O uso de imagem e das tecnologias de informação no processo de ensino de História

Fonte: Wikiversidade

MINICURSO 32º SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA - ANPUH - 2023

O uso de imagem e das tecnologias de informação no processo de ensino de História[editar | editar código-fonte]

Paulo Eduardo Teixeira

UNESP

paulo.teixeira@unesp.br


EMENTA: Com o avanço da pandemia da Covid-19 e a paralisação das atividades presenciais nas escolas, intensificou o uso da comunicação virtual para superar a distância entre professores e estudantes. Hoje, sem as restrições impostas pela pandemia, voltamos a ocupar espaços de vivência, no entanto, o "mundo imagem" (SONTAG, 2004) está presente em todos eles, inclusive o da escola. Assim, a proposta desse minicurso é a de proporcionar reflexões sobre o uso de imagens no ensino de História, e propor o uso de tecnologias de informação de códigos abertos (software livre) para criarmos condições de desenvolver um Laboratório Didático de Pesquisa Social como espaço de produção de conhecimento experimental e coletivo. Do ponto de vista metodológico, baseamos na noção de Laboratório do Comum (LAFUENTE; CORSÍN JIMÉNEZ, 2011) que considera a participação coletiva dos agentes envolvidos no processo ensino/aprendizagem, que resulta em uma prática criativa e eficaz no contexto da informatização.


FORMA DE DESENVOLVIMENTO DO CURSO

Para o sociólogo José de Souza Martins, autor do livro Sociologia da fotografia e da imagem (2008), qualquer fotografia pode ser riquíssimo documento em informações sociológicas, mas o aproveitamento sociológico da fotografia como documento depende da competência do sociólogo, de seu preparo para ‘ler’ e interpretar apropriadamente uma fotografia.

No que concerne a devida compreensão dos signos imagéticos, principalmente quando se trata do processo educativo no espaço da escola, estes signos devem ser devidamente trabalhados a fim de que, principalmente, não sejam considerados como documentos que apenas confirmam uma realidade imediata e unilateral.

Assim, o curso procurará dar o embasamento necessário para a leitura de imagens e a criação de um laboratório virtual, e para tanto o conteúdo será dividido em três módulos, sendo um dedicado a cada dia da seguinte maneira.

Segunda-feira, 17 de julho de 2023.

08:00-10:00hs = Apresentação do Curso;

                       = Iconografia e Iconologia (PPT 1)

                       = O recurso da ilustração (PPT 4)

                       = A imagem como documento: fotografia e cinema (PPT 5)

Terça-feira, 18 de julho de 2023.

08:00-10:00hs = História e cultura visual. A sala de aula por intermédio de imagens.

                      = Wikiversidade para quem?                    

Quarta-feira, 19 de julho de 2023.

08:00-10:00hs = História, política e cultura audiovisual.

                       = Proposta de criação do Laboratório Didático de Pesquisa Social.


OBJETIVOS

- Discutir os processos de ensino e aprendizagem por meio das tecnologias empregadas pelos docentes.

- Avaliar os impactos das novas tecnologias de comunicação (uso de computador, smartphone, softwares, etc.) e pensar as relações sociais e o olhar dos estudantes para com a escola nesse contexto do "mundo imagem".

- Propor a criação de um Laboratório Didático de Pesquisa Social como um espaço de produção de um conhecimento experimental e coletivo, segundo proposta de Parra (2013) para Laboratório do Comum.


PROGRAMA

Uma narrativa histórico-sociológica se caracteriza por uma finalidade que é a de partilhar com o público ou a sociedade os conhecimentos construídos a respeito de uma dada época, lugar, pessoa, e nesse sentido ela procura se pautar por um discurso da verdade, que se pauta pela descrição da realidade passada, vivida e que permanece plantada na memória de muitos. No fundo, a questão central que se coloca é a da representação do passado a todos aqueles que dirigem algum tipo de produção, como os historiadores, seja na forma de textos escritos, como as reportagens jornalísticas, ou por intermédio de representações gráficas e pictóricas, como as imagens fotográficas ou cinematográficas. Assim, a primeira parte do Programa do Minicurso procurará estabelecer alguns conceitos importantes para se ler uma imagem.

A crise que passou a assolar o mundo contemporâneo após a II Guerra Mundial, marcadamente a partir dos anos de 1960, é chamada por Fredric Jameson de pós-modernismo, um conceito que para ele tem a função de “correlacionar a emergência de novos aspectos formais da cultura com a emergência de um novo tipo de vida social e com uma nova ordem econômica.” (1985:17). Essa emergência de uma “nova ordem” de coisas, tratada por Jameson, propiciou o advento da Nova História, uma corrente do pensamento historiográfico que não ficou inerte ao processo pós-moderno e à emergência da sociedade midiática e se aproximou ainda mais de disciplinas como a Antropologia e a Sociologia, buscando no instrumental teórico e metodológico destas áreas uma forma para vencer os desafios que os novos estudos propunham, sobretudo a partir da emergência de novos objetos e novos temas para os historiadores. Um dos resultados visíveis no campo do ensino da História foi a de levar os estudantes a privilegiarem a problematização da História contada, narrada, descrita nos livros, sobretudo os didáticos, mas também muitos outros que eram concebidos como discursos de “autoridade”.

Para Ernesta Zamboni, essa falta de problematização foi encontrada não só nos livros didáticos, assim como em outros produtos da indústria cultural, como vídeos, filmes, pinturas, gravuras, fotografias, e outros materiais considerados didáticos e aplicados no processo de aprendizagem entre professores e alunos, justamente porque o conhecimento histórico “é visto como uma verdade absoluta, homogeneizadora”. (ZAMBONI, 1998: 89) Assim, na segunda parte do Programa discutiremos questões relativas a cultura visual na atualidade e sua relação com o ensino e as tecnologias virtuais.

Finalmente, a terceira parte do Programa prevê a criação de uma circunstância para a produção de um saber situado e contextualizado, que se constituirá em espaço alternativo de produção de conhecimento, possibilitando a configuração de novos contornos nas relações entre cientistas e os diversos públicos. Assim, o Laboratório Didático de Pesquisa Social funcionará como um espaço de produção de um conhecimento experimental, um espaço para a prototipagem, capaz de valorizar a inteligência coletiva. Nossa finalidade nessa etapa será a de criar um Laboratório do Comum também denominado Laboratório de Inovação Cidadã (PARRA, 2013), que será estabelecido na plataforma Wikiversidade (https://pt.wikiversity.org/wiki/P%C3%A1gina_principal).


BIBLIOGRAFIA

BIANCO, Bela Feldman & LEITE, Miriam Moreira. Desafios da Imagem. Fotografia, iconografia e vídeo nas ciências sociais. Papirus, 1998.

BITTENCOURT, Circe. (org.) O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1998.

JAMESON, Fredric. Pós-modernidade e sociedade de consumo. Novos Estudos CEBRAP. São Paulo, n.º 12, pp. 16-26, jun. 1985.

KOSSOY, Boris. O olhar europeu: o negro na iconografia brasileira do século XIX. São Paulo: Edusp, 1994.

_______. Fotografia & História. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

LAFUENTE, Antonio; CORSÍN JIMÉNEZ, Alberto. Comunidades de atingidos, o comum e o dom expandido. Revista Galáxia, São Paulo, n. 21, p. 10-25, jun. 2011. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/6257>.  Acesso em 28 fev 2019.

MARTINS, José de Souza. Sociologia da fotografia e da imagem. São Paulo: Contexto, 2008.

PARRA, Henrique Z. M. Educação Expandida e Ciência Amadora: primeiros escritos. In: Cláudio Benito Oliveira Ferraz, Flaviana Gasparotti Nunes. (Org.). Imagens, Geografias e Educação: intenções, dispersões e articulações. 1ed.Dourados: Ed.UFGD, 2013, v. , p. 79-102. Disponível em: <http://www.academia.edu/4770415/Educacao_Expandida_e_Ciencia_Amadora_primeiros_escritos>. Acesso em 24 mar 2019.

_______.; FRESSOLI, M.; LAFUENTE, A. Apresentação do Dossiê: Ciência Cidadã e Laboratórios Cidadãos. LIINC EM REVISTA, Rio de Janeiro, RJ, v. 13, p. 1, 2017. Disponível: <http://revista.ibict.br/liinc/article/view/3907/3229>. Acesso em 24 mar 2019.

PESAVENTO, Sandra J. Em busca de uma outra História: Imaginando o imaginário. Revista Brasileira de História, v.15, n.29, São Paulo, 1995, pp.9-27.

SALIBA, Elias Thomé. As imagens canônicas e a História. In: CAPELATO, M.H. [et.al.]. História e Cinema. São Paulo: Alameda, 2007, pp. 85-96.

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

ZAMBONI, Ernesta. Representações e linguagens no ensino de História. Revista Brasileira de História, v.18, n.36, São Paulo, 1998, pp.89-102.