Jürgen Habermas

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Aula sobre o pensamento do filósofo alemão Jürgen Habermas.

Objetivos[editar | editar código-fonte]

  • Reconhecer as influências teóricas do fílófoso alemão Jürgen Habermas;
  • Identificar as relações entre a biografia e o pensamento;
  • Observar o conceito da Razão Instrumental e suas relações com a Escola de Frankfurt;
  • Compreender o conceito da Razão Comunicativa;
  • Observar e relacionar os conceitos de Sistema e Mundo da Vida;
  • Reconhecer o fenômeno da Colonização do Mundo da Vida;
  • Reconhecer o fenômeno da Esfera Pública Política;
  • Verificar a influência da Colonização do Mundo da Vida na Esfera Pública Política;
  • Identificar o conceito de Sociedade Civil e seu papel na Esfera Pública Política;

Introdução[editar | editar código-fonte]

A Escola de Frankfurt é nome dado a um grupo de filósofos e cientistas sociais de tendências marxistas que se encontram no final dos anos 1920. A Escola de Frankfurt se associa diretamente à chamada Teoria Crítica da Sociedade. Deve-se à Escola de Frankfurt a criação de conceitos como "indústria cultural" e "cultura de massa".

História[editar | editar código-fonte]

A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924 por iniciativa de Félix Weil, filho de um grande negociante de grãos de trigo na Argentina. O grupo emergiu no Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt (em alemão: Institut für Sozialforschung) da Universidade de Frankfurt-am-Main na Alemanha.

Antes dessa denominação tardia (só viria a ser adotada, e com reservas, por Horkheimer na década de 1950), cogitou-se o nome Instituto para o Marxismo, mas optou-se pela denominação ideologicamente inócua de Instituto para a Pesquisa Social. Seja pelo anticomunismo reinante nos meios acadêmicos alemães nos anos 1920-1939, seja pelo fato de seus colaboradores não adotarem o espírito e a letra do pensamento de Marx e do marxismo da época, o Instituto recém-fundado preenchia uma lacuna existente na universidade alemã quanto à história do movimento trabalhista e do socialismo. Carl Grünberg, economista austríaco, foi seu primeiro diretor, de 1923 a 1930. O órgão do Instituto era a publicação chamada Arquivos Grünberg. Horkheimer, a partir de 1931, já com título acadêmico, pôde exercer a função de diretor do Instituto, que se associava à Universidade de Frankfurt. O órgão oficial dessa gestão passou a ser a Revista para a Pesquisa Social, com uma modificação importante: a hegemonia era não mais da economia, e sim da filosofia. A Teoria Crítica realiza uma incorporação do pensamento de filósofos "tradicionais", colocando-os em tensão com o mundo presente.

Entre todos os elementos vinculados ao grupo de Frankfurt, salientam os nomes de Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Theodor Wiesengrund-Adorno e Max Horkheimer, aos quais se pode ligar o pensamento de Jürgen Habermas.

Com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, os membros do Instituto, na sua maioria judeus, migraram para Genebra, depois a Paris e finalmente, para a Universidade de Columbia, em Nova Iorque. A primeira obra coletiva dos frankfurtianos são os Estudos sobre Autoridade e Família, escritos em Paris, onde estes fazem um diagnóstico da estabilidade social e cultural das sociedades burguesas contemporâneas. Nestes estudos, os filósofos põem em questão a capacidade das classes trabalhadoras em levar a cabo transformações sociais importantes.

Esta desconfiança, que os afasta progressivamente do marxismo "operário", se consuma na Dialética do Esclarecimento de 1947, publicado em Amsterdã onde o termo marxismo já se encontra quase ausente. Em 1949-1950 publicam os Estudos sobre o Preconceito que representa uma inovação significativa nas metodologias de pesquisa social, embora de pouca significação teórica.

Marcuse, que permanece nos EUA após o retorno do Instituto para a Alemanha em 1948, foi o mais significativo dos frankfurtianos, do ponto de vista das repercussões práticas de seu trabalho teórico, já que teve influência notável nas insurreições anti-bélicas e nas revoltas estudantis de 1968 e 1969.

Adorno continuará o trabalho iniciado na Dialética do Esclarecimento, de reformulação dialética da razão ocidental, em sua Dialética Negativa, sendo considerado ainda hoje, o mais importante dos filósofos da Escola. Com a sua morte, começa o que alguns chamam de segundo período da Escola de Frankfurt, tendo como principal articulador o antes assistente de Adorno e, depois, seu crítico mais ferrenho: Jürgen Habermas.

Influências[editar | editar código-fonte]

Com Erich Fromm e Herbert Marcuse inicia-se uma frente de trabalho que associa a Teoria Crítica da Sociedade à psicanálise. Fromm, precursor desta frente de trabalho, logo se distancia do núcleo da Escola, e este perde o interesse pela Psicanálise até o início dos trabalhos de Marcuse.

Influências:

Freudo-marxismo - Wilhelm Reich e Erich Fromm;

- civilização X liberdade;

Pergunta:

“Como é possível que a classe operária pense e aja contra seus próprios interesses?”

Freud: Para a cultura.

Reich: Para esta cultura!

Amor, trabalho e conhecimento;

Dominação pela pauperização (1929);

Utopia sem força crítica.

Pensamento[editar | editar código-fonte]

Os múltiplos interesses dos pensadores de Frankfurt e o fato de não constituírem uma escola no sentido tradicional do termo, mas uma postura de análise crítica e uma perspectiva aberta para todos os problemas da cultura do século XX, torna difícil a sistematização de seu pensamento. Pode-se, no entanto, salientar alguns de seus temas, chegando-se a compor um quadro de suas principais idéias. De Walter Benjamin, devem-se destacar reflexões sobre as técnicas ficas de reprodução da obra de arte, particularmente do cinema, e as conseqüências sociais e políticas resultantes; de Adorno, o conceito de “indústria cultural” e a função da obra de arte; de Horkheimer, os fundamentos epistemológicos da posição filosófica de todo o grupo de Frankfurt, tal como se encontram formulados em sua “teoria crítica”; de Marcuse, a esperança em novas formas de libertação da Razão e emancipação do ser humano através da arte e do prazer; finalmente, de Habermas, as idéias sobre a ciência e a técnica como ideologia.

Possuiam a seguinte questão norteadora:

“Como é possível que a maioria da população, nos países industrializados do Leste e do Oeste, pense e aja num sentido favorável ao sistema que a oprime?”

Dominação pela abundância [pós-guerra (João Bernardo - RAE)]; Fracasso do projeto iluminista (A dialética do Iluminismo)

A razão não libertou a humanidade.

A razão que vira mito: Teoria Tradicional –cartesiana X Teoria Crítica (Horkheimer):

ideologia X contra-ideologia.

Dialética negativa (Adorno):

Método da Escola de Frankfurt.

Sociedade Administrada (Marcuse):

Dominação se transforma em administração.

Pessimismo e validade somente como crítica:

“Mensagens em garrafas para as gerações futuras”.


Biografia[editar | editar código-fonte]

Jürgen Habermas (Düsseldorf, 18 de Junho 1929) é um filósofo e sociólogo alemão.

Licenciou-se em 1954 na Universidade de Bonn, com uma tese sobre Schelling (1775-1854), intitulada O Absoluto e a História. De 1956 a 1959, foi assistente de Theodor Adorno no Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt. No início dos anos 1960, realizou uma pesquisa empírica sobre a participação estudantil na política alemã, intitulada 'Estudante e Política' (Student und Politik).

Em 1968, transferiu-se para Nova York, passando a lecionar na New School for Social Research de Nova York. A partir de 1971, dirigiu o Instituto Max Planck, em Starnberg, na Baviera. Em 1983, transferiu-se para a Universidade Johann Wolfgang von Goethe, de Frankfurt, onde permaneceu até aposentar-se, em 1994.

Continua, até o presente momento, muito prolífico, publicando novos trabalhos a cada ano. Freqüentemente participa de debates e atua em jornais, como cronista político.

Pensamento[editar | editar código-fonte]

Em geral considerado como o principal herdeiro das discussões da Escola de Frankfurt, Habermas procurou, no entanto, superar o pessimismo dos fundadores da Escola, quanto às possibilidades de realização do projeto moderno, tal como formulado pelos iluministas. Profundamente marcados pelo desastre da Segunda Guerra Mundial, Adorno e Horkheimer consideravam que houvesse um vínculo primordial entre conhecimento racional e dominação, o que teria determinado a falência dos ideais modernos de emancipação social.

Seus estudos voltam-se para o conhecimento e a ética. Sua tese para explicar a produção de saber humano recorre ao evolucionismo de Charles Darwin, pois a racionalidade comunicativa é considerada 'aprendente'. Segundo Habermas, a falibilidade possibilita desenvolver capacidades mais complexas de conhecer a realidade, além de representar garantia contra regressões metafísicas, com possíveis desdobramentos autoritários. Evolui-se assim através dos erros, entendidos como falhas de coordenação de planos de ação.

Habermas defende também uma ética universalista, deontológica, formalista e cognitivista. Para ele, os princípios éticos não devem ter conteúdo, mas garantir a participação dos interessados nas decisões públicas através de discussões (discursos), em que se avaliam os conteúdos normativos demandados naturalmente pelo mundo da vida.

Sobre sua teoria discursiva, aplicada também à filosofia jurídica, pode ser considerada em prol da integração social e, como conseqüência, da democracia e da cidadania. Tal teoria coloca a possibilidade de resolução dos conflitos vigentes na sociedade não com uma simples solução, mas a melhor solução - aquela que resulta do consenso de todos os interessados.

Sua maior relevância está, indubitavelmente, em pretender o fim da arbitrariedade e da coerção nas questões que circundam toda a comunidade, propondo uma participação mais ativa e igualitária de todos os cidadãos nos litígios que os envolvem e, concomitantemente, obter a tão almejada justiça. Essa forma defendida por Habermas é o agir comunicativo que se ramifica no discurso.

Conteúdo[editar | editar código-fonte]

Razão Instrumental[editar | editar código-fonte]

Adorno e Horkheimer chegaram ao impasse por trabalharem com um modelo restrito de razão;

Confundiram a racionalidade do sistema com racionalidade da ação, ou;

desenvolvimento capitalismo com a razão instrumental;

Distanciamento entre o sujeito e o objeto, por um sujeito solitário, que visa a operação lógica dos conhecimentos, numa atitude calculista e metódica;

Paradigma da consciência centrada no sujeito;

Relação cognitiva de subordinação entre sujeito-objeto;

Tal modelo se auto-justifica e se perpetua;

Meios orientados aos fins, sem discutir os fins;

A razão instrumental era o instrumento de dominação;

Apenas um tipo particular de razão.

Razão Comunicativa[editar | editar código-fonte]

Para recolocar o potencial emancipatório da razão, Habermas adota o paradigma comunicacional. Seu ponto de partida é a ética comunicativa de Karl Otto Apel[1] , além do conceito de "razão objetiva" de Adorno, também presente em Platão, Aristóteles e no Idealismo alemão - particularmente na idéia hegeliana de reconhecimento intersubjetivo.

Assim, Habermas concebe a razão comunicativa - e a ação comunicativa ou seja, a comunicação livre, racional e crítica - como alternativa à razão instrumental e superação da razão iluminista - "aprisionada" pela lógica instrumental, que encobre a dominação. Ao pretender a recuperação do conteúdo emancipatório do projeto moderno, no fundo, Habermas está preocupado com o restabelecimento dos vínculos entre socialismo e democracia.


Na ação comunicativa ocorre a coordenação de planos de dois ou mais atores via assentimento a definições tácitas de situação. Tem-se não raro uma visão reducionista deste conceito, entendido como mero diálogo. Mas de fato a ação comunicativa pressupõe uma teoria social - a do mundo da vida - e contrapõe-se à ação estratégica, regida pela lógica da dominação, na qual os atores coordenam seus planos no intuito influenciar, não envolvendo assentimento ou dissentimento. Habermas define sinteticamente a ação estratégica como "cálculo egocêntrico".

Sistema e Mundo da Vida[editar | editar código-fonte]

Segundo o autor, duas esferas coexistem na sociedade: o sistema e o mundo da vida. O sistema refere-se à 'reprodução material', regida pela lógica instrumental (adequação de meios a fins), incorporada nas relações hierárquicas (poder político) e de intercâmbio (economia).

O mundo da vida é a esfera de 'reprodução simbólica', da linguagem, das redes de significados que compõem determinada visão de mundo, sejam eles referentes aos fatos objetivos, às normas sociais ou aos conteúdos subjetivos.

Colonização do Mundo da Vida[editar | editar código-fonte]

É conhecido o diagnóstico habermasiano da colonização do mundo da vida pelo sistema e a crescente instrumentalização desencadeada pela modernidade, sobretudo com o surgimento do direito positivo, que reserva o debate normativo aos técnicos e especialistas.

Esfera Pública Política[editar | editar código-fonte]

Século XVIII, surge a esfera pública burguesa; Praças, cafés, livrarias, mercados; Emerge do mundo da vida; Manifestação e expressão de pessoas privadas em público e para interferir nos assuntos públicos; Âmbito de ação comunicativa, isentos de dinheiro e poder, onde ocorrem os discursos racionais; Na esfera pública luta-se por influência, pois ela se forma nessa esfera; Faz a mediação entre o sistema político e o mundo da vida; Emerge o fenômeno da opinião pública.

Alteração dos papéis da esfera pública: Influência dos meios de comunicação de massa; Estabelecem uma opinião pública imperativa frente à sociedade; Consolidação do Estado liberal, onde o privado acaba por sobrepujar o público; Opinião pública é condicionada à informação dos mass media (indústria cultural).

Sociedade Civil[editar | editar código-fonte]

Associações e organizações livres;

Não estatais, não econômicas;

Com estruturas de comunicação da esfera pública ancorada nos componentes do mundo da vida (questões do mundo da vida);

Exercem influência sobre a formação de opinião;

Deve alimentar a esfera pública com as questões privadas.

Conclusão[editar | editar código-fonte]

Propostas e Garantias[editar | editar código-fonte]

Liberdade de opinião e de reunião;

Liberdade de imprensa;

Sensibilidade do sistema político à opinião pública;

As estruturas comunicacionais da esfera pública devem ser mantidas intactas por uma sociedade civil viva e atuante;

Os processos de comunicação são mais isentos quando controlados por uma sociedade civil oriunda do mundo da vida.


Resumo[editar | editar código-fonte]

Nessa aula, foi possível caminhar pelo pensamento do filófofo alemão Jürgen Habermas, sobretudo pela sua teoria de emancipação por meio da ação comunicativa como forma para retomar o projeto iluminista.

Referências[editar | editar código-fonte]

  • ADORNO, T. W. e HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: Fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
  • FREUD, S. O mal-estar na civilização. In: Obras psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
  • GHIRALDELLI, P. G. Jr. Richard Rorty: A filosofia do Novo Mundo em busca de mundos novos. Petrópolis: Vozes, 1999.
  • HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. 2 v, 2003.
  • HABERMAS, J. A ética da discussão e a questão da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
  • MARCUSE, H. Sociedade unidimensional. In: A ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
  • MÉSZÁROS, I. O poder da ideologia. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.
  • PINTO, J. M. de R. Administração e liberdade: um estudo do conselho de escola à luz da teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996.
  • RORTY, R. e GHIRALDELLI, P. G. Jr. Ensaios pragmatistas: sobre subjetividade e verdade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
  • ROUANET, S. P. Teoria crítica e psicanálise. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1986.
  • ROVERI, P. F. As organizações no ciberespaço: o caso da estruturação e da manutenção de uma comunidade virtual não-monetária. Dissertação (Mestrado em Administração de Organizações), USP, São Paulo, 2008.
  • SOUZA, J. C. de, (org.) Filosofia, racionalidade, democracia: os debates de Rorty & Habermas. São Paulo: Editora UNESP, 2005.