Sociologia e Comunicação USCS/Mercados Linguísticos e Poder Simbólico
Temas da aula
Parte I
Rituais de fala/jogos de linguagem
Senso de oportunidade/Senso de aceitabilidade
Parte II
Mercados Linguísticos
Poder Simbólico
Enquadramento
Competência técnica e social |
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Em primeiro lugar, é preciso destacar que a nossa capacidade para falar depende de algumas competências específicas que desenvolvemos: uma Competência Técnica e uma Competência Social. Nossa competência técnica aparece pela nossa própria condição humana: seres humanos podem falar, ou seja, tem em seu corpo os meios físicos (anatômicos e neurológicos) necessários para produzir a fala. No caso da competência social - como o próprio nome diz - ela é adquirida socialmente, uma vez que, a fala precisa ser aprendida. Falar não consiste apenas em emitir palavras organizadas em um certo código linguístico, mas também é preciso saber o que falar, com quem, quando e de que modo. Se não falamos com qualquer um, de qualquer modo, sobre qualquer coisa, a qualquer momento, isso significa que a nossa fala pressupõe alguns rituais sociais ou jogos de linguagem. Esses jogos ou rituais dependem do desenvolvimento de certos tipos de sensibilidade. Vamos chamar essa sensibilidade de senso de oportunidade e senso de aceitabilidade. O Senso de Oportunidade (Kairós) Diziam os sofistas que, no aprendizado da arte de falar bem, é preciso estar atento para a percepção do momento oportuno da fala (Kairós). Pouco importa o que dissermos se não for dito de maneira oportuna, no momento certo. Essa competência está relacionada como o (re) conhecimento da situação e do momento da fala. Também é importante lembrar que quando falamos, produzimos um produto muito especial que não está sujeito apenas a interpretação, mas, também, a avaliação.[ver:meme] Muitas vezes, a condição necessária para que o discurso seja aceito não está no entendimento que temos dele, mas do valor que damos a quem o pronuncia (ver: meme). Portanto, qualquer discurso produz signos a serem interpretados, certamente. Mas, ao mesmo tempo, eles apresentam-se como signos de riqueza (esses discursos são valorizados ou desvalorizados) e signos de autoridade (eles tem o poder de realizar coisas no mundo) |
O Mercado Linguístico |
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Vamos analisar, agora, o conceito de mercado linguístico: Carregamos conosco esse conjunto de disposições – uma espécie de “memória” – das nossas experiências com a fala em determinadas situações (falando com os pais, amigos, vendedores, professores, clérigos). Esse conjunto de disposições é o que chamamos de nosso habitus linguístico – um certo modo de falar. Ele faz com que tenhamos condições de antecipar algumas reações das pessoas a quem nos dirigimos e que sejamos capazes de reconhecer determinadas situações sociais. Essas situações que aprendemos a reconhecer são os chamados mercados linguísticos, uma vez que, neles, a nossa fala pode ser valorizada ou não, pode sofrer concorrência, pode ser monopolizada etc.
Quando produzimos um discurso, desenvolvemos também uma antecipação das condições em que aquele discurso será recebido. Essa antecipação, quando negativa, pode levar-nos a um conjunto de medidas de autocensura (ver: meme). Por outro lado, algumas pessoas acabam agindo como porta-vozes da opinião de uma série de ouras pessoas em um mercado linguístico. Eles ou elas são capazes de falar como representantes de um grupo, colocam-se como um grupo falando e, assim, fazem com que determinados interesses e motivações ganham um lugar em meio às palavras e transforme-se em discurso que merece ser ouvido. Será que isso que ocorre no chamado Mansplaining ou Manterrupting? Será que o movimento feminista, por exemplo, precisa enfrentar este tipo de questão? No caso dos povos colonizados, existe sempre a questão levantada por Gayatri Spivak: Pode o subalterno falar? |
O Poder Simbólico |
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O poder simbólico é um poder (econômico, político, cultural ou outro) que consegue ser alvo de reconhecimento, por isso, é preciso entender que se trata de um tipo de poder que não é físico (embora possa ter consequências reais). Ele é exercido no plano do sentido, na sua capacidade de gerar conhecimento e reconhecimento. Ele está relacionado com a questão do enquadramento (framing). O enquadramento é um dispositivo interpretativo, um padrão de organização do discurso, que estabelece alguns princípios de seleção de certas palavras e ângulos de abordagem na construção das notícias. São padrões de apresentação, cognição e interpretação; de seleção, ênfase e exclusão que organizam a narrativa escrita e audiovisual. A combinação de determinadas ações em determinados contextos são capazes de produzir certos enquadramento ou quadros de referência para os indivíduos como observa Erving Goffman, que desenvolve amplamente o termo. As palavras exercem, assim, um poder tipicamente mágico: fazem ver, fazem crer, fazem agir. Mas essa magia, como toda outra, não pode ser explicada apenas por esse poder do produtor do discurso. É preciso ir além e reconhecer as condições sociais que possibilitam essa eficácia mágica das palavras. Quem fala? Quem está autorizado a falar? De que lugar falamos? Para completar, é preciso observar que esse poder das palavras só pode ser exercido sobre aqueles que estão dispostos a ouvi-las, a crer nelas. Vamos observar o que dizem as duas citações abaixo:Vale a pena pensar em uma observação de outro intelectual francês:
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Referências |
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COLLING, Leandro. Agenda-setting e framing: reafirmando os efeitos limitados.Revista FAMECOS • Porto Alegre • nº 14 • abril 2001 GIRARDI Jr, Liráucio. Pierre Bourdieu: Mercados Linguísticos e Poder Simbólico. Famecos, Porto Alegre, v. 24, n. 3, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2017 KARHAWI, Issaaf . Influenciadores digitais: conceitos e práticas em discussão. Revista Communicare. Volume 17 – Edição especial de 70 anos da Faculdade Cásper Líbero LEMOS, André. A nova esfera conversacional. in Dimas A. Künsch, D.A, da Silveira, S.A., et al, Esfera pública, redes e jornalismo., Rio de Janeiro, Ed. E-Papers, 2009, pp. 9 – 30. LINS, Daniel (org). Pierre Bourdieu: o campo econômico. Campinas (SP), Editora: Papirus, 200 (O que é falar? e Fetichismo Político)
O dia em que relatos do primeiro assédio tomaram conta do Twitter – El País – MARINA ROSSI – 23/10/2015 TV peruana agora tem um noticiário em quéchua. Por que isso é um gesto político e social -Rafael Iandoli – Nexo 17 Dez 2016 Exército de fact-checking combate notícias falsas – Bianca Fortis, MediaShift | 06/11/17 Claire Wardle: combater a desinformação é como varrer as ruas – Observatório da Imprensa – Por Angela Pimenta em 14/11/2017 na edição 966 Critical Desinformation Studies - Citap |
Filmes |
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