Máquinas de Generalizar o Outro - Tecnologias da (Des)Igualdade

Fonte: Wikiversidade


Peirce, sobre máquinas como arranjos de raciocínio extra-corporais [logo, coletivos]:[editar | editar código-fonte]

Every reasoning machine, that is to say, every machine, has two inherent impotencies. In the first place, it is destitute of all originality, of all initiative. It cannot find its own problems; it cannot feed itself. It cannot direct itself between different possible procedures. [—] This, however, is no defect in a machine; we do not want it to do its own business, but ours. [—] We no more want an original machine, than a house-builder would want an original journeyman, or an American board of trustees would hire an original professor. If, however, we will not surrender to the machine, the whole business of initiative is still thrown upon the mind; and this is the principal labor. In the second place, the capacity of a machine has absolute limitations; it has been contrived to do a certain thing, and it can do nothing else. For instance, the logical machines that have thus far been devised can deal with but a limited number of different letters. The unaided mind is also limited in this as in other respects; but the mind working with a pencil and plenty of paper has no such limitation. It presses on and on, and whatever limits can be assigned to its capacity today, may be over-stepped tomorrow. This is what makes algebra the best of all instruments of thought; nothing is too complicated for it. And this great power it owes, above all, to one kind of symbol, the importance of which is frequently entirely overlooked – I mean the parenthesis.

(Peirce, Reasoning Machine 1887 | Logical Machines | W 6:70-71)

The secret of all reasoning machines is after all very simple. It is that whatever relations among the objects reasoned about is destined to be the hinge of a ratiocination, that same general relation must be capable of being introduced between certain parts of the machine. For example, if we want to make a machine which shall be capable of reasoning in the syllogism

  • If A then B,
  • If B then C,
  • Therefore, if A then C,

we have only to have a connection which can be introduced at will, such that when one event A occurs in the machine, another event B must also occur. This connection being introduced between A and B, and also between B and C, it is necessarily virtually introduced between B and C. This is the same principle which lies at the foundation of every logical algebra; only in the algebra, instead of depending directly on the laws of nature, weestablish conventional rules for the relations used. When we perform a reasoning in our unaided minds we do substantially the same thing, that is to say, we construct an image in our fancy under certain general conditions, and observe the result. In this point of view, too, every machine is a reasoning machine, in so much as there are certain relations between its parts, which relations involve other relations that were not expressly intended. A piece of apparatus for performing a physical or chemical experiment is also a reasoning machine, with this difference, that it does not depend on the laws of the human mind, but on the objective reason embodied in the laws of nature. Accordingly, it is no figure of speech to say that the alembics and cucurbits of the chemist are instruments of thought, or logical machines.

(Peirce, 1887 | Logical Machines | W 6:69-70)

...no machine has been constructed that will deduce more than one conclusion; yet it has been shown that all possible general conclusions can be arranged in serial order and as soon as anybody wishes to defray the not extravagant cost, the specifications will be ready for a machine that will actually turn out new theorems from a given set of premises, one after another, as long as they continue to have any interest. But though a machine could do all that, and thus accomplish all that many an eminent mathematician accomplishes, it still cannot properly be called a reasoning machine, any more than the sort of man I have in view can be called a reasoner. It does not reason; it only proceeds by a rule of thumb.

(Peirce, nd | Our Senses as Reasoning Machines | NEM 3:1115)

Mead (±30 anos depois de Peirce) considera relevância central da participação de artefatos na passagem ao limite da ação reacional (interpretante energético) ao simbólico (interpretante lógico), pressuposto à emergência de ego (self, subjetivação individual), aquisição de uma mente (mind, pensamento e comunicação simbólicos), e a constituição de uma sociedade (society, sociedade, coletivo humano como agência coletiva deliberadas)

É possível que objetos inanimados, tanto quanto outros organismos humanos, formem partes do outro generalizado e organizado, completamente socializado, do ponto de vista de qualquer indivíduo humano, à medida que este responde de modo social ou numa situação social a tais objetos (por meio de mecanismos do pensamento, de um diálogo internalizado de gestos). Qualquer coisa, qualquer objeto ou grupo de objetos — quer sejam animais ou coisas inanimadas, seres humanos ou animais, ou objetos meramente físicos — em relação aos quais o indivíduo age socialmente é um elemento do que, para ele, é o outro generalizado. Ao assumir as atitudes desses objetos em relação a si, ele toma consciência de si próprio como objeto e como indivíduo e, assim, desenvolve um self ou personalidade. Por exemplo, é nesse sentido que o culto em sua forma primitiva é apenas a corporificação social das relações entre um dado grupo social ou comunidade e seu ambiente físico, um meio social organizado, adotado pelos membros individuais desse grupo ou comunidade para entrar numa relação social com esse ambiente ou (em certo sentido) para manter um diálogo com ele. Desse modo, esse ambiente se torna parte do outro generalizado total para cada um dos membros individuais desse grupo social ou comunidade.

(Mead, "Mente, Self, Sociedade", p. 171, nota 7)

Estender, desincorporar e distribuir a Mente – Os três momentos cognitivos que indico no título dessa seção se referem ao fato de que a mente humana pode delegar a representações externas convenientemente estocadas no ambiente importantes funções cognitivas. As representações externas podem ser meramente miméticas (quando representam algo já internamente presente à mente, por exemplo, um triângulo desenhado num quadro negro), mas também poiésico, quando aspectos exteriormente representados são manipulados com o propósito de descobrir algo pela exploração de exigências da materialidade do “mediador” externo selecionado. Ademais, todos os campos do conhecimento científico são caraterizados por processos desse tipo, como no caso da lógica e da matemática

A abdução manipulativa… tira vantagem do relacionamento entre representações externas, naquilo que chamei de perspectiva eco-cognitva, exatamente porque neste caso o papel do ambiente deve ser destacado. A ação cognitiva incorporada na abdução manipulativa fornece informação não ainda disponível (por exemplo, na ciência, a exploração de ferramentas externas, dispositivos e instrumentos é extremamente difundida), com o propósito de selecionar ou gerar hipóteses interessantes. Para resumir essa sessão curta, nem todos os processos cognitivos são internos: estender, distribuir e desincorporar a mente é um caminho fundamental para aperfeiçoar e tornar mais possantes as performances cognitovas humanas. [A manipulação abdutiva ocorre quando estamos pensando através da ação, e não apenas num sentido pragmático, sobre a ação.] (…) Se alguém disser que imaginar o pensamento como extendido, desincorporado, distribuído e, consequentemente, considerando as interações variadamente relacionadas da mente e do corpo com mediadores externos, não é assim tão importante porque, no final das contas, a parte interna (um tipo de “mandante”, digamos) pode ou tem que controlar as partes externas. Isto não é verdadeiro, como demonstram evidências da ciência cognitiva e da epistemologias, que mostram que a interação é decisiva para analisar a relação entre recursos semióticos internos e dispositivos e suas interações dinâmicas com a ‘materialidade’ semiótica externalizada, já estocada no ambiente.” (...)

“Efetivamente, tal materialidade joga um papel específico e parcialmente autônomo na interação interno/externo, pois ela exib (e opera através) de seus próprios condicionamentos cognitivos (por exemplo, limitações para ações permitidas) e é por causa desses condicionamentos materiais que a mente interna, por assim dizer, pode ‘aprender’ e se desamarrar de suas próprias inflexibilidades e impossibilidades: por assim dizer, os condicionamentos externos são impostos pelo medium disponível. É evidente que os condicionamentos são delineados não apenas pela materialidade disponível, pois eles também dependem de delegações cognitivas específicas para o dispostivo, acessório, artefato etc. externos em questão, performadas pelos seres humanos. Portanto, grande parte dos resultados (e novidades) cognitivas que emergem na mente interna graças às manipulações das externalidades, advêm exatamente das de um munddo externo convenientemente modificado.”

(Magnani, "Ritual Artifacts as Symbolic Habits")

Da perspectiva da criação de conhecimento, o aprendizado é visto como análogo à investigação inovativa através da qual novas idéias, ferramentas e práticas para apoiar a ação inteligente são criadas e o conhecimento em desenvolvimento é significativamente enriquecido ou transformado ao longo do processo. Os processos, práticas e estruturas sociais examinadas através de uma metáfora de criação de conhecimento promovem a criação concentrada de conhecimento novo e inovação, mais do que se ajustam à cultura ou ao discurso socialmente difundido ou à assimilação de conhecimento existente. A visão aquisitiva pode ser enxergada como visão ‘monológica’ da cognição humana, ao enfatizar processos de mente interna. A visão participativa, por sua vez, parece representar uma visão ‘dialógica” já que enfatiza a interação com a cultura, o ambiente (material) circundante ou entre as pessoas. A perspectiva da criação de conhecimento, em contraste, representa uma abordagem ‘trialógica’ ao aprendizado, pois foca no desenvolvimento colaborativo de artefatos ou objetos mediadores, mais do que monólogos ou diálogos entre mentes

(…)

Enquanto as abordagens da aquisição e da participação fornecem recursos valiosos para, respectivamente, compreender aspectos individuais e sociais do aprendizado, tais metáforas não parecem oferecer ferramentas para compreender processos deliberados de avanço e criação de conhecimento, típicos de trabalhos de conhecimento intensivo da era atual. A abordagem trialógica tenciona suscitar práticas inovativas de trabalho com conhecimento em comunidades educacionais e profissionaiis. Uma característica central de tais práticas é a sua natureza artefatualmente mediada: os participantes encontram-se engajados em objetificar e externalizar seu conhecimento e entendimentos em evolução na forma de artefatos compartilhados, de natureza conceitual ou material, que eles podem empregar em suas buscas. (…) O gabarito da criação de conhecimento, portanto, considera que haverá uma crescente e coletiva rede destes artefatos de cognição ou de prática, que provêem uma base para os esforços de investigação subsequente dos participantes.

(Hakkarainen, Kai; Paavola, Sami (2007) From monological and dialogical to trialogical approaches to learning. Paper presented at an international workshop 'Guided Construction of Knowledge in Classrooms')

Horizontes de produção de argumentos[editar | editar código-fonte]

  • Revisão Intersemiótica (Goody, Christin, Campos, Tung-Sun, Chu, Hayakawa, Levy, Nöth, Hockett) das teorias da "interação social" (interacionismo simbólico): Mead, Schutz, Goffman e Garfinkel
  • Democracia no concreto: lugares de Assembléia como arranjos minerais da democracia - Isopsefia, Isegoria, Isonomia
  • Pragmatica dos artefatos de alteridade - Peirce, Mead, Schutz, Souriau, Simondon, Bardone, Magnani, Paavola & Hakkarainen
  • Máscaras, subjetivações e representações-mobilizações
  • A virtualização do apreciador: a publicação como máquina de iluminação
  • Perspectivas coloniais: da Qibla ao gps, da perspectiva ao deep fake/cgi, documentário
  • A invenção da reversibilidade: da Qibla ao Minecraft - o estriamento monoteísta da troposfera ao "olhar da câmara"
  • Colonialismo e apropriação tecnológica de máquinas de generalizar o outro


Propostas de Escrita[editar | editar código-fonte]

Isopsefias: das praias gregas às maquinações militares em torno da urna eletrônica

Mobilização Social e Mobilização Coletiva: Da difícil posição do mobilizador ao conceito expandido de público.