Sociologia e Comunicação Cásper 2022/ Émile Durkheim II
Os Rituais
[editar | editar código-fonte]"Na verdade, o postulado essencial da Sociologia é que uma instituição humana não poderia repousar sobre o erro e a mentira (...) Não há, pois, no fundo, religiões que sejam falsas" (DURKHEIM. Formas Elementares de Vida Religiosa, pp. 30-31)
Neste momento, vamos nos concentrar na importância que os rituais têm conservação e reprodução das sociedades humanas.
Em primeiro lugar, Durkheim observa que nenhuma instituição humana repousa sobre o erro ou a mentira, ou seja, se ela existe, existem condições sociais que a fizeram assim. Essa é a sua verdade.
Durkheim observa que as religiões acabam por produzir uma espécie de divisão do mundo entre o espaço do sagrado e o espaço do profano.
Elas delimitam territórios: igrejas, sinagogas, terreiros, solos sagrados etc. Elas produzem diversas representações/narrativas: são uma organização do mundo (uma cosmologia)
Esse espaço sagrado pode ser demarcado de diversos modos/suportes físicos ou simbólicos: símbolos e objetos.
Os encontros realizados nesses espaços devem ter uma regularidade, devem ter uma frequência, seguem certos protocolos e geram expectativas muito particulares quando acontecem. Os rituais aparecem nesse contexto. Um conjunto de práticas, protocolos e representações ocorridas em determinados espaços sagrados com determinada regularidade, envolvendo todo um conjunto de "fiéis".
É importante observarmos que o sagrado e o profano não podem se tocar e sua existência e o modo de entrar em contato com ele é demarcado no espaço e no tempo. Por profano, podemos entender as atividades cotidianas rotineiras (estudar, trabalhar, diversão etc.)
Durkheim observa que a verdadeira força da religião está nos rituais, pois eles são a forma pela qual a fé e a experiência religiosa é revigorada de tempos em tempos. Os rituais sempre têm algo de estético. Eles fazem com a dor, a morte, o medo, a alegria possam adquirir uma forma publicamente expressa e socialmente aceita como uma espécie de representação dramática (teatral). Os rituais permitem que por meio de certas práticas comuns, um grupo possa tomar consciência de si mesmo.
Avançando um pouco mais nesse tema, podemos dizer que os rituais podem ser:
NEGATIVOS (proibições, tabus, interdições): jejum, abstinência sexual, não pronunciar um determinado nome, não tocar determinado objeto etc. (negativo, aqui, não significa ruim ok?!)
POSITIVOS (incentivam ou toleram, excepcionalmente, certas práticas) : cerimônias de comunhão, refeições comunitárias, festas
PIACULARES: luto
Para Durkheim, o sagrado tem outras características muito particulares.
Ele é "contagioso". Tudo o que toca o sagrado torna-se de algum modo sagrado. A passagem dessa propriedade pelo contato.
Os fragmentos dos objetos sagrados continuam sagrados - a sua condição de sagrado não pode ser desfeita de um modo simples.
E completa:
A eficácia moral do rito, que é real, faz acreditar na sua eficácia física, que é imaginária...
[Elas] criam uma predisposição à crença que excede as provas, que leva a inteligência a passar por sobre a insuficiência das razões lógicas...porque servem para refazer moralmente os indivíduos e os grupos é que eles passam por ter ação sobre as coisas." (Durkheim. As Formas Elementares de Vida Religiosa pp. 430-431)
Como poderíamos utilizar esta passagem para pensarmos os "testemunhos" que encontramos em várias religiões?
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]CAMPANELLA, Bruno. Novas práticas, antigos rituais: A organização do cotidiano e as configurações de poder na mídia. Revista GEMInIS // Edição Especial – JIG 2014
COSTA, A. F. O que é a Sociologia? Lisboa: Difusão Cultural, 1992.
LUKES, Steven. Bases para a interpretação de Durkheim, In: COHN, Gabriel (org). Sociologia: para ler os clássicos. RJ: 1977
QUINTANERO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de O. ; OLIVEIRA, Márcia G. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
RODRIGUES, José Albertino (org.). Émile Durkheim. São Paulo: Ática, 2000
SEGALEN, Martine. Ritos e Rituais Contemporâneos. Rio de Janeiro: ed. FGV, 2002 - (Rituais – A função comunicativa do rito).