Sociologia e Comunicação/Aula 5

Fonte: Wikiversidade

“Para Spivak o papel dos intelectuais não deve ser o de representar ou falar pelo sujeito subalterno, eles devem abrir espaços para que eles possam falar e mais do que isso, que possam ser ouvidos, pois não resolverá o problema se estes falarem e ninguém os ouvir. Nesse sentido a autora conclama principalmente as mulheres intelectuais, não para que essas representem as demais mulheres, mas para encontrar meios eficazes em que essas sejam ouvidas e se auto-representem” ).

(Cleiton Ricardo das Neves e Amélia Cardoso de Almeida. A identidade do “Outro” colonizado à luz das reflexões dos estudos Pós-Coloniais)


Seu Ignácio fingiu não ouvir. E Fabiano foi sentar-se na calçada, resolvido a conversar. O vocabulário dele era pequeno mas em horas de comunicabilidade enriquecia-se com algumas expressões de Seu Tomás da bolandeira. Pobre de Seu Tomás. Um homem tão direito sumir-se como cambembe, andar por este mundo de trouxa nas costas. Seu Tomás era pessoa de consideração e votava. Quem diria? Nesse ponto um soldado amarelo aproximou-se e bateu familiarmente no ombro de Fabiano: - Como e, camarada? Vamos jogar um trinta-e-um lá dentro? Fabiano atentou na farda com respeito e gaguejou, procurando as palavras de Seu Tomás da bolandeira: - Isto é. Vamos e não vamos. Quer dizer. Enfim, contanto, etc. É conforme.Levantou-se e caminhou atrás do amarelo, que era autoridade e mandava. Fabiano sempre havia obedecido. Tinha muque e substância, mas pensava pouco, desejava pouco e obedecia.

(Graciliano Ramos. Vidas Secas)


”Segundo Spivak a vida do subalterno colonial é inequivocamente tensa e desesperadora, mas a autora chama a atenção para uma situação ainda mais desesperadora, que é a do sujeito mulher, negra, pobre e claro, colonizada. Dessa forma está envolvida ainda mais que o sujeito subalterno masculino, uma vez que além se submeter ao colonizador ainda deve obediência ao pai ou ao marido, se submetendo também ao sistema patriarcal, sendo assim subalterna do subalterno como assinala autora: ‘Se, no contexto da produção colonial, o sujeito subalterno não tem história e não pode falar, o sujeito subalterno feminino está ainda mais profundamente na obscuridade’ (SPIVAK, 2010:67).


(Cleiton Ricardo das Neves e Amélia Cardoso de Almeida. A identidade do “Outro” colonizado à luz das reflexões dos estudos Pós- Coloniais).


“Assim, trabalhar com a autoria de escritoras afro-brasileiras se mostra relevante não só para tornar merecidamente visíveis ou promover essas obras literárias, mas também por colaborar com a diversidade dentro do ambiente cultural acadêmico. É importante que a universidade se disponha a trabalhar com pesquisas e de estudos diversificados, com lugares de fala distintos dos tradicionalmente já estudados, visando um olhar mais plural e fiel à natureza e às demandas da sociedade à qual, afinal, a universidade serve. Conhecendo boa parte da produção de autoria de mulheres negras brasileiras, diante da constatação da escassez de estudos sobre elas e consciente da luta de uma população para que sua voz seja ouvida sem a mediação da voz de pessoas de outro grupo, que se coloca em posição de reivindicar algo em nome de um/a outro/a com a ilusão e a crença de que pode falar por esse outro (SPIVAK, 2010), procuro por meio dessa dissertação, contribuir para a ampliação dos espaços de representação e de questionamento dos atuais limites da Literatura Brasileira Contemporânea.


(Adélia Regina da Silva Mathias VOZES FEMININAS NO “QUILOMBO DA LITERATURA”: a interface de gênero e raça nos Cadernos Negros)


“[Uma ciência do discurso](...) deve levar em conta as leis de formação de preços características do mercado em questão (...) as condições de recepção antecipadas fazem parte das condições de produção, e a antecipação das sanções do mercado contribui para determinar a produção do discurso. (...) Tal sentido (...), acaba determinando as correções e todas as formas de autocensura, concessões que se outorgam a um universo social pelo fato de aceitar tornar-se aí aceitável.”

(Bourdieu)