Saltar para o conteúdo

Relatório da Vivência na Aldeia Guarani Rio Silveiras (Ediney dos Santos Ferreira, Julia Oliveira Reis de Deus, Jade Liu de Almeida, Leticia Milene Bezerra Silva, Nathalia Nunes de Souza, Thalles Moreira de Oliveira)

Fonte: Wikiversidade

Universidade de São Paulo - Escola de Artes, Ciências e Humanidades


Ediney dos Santos Ferreira 11271550 Julia Oliveira Reis de Deus 11319228 Jade Liu de Almeida 11209924 Leticia Milene Bezerra Silva 11209890 Nathalia Nunes de Souza 11209632 Thalles Moreira de Oliveira 11271682


Relatório da Vivência na Aldeia Guarani Rio Silveiras


• Introdução

       Relacionando experiências empíricas com conceitos aprendidos em sala de aula, foi realizada, no dia 7 de Junho de 2019, a viagem para a Aldeia Guarani Rio Silveiras, coordenada pelo Professor Dr. Jorge Machado e parte integrante do cronograma da disciplina "Sociedade, Multiculturalismo e Direitos - Cultura Digital". Com o objetivo de proporcionar aprendizado sobre diversidade cultural, fomos expostos à realidade indígena, através do contato direto com os integrantes da aldeia.


• Vivência


      Partindo às 13:30 rumo à Bertioga, levamos alimentos para doação e mudas de plantas frutíferas e típicas da Mata Atlântica. Durante o percurso, nos apresentamos e conversamos sobre as atividades que seriam realizadas durante a viagem, bem como as expectativas levantadas por cada um.

    Ao chegarmos lá, primeiramente montamos as barracas, em seguida fomos jantar. Logo após, fomos chamados à primeira experiência marcante da vivência: a reza. Muita fumaça e pouca iluminação trouxeram o primeiro choque cultural. No início, a fogueira é acesa por membros da aldeia enquanto o Pajé purifica o local puxando e soltando a fumaça do cachimbo em todas as direções, ao mesmo tempo em que ele faz suas orações agradecendo Nhanderu (Deus Guarani). Em seguida, homens e mulheres se dividiam e ocupavam lados opostos da casa de reza, enquanto os homens tocavam chocalhos e cantavam em tons graves, as mulheres utilizavam bastões de ritmo e cantavam em notas mais agudas. Após as primeiras cantigas, professores e membros da aldeia foram convidados a se apresentarem e compartilhar suas expectativas sobre a vivência. Por fim, cantamos mais algumas músicas e encerramos a primeira reza. Durante o restante da noite houve um momento de confraternização junto à fogueira; enquanto alguns tocaram violão e cantaram, outros aprenderam a fazer Tipá (bolo tradicional indígena). Além disso, observamos as estrelas e jogamos cartas.


      Logo no primeiro dia já sentimos uma sensação de acolhimento que se intensificou durante o restante da viagem. O fato de termos sido convidados a entrar e participar de uma cerimônia sagrada no primeiro contato com a aldeia, contribuiu com nossa integração e maior imersão na experiência. Apesar do incômodo inicial com a fumaça dentro da casa de reza, o sentimento mais forte após a reza foi de paz, e quando voltamos à área comum tivemos a oportunidade de nos unir em diversas atividades como a produção de tipá, ensinados por um menino indígena que nos mostrou a maneira tradicional de manusear a massa. Uma das experiências importantes foi a união ao redor da fogueira, com música e conversas entre os alunxs de diferentes cursos.


     No segundo dia, durante o café da manhã, pudemos perceber a integração homem-natureza com a presença de um porco selvagem, o qual não possuía donos e andava livremente pela aldeia, apesar de não ser domesticado. Ainda pela manhã, tivemos uma roda de conversa com Marinho, genro do pajé, e tiramos dúvidas sobre costumes, tradições, dificuldades e visão de mundo. A conversa foi importante pois fomos apresentados à realidade vivida pelas pessoas inseridas naquele contexto: perguntamos sobre relacionamentos, vida na aldeia, religiosidade, responsabilidades, divisão de tarefas entre gêneros, alimentação, entre outros. Por volta das 11 horas, realizamos atividades de integração entre os alunos, bastante significativa devido à integração entre indivíduos que normalmente não entrariam em contato. Presenciamos, também, a “Guarani Race”, uma corrida onde indígenas e juruás (não indígenas) participam juntos num caminho com trilhas centenárias. A seguir, houve o almoço, que, assim como todas as refeições, era preparado por alunxs, monitorxs e moradores da aldeia em conjunto. A fogueira permanecia acesa durante todo o dia, e alguns alimentos eram cozidos sobre ela; algo marcante era que as crianças desempenhavam diversas tarefas, como cozinhar alimentos, auxiliar no molde dos tipás e acender a fogueira. A seguir, todos se juntaram e fomos à praia, a alguns minutos da aldeia, e o que esperávamos ser somente um momento de lazer tornou-se também um grande aprendizado ao nos juntarmos em roda para ouvir sobre a história, formação e luta da Rio Silveiras, contadas pelo Professor Jorge.


      O momento mais especial da viagem foi a reza do segundo dia, diferente do anterior pois já estávamos mais situados naquele contexto e local, sabíamos como agir e estávamos mais confortáveis naquele espaço. Não somente reza, foi também um agradecimento geral, e nos marcou muito o momento em que o cacique Mariano, após nos agradecer por estar ali, disse: “Amo vocês, cara!”. Após gratificações, fomos surpresos por uma celebração de aniversário coletivo. Cantamos “parabéns” em português, sendo que, depois, foi cantado em guarani. Para completar a cerimônia, bolos foram distribuídos e divididos entre todos. Em seguida, houve oficina de pães veganos e o jantar. O senso de comunidade foi observado na liberdade das crianças, que corriam livremente, sem preocupações excessivas dos pais pois todos cuidavam de tudo coletivamente, além da divisão de tarefas entre o todo.


     No domingo, último dia da vivência, acordamos mais cedo do que nos dias anteriores, e após o café da manhã, estava prevista a realização de uma trilha até o antigo núcleo da aldeia onde o pajé passou sua infância. Foram distribuídas as mudas de plantas entre todos os presentes para que pudéssemos plantá-las nos locais indicados pelo pajé, e as mudas mais pesadas foram levadas de carro. Durante a trilha, formamos trios para revezar o transporte dos vasos, além de reforçar a necessidade de permanecermos próximos uns aos outros. Ao chegarmos na antiga aldeia, nos deparamos com uma árvore que nos chamou a atenção por sua altura e imponência, além das belezas naturais que nos deixaram fascinados. Formamos uma roda em volta da árvore e fizemos uma pausa reflexiva como sinal de respeito a um ambiente tão especial para aquela aldeia. Em seguida, o pajé nos contou algumas histórias sobre sua infância naquele local, além de nos revelar que por meio de um sonho ele recebeu um chamado de seu falecido avô para reerguer o antigo núcleo. Após a conversa, plantamos as mudas com frutos variados, como açaí, pitanga e cereja. Seguimos a trilha em direção às piscinas naturais do Rio Silveira, onde nadamos e nos conectamos com o ambiente que não apresentava modificações humanas, o que contrastava com o ambiente urbano o qual estamos habitualmente inseridos.


      Na volta à aldeia em que estávamos acampados, após conhecermos melhor o percurso, esse retorno nos mostrou um novo modo de perceber a mata fechada pois ouvimos sons que não havíamos ouvido, vimos caminhos e frutos distintos. Ao retornamos para o centro de uma segunda aldeia, fomos recebidos pelo outro cacique que nos contou sobre as dificuldades políticas e ambientais que eram vividas pelos indígenas com as trocas de governo brasileiro. O cacique nos mostrou que o distanciamento dos juruás perante a natureza é prejudicial pois o nosso contato com os bens naturais deveria ser permanecido, e é nele que encontraríamos uma “fuga “ de toda a pressão promovida no ambiente urbano.   A simplicidade do momento foi demarcada com um tucano que observamos em uma das árvores, e tal acontecimento foi ressaltado como algo precioso pelo cacique, em que salientou a necessidade de respeito aos bens naturais e ao modo de vida que se perdeu com a modernidade presente nas grandes cidades.

      Prosseguimos o restante do caminho, passando pela escola da aldeia, pelas outras moradias até chegar no local em que íamos nos alimentar, para assim finalizar toda a vivência proposta. A última refeição na aldeia nos possibilitou notar coisas simples, como a tranquilidade das pessoas que estavam se alimentando conosco, sorrisos singelos que demonstravam a satisfação de estar presenciando aquela convivência e a passagem do tempo que como haviam nos dito, seria diferente comparado ao nosso dia a dia.


• Conclusão

    Por fim, agradecemos pela oportunidade de poder vivenciar tão de perto uma realidade que normalmente nos é exposta com estereótipos e superficialidade. Indígenas vivem uma luta constante pela manutenção de sua cultura, assim como pela preservação da natureza. Seja qual for o motivo, há muita empatia por trás de cada ideologia guarani. Nossa sociedade "moderna" tem muito o que aprender com esses povos que foram desacreditados, mas nunca deverão ser apagados da história, pois são a "história viva" do Brasil.