Roney Fiches
Como matéria da Escola de Artes Ciência e Humanidades da Universidade de São Paulo, por meio do Professor Jorge Machado, na disciplina de ACH3707 - Seminários de Políticas Públicas Setoriais 2 – Multiculturalismo e Direitos, tivemos a oportunidade de ter contato com a cultura indígena e aprendemos mais sobre sua cultura cujo objetivo foi adquirir o conhecimento além das aulas expositivas por meio de uma experiência de emersão que aconteceu em duas visitas as aldeias.
Na primeira visita fomos à aldeia indígena no pico do Jaraguá chamada Tekoá Pyau, na qual tivemos a presença da líder comunitária que nos recebeu primeiramente na casa de reza, e discorreu acerca de como os atores políticos acabam trabalhando e lindando com a questão indígena, com relação a portarias, leis e outras formas que acabam influenciando as suas vidas. Nesta mesma data; também fomos ver o rio que passava a aldeia e sobre a sua situação; poluído, situação que impossibilita a vivencia natural dos habitantes locais e que por muitas vezes as autoridades e outros atores políticos acabam atribuindo a eles a responsabilidade pela poluição deste rio, quando na verdade o rio já chega poluído na reserva.
Na reserva, pudemos perceber que existia um barulho muito alto dos carros que passavam próximos das rodovias e que a reserva também era cortada por uma estrada.
Percebemos que as condições de vida deles eram muito precárias. Vimos que a escola era diferenciada, e percebemos que eles também falavam outra língua que até então nunca tinha tido contato, o tupi-guarani. Dialogamos um pouco depois de passar por algumas casas da aldeia e depois fomos embora, pois não conseguimos ir na casa de reza nova, onde estava ocorrendo a sua inauguração.
Como experiência pessoal, pude perceber que a situação de vida dos moradores da Aldeia Tekoá, é muito precária; não imaginava que as condições de vida daquele jeito, mesmo sabendo que seria uma outra cultura, mas o que parece é que os governantes não proporcionam uma questão de vida digna a essa comunidade.
Na segunda visita, fomos para Aldeia Rio Silveira que fica na cidade de São Sebastião e diferente da primeira visita, fomos lá para passar 3 dias (Sexta, Sábado e Domingo.)
No primeiro dia na aldeia, tivemos muita dificuldade em passar com o carro pelas poças, algo que já me levou ao pensamento que as ruas lá não são feitas para o uso comum de carros como vimos aqui; ou que a prioridade realmente é o meio ambiente e não os veículos.
No primeiro dia montamos as nossas barracas, e depois fomos iniciar as atividades, que se estenderam até o período noturno. Em relação ao grupo que eu pertencia: Brincadeira e Gincanas; pude perceber que a infância deles se assemelha a minha infância, e por mais que exista a diferença cultural, algo me remeteu a lembrança de quando eu era pequeno e brincava nas ruas de barro da cidade de Itaquaquecetuba; algo meio que nostálgico em relação aquela situação, mas não foi algo negativo, foi positivo; me senti criança novamente em poder brincar com eles.
Após, fomos fazer uma caminhada até o rio, e alguns estudante puderam entrar. O interessante foi ver que existia um rio só para as mulheres. No período noturno pudemos conversar com o Lenilson, um jovem da comunidade indígena, por volta dos 15 anos, na qual conversamos acerca de várias coisas.
Ele informou que além dele outros jovens que compõe a Liderança Jovem Indígena (algo que inclui membros de outras aldeias) estavam no paraná, para tentar revogar a portaria que surgiu contra o direito dos índios. Neste contato também pudemos ver como se relaciona o direito indígena na aplicação, principalmente em relação a escola e a saúde; que são um atendimento diferenciado; algo que em minha concepção está correto, pôr o princípio de equidade e justiça deve fornecer uma forma diferenciada de atendimento para que eles consigam se desenvolver também. Outra questão que conversamos foi sobre o uso da tecnologia digital e como as ferramentas eletrônicas auxiliam para que eles consigam se articular e lutarem por seus direitos.
O Lenilson, falou que existem trabalhos individuais e trabalhos comunitários, que se um índio casa com alguém fora da aldeia, ele não pode voltar, e que em sua maioria, os indígenas, saem para cursar direito e cursar pedagogia; onde algumas vezes não possuem nem comida para se alimentar ou recursos suficientes para custear a faculdade.
Usar roupa, ter sky (televisão), ter celular, com Whatsapp e Facebook não excluem a cultura local; em uma forma que eles possuem forte contato com a nossa cultura, mas ao mesmo também mantém a deles.
Depois a noite tivemos um momento na casa de reza, além do momento religioso, tivemos uma conversa com o Mariano (Uma liderança indígena) e o pajé que discorreram acerca de muitas coisas que o Lenilson já tinha conversado. Uma questão interessante foi a relação do nome (mar, rio, sol ou lua) e a diferença de cacique e pajé.
Assim, encerramos esse dia e passamos muito frio na madruga;
No dia seguinte, tomamos café e fomos fazer uma trilha; nesta trilha percorremos a mata, uma longa distância e demoramos um pouco mais porque um dos grupos se perdeu, e acabamos não conseguindo chegar na cachoeira, mas pude dar muita risada durante o caminho, pois diversas vezes me atolei na lama bem como meus amigos.
Durante a noite, fomos na casa de reza ver as questões da sociedade, tirar algumas dúvidas. Vimos as danças a noite dos índios, do ritual e dormimos.
No dia seguinte um grupo foi jogar futebol após tomar café e eu retornei para a cidade de Suzano, para votar no segundo turno das eleições de Prefeito da Cidade.
A experiência pode me proporcionar uma visão de como essa minoria consegue se preservar sem muitos recursos; como a questão indígena no Brasil ainda é tratada com descaso, bem como os movimentos que tentam cercear os direitos deles.
Pude perceber que uma cultura não precisa prevalecer sobre a outra ou ditar regras, normas, padrões e regimentos sobre a outra, e a síntese de tudo isso é a COEXISTÊNCIA, existir conjuntamente, respeitando e fornecendo maneiras DIGNAS para que isso aconteça.
Essa vivência ficará para além da minha experiência pessoal, pois a todas as pessoas que vivem no meu círculo social poderão receber através de mim informações acerca desta experiência, com informações que vão além do nosso "conhecimento" sobre essa questão indígena.