e a igreja. Estas instituições assumem importância na compreensão do comportamento de compra e de consumo. Prescrevendo ou reprovando um comportamento, a religião, afeta o destino de certos produtos ou serviços (aborto, por exemplo) ou de certos modos de distribuição (abertura das lojas aos domingos).
Da mesma forma, existem em todas as sociedades uma série de convenções que fazem parte de cada cultura que regulamentam os comportamentos que se deve ou não ter com relação a presentes e festas, por exemplo. É hábito no Brasil, na noite de Natal presentear crianças e adultos e reunir-se em uma festa familiar. Em países vizinhos, como o Uruguai e a Argentina, a ceia de Natal existe, porém os presentes são entregues somente em 6 de janeiro, dia em que os Reis Magos e não Papai Noel vêm trazê-los. Nos EUA, no dia de Ação de Graças, a maior parte dos americanos se reúne em família para comer peru recheado, celebrando a união familiar e a abundância material da sociedade em que vivem. Tais rituais são de interesse fundamental para a compreensão do contexto de compra de vários produtos.
Além das instituições e dos ritos, toda cultura desenvolve um sistema de comunicação e de linguagem particular. No meio militar, os temos positivo e negativo são mais utilizados do que sim e não, da mesma forma que é comum entre os estudantes falar em bares e restaurantes universitários. Assim, podemos dizer que existe uma cultura militar e uma cultura estudantil, da mesma forma que existe uma cultura brasileira e uma britânica. Pano de fundo da vida em sociedade, a cultura está necessariamente presente nos diversos aspectos do comportamento do consumidor, bem como nos objetos que são consumidos. Por isso, ela atrai a atenção dos profissionais de marketing. Veja alguns exemplos de sua influência:
a) a General Motors teve que modificar o nome de seu modelo “Nova” em Porto Rico, quando percebeu que “no va” em espanhol significa “não anda”...;
b) a Carlsberg colocou um terceiro elefante na etiqueta de sua cerveja para a África, porque dois elefantes juntos é sinal de mau presságio;
c) o McDonald’s, campeão mundial do marketing global, oferta no Brasil, além da Coca-cola, guaraná e suco de maracujá; na Tailândia há outro tipo de bebida exótica; e na França toma-se cerveja. Na Itália, o McDonald’s teve também de incluir um prato à base de massa para ser aceito pela cultura local;
d) na Europa, a gravadora CBS utilizou a mesma campanha, que mostra dois jovens surfando na crista da onda, em 15 países, aproveitando a homogeneidade dos modos de expressão inerentes aos jovens do mundo todo. Entretanto, uma campanha publicitária de sabonete francês Camay, que mostrava o marido entrando no banheiro enquanto sua esposa tomava banho, é considerada atraente pelos franceses, mas assumiu conotação indecente no Japão.
Outro aspecto que confirma a importância dos fatores culturais para as organizações diz respeito à forma de conduzir negócios. Executivos que ignoram as peculiaridades culturais dos processos de negociação em cada país pode se ver diante de surpresas desagradáveis. Estas peculiaridades incluem desde aspectos simples como regras de etiqueta, que são sabidamente diferentes de país para país, até aspectos legais, além de condutas e valores que determinarão o “sim” ou o “não” na hora de se fechar um negócio. Muitos acordos promissores podem fracassar quando não se leva em conta as poderosas diferenças culturais deste processo.
Nem todos os países possuem, por exemplo, estrutura hierárquica de decisões semelhante. Nos Estados Unidos a estrutura de poder é corporativa é baseada nos acionistas. Mas na Alemanha, os trabalhadores têm uma representação bastante significativa nos departamentos de supervisão das grandes empresas. Na China, os membros locais do partido são parte integrante das equipes de negociação chinesas, mesmo em empresas privadas.
Portanto, negociadores terão mais sucesso se levarem em conta uma série de aspectos relacionados com essa diferenças, seja consultando a literatura existente, seja conversando com pessoas que conheçam a cultura em questão.
Referências Bibliográficas
[editar | editar código-fonte]- KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2000.
- SEBENIUS, James K. Como negociar através das fronteiras. HSM Management, n. 34, p. 44-52, set-out. 2002.
- (*) In: Apostila de Estudos de Caso da Disciplina Fundamentos Sociológicos da Administração. Unigranrio, Duque de Caxias, 2008. (mimeo
Artigo de ROBERTO DA MATTA, pesquisador e professor de Antropologia Social do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, publicado no Suplemento Cultural-Edição Especial do Jornal da Embratel - set/81
Você tem cultura?
[editar | editar código-fonte]Outro dia ouvi uma pessoa dizer que “Maria não tinha cultura”, era “ignorante dos fatos básicos da política econômica e literatura”. Uma semana depois, no Museu onde trabalho, conversava com alunos sobre “a cultua dos índios Apinayé de Goiás”, que havia estudado de 1962 até 1976 quando publiquei um livro sobre eles (Um mundo Dividido). Refletindo sobre os dois usos de uma mesma palavra decidi que essa era a melhor forma de discutir a idéia ou o conceito de cultura tal como nós, estudantes da sociedade, a concebemos. Ou melhor ainda, apresentar algumas noções sobre a cultura e o que ela quer dizer não como uma simples palavra, mas como uma categoria intelectual: um conceito que pode nos ajudar a entender melhor o que acontece em nossa volta. Retomemos os exemplos mencionados porque eles encerram os dois sentidos mais comuns da palavra. No primeiro, usa-se cultura como sinônimo de sofisticação, de sabedoria, de educação no sentido restrito do termo. Quer dizer, quando falamos que “Maria não tem cultura” e que “João é culto”, estamos nos referindo a um certo estado educacional destas pessoas, querendo indicar com isso sua capacidade de compreender ou organizar certos dados e situações. Cultura aqui é equivalente a volume de leituras, a controle de informações a títulos universitários e chega mate mesmo a ser confundida com inteligência, como se a habilidade para realizar certas operações mentais e lógicas (que definem de fato a inteligência), fosse algo a ser medido ou arbitrado pelo número de livros que uma pessoa leu, as línguas que pode falar ou os quadros e pintores que pode, de memória, enumerar. Como uma espécie de prova desta associação, temos o velho ditado informando sabiamente que “cultura não traz discernimento”... ou inteligência, conforme estou discutindo aqui. Neste sentido, cultura é uma palavra usada para classificar as pessoas e, às vezes, grupos sociais, servindo como uma arma discriminatória contra algum sexo, idade (“as gerações mais novas são incultas), etnia (“os pretos não têm cultura”) ou mesmo sociedades inteiras, quando se diz que “os franceses são cultos e civilizados” em oposição aos americanos que são “ignorantes e grosseiros”. Do mesmo modo é comum ouvir-se referências à humanidade, cujos valores seguem tradições diferentes e desconhecidas, como a dos índios, como sendo sociedades que estão na “Idade da Pedra” e se encontram em “estágio cultural muito atrasado!” A palavra cultura, enquanto categoria do senso comum, ocupa como vemos um importante lugar no nosso acervo conceitual, ficando lado a lado de outras, cujo uso na vida quotidiana é também muito comum. Estou me lembrando da palavra “personalidade” que, tal como ocorre com a palavra “cultura”, penetra o nosso vocabulário com dois sentidos bem em diferenciados. No campo da Psicologia, personalidade define o conjunto de traços que caracterizam todos os seres humanos. É aquilo que singulariza todos e cada um de nós como uma pessoa diferente, com interesses, capacidades e emoções particulares. Mas na vida diária, personalidade é usada como um marco para algo desejável e invejável de uma pessoa. Assim, certas pessoas teriam “personalidade”, outras não! É comum dizer que “João tem personalidade” quando de fato se quer indicar que “João tem magnetismo”, sendo uma pessoa “com presença”. Do mesmo modo, dizer que “João não tem personalidade” quer apenas dizer que ele não é uma pessoa atraente ou inteligente. Mas, no fundo, todos temos personalidade, embora nem todos possamos ser pessoas bela ou magnetizadoras como um artista de novela das oito! Mesmo uma pessoa “sem personalidade” tem, paradoxalmente, personalidade na medida em que ocupa um espaço social e físico e tem desejos e necessidades. Pode ser um a pessoa sumamente apagada, mas ser assim é precisamente o traço marcante de sua personalidade. No caso do conceito de cultura ocorre o mesmo, embora nem todos saibam disso. De fato, quando um antropólogo social fala em “cultura” ele usa a palavra como um conceito chave para a interpretação da vida social, Porque, para nós, “cultura” não é simplesmente um referente que marca uma hierarquia de “civilização”, mas a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Cultura é, em Antropologia, Social e Sociologia, um mapa, um receituário, um código através do qual as pessoas de um dado grupo pensam classificam, estudam e modificam o mundo e a si mesmas. É justamente porque compartilham de parcelas importantes deste código (a cultura) que um conjunto de indivíduos com interesses e capacidades distintas e até mesmo opostas, transformar-se num grupo e podem viver juntos sentindo-se parte de uma mesma totalidade. Podem, assim, desenvolver relações entre si porque a cultura lhes forneceu normas que dizem respeito aos modos mais (ou menos) apropriados de comportamento diante de certas situações. Por outro lado, a cultura não é um código que se escolhe simplesmente. É algo que está dentro e fora de cada um de nós, como as regras de um jogo de futebol, que permitem o entendimento do jogo e, também a ação de cada jogador, juiz, bandeirinha e torcida. Quer dizer, as regras que formam a cultura (ou a cultura como regra) é algo que permite relacionar indivíduos entre si e o próprio grupo com o ambiente onde vive. Em geral, pensamos a cultura como algo individual que as pessoas inventam, modificam e acrescentam na medida de sua criatividade e poder. Daí falarmos que fulano é mais culto que sicrano e distinguirmos formas de “cultura” supostamente mais avançadas ou preferidas que outras. Falamos então em “Alta cultura” e “baixa cultura” ou “cultura popular”, preferindo naturalmente as formas sofisticadas que se confundem com a própria idéia de cultura. Assim, teríamos a cultura e culturas particulares, adjetivadas (popular, indígena, nordestina, de classe baixa etc...) como formas secundárias, incompletas e inferiores de vida social. Mas a verdade é que todas as formas de cultura ou todas as “sub-culturas” de uma sociedade são equivalentes e, em geral, aprofundam algum aspecto importante que não pode ser esgotado completamente por uma outra “sub-cultura”. Quer dizer, existem gêneros de cultura que são equivalentes a diferentes modos de sentir, celebrar, pensar e atuar sobre o mundo e esses gêneros podem estar associados a certos segmentos sociais. O problema é que sempre que nos aproximamos de alguma forma de comportamento e de pensamento diferente, tendemos a classificar a diferença hierarquicamente, o que é uma forma de excluí-la. Um outro modo de perceber e enfrentar a diferença cultural é tomar a diferença como um desvio, deixando de buscar seu poder numa totalidade. Desta forma, podemos ver o carnaval como algo desviante de uma festa religiosa, sem nos darmos conta de que as festas religiosas e o carnaval guardam uma profunda relação de complementaridade. Realmente, se no terreno da festa religiosa somos marcados pelo mais profundo comedimento e respeito pelo foco no “outro mundo”, é porque no carnaval podemos nos apresentar realizando o justo oposto. Assim, o carnavalesco e o religioso não podem ser classificados em termos de superior ou inferior, mas devem ser vistos nas suas relações que são complementares. O que significa dizer que tanto há cultura no carnaval quanto na procissão e nas festas cívicas, pois que cada uma delas é um código capaz de permitir um julgamento e uma atuação sobre o mundo social no Brasil. Como disse uma vez, essas festas nos revelam leituras da sociedade brasileira por nós mesmos e é nesta direção que devemos discutir o conteúdo e a forma de cada cultura ou sub-cultura em uma sociedade (veja-se o meu livro “Carnavais, Malandros e Heróis”). No sentido antropológico, portanto, a cultura é um conjunto de regras que nos diz como o mundo pode e deve ser classificado. Ela, como os textos teatrais, não pode prever completamente como iremos nos sentir em cada papel que devemos ou temos necessariamente que desempenhar, mas indica maneiras gerais e exemplos de como pessoas que viveram antes de nós o desempenharam. Mas isso não impede, conforme sabemos, emoções. Do mesmo modo que um jogo de futebol com suas regras fixas não impede renovadas emoções em cada jogo. É que as regras apenas indicam os limites e apontam os elementos e suas combinações explícitas. O seu funcionamento e, sobretudo, o modo pelo qual elas engendram novas combinações em situações concretas, é algo que só a realidade pode dizer. Porque embora cada cultura contenha um conjunto finito de regras, suas possibi8lidades de atualização, expressão e reação em situações concretas são ilimitadas. Apresentada assim, a cultura parece ser um bom instrumento para compreender as diferenças entre os homens e as sociedades. Elas não seriam dadas de uma vez por todas, por meio de um roteiro geográfico ou de uma raça, como diziam os estudiosos do passado, mas em diferentes configurações ou relações que cada sociedade estabelece no decorrer de sua história. Mas é importante acentuar que a base destas configurações é sempre um repertório comum de potencialidades. Algumas sociedades desenvolveram algumas dessas potencialidades mais e melhor do que outras, mas isso não significa que elas sejam pervertidas ou mais adiantadas. O que isso parece indicar é, antes de mais nada, o enorme potencial que cada cultura encerra como elemento plástico, capaz de receber as variações e motivações dos seus membros. Nosso sistema caminhou na direção de um poderoso controle sobre a natureza, mas isso é apenas um traço entre muitos outros. Há sociedades na Amazônia onde o controle da natureza é muito pobre, mas onde existe uma enorme sabedoria relativa ao equilíbrio entre os homens e os grupos cujos interesses são divergentes. O respeito pela vida que todas as sociedades indígenas nos apresentam de modo tão vivo, pois que os animais são seres incluídos na formação e discussão de sua moralidade e sistema político, parece se constituir não em exemplo de ignorância e indigência lógica, mas em verdadeira lição pois respeitar a vida deve certamente incluir toda a vida e não apenas a vida humana. Hoje estamos mais conscientes do preço que pagamos pela exploração desenfreada do mundo natural sem a necessária moralidade que nos liga inevitavelmente às plantas, aos animais, aos rios e aos mares. Realmente, pela escala destas sociedades tribais, somos uma sociedade de bárbaros, incapazes de compreender o significado profundo dos elos que nos ligam com todo o mundo em escala global. Pois é assim que pensam os índios e por isso suas histórias são povoadas de animais que falam e homens que se transformam em animais. Conosco, são máquinas que tomam esse lugar... O conceito de cultura, ou, a cultura como conceito, então, permite uma perspectiva mais consciente de nós mesmos. Precisamente porque diz que não há homens sem cultura e permite comparar culturas e configurações culturais como entidades iguais, deixando de estabelecer hierarquias em que inevitavelmente existiriam sociedades superiores e inferiores. Mesmo diante de formas culturais aparentemente irracionais, cruéis ou pervertidas, existe o homem e entendê-las - ainda que seja para evitá-las, como fazemos com o crime – é uma tarefa inevitável que faz parte da condição do ser humano e viver num universo marcado e demarcado pela cultura. Em outras palavras, a cultura permite traduzir melhor a diferença entre nós e os outros e, assim fazendo, resgatar a nossa humanidade no outro e a do outro em nós mesmos. Num mundo como o nosso, tão pequeno pela comunicação em escala planetária, isso me parece muito importante. Porque já não se trata somente de fabricar mais e mais automóveis, conforme pensávamos em 1950, mas desenvolver nossa capacidade para enxergar melhores caminhos para os pobres , os marginais e os oprimidos. E isso só se faz com uma atitude aberta para as formas e configurações sociais que, como revela o conceito de cultura, estão dentro e fora de nós. Num país como o nosso, onde as formas hierarquizantes de classificação cultural sempre foram dominantes, onde a elite sempre esteve disposta a autoflagelar-se dizendo que nós não temos uma cultura, nada mais saudável do que esse exercício antropológico de descobrir que não temos culturas é, paradoxalmente, um modo de agir cultural que deve ser visto, pesado e talvez substituído por uma fórmula mais confiante no nosso futuro e nas nossas potencialidades.
Este artigo foi publicado também no livro do autor com o título “Explorações: ensaios de Sociologia Interpretativa”, pela Editora Rocco, em 1986.