Panbiogeografia

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A panbiogeografia, originalmente formulada por Leon Croizat em 1958, foi a única síntese biológica desde a teoria da evolução de Charles Darwin que abrangia e integrava todas as principais dimensões e interrelações (espaço, tempo, forma) de evolução (Craw et al. 1999[1]).

A panbiogeografia é, além de um “track method”, uma forma de reconhecer os padrões vicariantes de distribuição por meio dos quais taxa relacionados substituem uns aos outros no espaço geográfico e tempo. Segundo o método, vicarianismo (evolução alopátrica) é o modo prevalente de diferenciação espacial e biológica. Essa teoria surgiu em oposição aos paradigmas vigentes na época, conhecidos como dispersalismo (ou dispersionismo), que postulavam que os organismos evoluíam a partir de “centros de origem”. Espécies pré-existentes randomicamente cruzavam barreiras para ocupar novas áreas, onde se adaptavam e evoluíam em novas espécies. Croizat assumiu que a vicariância e a expansão de distribuição eram os únicos processos biogeográficos necessários para explicar a distribuição biótica geral (Morrone, 2015). O modelo vicariante enfatiza a formação de barreiras após dispersão ancestral. A barreira, então, promove o isolamento necessário para a diferenciação dos taxa (Craw et al. 1999[1]).

No método da panbiogeografia, quaisquer duas distribuições são comparáveis, mas critérios biogeográficos específicos são necessários para identificar distribuições que exibem as mesmas características (distribuições homólogas) e aquelas que não exibem (distribuições não-homólogas). Na panbiogeografia as comparações são espaciais, e o conceito de homologia é ligado aos caracteres geográficos, que permitem a correspondência de padrões de distribuição com padrões de geologia, geomorfologia, ou tectônica para formular hipóteses de uma relação histórica comum (Craw et al. 1999[1]). A análise dos padrões de distribuição e homologia espacial é chamada de “track method” e involve quatro conceitos principais: tracks (traços), nodes (nós), main massing (densidade demográfica) e baseline (linha de base).

Traço é uma linha desenhada no mapa que conecta as diferentes localidades ou áreas de distribuições de um táxon ou grupo de taxa (Craw et al. 1999[1]). Um nó é o ponto de intersecção entre dois ou mais traços (Craw et al. 1999[1]). Um main massing é a maior concentração de diversidade biológica na extensão geográfica do táxon (Craw et al. 1999[1]). Uma baseline é uma correlação espacial entre um traço e uma característica geográfica ou de paisagem específica atravessada por esse traço (Craw et al. 1999[1]). A baseline permite que correlações sejam feitas entre padrões de distribuição e padrões de geologia e tectônica, a partir dos quais, hipóteses de relações históricas podem ser propostas. Traços que compartilham a mesma baseline podem ser consideradas homólogos biogeográficos, considerando que este conceito de homologia é espacial, enquanto na biogeografia dispersionista as homologias são baseadas em meios compartilhados de dispersão, idade de origem presumida, centro de origem presumido, ou presumida associação com um cenário histórico ou ecológico particular (Craw et al. 1999[1]).

BASES TEÓRICAS DO MÉTODO[editar | editar código-fonte]

  • Terra e vida evoluem juntos.
  • Biota evolui através de barreiras geográficas, essencialmente por vicariância.

APLICAÇÕES[editar | editar código-fonte]

  • Comparar distribuições disjuntas
  • Testar limites biogeográficos
  • Definir áreas de concentração de biodiversidade
  • Definição de áreas prioritárias para conservação

PREMISSAS[editar | editar código-fonte]

  • As linhas generalizadas estimam a biota ancestral (Croizat et al. 1974[2]).
  • Se uma série de taxa possui uma distribuição coincidente, então todos adquiriram a sua distribuição por um mesmo caminho.
  • Padrões de distribuição constituem uma base de dados empírica para análise biogeográfica (Craw et al. 1999[1]);
  • Padrões de distribuição fornecem informação sobre onde, quando e como os animais e plantas evoluem (Craw et al. 1999[1]);
  • Os componentes espaciais e temporais desses padrões de distribuição podem ser graficamente representados (Craw et al. 1999[1]);
  • Hipóteses testáveis sobre as relações históricas entre evolução da distribuição e história da Terra podem ser derivadas das correlações geográficas entre gráficos de distribuição e características geológicas/geomórficas (Craw et al. 1999[1]);
  • A vicariância e a expansão de distribuição são os únicos processos biogeográficos necessários para explicar a distribuição biótica geral.

LIMITAÇÕES[editar | editar código-fonte]

  • O método não considera a especiação por dispersão. Diversos autores afirmam que os panbiogeógrafos rejeitam fortemente a significância da dispersão a priori, em qualquer forma (e.g. Holland 2012; O’Grady et al. 2012; Waters et al. 2013) (Heads, 2014[3]). Tanto a dispersão de organismos ancestrais quanto a diferenciação vicariante de populações ancestrais são necessárias para a evolução biológica e geográfica (Craw, 1978[4]).
  • Considera apenas a distribuição atual da espécie. Portanto, ignora ou apresenta erroneamente evidências chave (Holland 2012; O’Grady et al. 2012; Waters et al. 2013).
  • O método não é falseável. Rosen (1975)[5] tentou propor um método para testar os dados. Segundo ele, a biota ancestral poderia ser testada com a adição de novas linhas adicionais aos dados. Entretanto, isso não é um teste válido, uma vez que as linhas individuais representam a relação da biota existente, e, portanto, elas não dizem nada a respeito da biota ancestral hipotética.

TUTORIAL DE USO[editar | editar código-fonte]

  1. Identificar os pontos de ocorrência (localidade) das espécies;
  2. Construir linhas individuais para 2 ou mais taxa, conectando as localidades de cada táxon de acordo com sua proximidade geográfica;
  3. Obter linhas generalizadas baseadas na sobreposição de 2 ou mais linhas individuais diferentes;
  4. Identificar os nós nas áreas nas quais 2 ou mais linhas generalizadas se cruzam.

REFERÊNCIAS[editar | editar código-fonte]

  1. 1,00 1,01 1,02 1,03 1,04 1,05 1,06 1,07 1,08 1,09 1,10 1,11 Craw, R.C., Grehan, J.R., Heads, M.J. 1999. Panbiogeography: tracking the history of life. New York: Oxford University Press: 229p. Disponível em: http://www.univpgri-palembang.ac.id/perpusfkip/Perpustakaan/Geography/Biogeography/(Oxford_Biogeography_Series)Robin_C._Craw,_John_R._Grehan-Panbiogeography_Tracking_the_History_of_Life-Oxford_University_Press,_USA(1999)_2.pdf
  2. Croizat, L., G. J. Nelson, & D. E. Rosen. 1974. Centers of origin and related concepts. Systematic Zoology 23: 265-287.
  3. Heads, M. 2014. Panbiogeography, its critics and the case of ratite birds. Australian Systematic Botany 27: 241-256. Rosen, D. E. 1975. A vicariance model of Caribbean biogeography. Systematic Zoology 24: 431-464.
  4. Craw, R. C. 1978. Two biogeographical frameworks: implications for the biogeography of New Zealand. A review. Tuatara 23: 81-114.
  5. Rosen, D. E. 1975. A vicariance model of Caribbean biogeography. Systematic Zoology 24: 431-464.

REFERÊNCIAS ADICIONAIS[editar | editar código-fonte]

Artigos que resumem a história da Panbiogeografia:

Briggs, J.C. 2007. Panbiogeography: its origin, metamorphosis and decline. Russian Journal of Marine Biology 33: 273–277.

Grehan, J.R. 2011. Introdução à pan-biogeografia: método e síntese. Biogeografia da America do Sul: Padroes e processos (ed. by de Carvalho C.J.B. and E.A.B. Almeida), pp. 65– 98. Editora Roca Limitada, São Paulo.