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Sociologia e Comunicação Cásper/Plataformas e Cultura do Algoritmo

Fonte: Wikiversidade

Neste tópico vamos falar sobreː

Novas Mídias

Plataformização

Cultura do Algoritmo

Imaginário Algorítmico


Plataformas

Em suas análise os processos e ambientes de comunicação, Couldry e Hepp (2017) identificam o que eles chamam de "ondas de midiatização".

A primeira onda é a mecanizada(panfleto, livro, imprensa, fotografia, cinema); a segunda, é a eletrônica (telégrafo, telefone, rádio e televisão);e, a terceira, a digital(computador, internet, smartphones, objetos digitais). A terceira onda se integra a uma quarta, que envolve o processo de dataficação (Girardi Júnior, 2021)

O processo de plataformização dos ambientes comunicacionais começaram a ser percebidos com o aparecimento do que Tim O'Reilly chamou de web 2.0 . Esse processo coloca a plataforma como modelo infraestrutural e econômico dominante das redes sociais (facebook, instagram, tik tok) , além da sua expansão para outras áreas de atividade (Uber, Spotify, Ifood, Teams etc.). Essa infraestrura tecnológica (sociotécnica) e os modelos de negócio que utilizam.

As plataformas são ambientes programáveis (seus códigos e protocolos estão sempre mudando e os programadores podem criar produtos no interior delas por meio de APIs - Application Programming Interface). Elas formam uma rede com diversas camadas (cabos de fibra ótica, datacenters, protocolos, códigos etc.) que funcionam, basicamente, como espaços de intermediação entre diferentes atores, tais como telecoms, big techs, produtores de conteúdo, fornecedores de serviços, anunciantes, consumidores e desenvolvedores. (Helmond, 2019; Poell, Nieborg e Dijck, 2020).

[...] uma arquitetura digital programável projetada para organizar as interações entre usuários - não apenas usuários finais, mas também entidades corporativas e órgãos públicos. É voltado para a coleta sistemática, processamento algorítmico, circulação e monetização de dados do usuário.[...]As plataformas “apresentam-se como igualitárias, neutras, públicas, com vínculos locais, horizontalizadas em termos de poder (bottom-up), mas, concomitantemente,funcionam como sistemas hierarquizados de controle privado e comercial, marcado por decisões ideológicas e políticas (top-down) de impacto global (VAN DIJCK, 2018).

Como a lógica das plataformas cria uma espécie de "jardim murado" (que nos prendem dentro delas) elas acabam por controlar os processos que podem ou não ocorrer no seu interior e controlar, praticamente, todos os dados produzidos ali.

Essa infinidade de extensões das plataformas permite que os empresários transformem praticamente todas as instâncias de interação humana em dados: ranqueamento, pagamento, pesquisa, assistir conteúdos, dirigir, caminhar, conversas, amizades, namoro, etc.” (Poell, Nieborg e Dijck, 2020 p. 6)

É importante lembrar, também, que as plataformas estão integradas aos mais diversos tipos de aplicativos e dispositivos (móveis ou não) que usamos em nosso cotidiano (smartphones, smartTV, smart watch, assistentes pessoais etc.).

Olhe para o seu smartphone e você verá muitos aplicativos. Eles são a parte visível, a pele de uma ampla infraestrutura de hardwares e de softwares (máquinas, dados, programas) chamada de Plataformas Digitais. O modelo de negócios dessa nova infraestrutura global é desenhado para oferecer serviços (na maioria gratuitos) baseados na captação, análise e inteligência de dados com fins comerciais. Aplicativo e plataforma não são, portanto, a mesma coisa.

Aplicativos diversos podem fazer parte de uma mesma plataforma e as plataformas colaboram e se interligam para produzir mais inteligência na análise desses dados. Na ponta do sistema está o usuário, que é levado a fornecer diversos tipos de dados sobre suas práticas cotidianas, sendo, inclusiva, notificado constantemente para que se mantenha engajado nessa produção (LEMOS, 2021)

Seguindo pesquisas em estudos de software, na área de negócios e na economia política, compreendemos plataformização como a penetração de infraestruturas, processos econômicos e estruturas governamentais de plataformas em diferentes setores econômicos e esferas da vida. E, a partir da tradição dos estudos culturais, concebemos esse processo como a reorganização de práticas e imaginações culturais em torno de plataformas. (POELL et al., 2020, p. 5)


Cultura do Algoritmo

Antes de falarmos sobre o Algoritmo, propriamente dito, é preciso entender um pouco a lógica das "novas mídias", as "mídias digitais", os "novos ambientes comunicacionais".

Para um autor como Manovich, as "novas mídias" caracterizam-se pela presença de alguns elementos fundamentais que nos permitem fazer coisas que não eram possíveis com as mídias analógicas, ou melhor, que eram muito difíceis de se fazer com as mídias analógicas.

1. Representação numérica

2. Modularidade

3. Automação

4. Variabilidade

5. Transcodificação

Esses elementos caracterizam o que poderíamos chamar de "objetos digitais" e a particularidade desses objetos faz com que eles dependam de algoritmos para poderem existir.

Eles são compostos por instruções que organizam o funcionamento dos objetos digitais e os ambientes comunicacionais contemporâneos estão cada vez mais dependentes da sua lógica, uma vez que estamos vivendo cada vez mais no interior das plataformas e das redes sociais digitais.

Os ambientes comunicacionais contemporâneos, particularmente, as plataformas são povoadas por “seres estranhos, meio textos, meio máquinas, meio atores, meio cenários: os programas” (LÉVY, 1999 p. 41). Muitos desses programas podem ser chamados também de agentes (JOHNSON, 2001) e todos se baseiam em códigos, protocolos, algoritmos.


O lógica algorítmica da qual as plataformas são dependentes tem gerado muito discussão não somente entre cientistas da computação como cientistas sociais e comunicadores. Striphas (2015) e Cheney-Lippold (2011) destacam a importância de se analisar como os algoritmos estão sendo utilizados para agenciar as relações de autoridade, dominação e poder nas comunicações.

Striphas (2015)destaca que os princípios de autoridade ou os critérios de relevância –relações de autoridade, dominação e poder - estão sendo transferidos para os algoritmos sem uma reflexão mais profunda sobre o que isso significa (GIRARDI, 2017 p. 13).

Taina Bucher (2017) argumenta que os algoritmos não são apenas ferramentas técnicas, mas também podem produzir um "imaginário algorítmico" que influencia como as pessoas compreendem e utilizam essas ferramentas. É importante que os usuários estejam cientes dos efeitos potenciais dos algoritmos e analisem sua presença e influência na comunicação.

A lógica operacional dos algoritmos do Facebook trabalha infinitamente para produzir uma ordem social desejada que esses mesmos algoritmos previram em primeiro lugar. A atenção é medida tanto pela predição do futuro quanto por algo que impede que qualquer outro futuro aconteça. (BUCHER, 2012, p. 14, tradução nossa)

O padrão das mediações online hoje são as arquiteturas privadas, opacas e distribuídas das plataformas, que borram os limites entre o que é público e o que é privado, ou entre o que é de interesse comum e o que é, acima de tudo, um negócio muito lucrativo. [...] De fato, a concentração de mercado, a dificuldade de se discutir regulações, a opacidade das mediações algorítmicas e o avanço de práticas tóxicas e de intolerância são algumas das tendências que, neste final dos anos 2010, são problemas sem uma solução aparente. (D’ANDREA, 2020, p. 22).



Referências

ANDREA, C. d’. Pesquisando plataformas online: conceitos e métodos. Salvador: EdufBa, 2020. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/32043. Acesso em: 27 jan. 2022.

BUCHER, Taina. A technicity of attention: how software ‘makes sense’. Culture Machine, Vol.13, 2012.

BUCHER, Taina. The algorithmic imaginary: exploring the ordinary affects of Facebook algorithms, Information, Communication & Society, 20:1, P. 30-44, 2017

COULDRY, Nick. ‘Life with the media manifold: Between freedom and subjection’. In: KRAMP, L. et. al (Eds.) Politics, Civil Society and Participation: Media and Communications in a Transforming Environment. Bremen: Edition Lumière, 2016

COULDRY, Nick, HEPP, Andreas. A Construção Mediada da Realidade. São Leopoldo/RS: Editora Unisinos, 2020

GILLESPIE, Tarleton. Politics of “Plataforms”. New Media & Society, 2010

GIRARDI JR, L. Midiatização Profunda, Plataformas e Logjects. E-Compós, [S. l.], 2021. DOI: 10.30962/ec.2287. Disponível em: https://www.e-compos.org.br/e-compos/article/view/2287. Acesso em: 18 out. 2021

HELMOND, Anne. A Plataformização da Web. In: OMENA, Janna Joceli. Métodos Digitais.- teoria-prática-crítica. Lisboa : Coleção ICNOVA, 2019

LEMOS, A. A tecnologia é um vírus: pandemia e cultura digital. Porto Alegre, RS: Editora Sulina, 2021,

MOSCHETTA, Pedro H., VIEIRA, Jorge. Música na era do streaming: curadoria e descoberta musical no Spotify. Sociologias, Porto Alegre, ano 20, n. 49, p. 258-292 set-dez 2018,

POELL, Thomas, NEIBORG, David, VAN DIJCK, José, Plataformização. Revista Fronteiras - estudos midiáticos, Vol. 22 Nº 1 - janeiro/abril 2020

VAN DIJCK, J.; POELL, T.; WAAL, M. de. The platform society: public values in a connective world. New York: Oxford University Press, 2018.