Sociologia e Comunicação Cásper 2022/ Émile Durkheim I
Podemos dizer que Émile Durkheim (1858-1917) foi o responsável pelo reconhecimento institucional da Sociologia nas Universidades francesas.
Sua preocupação estava voltada para as seguintes questões:
- Quais são as condições sociais de produção da ordem social?
- O que faz com que as sociedades não desapareçam ou se desestruturem completamente?
Os fatos sociais: o objeto da Sociologia
[editar | editar código-fonte]Para respondermos essas perguntas, precisamos entender melhor como Durkheim identificou o “objeto” da sociologia e o modo de estudá-lo.
O objeto da Sociologia seria, para Durkheim, os fatos sociais. Para identificá-los e estudá-los seriam usados métodos comparativos e estatísticos.
Vamos avançar mais um pouco em seus pensamentos.
Retomando uma visão proposta por Aristóteles (“o todo é maior que a soma de suas partes”) , Durkheim observa que a sociedade é maior que a simples soma de indivíduos, ou seja, não basta uma agregação de indivíduos para compor um agrupamento social.
Uma sociedade só existe se for capaz de criar um tipo específico de força social que é maior do que a vontade ou os interesses individuais de cada um de seus membros. Essa força social (material e simbólica) são os valores, as representações coletivas e as instituições.
São elas que orientam nosso modo de ver o mundo, nossa noção de bem ou mal, nossos juízos estéticos, nosso modo de vestir, falar e agir, o modo pelo qual organizamos o lugar em que vivemos etc.
Essas forças sociais são o que Durkheim chama de “fatos sociais”. Podemos senti-las agindo sobre nós como uma espécie de força externa que nos pressiona a seguir dentro de certos padrões que não fomos nós que escolhemos e que encontramos muita dificuldade para mudar. Esses padrões resistem a diversas formas de modificação. A sua força parece estar acima da nossa vontade, uma força coletiva que configuram nosso modo de viver.
Os fatos sociais são constantes e regulares, não podem ser modificados por um simples ato de vontade e exercem uma pressão externa sobre os indivíduos. Eles são, na linguagem de Durkheim, coletivos, coercitivos e exteriores.
O método sociológico
[editar | editar código-fonte]Em uma observação polêmica, o sociólogo francês nos diz que devemos estudar os “fatos sociais” como se fossem “coisas”.
Mas, o que ele pensava exatamente ao dizer isso?
Um sociólogo não estuda tudo ou todos os aspectos de um fenômeno histórico ou social.
Ele está focado nas condições sociais de existência desses fenômenos.
Vamos utilizar um exemplo.
Um casamento pode ser pensado, compreendido ou explicado de várias formas por várias abordagens. Para a Sociologia durkheimiana, o casamento é visto como uma instituição, envolvida por determinados valores, reconhecida (formal ou informalmente) pela própria sociedade.
Um sociólogo/a não deve focar toda a sua atenção na percepção que as pessoas têm daquilo que sentem. Ele deve descrever as prescrições e expectativas colocadas pela sociedade toda vez que pessoas estabelecem relações de matrimônio.
O que se faz? como se faz? o que é aceito? quais são os rituais? quem faz parte dele? quais são as consequências deste ato? Há um registro formal desse processo? Ela produz expectativas sobre certos “direitos” e “deveres” entre aqueles que se unem? Qual é a reação diante do seu insucesso?
O mesmo pode ser dito da família, da escola, da virilidade ou da virgindade, da propriedade privada, da igreja, da linguagem etc.
As orientações sobre como proceder no estudo sociológico podem ser encontradas na obra “As regras do método sociológico”.
A sua demonstração, em um “estudo de caso”, pode ser vista em outra obra “O Suicídio”.
Estado de Anomia
[editar | editar código-fonte]Como vimos, para que uma sociedade continue a existir, ela é obrigada a produzir algo maior do que a simples vontade de cada indivíduo (que em mais ou menos de cem anos desaparecerá).
Mas, o que acontece quando essas forças sociais, esses valores e essas instituições, entram em crise?
Para Durkheim, a pior coisa que pode acontecer a uma sociedade e, consequentemente, aos indivíduos que a compõe é o que ele chama de “estado de anomia“.
A (um prefixo que caracteriza ausência) + “nomos” (que significa normas, regras, leis).
Literalmente, anomia seria a ausência de normas.
Mas, uma definição melhor seria a palavra “crise”: uma crise de valores, uma crise das instituições, uma crise de transição histórica.
É importante deixarmos claro que o estado de anomia não é uma crise qualquer. É uma profunda falta de referências, uma profunda falta de direção, uma profunda perda de confiança nos valores compartilhados.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]CAMPANELLA, Bruno. Novas práticas, antigos rituais: A organização do cotidiano e as configurações de poder na mídia. Revista GEMInIS // Edição Especial – JIG 2014
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