Jornalismo Básico 2: reportagens especiais/Reportagens do JOB/Lívia Figueiredo e Luis Borgia
O reverso do Largo do Arouche
Localizado no centro da cidade de São Paulo, próximo a estação República do metrô, o Largo do Arouche às oito horas da manhã aparenta ser um local ameno, familiar e tranquilo. Porém, quem passa pelo local neste horário, não sabe o que aconteceu horas antes de um árduo trabalho dos funcionários da prefeitura da cidade iniciado duas horas atrás no mesmo dia.
Conversando com Robson, gari da prefeitura de São Paulo há 10 anos, e responsável pela área há 2, nota-se que os resquícios da noite de farra, principalmente aos domingos e segundas, já fazem parte da paisagem local. Todos os dias inicia a limpeza da praça às seis horas da manhã, por isso os que passam pela região depois desse horário não são capazes de imaginar o que aconteceu ali durante a noite.
Localizado em frente à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e à Secretaria de Educação, o Largo se alimenta desse paradoxo. A base móvel da Polícia Militar também nos faz duvidar dos relatos sobre a vida noturna do local. Um morador do prédio amontoado, com janelas minúsculas, que fica em frente a praça, define a noite do Arouche como sendo o local de disseminação da delinquência da juventude. Ele, ex-travesti, conta que nunca teve coragem de praticar tamanha safadeza, descarada em pleno céu aberto. O Sr. Edivaldo, dono do bar logo ao lado, reforça: “É muita bebedeira, sexo e drogas. Mesmo durante a semana acontecem esses encontros. Mas, graças a Deus, nenhum deles é meu cliente. Apenas vem aqui para pedir água ou para usar o banheiro, afinal, eles não tem dinheiro”.
Outros comerciantes, como um senhor dono de um simples mercado, demonstra muita irritação ao falar daqueles que frequentam o largo do entardecer a noite, faltando palavras em meio a tanta raiva: “Os que aqui moram e trabalham, arcam com as consequências e prejuízos da ‘putaria’”, disse o senhor. Em um dos pontos de táxi ali presentes, um taxista inconformado descreve com poucas palavras o que vê diariamente na praça central do Largo do Arouche: “É homem com homem, mulher com mulher, tudo. Todos os dias é a mesma coisa, muita droga e sexo”.
Em uma visão geral, se nota divergências dos que vivem o ambiente todos os dias, e dos que apenas passam por ali esporadicamente. A prostituição é algo notado desde manhã, por seus “resquícios”, as bebidas e cigarros baratos nos lixos da região confirmam os relatos datados, assim como o forte cheiro de urina. O que para aqueles que não conhecem pode ser descrito como um ambiente tranquilo as oito horas da manhã, basta apenas um olhar mais amplo para se ver a figura geral. Em meio a tantos comentários cheios de raiva e cheios de desconhecimento, se vê que a realidade não é das mais bonitas. Aquele ambiente já foi tomado, não pelas drogas, pela prostituição ou pela bebida, e sim pelas pessoas que usufruem destes e os tornaram o centro de suas vidas. Na mente destes, a saída parece estar longe, muito longe. Em todas as entrevistas, uma pergunta nunca teve solução apresentada, o que se pode fazer para mudar tudo isto? Para os que acompanham a rotina do Largo do Arouche, a simples tentativa de uma resolução parece ter caído no esquecimento.