Sociologia e Comunicação/Marx-Engels parte I

Fonte: Wikiversidade

A influência de Marx sobre a Sociologia ocorre com a introdução dos estudos sobre a luta de classes e o modo pelo qual as contradições sociais passam a ocupar o centro da análise das dinâmicas sociais.

As sociedades são vistas e analisadas a partir dos conflitos e contradições gerados em torno da produção e da distribuição da riqueza produzida nelas.

Nesta aula, vamos destacar a) o método dialético e a visão materialista da História como uma forma particular de abordagem das sociedades e; b) a dinâmica instável, expansionista e globalizante do capitalismo.

A Dialética Marxista[editar | editar código-fonte]

A Dialética e o materialismo encontrado no pensamento de Marx está relacionado, inicialmente, à filosofia de Hegel e à visão materialista de Feuerbach.

A ideia de que a História é um Devir, um vir a ser, um permanente movimento de superação das contradições que as sociedades carregam é a marca da Dialética. Todas as sociedades que carregam contradições nas suas formas de existência são obrigadas a enfrentá-las e superá-las de algum modo.

A existência de um modo particular de sociedade ( a tese ou sua afirmação) é marcada por contradições (sua antítese ou negação) que, de algum modo, pressupõe algum tipo de superação (síntese ou negação da negação) gerada pelas forças sociais em conflito.

Cada nova superação torna-se mais complexa que anterior porque foi obrigada a superar suas contradições em um novo modo de existência.

Quando Marx dizia que o comunismo somente seria possível após o capitalismo, o que ele queria dizer?

Somente com a superação das contradições de classe da antiga sociedade aristocrática e feudal por novas relações de produção e forças produtivas capitalistas seria possível criar a riqueza e o desenvolvimento necessário para um novo tipo de sociedade: a sociedade comunista.

Para isso, seria necessário superar as contradições do próprio capitalismo.

O Materialismo Histórico[editar | editar código-fonte]

No que diz respeito ao materialismo de Marx, ele consiste no modo pelo qual esse pensador entendia os conflitos sociais e a História.

Os conflitos não se dão, necessariamente, no nível das ideias sobre diferentes tipos de sociedades, mas dizem respeito a conflitos ligados às posições de classe dos agentes sociais e às suas condições materiais para o exercício da dominação.

Por isso, a estrutura econômica ou as formas materiais de existência da sociedade passam a ter um peso importante na sua análise da sociedade. As ideias não estão descoladas de um modo de existência material muito particular. Na verdade, elas acabam por se articular a esse modo de existência.

Há um relação complexa de condicionamento (às vezes, Marx usa o termo determinação) entre a estrutura econômica da sociedade (as condições materiais de produção) e a sua superestrutura (leis, ideologia, Estado, valores morais etc.).

O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência… “O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. (Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política” – texto em que Marx faz um balanço da sua trajetória)

Que consequências podemos tirar desse pensamento: Não podemos separar as ideias das condições sociais de existência daqueles que as compartilham e que acreditam nelas. Ou seja, a posição de classe de determinados indivíduos vai condicionar o modo pelo qual pensam a sua existência e a existência dos outros, como pensam os conflitos ou a ordem. Isso tem consequências sérias para as formas de consciência social ou o que Marx chama de ideologia:

As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe assim, ao mesmo tempo, dos meios para a produção espiritual, pelo que lhe estão assim, ao mesmo tempo, submetidas em média as ideias daqueles a quem faltam os meios para a produção espiritual (Feuerbach. Oposição das Concepções Materialista e Idealista – Capítulo Primeiro de A Ideologia Alemã – Karl Marx e Friedrich Engels 1845-46)


Como o foco de sua atenção são as contradições da sociedade burguesa ou capitalista, Marx observa que o modo pelo qual esse tipo de sociedade enfrenta seus conflitos se dá por um processo de constante expansão e revolução dos modos de produção (que já foi chamada de “destruição criativa”) Trata-se de um processo civilizatório que pretende atingir todo o globo terrestre e submeter todas as culturas à sua lógica.

É o que ele diz no Manifesto Comunista de 1848:

A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, e, por conseguinte, as relações de produção, isto é, o conjunto das relações sociais. Uma revolução continua na produção, uma incessante comoção de todo o sistema social, uma agitação e uma insegurança constantes distinguem a época burguesa de todas as anteriores…Em virtude do rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e do constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta na corrente da civilização todas as nações, até as mais bárbaras … Numa palavra: forja um mundo à sua imagem e semelhança. (Marx/Engels. Manifesto Comunista, 4.reimpressão, Boitempo Editorial: São Paulo, p.43)

Qualquer semelhança com o processo de globalização, que vivemos atualmente, não seria uma coincidência.


Referências Bibliográficas[editar | editar código-fonte]

MARX/ENGELS (História). Coleção Grandes Cientistas Sociais (org. Florestan Fernandes). 3.ed. Ática: São Paulo, 1989

QUINTANERO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de O. ; OLIVEIRA, Márcia G. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

Outras Referências[editar | editar código-fonte]

Codato, Adriano. O conceito de ideologia no marxismo clássico: uma revisão e um modelo de aplicação. Política & Sociedade – Florianópolis – Vol. 15 – Nº 32 – Jan./Abr. de 2016

Ubercapitalismo e uberiado – Instituto Humanitas – Unisinos, 25 junho 2017

Christian Fuchs: Internet and Class Struggle –Interviewed by Benjamin Bürbaumer

Two centuries on, Karl Marx feels more revolutionary than ever –Stuart Jeffries – The Guardian, 05/05/2018

Alexandre Fernandez Vaz: “Teoria Crítica do Esporte”  –Equipe Ludopédio – 10 de janeiro de 2018 (Part I e Parte II)

How Meme Culture Is Getting Teens into Marxism -On social media, youths are seizing the memes of production to prove that continental philosophy isn’t just an academic abstraction. Hannah Ballantyne –Broadly, Apr 27 2017, 2

Revista Cult – Dossiê: Variações sobre a luta de classes