Sociologia e Comunicação Cásper/Sociedade do Cansaço e a Economia da Atenção
Economia da atenção
Predição
Ganchos
Design comportamental
Sociedade do Cansaço |
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Quando o mundo é colonizado por uma ordem neoliberal, podemos identificar alguns “sintomas”: 1) pressão pelo desempenho, 2) otimização de todos os aspectos da vida (e a busca da neuro-enhancement/aprimoramento psíquico) 3) transparência total /desinteriorização/externalização da nossa vida(um tema clássico da cibernética), 4) auto-controle e monitoramento constante de si mesmo (colonização das técnicas de si, estudadas por Foucault) 5) excesso de positividade (a ideia de que nada é impossível e de que tudo é um projeto, iniciativa e motivação). 6) O que está submetido a controle, hoje, não é mais a jornada de trabalho, mas a própria pessoa 7) Nas pessoas, suas emoções são utilizadas como recursos (é possível falar, então, em emotional design). A liberdade e a autorrealização, em algum momento da modernidade, aparecem como promessa de emancipação, tornando-se, então, uma pressão, uma obrigação. A pessoa livre e em busca de sua autorrealização, paradoxalmente, se positiva em coisa, quantificável, mensurável, controlável. Somos otimizados para a alta performance e a produtividade. Nesse sentido, a era neoliberal é marcada pela perda da nossa capacidade de admiração, ela é desprovida de festividade e de celebração. A Festa é aquele lugar no qual nos demoramos e vivemos em um tempo que parece não passar. No sentido clássico, é o momento e o lugar em que estamos na companhia dos deuses e nos sentimos próximos do divino. Na atualidade, perdemos a capacidade de entender os rituais, os limiares, as passagens, a nossa capacidade de conclusão das coisas. Somos consumidores incansáveis. Na hipercultura contemporânea, deslizamos pelo mundo (por isso essa experiência é considerada aditiva, ela não se organiza como memória, como narrativa). Ela é um lugar de passagem. Por ter-se tornado um universo-mercadoria, essa nova ordem não pode ser habitável. Deve-se consumir/devorar tudo o que for possível para, no fim, se deparar com um sentimento de exaustão e não de saciedade. A lógica do desempenho coloniza os rituais, tornando-os decorativos (eles se tornam eventos, uma oportunidade para selfies ou para comprovação do desempenho, da performance) Nesse sentido, representar-se nas redes sociais passou a ser um tipo de trabalho. |
Economia da Atenção |
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Yves Citton, em seu artigo "Da Economia à Ecologia da Atenção", apresenta uma série de teóricos e autores que discutem a relação entre economia e atenção. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a definição tradicional de economia está relacionada aos processos de otimização de recursos escassos na sociedade. É curioso ressaltar que, em 1902, o sociólogo Gabriel Tarde já havia percebido que os jornais estavam produzindo um novo tipo de experiência para seus leitores, particularmente, pela presença dos chamados "anúncios". Como a atenção passou a ser um elemento chave na definição do sucesso no processo de comunicação, não demorou muito tempo para que essa atenção passasse a ser medida. Hoje, falamos de índices de audiência, métricas etc. mas, no início do século XX, Tarde preferiu chamá-la de "glorímetro". Depois de Tarde, foi Herbert Simon que, em 1969, afirmouː “a riqueza de informações provoca a penúria de outra coisa, uma escassez daquilo que a informação consome”. Nos anos 1990, o sociólogo, filósofo e arquiteto Georg Franck volta ao tema e, nos anos 2001, os especialistas em gestão Thomas Davenport e John Beck publicam The Attention Economy: Understanding the New Currency of Business. Yves Citton também discute a relação entre atenção e aparente sensação de gratuidade que alteram aquilo que poderia ser chamado de paisagem atencional. Ele finalmente menciona Katherine Hayles, que sugere que estamos vivendo um deslocamento fundamental dos regimes atencionais e dos modos cognitivos das gerações anteriores.
Há mais de 50 anos, Caetano Veloso perguntou em uma canção: quem lê tanta notícia? E hoje, com sites, pushes, tuítes, stories, newsletters, como não ficar tonto acompanhando o noticiário? Mas calma que Tati Bernardi, Thiago Amparo e Vera Iaconelli vão te ajudar. Nesse podcast Original Spotify, os três se reúnem para comentar, explicar e destrinchar os acontecimentos do Brasil e do mundo. E, às vezes, para rir e chorar de tudo que está acontecendo. Episódios novos toda quinta-feira pela manhã.”
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Tecnobehaviorismo e ciclos de engajamento |
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TECHNOBEHAVIORISMO E CICLOS DE ENGAJAMENTO[editar | editar código-fonte]Para entender o modo pelo qual a atenção é disputada e capturada nas práticas comunicacionais contemporâneas, o designer comportamentl, Nir Eyal, ressaltou a necessidade constante de engajar (to hook) os usuários por meio da construção de hábitos de uso das plataformas. É preciso garantir o seu retorno contínuo e frequente à plataforma, além de retê-los, ao máximo, em seu interior, o que depende de técnicas de engenharia humana centradas na modificação comportamental.
04 CICLOS DE GANCHO OU DE ENGAJAMENTO[editar | editar código-fonte]Como vimos o gancho utilizado para que as pessoas continuem no interior das plataformas é um elemento fundamental de controle segundo o tecnobehaviorismo. Para isso, é preciso estabelecer o "Gatilho", ou seja, uma relação estímulo-resposta pela manutenção da atenção associada a sentimentos, emoções, comportamentos e mecanismos de recompensa. Apesar da atenção poder envolver diversos sentidos (visão, olfato, audição, tato e paladar), desde a modernidade até o presente, a visão vem constituindo o locus privilegiado de técnicas de controle e de uma cultura fundamentalmente visual. E os gatilhos, enquanto recurso do design comportamental em plataformas, operam no sentido de automatizar a relação entre certos estímulos visuais e respostas motoras. Nesse aspecto, as "notificações" tem um papel chave. O próximo passo após os disparos do "gatilho" consiste na produção de uma ação. A ideia é estimular a ação na busca de uma recompensa, por meio daquilo que Richard Thaler e Cass Sunstein chamaram de ‘nudge’ [‘cutucar’, ‘estimular’, em inglês]ː "uma arquitetura de escolha que altera o comportamento da pessoa de forma previsível’. O termo arquitetura de escolha se refere às maneiras por meio das quais situações já estão estruturadas para canalizar a atenção e moldar a ação. [...] o hypernudge (*) é um “empurrão” ou “estímulo” orientado por big data que é ágil, discreto e potente, por permitir um ambiente de escolha altamente personalizado …” Depois do condicionamento a partir de determinados estímulos é preciso estimular um processo de recompensas variáveis (não constantes) para que o indivíduo volte com mais frequência à plataforma em busca de satisfação. Esse processo procura estimular a produção de noradrenalina, serotonina e dopamina, hormônios responsáveis pela sensação de prazer, produzindo um tipo de oscilação que pode levar de um hábito condicionado ao vício. Tudo isso está relacionado a um tipo de "investimento", poisː “Ao utilizar o serviço, o usuário gasta ali seu tempo, atenção e esforço, acumulando dados, mensagens, conteúdos, realiza compras etc. ̪ ,blockquote >“Embora essa tecnociência venha se mostrando um projeto poderoso e até perigoso de influência, os efeitos reais do engajamento não devem ser entendidos fora de um trajeto que envolve fatores sociais, culturais e históricos mais amplos, desencadeando transformações profundas em nossos regimes de subjetividade.” (BENTES, 2022 p. 15) |
referências |
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BENTES, Anna. A gestão algorítmica da atenção: enganchar, conhecer e persuadir. Em: POLIDO, Fabrício; ANJOS, Lucas; BRANDÃO, Luíza (orgs.). Política, Internet e Sociedade. Belo Horizonte: Instituto de Referência em Internet e Sociedade, 2019. HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Petrópolis/RJ: Vozes, 2015 (cap. Além da Sociedade Disciplinar) CITTON, Yves. Da Economia à Ecologia da Atenção. Ayvu, Rev. Psicol., v. 05, n. 01, p. 13-41, 2018 SATUF, Ivan. Examinar, prever e prescrever comportamentos: como atuam os“algoritmos de engajamento”. revista Fronteiras – estudos midiáticos, 22(3):29-40 setembro/dezembro 2020 Quantified Self Movement: The Quantified Self Movement: Self-Tracking in the Data Gold Rush | Bloomsoup |