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Sociologia e Comunicação/Weber-parte II

Fonte: Wikiversidade

Poder e Dominação como tipos puros

É importante que todos lembrem, sempre, que Weber trabalha com tipos puros (também chamados de tipos ideais). Ele isola e acentua alguns aspectos que considera mais importantes para a compreensão da ação social. Todos nós, podemos construir outros tipos puros se acharmos necessário.

Neste caso, ele faz uma distinção entre Poder e Dominação.

Poder, para Max Weber, é a capacidade de impor a sua própria vontade a alguém mesmo contra toda a resistência.

“Os meios utilizados para alcançar o poder podem ser muito diversos, desde o emprego da simples violência até a propaganda … por procedimentos rudes ou delicados: dinheiro, influência social, poder da palavra, sugestão e engano grosseiro, tática mais ou menos hábil de obstrução dentro das assembleias parlamentares.” (Weber. Economia e Sociedade apud Tânia Quintaneiro et alii. Um toque de Clássicos)

A dominação já envolve a probabilidade de uma determinada ordem encontrar obediência por parte de outros. Ou seja, o recurso à autoridade pressupõe um tipo de dominação no qual o próprio dominado, de algum modo, “aceita”, reconhece ou participa de sua própria dominação.

Essa aceitação, reconhecimento ou participação pode ser pensada a partir de três tipos puros de dominação: o racional-legal, o tradicional e o carismática.

O tipo racional-legal tem como fundamento (legitimidade) a dominação em virtude da crença nas leis, baseada, por sua vez, em regras racionalmente criadas.

A autoridade desse tipo mantém-se, assim, segundo uma ordem impessoal e universalista, e os limites de seus poderes são determinados pelas leis, normas e regras.

A autoridade tradicional é imposta por procedimentos considerados legítimos porque sempre teria existido, e é aceita em nome de uma tradição e de um costume reconhecido pelo tempo.

A autoridade carismática, em certo sentido, é sempre revolucionária, na medida em que se coloca em oposição consciente a uma ordem. Para que se estabeleça uma autoridade desse tipo, é necessário que o apelo do líder seja considerado como legítimo por seus seguidores, os quais estabelecem com ele uma lealdade de tipo pessoal.

O Estado, para Max Weber (sociólogo) é um agrupamento humano que detêm o monopólio do uso legítimo da força física dentro de determinado território.

Desencantamento do Mundɒ

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Para Weber, o mundo vem se tornando duplamente “desencantado”.

De um lado, temos o desencantamento do mundo no próprio campo religioso, no momento em que as religiões passam a substituir as formas mágicas de salvação (sacrifícios ou rituais mágicos) por um ethos, um código de conduta prático na vida dos fiéis (conduta, prece, domínio sobre si e sobre o pecado, uma doutrina etc.) É um tipo de sistematização da conduta, uma racionalização religiosa ou uma desmagificação da religião. Podemos ver essa discussão nas suas reflexões a ascese promovida pela ética protestante e, de um modo geral, em sua sociologia da religião.

Por outro, há um desencantamento do mundo da ordem científica e intelectual, marcado pela racionalização, cujos representantes seriam a nossa noção de técnica e de ciência) . É por meio desse processo que desenvolve a crença da civilização ocidental moderna de que não existem mais forças misteriosas que ela não possa desmistificar, encontrar suas causas e controlá-las.

Weber nos alerta, entretanto, para o fato de que esse tipo de conhecimento racional-científico não nos torna mais conscientes do mundo em que vivemos ou não nos ajudam muito a entender o sentido de nossas vidas. Ele apenas nos promete acabar com todo véu de misticismo da vida e submetê-la a previsão e controle.

É uma racionalidade voltada para a previsão, controle e dominação da vida, que, no limite, passou a ser chamada de razão instrumental. Esse tipo de razão seria uma variação da razão iluminista voltada para a emancipação do indivíduo e sua autonomia frente a ignorância e a subjugação.

Essa sociedade nos promete o controle de todos os aspectos de nossas vidas, embora, na maioria das vezes, não tenhamos a mínima ideia de como ela faz isso. Também não nos damos conta das consequências desse controle sobre a vida do planeta.

Em “A Ciência como Vocação”, Weber observa que:

“O homem civilizado…colocado em meio ao caminhar de uma civilização que se enriquece continuamente de pensamentos, de experiências e de problemas, pode sentir-se ‘cansado’ da vida, mas não ‘pleno’ dela.”

Ainda nessa linha, o sociólogo observa que a expansão da racionalidade para todas as esferas da vida, acaba por produzir um novo tipo irracionalidade. A razão instrumental seria capaz de nos colocar em uma espécia de “jaula de ferro” do conhecimento técnico, de ações e comportamentos padronizados, calculáveis, previsíveis, controlados, cada vez mais especializados, voltados para um propósito ao qual não sabemos mais qual é.

Na época de Weber, o processo de burocratização era o exemplo mais claro de racionalização e controle dos processos administrativos e de gestão (racionalização das tarefas, aumento da produtividade, divisão do trabalho, controle científico do trabalho etc.). No entanto, essa mesma racionalidade instrumental acabou por gerar o seu oposto. Enquanto burocracia era sinônimo de modernização no século XIX e início do século XX, hoje, ela é vista como exemplo de irracionalidade.

Referências bibliográficas

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WEBER, Max. Sociologia. São Paulo, Editora Ática; 1999; 7ª Ed. (Coleção Grandes Cientistas Sociais).

WEBER, Max. Ciência e política, duas vocações. São Paulo: Cultrix, 2008

WEBER, Max. Economia e Sociedade – fundamentos da sociologia compreensiva. 4ª. ed. Vol. I e II .Brasília: Ed. UnB, 2000.

COHN, Gabriel. Crítica e resignação: fundamentos da sociologia de Max Weber. São Paulo: Martins Fontes, 2003

COSTA, António Firmino. Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo e o político , Sociologia, Problemas e Práticas, 72 | 2013, 161-168.

THIRY-CHERQUES, H. R. Max Weber: o processo de racionalização e o desencantamento do trabalho nas organizações contemporâneas, in RAP, Rio de Janeiro, 43, 897-918, JUL./AGO. 2009.

Notas sociológicas sobre o fim do mundo - Rafael Mantovani - A Terra é Redonda. 08/01/2022


QUINTANERO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de O. ; OLIVEIRA, Márcia G. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

Vale a pena Weber de Novo – SocioFilo – Gabriel Peters